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Óculos com filtro de luz azul: vale a pena comprar?

Os óculos com filtro de luz azul são cada vez mais populares. Veja se são eficazes e se compensam o investimento.

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04 junho 2025
Homem de óculos a olhar para computador

iStock

Nos últimos anos, os óculos com filtro de luz azul tornaram-se cada vez mais populares, especialmente entre quem passa grande parte do dia em frente a ecrãs — seja do computador, do telemóvel ou da televisão. Prometem proteger a visão, reduzir a fadiga ocular e melhorar a qualidade do sono. Saiba se estes óculos cumprem essas expectativas e se vale a pena fazer este investimento.

O que é a luz azul?

É um tipo de luz visível ao olho humano, com um comprimento de onda curto, percecionada com uma tonalidade azul.

A maior fonte emissora de luz azul é o sol. Contudo, também estamos expostos a esta luz através de fontes artificiais, como lâmpadas fluorescentes e ecrãs de dispositivos com tecnologia LED (telemóveis, computadores, tablets e televisões).

Uma exposição adequada à luz natural (que inclui luz azul) tem vários benefícios: ajuda a regular o ritmo circadiano (o nosso “relógio biológico”), estimula a atenção e melhora o humor. A exposição à luz azul proveniente de fontes artificiais, por sua vez, é bastante inferior em intensidade à da luz solar e encontra-se dentro dos limites de segurança definidos por normas internacionais.

A luz azul dos ecrãs faz mal aos olhos?

Embora os nossos olhos não filtrem a luz azul com a mesma eficácia com que bloqueiam os raios ultravioleta (UV), não existe, até ao momento, evidência científica robusta que comprove que uma exposição normal à luz azul — proveniente da luz solar ou de fontes artificiais — represente um risco significativo para a saúde ocular ou provoque lesões nos olhos. No entanto, continua a ser necessária mais investigação para esclarecer se a exposição prolongada, sobretudo associada ao uso intensivo de dispositivos eletrónicos, poderá ter impacto na visão a longo prazo.

O cansaço ocular que algumas pessoas sentem, depois de estarem muito tempo em frente aos ecrãs, é provavelmente fruto de um aumento da secura e desconforto oculares. Estas consequências não causam danos permanentes e são facilmente evitáveis. Consulte as dicas indicadas mais à frente.

A luz azul interfere com o sono?

Sabe-se que a exposição à luz afeta o ritmo circadiano do corpo, ou seja, o nosso ciclo natural de dormir-acordar. Durante o dia, a sua ação estimulante tende a deixar-nos mais despertos e atentos. Contudo, durante a noite, uma exposição excessiva à luz azul pode interferir com a produção de melatonina (uma hormona que nos ajuda a adormecer), o que pode afetar negativamente o sono.

Investigadores de Harvard realizaram um estudo para avaliar o impacto da luz azul nos níveis de melatonina, comparando os efeitos da exposição à luz azul com os da luz verde. Os resultados mostraram que: a azul suprimiu a melatonina durante o dobro do tempo e provocou um desfasamento dos ritmos circadianos duas vezes superior (três horas versus uma hora e meia). Noutro estudo verificou-se que a leitura num ecrã com luz própria (um ebook) antes de dormir foi associada a uma maior dificuldade em adormecer, a uma menor produção de melatonina e a um menor estado de alerta na manhã seguinte, em comparação com a leitura de um livro em papel.

Apesar destes dados, ainda são necessários mais estudos para perceber até que ponto a luz azul dos ecrãs influencia realmente a qualidade do sono.

É mesmo preciso filtrar a luz azul?

Não. Até ao momento, não existe evidência científica robusta que comprove que a exposição normal à luz azul represente uma ameaça relevante para a saúde ocular.

Se o objetivo for melhorar a qualidade do sono, estratégias simples — como reduzir a exposição aos ecrãs ou ativar o modo noturno dos dispositivos nas horas que antecedem o deitar — podem ajudar a minimizar a possível interferência da luz azul no ritmo circadiano, promovendo um sono mais natural.

Como minimizar a fadiga ocular?

Se sente os olhos cansados após muitas horas em frente a um ecrã, estas dicas podem ajudar a prevenir a fadiga ocular:

  • siga a regra 20-20: a cada 20 minutos, faça uma pausa e olhe para um objeto a, pelo menos, seis metros de distância durante 20 segundos;
  • pisque os olhos regularmente para mantê-los lubrificados ou use gotas oftalmológicas hidratantes, se necessário;
  • se usar óculos, garanta que têm a graduação correta e que são adequados à tarefa.

Se os sintomas de fadiga ocular persistirem, é aconselhável consultar um profissional de saúde ocular (oftalmologista).

Óculos com filtro de luz azul funcionam?

Os óculos com lentes oftálmicas com filtro de luz azul são concebidos para reduzir ou filtrar a exposição dos olhos a este tipo de luz. Apesar da sua popularidade e da recomendação por parte de alguns profissionais de saúde ocular, a melhor evidência atualmente disponível não apoia o uso generalizado destes óculos.

Uma revisão sistemática recente da Cochrane incluiu 17 estudos que compararam a eficácia de lentes oftálmicas com filtro de luz azul face a lentes sem esse filtro, avaliando o seu impacto no desempenho visual, na proteção da saúde macular e na qualidade do sono em adultos. As conclusões sugerem que pode não haver vantagens, pelo menos a curto prazo, na utilização de lentes com filtro de luz azul para reduzir a fadiga visual associada ao uso do computador, quando comparadas com lentes sem esse filtro. A evidência relativamente a possíveis benefícios na acuidade visual é limitada, e também não está claro que o uso de lentes com filtro de luz azul antes de dormir tenha um impacto benéfico na qualidade do sono. Adicionalmente, nenhum dos estudos incluídos avaliou diretamente a saúde macular, pelo que não é possível tirar conclusões quanto a um eventual efeito protetor ao nível da retina.

Ou seja, até agora, não existe evidência robusta que justifique o investimento neste tipo de óculos pela população em geral. São necessários mais estudos de qualidade para perceber se estes óculos podem ter algum benefício em situações ou grupos específicos de pessoas.

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