Net fixa de 10 Gbps: poucos cenários justificam uma velocidade ultrarrápida

Até há bem pouco tempo, a internet de alta velocidade estava reservada às empresas. Entretanto, começaram a surgir ofertas que propõem capacidades, mesmo num contexto doméstico, a chegar aos 10 Gbps de download e upload. Mas serão estas velocidades ultrarrápidas necessárias? E será compensador um preço entre 100 e 135 euros mensais?

A DECO PROTeste traçou alguns cenários, e chegou à conclusão de que 200 Mbps são suficientes para a maioria das famílias, tipicamente com quatro elementos, mesmo que usem, em simultâneo, serviços que exijam grande capacidade. Já para uma utilização básica, que inclua redes sociais, e-mails e sites de notícias, uma família de três pode ficar satisfeita com 30 Mbps de download. Mesmo numa situação bastante rara, como um agregado de dez a assistir a séries de streaming em resolução 4K e a participar numa videoconferência, tudo ao mesmo tempo, 500 Mbps seriam de bom tamanho.

Conclusão: os 10 Gbps propostos pela MEO e pela LigaT não são para a grande maioria dos utilizadores – nem para a maioria dos computadores. Profissionais em teletrabalho, desde que movimentem grande volume de dados, ou gamers que recorram a jogos exigentes são tendencialmente os grupos que poderão tirar partido destas ofertas.

Quem pode beneficiar de tarifários com net de 10 Gbps?

Uma ligação de 1 Gbps ou até mesmo de 10 Gbps instalada em casa pode compensar no caso de profissionais em teletrabalho, desde que movimentem grande quantidade de dados. Vejamos alguns cenários.

• Transferência de ficheiros: a possibilidade de enviar e receber muitos e pesados ficheiros, em apenas alguns segundos, é essencial para designers, fotógrafos, editores de vídeo e outros criativos.
• Transmissão de conteúdos em resolução 4K ou 8K: o streaming de vídeos de elevada resolução, com fluidez, é ideal para criadores de conteúdos e profissionais do entretenimento.
• Processamento de dados em tempo real: cientistas de dados têm, pela natureza da profissão, de analisar e processar grandes volumes de informação em tempo real, sendo-lhes necessária uma ligação de elevada velocidade.
• Gamers profissionais: quando a internet é rápida, podem jogar online com latência mínima, ou seja, sem desfasamento entre as ordens dadas ao jogo e a sua execução, garantindo uma experiência com a máxima eficiência.
• Cópias de segurança e recuperação de dados: fazer o rápido backup, na nuvem, de uma elevada quantidade de dados pode ser interessante para quem cumpre esta tarefa com frequência.

Nem todos os computadores tiram partido dos 10 Gbps de velocidade

Para beneficiar de todo o potencial dos pacotes 10 Gbps, é necessário um computador com porta de 10 GbE ou adaptador Thunderbolt 3 de 10 Gbps. Além disso, o cabo Ethernet deverá ser de categoria 6 ou superior.

Mesmo com todas estas características, o tarifário só poderá ser plenamente aproveitado, se o acesso for concretizado através do cabo e da porta de 10 Gbps. Ou seja, esta velocidade não é possível pela ligação sem fios. Mais: apenas um utilizador, de cada vez, poderá obter a velocidade máxima. Para os restantes que estejam ligados ao wi-fi doméstico, o máximo, na rede 5 GHz, é de 3,1 Gbps.

Aliás, embora anuncie 10 Gbps de velocidade, a MEO informa no seu site, de forma discreta, que o máximo útil é de 8 Gbps.

Tarifários só com internet já começam a ser interessantes

Net supersónica não interessa à maioria dos utilizadores domésticos, já se viu. Nem os computadores mais comuns são capazes de tirar partido dessa velocidade, nem é normal haver em casa um uso intensivo e exigente. Mesmo assim, nada o impede, claro, de contratar a internet mais rápida de sempre – e de pagar por isso. Se for o caso, pode ser válido aderir a um destes tarifários da MEO ou da LigaT.

Na MEO, a net mais veloz está prevista nos planos M3 (televisão, telefone fixo e net) e M4 (também com telefone móvel). O primeiro custa 99,99 euros, enquanto o segundo, com telemóvel 5G sem limite de tráfego, atinge os 134,99 euros. Ambos oferecem velocidade de download e upload de 10 Gbps. A fidelização, já se sabe, é de 24 meses.

TARIFÁRIOS COM INTERNET FIXA

Operador e tarifário	Televisão	Telefone fixo	Telemóvel	Download	Upload	Preço (€)
MEO M3 10 Gbps				10 Gbps	10 Gbps	99,99
MEO M4 10 Gbps				10 Gbps	10 Gbps	134,99
LigaT Wi-Fast & Furious				10 Gbps	5 Gbps	100
LigaT Wi-Fast				1 Gbps	1 Gbps	20
MEO M1 Net 1 Giga				1 Gbps	400 Mbps	39,99
NOWO Net				1 Gbps	500 Mbps	30
Vodafone Fibra2 Plus Giga				1 Gbps	200 Mbps	40,50
NOS 1				1 Gbps	100 Mbps	39,99
NOWO TV + Net + Voz + Móvel				250 Mbps	15 Mbps	40
NOWO TV + Net + Voz				250 Mbps	15 Mbps	30
MEO M4 200 Net Fibra				200 Mbps	100 Mbps	60,99
MEO M3 200 Net Fibra				200 Mbps	100 Mbps	40,49
Vodafone Fibra4 Plus				200 Mbps	100 Mbps	61,90
Vodafone Fibra3 Plus				200 Mbps	100 Mbps	40,50
NOS 4 5G				200 Mbps	100 Mbps	60,99
NOS 3				200 Mbps	10 Mbps	40,49

O telefone fixo não lhe interessa, já não vê televisão e pretende apenas o serviço de internet para aceder a séries e filmes das plataformas de streaming, mas não quer ficar amarrado a uma fidelização? Vale a pena verificar se a LigaT já chegou à sua região. O mais recente operador disponibiliza o plano Wi-Fast & Furious, com download de 10 Gbps e upload de 5 Gbps. O preço é de 100 euros mensais, ainda que a capacidade de upload fique aquém da oferecida pela MEO.

Se puder descer um pouco mais e ficar com uma velocidade de 1 Gbps, a LigaT tem um plano só com net, a um imbatível preço de 20 euros mensais. O tarifário da NOWO que inclui apenas internet de 1 Gbps custa 30 euros, o mesmo que a proposta de 250 Mbps que lhe soma televisão e telefone fixo (plano TV + Net + Voz).

Na NOS e na MEO, o preço do serviço de internet com 1 Gbps é de 39,99 euros. Já a Vodafone não contempla uma tal oferta. Aqui, terá sempre de contratar, no mínimo, mais o serviço de telefone fixo (tarifário Fibra2 Plus Giga), e o preço sobe aos 40,50 euros mensais. Na prática, se o consumidor não precisa de 1 Gbps de capacidade, há outro tarifário, com 200 Mbps, que compensa mais: pelos mesmos 40,50 euros mensais, a Vodafone permite contratar o serviço de televisão, no tarifário Fibra3 Plus.

Depois de anos sem que os operadores mostrassem vontade de acompanhar as tendências dos consumidores, cada vez menos interessados em tarifários tudo-em-um e mais em plataformas de streaming de vídeo, cujo acesso só exige o fornecimento de internet, começam a surgir propostas com preços vantajosos, que vêm desafiar o imobilismo do mercado. Mesmo assim, é notória a pouca vontade de alguns operadores largarem serviços e tornarem os seus tarifários mais ligeiros. Talvez seja apenas uma questão de tempo.