Quais os melhores televisores para pessoas com problemas visuais?
A DECO PROTESTE incluiu no teste a televisores um critério de acessibilidade para pessoas com problemas visuais. Descubra quais são os melhores televisores para cegos ou pessoas que veem mal.

Foi a pensar na inclusão das pessoas com problemas visuais que a DECO PROTESTE incorporou no teste a televisores um critério de acessibilidade. Os resultados dos televisores testados têm em conta este critério.
Escolher um TV mais acessível
Um televisor acessível para pessoas com problemas de visão tem de:
- permitir o controlo das suas funções básicas por voz;
- garantir a vocalização dos menus;
- permitir a ampliação do ecrã e do texto;
- modificar o contraste de cores;
- ter um comando remoto adaptado, através de marcas táteis e relevo das teclas, por exemplo.
As soluções de acessibilidade para pessoas com deficiência visual foram avaliadas pela DECO PROTESTE em 227 televisores. Os resultados para 153 aparelhos encontram-se publicados no comparador de televisores da DECO PROTESTE. Estas soluções são, regra geral, comuns a todos os televisores de um mesmo fabricante, desde que partilhem o sistema operativo.
Apesar de serem critérios de extrema importância, não foram tidos em conta na avaliação global dos televisores da DECO PROTESTE, pois a sua relevância depende das necessidades de cada utilizador.
Consulte o comparador de televisores
Para verificar se as opções analisadas facilitam, de facto, a experiência de utilização de quem não vê ou vê mal, a DECO PROTESTE pediu também a uma consumidora com problemas visuais que usasse um dos televisores da marca com melhores resultados, durante algum tempo. Nestes casos, usufruir de algo tão visual como um programa de televisão passa, sobretudo, pela audição. Mas, para tal, o televisor tem de incluir funções destinadas a ajudar estes utilizadores.
A ter em conta em caso de deficiência visual
A definição da lista de critérios analisados, bem como a metodologia para o teste prático, foram estabelecidas em cooperação com um painel de pessoas com deficiência visual, do Royal National Institute of Blind People (Reino Unido). Depois, em laboratório, os técnicos avaliaram, em todos os televisores testados em 2022, os seguintes parâmetros:
- a qualidade e o nível de detalhe da vocalização dos menus;
- as opções de ampliação do ecrã e dos textos;
- o nível de contraste dos menus e as soluções para os maximizar;
- a facilidade de acesso às funcionalidades;
- e a adaptação dos comandos a consumidores com problemas visuais.
Foram ainda verificadas a usabilidade e a utilidade destas funções.
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Características | Resultados na acessibilidade | ||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Marca e sistema operativo | Iniciar vocalização de menus por comando de voz | Volume e velocidade da vocalização | Controlo de funções básicas por voz | Assistente de voz | Detalhe e lógica da vocalização dos menus | Ampliação de ecrã e de texto | Contraste dos menus e opções | Adaptação do comando remoto a pessoas com deficiência visual | Avaliação global para problemas de acuidade visual |
Samsung (Tizen) | ![]() |
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Sony (Google TV) | ![]() |
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LG (WebOS) | ![]() |
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Philips (Google TV) | ![]() |
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Panasonic (My Home Screen) | ![]() |
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Hisense (Vidaa U) | n.a. | n.a. | ![]() |
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Destacaram‑se as três primeiras marcas, com resultados entre o aceitável e o bom na avaliação global do critério. Os resultados apresentados correspondem às médias das avaliações dos televisores por marca.
Após alguns meses de teste, chegou‑se à conclusão de que, no momento, a melhor implementação das soluções de acessibilidade para quem não vê, ou vê pouco, pertence aos smartTV da Samsung (Tizen).
Samsung e LG têm as melhores opções de vocalização
A vocalização de conteúdos dos menus é um aspeto crucial para quem tem problemas de visão. Dependendo do grau de perda de acuidade visual, pode não ser possível a leitura de textos. A vocalização funciona, assim, como complemento ou mesmo a única forma de entender os conteúdos escritos.
Como tal, a DECO PROTESTE analisou a quantidade e o nível de detalhe da informação vocalizada, nomeadamente, no guia eletrónico de programas (horário e data, número e nome do canal), no menu principal (acesso a inputs, à lista de aplicações, a cabeçalhos e ao nome dos programas) e nos restantes menus. A lógica com que é apresentada essa informação é fulcral para a correta interpretação da mensagem. Averiguou, ainda, se era possível ajustar o volume e a velocidade da voz, e se existia um atalho para ligar a vocalização através do comando ou por comando de voz.
Os televisores da Samsung (Tizen) têm muita informação vocalizada, com uma ordem bastante lógica e, como tal, mais simples de interpretar. Receberam uma média de quatro estrelas na vocalização dos menus. Ana concordou com a apreciação do laboratório, considerando que a vocalização da Samsung (Tizen), em alguns menus, funciona mesmo bem. A voz é percetível e permite escolher e entrar no conteúdo escolhido.
Já os modelos da LG (webOS) apresentam uma vocalização de boa qualidade no menu principal, detalhando cabeçalhos, nomes de programas e vários conteúdos. Menos brilhante, mas satisfatória, é a informação vocalizada no guia eletrónico de programas. Revelaram, deste modo, um bom desempenho. Pela negativa destacou‑se o televisor Hisense (Vidaa U), pois não dispõe de vocalização dos menus.
Atente que a vocalização do canal selecionado, da descrição do programa em exibição ou do guia eletrónico de programas só é possível com um cabo de antena. Se usar uma ligação à caixa descodificadora, por cabo HDMI, pode não ter acesso integral aos conteúdos vocalizados. A ligação por antena, aconselhável a estes utilizadores, é possível para todos os clientes de serviços de fibra ótica ou para a TDT.
Mais contraste é uma mais‑valia
Um televisor com menus que recorram a esquemas de cores contrastantes permite que os textos, os ícones e as caixas de seleção sejam claramente visíveis. A DECO PROTESTE pesquisou, nos televisores testados, as possibilidades de melhorar e adaptar a perceção de contraste a diferentes problemas visuais, colocando, por exemplo, um texto claro num fundo escuro, ou vice‑versa, representando os menus em escala de cinzas e aplicando um esquema de cores invertidas.
Os melhores níveis de contraste dos menus e o maior leque de opções disponíveis neste sentido pertencem aos televisores da Samsung (Tizen) e da LG (webOS), merecedores da pontuação máxima. O pior resultado foi atribuído aos da Panasonic (My Home Screen): os esquemas de cores usados nos menus não são muito distintivos, e as opções de aumento de contraste são nulas.
O comando tem de ter marcas táteis e relevo
Os comandos remotos dos televisores têm de apresentar certas características para poderem ser utilizados por pessoas com deficiência visual. Botões mais salientes, com marcações táteis e um maior destaque para as teclas das funções mais usadas – botões de on/off, teclas cursoras para navegar nos menus e teclas para ajustar o volume e selecionar canais –, e ícones bem visíveis, com desenhos simples, intuitivos e contrastantes facilitam o reconhecimento das teclas pelo toque.
Os melhores comandos para utilizadores cegos ou que veem mal são os da LG (webOS), variando entre o bom e o muito bom: nem todos os modelos vêm com o mesmo comando. Os piores são os que acompanham os televisores da Philips (Google TV), com resultados muito maus. Não têm relevo nas teclas, nem destacam as mais relevantes, sendo quase impossível a um cego identificá‑las. Porém, certos comandos desta marca são aceitáveis, já que têm algum relevo e as teclas cursoras, de volume e dos canais são mais simples de identificar.
A marca com a melhor avaliação global — Samsung (Tizen) — tem dos piores desempenhos no comando remoto. Existem alguns aspetos a melhorar, que passam, por exemplo, pela introdução de marcações táteis e pelo aumento do relevo das teclas. Como ponto positivo, os comandos da Samsung têm um microfone, que permite o controlo de funções através da voz. Aliás, a maioria dos comandos analisados tem esta característica.
Há falta de zoom
É crucial haver opções de ampliação de texto e de ecrã nos televisores. As pessoas que ainda tenham alguma visão, para que consigam ver imagens ou letras, precisam de ampliá‑las.

fonte superior nos menus e guias, também é possível nestes e nos Sony (Google TV).
A DECO PROTESTE obteve resultados pouco animadores, ao investigar a possibilidade de ampliar o ecrã inteiro, um elemento selecionado ou só uma parte específica do ecrã. Apenas os televisores da Samsung (Tizen) apresentam esta funcionalidade, e unicamente para o ecrã inteiro.
Em relação às opções de ampliação de texto, volta a ser a Samsung (Tizen), em conjunto, desta vez, com a Sony (Google TV), a levar a taça. São as únicas marcas que disponibilizam o aumento das letras, através da escolha de uma fonte de texto de tamanho superior nos diferentes menus e no guia eletrónico de programas. É possível escolher entre diferentes dimensões de fontes.
Assim, na ampliação de texto e do ecrã, em média, os Samsung (Tizen) e os Sony (Google TV) mereceram quatro e três estrelas, respetivamente. As restantes marcas obtiveram nota negativa, pois não possuem opções de zoom.
Em breve, a DECO PROTESTE dará igual destaque às questões da acessibilidade para pessoas com problemas auditivos.

A DECO PROTESTE entrevistou Ana, nome fictício, uma consumidora com problemas de visuais, que testou as acessibilidades de um dos televisores da Samsung (Tizen). Ana sofre de uma condição hereditária rara, designada "doença de Stargardt". Esta síndrome provoca uma degenerescência macular congénita, ou seja, uma lesão na zona central da retina. As consequências são a perda quase total da visão central, restando apenas alguns resquícios da visão periférica. É uma doença evolutiva, mas não uniforme. No caso de Ana, traduz‑se numa subvisão inferior a um por cento. "Vejo sombras e luz, em alguns momentos, dependendo de fatores como a intensidade. Nos últimos anos, depois de um avanço da doença, durante o dia, é quase plena cegueira", descreve Ana, que começou a sentir os efeitos da doença aos oito anos.

Que dificuldades tem no uso de dispositivos eletrónicos?
A adaptação é sempre difícil, pois estou verdadeiramente às cegas. Exige perseverança, persistência e treino. É preciso criar cumplicidade com os dispositivos. Mas, com ajuda inicial e informação precisa, temos uma boa relação. Foram uma revolução na minha vida. Primeiro, os ampliadores e lupas eletrónicas, depois os leitores de ecrã, as vozes, os assistentes virtuais... São cruciais para mim. Por vezes, quando há atualizações de sistemas, tenho momentos difíceis. Mas, no geral, são decisivos no meu dia-a-dia.
Que opções de acessibilidade preferiu neste teste?
Não consigo ver imagens e ler legendas. E depois, nos atuais televisores, navegar nos menus é uma tarefa impossível. Decorei os principais canais no comando do televisor. Por isso, todas as ajudas de leitura de voz são preciosas, pois a ampliação de imagem e de texto já não resulta no meu caso. Achei interessante a leitura dos canais, dos conteúdos e da capacidade de escolha que a vocalização oferece. Dá a sensação de maior autonomia e de poder fazer parte do público das séries, dos documentários, dos filmes... É um aspeto psicológico, mas que não deixa de ser importante para quem não vê.
Que lacunas tinha o televisor que testou?
A vocalização não funciona em todos os canais, não lendo a indicação do canal nem o rodapé. Depois, a voz lê os termos em inglês com pronúncia portuguesa, o que dificulta a perceção. O meu leitor portátil, por exemplo, tem um reconhecimento de línguas. A audiodescrição não está acessível, apesar de estar programada, e é algo que ajuda na compreensão das narrativas [segundo o técnico responsável pelo estudo, esta funcionalidade só é possível em conteúdos preparados para o efeito]. Nada aconteceu quando ativei a leitura de legenda — as legendas não foram geradas, nem lidas. Também não consegui ativar a assistente virtual, por “aselhice” talvez, mas seria bom para executar certos comandos.
Na sua opinião, qual é o papel da tecnologia na inclusão de pessoas com dificuldades visuais?
As tecnologias, mais do que uma simples ajuda, são uma forma de obter liberdade. É poder pegar no identificador de etiquetas e saber se o chá que quero fazer é de camomila ou de lúcia‑lima, mesmo quando estou sozinha. Ou saber de que cor é a camisola que quero vestir, usando uma aplicação ou um descodificador de cores... É uma pequena felicidade, uma vitória sobre o destino, como diria alguém com quem trabalhei. As tecnologias são uma extensão do olhar e do corpo de quem não vê ou vê pouco. É um poderoso exemplo da ligação entre o tecnológico e o humano.
Tal como o cão pode ser um guia para um cego andar sozinho, a tecnologia, como a que estes televisores oferecem, é um guia para aproximar um cego das imagens a que não tem acesso. E, nesse sentido, são um verdadeiro instrumento de inclusão. Obrigado a todos os que cuidam para que se possa ler o mundo ao ouvido de quem não vê. É tanto mais importante quando vivemos, como se sabe, num mundo de imagens.