Ana Filipa Silva: “É importante ensinar o respeito por si e pelos outros”
A vergonha do próprio corpo, também conhecida pela expressão inglesa body shaming, afeta com maior intensidade quem tem baixa autoestima e é potenciada pelas redes sociais. Para a psicóloga Ana Filipa Silva, a educação é o principal meio de combate.

Como pode uma pessoa proteger-se e prevenir o body shaming?
É fundamental cultivar uma autoimagem positiva e desenvolver resiliência emocional desde cedo. São necessárias campanhas de informação e prevenção, é importante ensinar desde cedo o valor do amor e do respeito por si e pelos outros. Promovendo a autoestima e um autoconceito positivo, promovendo a resiliência e ajudando a perceber que o amor próprio e o respeito começam em nós, nos nossos pensamentos e sentimentos, não na opinião alheia, nem no espelho. É importante ensinar a não magoar, a não humilhar o outro, fazendo comentários ou críticas, mesmo que aparentemente inocentes.
Quem é Ana Filipa Silva?
Psicóloga clínica, psicoterapeuta e vogal da Delegação Regional do Sul da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Como pode a psicoterapia ajudar?
A psicoterapia pode ser uma ferramenta valiosa, e pode ajudar no body shaming, ajudando a perceber o problema, compreender o padrão, ajudando a trabalhar a autoaceitação, a compreender as suas emoções e a desenvolver estratégias para lidar com a pressão social e a crítica negativa, bem como resolver o problema, melhorar a relação com o corpo e empreender ações para promover a alegria de viver e a qualidade de vida.
Como é a realidade do transtorno dismórfico corporal em Portugal?
"Muitas vezes, devido à sua insegurança com a aparência, estas pessoas chegam a isolar-se."
O transtorno dismórfico corporal, conforme descrito na DSM-5 [Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais], é uma realidade que também se verifica em Portugal. O paciente dismórfico é alguém que não é gordo, não tem o nariz grande, não precisa estar sempre focado em comparar a sua aparência com os outros, e, porém, mantém o foco nesses aspetos. Em casos mais graves, passa horas a pensar e a preocupar-se com os defeitos percebidos, olhando-se repetidamente ou evitando os espelhos. Muitas vezes, devido à sua insegurança com a aparência, estas pessoas chegam a isolar-se, e podem deixar de cumprir responsabilidades, como ir à escola ou trabalhar. Homens com dismorfia muscular chegam a usar esteroides anabolizantes androgénicos e vários suplementos para construir o corpo musculado perfeito, o que lhes pode trazer problemas muito graves. Ao longo da vida, estes pacientes podem ter ideação suicida, apresentando níveis significativos de suicídio comparativamente com outros transtornos psiquiátricos.
O amor próprio e o respeito começam nos nossos pensamentos e sentimentos, não no espelho.
Como se trata este transtorno?
O tratamento deve envolver equipas multidisciplinares onde estejam presentes o médico de família, o psiquiatra ou pedopsiquiatra e o psicólogo, entre outros profissionais de saúde. Além da terapêutica adequada, é realizada terapia cognitivo-comportamental adaptada aos sintomas específicos, sendo por vezes necessário um período de internamento com terapia intensiva.
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