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Cirurgia às cataratas: longa espera no público, muito cara no privado

As longas listas de espera do SNS para cirurgia de cataratas levam muitos a recorrer a privados, onde os valores das cirurgias podem atingir os 3700 euros por olho. Essencial para restaurar a visão e a qualidade de vida de muitos idosos, esta cirurgia expõe grandes desigualdades no acesso à saúde em Portugal. 

Especialista:
07 outubro 2025
cirurgia às cataratas

iStock

Maria Carvalho, 80 anos, esperou mais de três anos por uma cirurgia às cataratas no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Casos como este ilustram as dificuldades enfrentadas por milhares de pessoas em Portugal. A situação que vive, em Lisboa, não é excecional, refletindo um problema estrutural no acesso a cuidados de saúde em oftalmologia, em particular para tratar cataratas, cuja solução é necessariamente cirúrgica.  

Consulta de oftalmologia demora 250 dias, em média

Segundo a Direção Executiva do SNS, no final de julho de 2025, havia 37475 pessoas na lista de inscritos para cirurgia (LIC), 92% das quais dentro do Tempo Máximo de Resposta Garantido (TMRG). 

No entanto, para um utente ser incluído nesta lista, é necessário ir a uma consulta de especialidade referenciada pelo médico de família -  e a resposta enfrenta uma demora considerável. Segundo dados do Ministério da Saúde, recolhidos pela DECO PROteste entre maio e agosto de 2025, são necessários 250 dias, em média, para conseguir uma consulta para a especialidade de oftalmologia com a prioridade normal no SNS, ou seja, mais do dobro dos 120 dias previstos pela lei.

O incumprimento do TMRG é particularmente grave em regiões como Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve, onde, em média, os tempos de espera para consultas excedem largamente os limites legais, chegando a ultrapassar os dois anos – 789 dias – para uma consulta com a prioridade clínica normal no Algarve.

Privado mais rápido e muito mais caro

A dificuldade em aceder a consultas e cirurgias no SNS obriga muitos doentes a procurar alternativa no setor privado. Entre junho e julho, a DECO PROteste analisou exaustivamente, de forma anónima, os valores praticados para consulta, exames de diagnóstico e cirurgia em 71 estabelecimentos privados de todo o país. Todos indicaram os preços das consultas e dos exames. Porém, apenas 44 avançaram o valor da cirurgia. 

O tempo de espera, nos estabelecimentos contactados, é bastante inferior ao que um utente tem de esperar no SNS: em média, 22 dias para ter uma consulta e cerca de 16 para cirurgia. 

Os preços recolhidos oscilam significativamente: variam entre os 950 a 3700 euros por olho, um valor que equivale a quase três salários mínimos nacionais, tornando este serviço inacessível para muitos.

Quanto custa a cirurgia de cataratas no privado?

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Cirurgia de cataratas é segura

A cirurgia de cataratas é um procedimento médico bastante rápido, demorando de 15 a 20 minutos. É feita em ambulatório e com anestesia local, com o doente acordado, sendo extremamente segura. As infeções ocorrem em apenas um em cada mil casos. 

O pós-operatório, no entanto, requer alguns cuidados importantes.

  • Gestão do desconforto: for ou desconforto nas primeiras 24 horas pode ser aliviada com analgésico.
  • Uso de gotas: são prescritas gotas anti-inflamatórias para reduzir a inflamação local.
  • Proteção ocular: pode ser recomendada a utilização de um penso ou proteção ocular.
  • Evitar esforços visuais: deve-se evitar leituras prolongadas, uso de ecrãs ou caminhadas nas primeiras 24 horas.

Utentes podem denunciar atrasos à Entidade Reguladora da Saúde

Os TMRG são fundamentais para assegurar o direito ao acesso atempado a cuidados de saúde, regulando legalmente os prazos máximos para consultas, exames e cirurgias conforme a prioridade clínica. No entanto, o seu incumprimento é frequente no SNS, o que representa um risco para a saúde dos utentes e uma falha estrutural do sistema. 

Quando são ultrapassados os TMRG, os doentes podem denunciar a situação à Entidade Reguladora da Saúde (ERS). A DECO PROteste disponibiliza uma carta-tipo para auxiliar os utentes na defesa dos seus direitos.

 

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