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Situação financeira: portugueses sentem alívio nas contas

As despesas com manutenção da casa aumentaram no orçamento familiar, mas a situação financeira dos portugueses melhorou em 2024. Ainda assim, um em cada cinco vê-se aflito para pagar o empréstimo junto do banco. Conheça as conclusões do barómetro da DECO PROteste.

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14 março 2025
Família a fazer contas

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O aumento dos salários e das pensões acima da taxa de inflação, o corte nas taxas de IRS e o início da descida das taxas de juro, no segundo semestre de 2024, podem ter contribuído para a melhoria da situação financeira dos portugueses no ano passado, como comprova o inquérito anual da DECO PROteste.

Com efeito, excetuando 2020, ano em que deflagrou a pandemia da covid-19 e os confinamentos levaram a uma redução generalizada dos gastos, nunca o índice da DECO PROteste foi tão elevado em sete anos de barómetro: 46,2, numa escala de 0 a 100, contra 43,4, em 2023.

Apesar de se respirar com um pouco mais de facilidade, a maioria (69%) dos quase 5700 inquiridos, que, em 2024, participaram no inquérito, revelou ter dificuldades em pagar as contas. Em situação de sufoco financeiro estão 11% dos portugueses. 

Com vista a refletir a realidade nacional, as 5694 respostas ao questionário de 2024 foram ponderadas por género, idade, habilitações literárias e região. Conheça as conclusões em detalhe do barómetro DECO PROteste.

Nível de vida melhora, mas não para todos

A descida generalizada das dificuldades para pagar despesas com mobilidade (menos 8,2%), habitação (menos 6,9%), alimentação (menos 6,5%), educação (menos 4,8%), tempos livres (menos 4,3%) e saúde (menos 1,8 por cento) contribuiu para a melhoria do índice da DECO PROteste. Dos quatro países que participaram no estudo, Portugal continua, no entanto, o parente "pobre", ao apresentar o índice mais baixo, bem distante da Bélgica (55,2) e abaixo da Itália (49), que subiu quase quatro pontos face ao ano precedente, e Espanha (47,4).

Centro e Madeira com mais dificuldades financeiras

O Centro e a Madeira são as zonas do País onde se vive com maiores dificuldades. Já o Alentejo, que tinha, a par com o Centro, o índice mais baixo em 2023 (41,9), subiu quase cinco pontos, deixando, assim, de estar na cauda. Uma vez mais, o Algarve tem o índice mais elevado (47,9).

Por distrito, as diferenças são, no entanto, mais visíveis. As famílias de Leiria têm a situação financeira mais frágil do País (41,5). Embora o índice seja o mesmo de 2023, o distrito ocupa agora o último lugar. Nele, encontramos 23% de famílias em sufoco financeiro.

O mesmo acontece com 17% dos agregados de Castelo Branco, 15% dos de Aveiro e 14% dos de Setúbal. Em contrapartida, em Viana do Castelo, 43% responderam não terem problemas para pagar as despesas essenciais.

Beja subiu 17 lugares e é o distrito onde se vive com maior desafogo financeiro (índice 51,7), uma situação bem diferente de 2023, em que ocupava os derradeiros lugares.

Sem surpresa, o barómetro identifica como mais vulneráveis as famílias monoparentais e numerosas, bem como os agregados em que ambos os membros estão desempregados. De acordo com o INE, havia em Portugal quase 369 mil pessoas sem emprego, no quarto trimestre de 2024, um aumento de 10,1% face ao trimestre anterior.

Dos inquiridos pela DECO PROteste, 18% das famílias com um membro desempregado responderam ter dificuldades financeiras extremas.

Contas que pesam no orçamento familiar

As despesas com a habitação continuam a ser um fardo pesado no orçamento dos agregados. Apesar de as taxas de juro estarem a cair desde julho de 2024, um em cada cinco portugueses vê-se aflito para pagar o empréstimo junto do banco. No que respeita ao arrendamento, também um quinto dos inquilinos sente dificuldades para pagar a renda.

Ainda relativamente à habitação, 43% das famílias debatem-se com problemas para conseguirem pagar eletricidade, gás e água.

Além dos encargos com habitação, o barómetro da DECO PROteste revela que, no momento de fazer contas e reduzir gastos, os tempos livres, em particular as férias grandes, são os mais sacrificados: 62% dos portugueses asseguram ser difícil pagar férias, e para 52% ir a restaurantes é um luxo quase inacessível.

Os encargos com a mobilidade caíram de forma significativa face a 2023, devido em parte à criação do passe ferroviário verde e ao aumento da procura por transportes públicos. Ainda assim, a mobilidade continua a ser um encargo relevante no orçamento familiar: 53% dos portugueses admitem ter problemas financeiros para suportar as despesas relacionadas com o carro.

No que respeita à saúde, o cenário, embora também tenha melhorado, não é brilhante para 54% dos portugueses, que têm dificuldades acrescidas para pagar tratamentos dentários. Do mesmo se queixam 47% dos inquiridos quando se trata de comprar óculos ou aparelhos auditivos. Por sua vez, adquirir carne, peixe ou ter uma dieta vegetariana requer um esforço acrescido para 51% das famílias.

Em que consiste o barómetro da DECO PROteste?

O barómetro DECO PROteste visa medir a capacidade de as famílias portuguesas pagarem as despesas do dia-a-dia em seis áreas: alimentação, educação, habitação, lazer, mobilidade e saúde.

Em dezembro último, a DECO PROteste enviou um questionário, por correio e online, para uma amostra da população adulta. No total, foram recebidas 5694 respostas. Foram ponderados os resultados de acordo com a distribuição demográfica portuguesa, segundo as variáveis sexo, idade, região e habilitações literárias. O índice varia entre 0 e 100 e, quanto mais elevado for o número, maior é a facilidade de os agregados familiares pagarem as despesas.

Com base no grau de dificuldade demonstrado, é metodologicamente viável criar três grupos de famílias: as que se encontram em “sufoco financeiro” (que não conseguem ou têm dificuldade em pagar todas as categorias de despesas consideradas); as que apresentam “dificuldades financeiras” em pagar algumas despesas essenciais; e, por fim, as que ocupam uma zona de “conforto”, ou seja, que conseguem facilmente pagar todos os gastos.

 

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