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Fibromialgia: o que é, sintomas e tratamentos

A fibromialgia é uma síndrome de difícil diagnóstico, porque análises clínicas e exames não são suficientes para a identificar. E, enquanto não existir tratamento específico, o segredo está em aprender a gerir os sintomas.

29 março 2023
Fibromialgia

iStock

Aos 40 anos, Ricardo Fonseca não se lembra “de ter um único momento sem dor”. Em criança, julgava-se que era por ter brincado muito – até porque, naquela altura, a fibromialgia era uma perfeita desconhecida e, ainda hoje, raramente surge em crianças antes dos nove anos. Na adolescência, a justificação passou a ser “dores de crescimento”, porque os resultados dos sucessivos meios complementares de diagnóstico e terapêutica teimavam em não revelar qualquer alteração. Mais tarde, já na faculdade, chegou a ter ataques de pânico, com receio do contacto com outras pessoas. “A dor era tanta, que um simples toque era extremamente doloroso”, recorda Ricardo Fonseca.

Depois de muitos anos a tomar analgésicos e anti-inflamatórios, e de múltiplas análises e exames inconclusivos, em 2006, decidiu recorrer a um reumatologista. Poucos anos antes, em 2003, Portugal tinha reconhecido a fibromialgia como uma afeção a considerar, por exemplo, para efeitos de certificação de incapacidade temporária (vulgo “baixa”). A Organização Mundial da Saúde já a considerava como doença do foro reumático desde 1992.

Sintomas da fibromialgia

Uma dor constante e generalizada ao nível dos músculos e dos tecidos moles (tendões e ligamentos) que rodeiam as articulações é o principal sintoma da fibromialgia. Esta dor, geralmente, afeta muitos pontos dos dois lados do corpo. E, mesmo que, de início, possa ser localizada (por exemplo, no pescoço ou nos ombros), acaba por se estender.

Esta dor generalizada por mais de três meses é o principal fator de diagnóstico, seguido do cansaço físico e mental e de distúrbios de sono (insónia, despertares noturnos e sono não reparador). A rigidez matinal nos músculos das pernas, com uma duração não superior a uma hora, é outro sintoma frequente. Podem surgir ainda dores de cabeça, enxaquecas e problemas cognitivos, como dificuldade de concentração, pensamento confuso e défice de memória. Há também quem refira dor abdominal, síndrome do intestino irritável, hipersensibilidade à luz ou aos sons, dores menstruais, problemas digestivos ou visão turva.

Fibromialgia sem cura, mas com tratamento

Não obstante os esforços, até ao momento, não foi encontrada uma cura para a doença, nem identificadas causas inequívocas. Os tratamentos disponíveis visam reduzir a intensidade dos sintomas, que, embora comuns a muitos doentes, se manifestam de forma diferente ao longo do tempo e de acordo com a realidade de cada um.

Os sintomas podem “flutuar”, e os pacientes podem viver períodos com mais ou menos dor e fadiga, mas as queixas nunca desaparecem. Por isso, a terapia é ajustada a cada pessoa e a cada momento da doença. 

Os medicamentos utilizados nestas situações atuam sobre o sistema nervoso central, controlando a disponibilidade de neurotransmissores específicos e a atividade dos neurónios, com o objetivo de reduzir a dor. É importante que os doentes cumpram as indicações do médico em relação ao tratamento e sejam acompanhados em consultas com regularidade, para eventuais retificações.

Alimentação e exercício físico podem ajudar

Importa ainda que os doentes com fibromialgia adotem hábitos saudáveis, como uma alimentação equilibrada, perder peso (se necessário) e praticar exercício físico moderado, como caminhadas, cuja intensidade deve ser adaptada a cada caso. O controlo do stresse e da ansiedade é também importante, porque agravam a dor.

Para contornar, de alguma forma, os problemas de sono, convém deitar-se sensivelmente à mesma hora todos os dias, num ambiente calmo, e afastar-se de situações de tensão ou stresse. Evitar bebidas com cafeína, durante a tarde, e refeições pesadas, à noite, são medidas que também podem ajudar.

Aprender a gerir a fibromialgia é o principal trunfo dos doentes. No caso de Ricardo Fonseca, “a vida continua”, mas com algumas mudanças. Em vez de trabalhar num hospital da área metropolitana de Lisboa, onde viveu de muito perto a pandemia de covid-19, é enfermeiro num lar de idosos. Mudou se para uma pequena cidade do Oeste, e está sujeito a menos stresse e menos exposto à poluição, além de contar com o apoio de familiares. Mas a mudança também pode passar por ignorar “um colega de quem não se gosta”, “acordar 30 minutos mais cedo” para fazer tudo mais devagar, ou “colocar o que é preciso em prateleiras mais altas”, para mais bem lidar com a rigidez matinal. E, se tem “dias relativamente fáceis”, em que consegue caminhar durante cinco quilómetros, outros há que não consegue sair da cama. Em qualquer caso, é importante ser resiliente.  

Também as associações de doentes podem fazer a diferença. A Myos (Associação Nacional contra a Fibromialgia e Síndrome de Fadiga Crónica), a Associação Portuguesa de Jovens com Fibromialgia e, ao nível regional, a Associação Barcelense de Fibromialgia e Doenças Crónicas e a União de Doentes Fibromiálgicos de Viseu prestam apoio presencial, telefónico ou por e mail. Disponibilizam ajuda de serviço social e psicossocial e permitem o acesso a consultas de psicologia cognitivo comportamental a preços mais reduzidos. As associações promovem ainda reuniões em que os doentes e os seus familiares podem partilhar experiências de gestão da doença, de modo a evitar o isolamento.

A quem não sofre desta síndrome, Ricardo Fonseca deixa uma mensagem: “Não julguem os doentes pelas aparências, porque há quem esteja em sofrimento, mas tenha bom aspeto. Isso é porque a pessoa conseguiu reconciliar-se com a doença.”

 
 
 
 

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