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Telecomunicações: megapromoções valem a pena?

Um pacote de TV, Net e Voz, com dois cartões de 10 GB, por menos de 60 euros por mês? As superpromoções seduzem, mas podem ser um presente envenenado. Mostramos-lhe como fazer um raio-X a uma oferta generosa.

  • Especialista
  • Sofia Costa
03 agosto 2021
  • Especialista
  • Sofia Costa
pessoa a mexer no smartphone

iStock

Quando a promoção num pacote de telecomunicações é demasiado bondosa, deve o consumidor desconfiar? Sim, deve. Há que refrear o impulso de aderir de imediato e analisar atentamente a oferta. Por detrás de um megadesconto, podem estar algumas armadilhas que fazem o preço subir mais cedo e mais repentinamente do que o cliente julga.

É aos detalhes da oferta que se deve fazer uma minuciosa inspeção. Damos o exemplo das megapromoções-foguete (desapareceram tão rapidamente quanto apareceram) que a Vodafone e a NOS lançaram em junho para o pacote de TV, Net, Voz Fixa e Móvel. Ambas incluíam dois cartões para telemóvel com 10 GB e custavam menos de 60 euros por mês. O preço habitual deste tipo de pacote nestes operadores ronda os 75 euros mensais.

Fazendo uma ronda pelo mercado e comparando preços, concluímos, desde logo, que a NOWO – que também renovou as promoções – comercializava um pacote de serviços semelhante à volta de 7 a 11 euros mais barato, consoante a velocidade de internet e o número de canais de televisão.

Ainda assim, optar pelas ofertas da Vodafone e da NOS significava poupar entre 12,90 euros e 18,99 euros por mês, em relação ao que estes operadores cobram normalmente por este tipo de pacote mais completo e com mais gigabytes (GB) no telemóvel.

O consumidor saía a ganhar? Até porque havia (e há) uma diferença significativa entre os níveis de satisfação dos utilizadores da NOWO e da Vodafone? Sim, os ganhos em termos de poupança são óbvios; as contas não enganam. Mas teria ele feito a melhor opção? Eis a pergunta central e a resposta é: não.

Comparar ofertas e combinar tarifários: a arma do consumidor para (de facto) poupar

Usando ainda o mesmo exemplo das superpromoções da Vodafone e da NOS, veja-se como só comparando ofertas se consegue chegar à verdadeira escolha ideal. Use e abuse do nosso simulador. Não será o exercício mais fácil, dada a gigantesca oferta de serviços no mercado das telecomunicações. Mas o esforço compensa.

Tal como vale a pena subir o degrau de dificuldade que é pensar em combinar tarifários de diferentes operadores. Foi precisamente neste teste que as generosas ofertas da Vodafone e da NOS não passaram. Pondo o radar sobre o mercado, a Escolha Acertada seria a combinação do serviço móvel NOWO Pós-Pago 10 GB, que inclui dois cartões, com o pacote Vodafone Fibra 3 Plus 200 Mbps. Esta conjugação de tarifários apresentava um preço inferior às promoções dos pacotes da Vodafone e da NOS, e o consumidor ainda beneficiava do bom nível de satisfação com o serviço fixo da Vodafone.

No entanto, se o consumidor fizesse questão de manter os serviços todos no mesmo operador e no mesmo pacote, a Escolha Acertada seria mesmo a promoção da Vodafone para o Fibra 4 Plus, por 57,90 euros por mês, durante dois anos de fidelização. A oferta da NOS era dois euros mais cara. Seria esta a sua opção? Então faça scroll down até ao intertítulo “Os detalhes que podem significar custos adicionais”.

Preciso mesmo de 10 GB no telemóvel?

As megapromoções seduzem os consumidores não só pelos descontos no preço, mas também pela opulência das suas características. No caso das ofertas da Vodafone e da NOS, os 10 GB nos dois cartões para telemóvel cativavam qualquer consumidor. Mas a racionalidade deve sobrepor-se à tentação da abundância. O seu consumo habitual de dados móveis justificaria a adesão a um pacote – que implicava uma fidelização de 24 meses e só mediante esse compromisso é que usufruía da benesse no preço – com 10 GB nos cartões para telemóvel?

Se a resposta for “não”, novamente as ofertas da Vodafone e da NOS não resistiriam à prova da comparação de pacotes e tarifários. Combinando o Vodafone Fibra 3 Plus 200 Mbps com o NOWO Pós-Pago 1 GB, com dois cartões, o consumidor pouparia 11,75 euros por mês. Se abdicasse da TV Box (precisa mesmo de uma?), a conjugação do pacote Vodafone Fibra 3 Light 100 Mbps com o mesmo tarifário da NOWO representaria uma poupança mensal acima dos 15 euros.

Os detalhes que podem significar custos adicionais

Se aderir a uma promoção que lhe pareça demasiado caridosa, leia o contrato de adesão com especial cuidado. Tenha atenção ao fim dos prazos e ao possível acréscimo de custos subsequente.

  • Verifique o período em que se aplicam os preços sem alterações. No caso das superpromoções da Vodafone e da NOS, esse período era o da fidelização, 24 meses, a não ser que o contrato incluísse a cláusula da possibilidade de aumento anual do preço em alinhamento com a inflação. Mas, no fim desse prazo, e caso o consumidor nada fizesse, os atraentes 60 euros por mês subiriam em flecha para cerca de 75 euros mensais, o preço habitual daqueles pacotes nestes operadores. Ficou menos interessante, não ficou? Casos há também em que o preço de arromba se mantém apenas durante uma parte do contrato, seis ou 12 meses, subindo significativamente a seguir, sem que a comunicação dos preços seja suficientemente clara para o consumidor. Veja o exemplo paradigmático que damos mais abaixo.
  • O prazo da promoção está a acabar? É fundamental renegociar o contrato antes que este termine ou mudar de pacote. Novamente: use o nosso simulador nesta laboriosa empreitada até deixar de sentir as pontas dos dedos, se preciso for.
  • Confirme a duração das ofertas incluídas na promoção e se o preço com desconto do pacote se mantém após o fim dessas “prendas”. Muitas das ofertas abrangidas terminam ao fim de seis meses e todos esses serviços têm custos mensais que oscilam entre os 3,99 euros por mês da Amazon Prime, 4,99 euros mensais da HBO e 5,99 euros por mês pelo Amazon Prime Video. Mas os pesos-pesados como os canais premium é que personificam tantas vezes o verdadeiro canto da sereia das megapromoções. O pacote promocional inclui a oferta de seis meses da Sport TV HD e, findo este prazo, o serviço tem de passar a ser pago? Na NOS, por exemplo, a Sport TV HD custa 27,99 euros por mês. Verifique se o operador desativa a oferta quando ela termina ou se tem de ser o cliente a dar essa ordem na box, na área de cliente ou por outra via. Lembre-se de que o serviço de apoio ao cliente ainda é pago até 1 de novembro e, portanto, pondere bem a adesão a qualquer oferta que exija o contacto telefónico como forma única de desativação de serviços. No início de novembro, esta tarefa poderá tornar-se mais fácil. É a data de entrada em vigor das novas regras que obrigam as entidades prestadoras de serviços públicos essenciais (onde se incluem os operadores de comunicações eletrónicas) a disponibilizarem uma linha gratuita para o consumidor, ou, em alternativa, uma linha telefónica a que corresponda uma gama de numeração geográfica ou móvel, tendo em conta o tarifário associado ao dispositivo que o consumidor está a utilizar. Embora surjam tardiamente, estas novas regras são uma resposta às nossas reivindicações.
  • Custos em caso de rescisão antecipada: fica caro sair antes de tempo. Quanto mais cedo, mais dolorosa é a fatura. E, quanto mais caro o tarifário, pior (cenário mais provável quando o prazo da megapromoção terminar). Os operadores calculam estes custos, proporcionalmente, com base nas ofertas promocionais, como os descontos nas mensalidades, o valor do aluguer da box e a inclusão de canais premium, entre outras generosidades. A lei chama a estas ofertas “vantagens conferidas” pelos operadores. Algumas das vantagens oferecidas não deixam dúvidas, quanto à sua tradução para euros, como os custos de instalação e ativação e os descontos nas mensalidades; outras não. Cartões de partilha da internet no telemóvel, por exemplo: quanto valem em dinheiro? E a oferta de três meses de canais premium, em euros, quanto dá? A nova Lei das Comunicações Eletrónicas (LCE), que está em discussão na Assembleia da República, mantém a fórmula de cálculo dos custos de rescisão antecipada dos contratos, que resulta em encargos elevados que prejudicam o consumidor~– situação que contestamos vigorosamente. Exigimos ver as características da oferta e do preço, a valorização das vantagens para cada pacote em concreto e quanto vai custar ao consumidor a saída antecipada em cada momento, junto à publicidade do produto.

Verifique tudo o que possa acarretar custos adicionais imprevistos. Seja minucioso. Picuinhas mesmo.

  • Aplicam-se taxas de inatividade em cartões móveis?
  • Há cobranças automáticas em consumos adicionais nos dados móveis?
  • O que acontece quando se atingem os limites de dados?

Desconto bombástico na mensalidade por seis meses, subida drástica a seguir. Afinal, quanto vou pagar em média?

Impossível não saltar à vista esta promoção da MEO: um pacote de TV, Net e Voz (um M3) por 28,99 euros por mês, em letras e números bem destacados. Mas antes que carregue no botão “Aderir”, semicerre os olhos e veja o que está escrito por baixo do generoso preço: “Inclui €8,00 de desconto durante 6 meses. €36,99 após 6º mês.”

Ao fim de seis meses, a mensalidade deste pacote tão sedutor ao primeiro fixar de olhos no destacado preço promocional sobe 27,6 por cento. Ou seja, quanto vai, de facto, o consumidor pagar, em média, durante um contrato de 24 meses, por um produto comunicado para que os 28,99 euros se destaquem? Mais uns valentes trocos: 34,99 euros. O preço que serve, efetivamente, para comparar ofertas. E agora o twist final: 34,99 euros, com uma mensalidade grátis, foi o último preço indicado para este M3 da MEO, antes de surgir a oferta “promocional”. Ou seja, o pacote está anunciado como sendo uma promoção, só que… não é.

Não é suposto que o consumidor tenha de fazer estes cálculos para saber quanto lhe vai custar a adesão a um pacote de telecomunicações. Destacar o preço promocional, ainda por cima, durante apenas parte do contrato, remetendo para segundo plano informações cruciais, dificulta a comparação entre pacotes e tarifários. E o consumidor acaba por ficar sem saber se fez a melhor opção ou não. Pior: pode mesmo ser induzido a contratar uma solução mais dispendiosa, em comparação com outras. É o caso desta oferta da MEO: fica mais cara nove cêntimos por mês do que o pacote equivalente de três serviços da Vodafone, e entre 6,55 euros e 10,93 euros mensais face à oferta da NOWO.

Exigimos preços claros

A apresentação deste tipo de ofertas promocionais, que consideramos manipuladora, pode levar a contratações inadvertidas por parte dos consumidores, prática comercial que consideramos desleal. Sobretudo tratando-se de contratos de longa duração, com 24 meses de fidelização. Defendemos uma solução de apresentação das ofertas que coloque preços promocionais e preços habituais no mesmo plano: com o mesmo destaque e sem diferenças no tamanho da fonte. Em alternativa, também poderia ser apresentado um valor para a globalidade do contrato ou, preferencialmente, um preço por mês equivalente a esse “bolo”. Qualquer uma destas hipóteses seria mais transparente e facilitaria a comparação de pacotes e tarifário.

Exigimos preços claros. E disso mesmo daremos conta à Anacom, no sentido de instar o regulador a olhar para este problema enquanto a nova Lei das Comunicações Eletrónicas (LCE) está em processo de alteração e atualização na Assembleia da República.

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