Em busca da água perdida

Publicado a 27 março 2025
cláudia maia
Cláudia Maia Diretora de Publicações

A crise hídrica não é um problema do futuro, é uma realidade do presente. Apesar da gravidade da situação, o País continua a desperdiçar uma oportunidade crucial: a reutilização da água residual tratada. 

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Cláudia Maia Diretora de Publicações
iStock falta de agua
Apenas 13 entidades gestoras, das centenas que atuam nos municípios, prepararam águas residuais para reutilização em 2023. A falta de infraestrutura adequada, a escassa regulamentação e a inércia da estratégia nacional são as razões. 

Portugal, sobretudo o Sul, enfrenta períodos de seca cada vez mais frequentes e severos, tornando a gestão sustentável da água uma prioridade absoluta. Apesar da gravidade da situação, o País continua a desperdiçar uma oportunidade crucial: a reutilização da água residual tratada. Em 2023, foram tratados 698 milhões de metros cúbicos de águas residuais, dos quais só 0,4% foram reaproveitados. Um número irrisório, quando comparado com os da vizinha Espanha, que enfrenta desafios semelhantes aos nossos.

E porque estamos tão atrasados? Apenas 13 entidades gestoras, das centenas que atuam nos municípios, prepararam águas residuais para reutilização em 2023. A falta de infraestrutura adequada, a escassa regulamentação e a inércia da estratégia nacional são as razões. A maioria dos municípios não têm sistemas separados para águas residuais e pluviais, pelo que a chuva acaba por ser tratada como esgoto, gerando custos desnecessários.

Além disso, persistem descargas ilegais e sem pré-tratamento, que dificultam a qualidade do tratamento nas estações de águas residuais. A isto juntam-se a resistência à mudança e a falta de incentivos ao investimento em soluções de longo prazo.

Enquanto se negligenciam opções racionais, em alguns municípios, as famílias continuam a ser sujeitas a distorções tarifárias, que desincentivam a poupança e contrariam os princípios de sustentabilidade e de gestão eficiente dos recursos hídricos. É o caso de Paços de Ferreira, onde moradores com consumos baixos ou até nulos se veem forçados a desperdiçar água intencionalmente, para evitarem encargos elevados com o saneamento.

O novo regulamento da qualidade dos serviços de águas e resíduos obriga as entidades gestoras a cumprirem critérios de faturação mais rigorosos. Mas a crise hídrica exige mudanças estruturais, investimento em redes eficientes e uma visão política que promova a reutilização da água como pilar da sustentabilidade. Se continuarmos a adiar estas medidas, não será apenas o ambiente a pagar a fatura.

Sabia que...?

Em 2023, foram tratados 698 milhões de metros cúbicos de águas residuais, dos quais só 0,4% foram reaproveitados. Um número irrisório, quando comparado com os da vizinha Espanha, que enfrenta desafios semelhantes aos nossos.

 

 

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