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Cancro da próstata: conheça as regras do rastreio

O cancro da próstata, que afeta, principalmente, idosos, progride, geralmente, de forma lenta. Por isso, muitas vezes, não tem relevância clínica. Conheça as recomendações para o rastreio. Saiba, ainda, quais são os sintomas e os fatores de risco.

Especialista:
04 janeiro 2024
Homem sénior, vestido com bata de hospital aguarda sentado com ar preocupado numa sala azulada, junto de um equipamento médico de grandes dimensões (scanner médico)

iStock

O cancro da próstata é o mais frequente nos homens, tendo representado, em 2020, 23% dos novos cancros diagnosticados na população masculina da União Europeia (UE). Porém, é apenas a terceira causa de morte: 10% de todas as mortes por cancro nos homens são da responsabilidade da próstata.

Estima-se que, aos 84 anos, entre 12 e 16 em cada 100 homens possam vir a desenvolver este tipo de cancro, sendo que apenas dois a três venham a falecer dessa doença. Conclusão: embora o diagnóstico de cancro da próstata seja muito comum, o mesmo não deve ser encarado como uma sentença de morte. Perante estas conclusões, a Comissão Europeia estipulou recomendações de rastreio, de forma a evitar o diagnóstico e tratamento de casos sem relevância clínica.

Regras para o rastreio do cancro da próstata

Uma das formas de prevenir a doença é através da realização de rastreios do cancro. A Comissão Europeia lançou, em setembro de 2022, novas diretrizes relativas a esta questão. Para o cancro da próstata, as recomendações passam pela implementação de programas de rastreio organizados e dirigidos a homens até aos 70 anos.

Os objetivos do rastreio consistem em reduzir o número de mortes por cancro da próstata e, simultaneamente, evitar o sobrediagnóstico e o tratamento excessivo. Os rastreios deste tipo de cancro são feitos através do teste PSA, um teste de antigénio específico da próstata, ou seja, um exame que mede a concentração da proteína PSA no sangue – proteína esta que é produzida quase exclusivamente na próstata e cuja concentração é maior quando a glândula aumenta de tamanho. O teste pretende, assim, diagnosticar o cancro da próstata em homens saudáveis e assintomáticos. O problema é que níveis elevados de PSA não são necessariamente sinónimo de cancro.

Antes das novas indicações, os homens que fizessem um rastreio do cancro da próstata e obtivessem níveis elevados de PSA eram submetidos a uma biópsia. Se o cancro fosse detetado nos tecidos biopsiados, partir-se-ia para opções como a cirurgia, a radioterapia, o tratamento hormonal, a vigilância ativa ou para a espera vigilante, dependendo da fase do cancro. Porém, não é correto olhar para este teste assim.

Primeiro, o PSA não é um marcador tumoral, mas, sim, um indicador do estado de saúde da próstata. Ou seja, a sua concentração sanguínea pode estar aumentada em situações comuns e benignas, tais como a hiperplasia benigna da próstata ou a prostatite.

Adicionalmente, o valor de PSA considerado “normal” pode variar de homem para homem, e o mesmo tende a aumentar com a idade. Assim, a baixa especificidade deste teste acabava por causar vários “falsos alarmes”, que, além de incutirem níveis elevados de stresse, faziam com que muitos homens fossem submetidos a biópsias desnecessárias.

Por exemplo, num universo de 1158 homens ingleses que foram convidados a realizar um rastreio, 653 foram diagnosticados com um cancro da próstata que não deveria ter sido descoberto, pois o mesmo não viria a prejudicar o paciente.

De forma a acabar com este sobrediagnóstico e o consequente tratamento excessivo, a Comissão Europeia propõe que os rastreios se processem da forma exposta em seguida. Primeiro, faz-se o teste PSA (procedimento-padrão). Se o resultado for positivo e se os níveis de PSA levantarem suspeitas de tumor, faz-se uma estratificação de risco (consideram-se outras características do paciente, por exemplo, a existência de fatores de risco para o cancro) e, em simultâneo, realiza-se uma ressonância magnética, que permite identificar melhor os tumores malignos, tornando as biópsias mais direcionadas.

Visto que a maioria dos casos de cancro da próstata não se desenvolvem agressivamente, passa-se a privilegiar a vigilância ativa em detrimento do tratamento imediato. Assim, assegura-se um equilíbrio adequado entre os benefícios e os danos, privilegiando a qualidade de vida das pessoas.

O que é o cancro da próstata?

A próstata é uma glândula localizada abaixo da bexiga e em frente ao reto. Faz parte do sistema reprodutor masculino, pois produz um fluido que irá constituir parte do sémen, ou esperma – líquido que transporta os espermatozoides, produzidos pelos testículos.

Quando as células da próstata perdem o controlo do seu crescimento, pode desenvolver-se um cancro maligno. Este pode manter-se localizado na próstata, invadir os tecidos vizinhos ou espalhar-se para outros órgãos, num processo conhecido como metastização. Embora a evolução do cancro da próstata possa ser variável, na grande maioria dos casos, estes tumores tendem a desenvolver-se a um ritmo lento, podendo mesmo passar-se anos ou décadas sem que o doente experiencie sintomas da doença. Estima-se que apenas um terço dos cancros da próstata cresçam de forma agressiva.

Numa fase inicial, este tipo de cancro é pequeno e está totalmente situado dentro da glândula. Não é possível senti-lo através de um exame de palpação (toque retal). Com o tempo, pode crescer e tornar-se palpável, podendo ainda estar confinado na próstata. A estes dá-se o nome de cancros localizados. O prognóstico é muito bom e podem até ser curados. A maioria dos homens é diagnosticada com este tipo de cancro.

Quando o tumor começa a sair da cápsula prostática, espalhando-se pelos tecidos próximos, é definido como localmente avançado. E, apesar disso, ainda existem hipóteses de cura.

Por sua vez, quando se espalha e afeta outras partes do corpo, tais como ossos, pulmões ou fígado, por exemplo, é considerado um tumor metastásico. Pode ser controlado durante muitos anos, mas não é curável. Por vezes, este estado mais avançado acaba por levar à morte.

Em que idade se manifesta?

É muito comum em idosos. Até porque, à medida que os homens envelhecem, o cancro torna-se mais provável. Após os 45-50 anos, as probabilidades de diagnóstico de cancro da próstata aumentam acentuadamente, atingindo um pico entre os 65 e os 75 anos. A boa notícia é que a grande maioria destes homens nunca saberá que teve a doença – e muitos dos que sabem não vão precisar de tratamento. Por se tratar de uma doença que geralmente evolui de forma lenta, muitos dos casos diagnosticados não apresentam relevância clínica (cancros de baixo risco).

Só provoca sintomas num estado avançado

Os sintomas da doença geralmente só são visíveis numa fase mais avançada, quando o cancro já se espalhou para outros órgãos. Embora seja pouco comum, podem aparecer alguns sintomas não específicos do trato urinário inferior (por exemplo, dificuldade em iniciar ou terminar a micção, fluxo urinário fraco e dor ou ardor durante a micção), sangue na urina ou sangue no esperma. A presença destes sintomas não deve ser encarada como alarme para um diagnóstico de cancro da próstata, pois os mesmos surgem mais associados a outras condições clínicas benignas (hiperplasia benigna da próstata e infeção do trato urinário).

Por outro lado, existem alguns sintomas que costumam ser indicativos de um estado avançado da doença:

  • dor lombar;
  • dor óssea severa (os ossos constituem o principal local de disseminação do cancro da próstata);
  • perda de peso inexplicável.

Quais são os fatores de risco do cancro da próstata?

Alguns fatores podem aumentar o risco de desenvolvimento do cancro da próstata. Destacam-se alguns.

  • Idade. À medida que os homens envelhecem, o cancro da próstata torna-se mais provável.
  • Etnia. Os homens de ascendência africana têm maior risco de desenvolverem cancro da próstata, devido a hábitos e fatores genéticos.
  • Genética. Os homens com histórico familiar de cancro têm mais probabilidade de virem a ter cancro.
  • Altura. Os homens mais altos têm um risco ligeiramente maior.
  • Excesso de peso. As pessoas obesas têm níveis de insulina e leptina altos, o que pode levar ao crescimento de células cancerígenas.
  • Tabagismo. O tabaco aumenta o risco de desenvolvimento de vários cancros.
  • Ingestão de produtos de origem animal. O consumo de certos produtos lácteos e de carnes processadas pode aumentar o risco de cancro.

Como prevenir?

Há medidas que pode adotar de forma a diminuir as hipóteses de vir a desenvolver cancro da próstata:

  • prática de exercício físico, pois reduz o excesso de peso. Estudos demonstram que homens com mais de 65 anos, que praticavam exercício físico intenso, apresentaram um menor risco de cancro da próstata avançado ou letal;
  • consumir vegetais. Uma alimentação rica e variada, dando preferência às frutas e aos vegetais, pode diminuir indiretamente o risco de cancro. Apesar de não existir uma relação direta entre o fraco consumo de vegetais e o risco de cancro da próstata, o facto de ocupar metade do seu prato com “verdes” poderá evitar que consuma, em excesso, outros alimentos que têm um potencial para aumentar esse risco (alimentos processados, por exemplo). Vegetais como os brócolos têm, na sua composição, substâncias que podem prevenir o cancro;
  • ingestão de café. Um estudo sugere que o consumo de café reduz o risco de cancro da próstata. Apesar de este não ser conclusivo, são já sabidos os vários benefícios do café para a saúde;
  • ejaculação frequente. Ter uma vida sexualmente ativa e ejacular frequentemente pode beneficiar a prevenção do cancro da próstata. Porém, os estudos são pouco sólidos.

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