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Serviços de mobilidade partilhada são caros para uso diário

Embora úteis para quem não quer comprar trotinete, bicicleta ou scooter, metade dos lisboetas e portuenses inquiridos consideram ser uma opção cara para usar todos os dias.

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21 abril 2022
Exclusivo
Mulher na trotinete a consultar telemóvel

iStock

Para conhecermos a experiência e a satisfação dos portugueses com as plataformas de mobilidade partilhada, realizámos um inquérito aos habitantes de Lisboa e do Porto que utilizam este tipo de serviço. A partilha de carro com condutor é a mais usada — bem mais do que o táxi —, o que mostra que esta solução de transporte agrada aos utilizadores. Aliás, a maioria dos inquiridos considera que a mobilidade partilhada melhorou a forma como se movimentam na cidade.

Apesar da tendência, de uma forma geral, a frequência de utilização dos serviços de mobilidade partilhada em Lisboa e no Porto é baixa, em especial quando comparada com os restantes países europeus onde também foi realizado o estudo: Espanha, Itália e Bélgica. Em Milão, por exemplo, as trotinetes e scooters partilhadas são usadas, em média, três vezes por semana. Nas restantes cidades onde o inquérito foi conduzido — Antuérpia, Barcelona, Bruxelas, Madrid e Roma —, trotinetes, bicicletas e scooters são opção, em média, pelo menos, uma vez por semana.

Como fizemos o estudo

Em dezembro de 2021 e janeiro de 2022, enviámos um questionário online a utilizadores de plataformas de mobilidade partilhada das duas cidades nacionais mais populosas e que disponibilizam mais plataformas de mobilidade partilhada: Lisboa e Porto. Recebemos um total de 805 respostas. Procedimento idêntico foi seguido pelas associações nossas congéneres de Espanha, Itália e Bélgica.

Cada consumidor tinha a possibilidade de partilhar até três experiências, ocorridas nos 12 meses anteriores ao estudo, por tipo de plataforma. Por esta razão, os resultados sobre a satisfação e os problemas encontrados baseiam-se em 1378 experiências. Os resultados refletem a opinião e a experiência dos inquiridos.

Carro próprio ainda é muito usado

Começámos por procurar saber quais os meios de transporte que os lisboetas e os portuenses inquiridos utilizam no dia-a-dia. O automóvel pessoal ainda é a opção de cerca de 80%, sendo que 35% dos que vivem em Lisboa e 45% dos que estão no Porto o usam mais de cinco dias por semana. Dos transportes públicos, o metro é o mais procurado, seguido do autocarro.

Meios usados em Lisboa e Porto

Meios de transporte usados em Lisboa e Porto

Quanto aos meios de mobilidade partilhada, o carro com condutor foi o que convenceu mais inquiridos a experimentar (96 por cento). Contudo, a baixa frequência de utilização — a maioria recorreu a este meio uma vez por mês ou menos — revela que estas plataformas estão longe de ser uma opção para as deslocações diárias. No fundo, passaram a ser uma alternativa aos táxis. A utilização das trotinetes segue a mesma frequência de utilização. Neste caso, é provável que sejam usadas sobretudo ao fim de semana, em passeios pelas cidades.

Em Lisboa, 24% dos inquiridos usam as bicicletas partilhadas entre uma e cinco vezes por semana. De facto, é comum encontrar jovens em bicicletas Gira nas suas deslocações diárias, uma situação que suscita algumas questões. Analisámos os contratos das empresas que alugam trotinetes e bicicletas elétricas em Portugal e, em todos, sobressai um detalhe: o utilizador não pode ter menos de 18 anos. Por esta razão, em caso de acidente, os seguros contratados pelas empresas proprietárias dos veículos não cobrem danos pessoais e/ou patrimoniais que ocorram durante a utilização destes meios por menores de idade. Dado que nada no Código da Estrada impede a utilização das bicicletas e trotinetes elétricas partilhadas por menores de 18 anos, consideramos que é urgente alterar a idade mínima admitida nos contratos para os 14 anos, com o devido consentimento do responsável legal. Só com a redução da idade mínima dos utilizadores podemos assegurar a proteção adequada dos mesmos, bem como de terceiros que possam sofrer algum tipo de danos, em caso de acidente.

Partilha de veículos agrada

O serviço de carro com condutor, por ser o mais usado, foi aquele para o qual reunimos mais resultados. Detetámos bastantes utilizadores satisfeitos com esta solução, mas quisemos saber um pouco mais sobre as plataformas que disponibilizam o serviço. Conseguimos resultados para três: Bolt, Free Now e Uber.

Partilha de carro com condutor

Satisfação com carro com condutor

De uma forma geral, a facilidade em utilizar a aplicação e em definir o método de pagamento, o conforto do veículo, a higienização e limpeza dos carros e a simpatia do condutor foram os pontos mais apreciados na Bolt e na Uber. Já na Free Now agradaram sobretudo a facilidade em definir o método de pagamento e a simpatia do condutor. Mas há aspetos em que algumas empresas se saem melhor do que outras. A Bolt distinguiu-se das concorrentes no preço das viagens e no apoio ao cliente. A Uber recebeu uma apreciação superior às restantes na oferta de carros em toda a cidade. A Free Now não se diferenciou pela positiva em nenhum ponto. Pelo contrário, tem vários que agradam um pouco menos: utilização da aplicação, conforto dos carros e higienização e limpeza dos veículos.

Partilha de trotinete

Satisfação com partilha de trotinetes

As trotinetes reúnem um nível de satisfação geral com o serviço um pouco mais baixo, sobretudo no Porto. Apesar de já terem existido várias empresas a funcionar, atualmente são bem menos, pelo que só conseguimos reunir resultados válidos para duas: Bird e Bolt. Destas, a Bolt consegue utilizadores mais satisfeitos do que a Bird. A primeira destaca-se na facilidade de utilização da app e na definição do pagamento. Na Bird, o aspeto mais apreciado é a facilidade em utilizar os veículos. Os critérios menos apreciados nesta plataforma, com um valor inferior a seis, são a higienização e a limpeza das trotinetes, o preço das viagens e o apoio ao cliente.

Partilha de bicicleta

Satisfação com partilha de bicicletas

No caso das bicicletas, reunimos apreciações para a plataforma Gira, em Lisboa, que disponibiliza velocípedes em várias docas espalhadas pela cidade. É daqui ou aqui que os utilizadores podem retirar ou deixar os veículos, bastando para tal usar a aplicação. O que os utilizadores do serviço mais apreciam é o preço das viagens e a facilidade em utilizar o veículo. O que menos agrada é a higienização e a limpeza das bicicletas, o apoio ao cliente e a oferta pela cidade. O serviço, a funcionar desde 2017, é pago e é da responsabilidade da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL).

Mobilidade melhorou

Será que a mobilidade partilhada, como complemento ao uso dos transportes públicos, é do agrado dos habitantes de Lisboa e do Porto? Segundo os inquiridos, tudo indica que sim, pois a grande maioria considera que este tipo de serviços melhorou a mobilidade na cidade. Contudo, pouco mais de metade também os acha caros para um uso regular. Talvez por isso, a frequência de utilização é baixa.

Inquiridos concordam que…

Inquiridos

Pouco mais de metade dos inquiridos defendem ainda pontos de recolha e de entrega fixos para as trotinetes e scooters, que se encontram espalhadas um pouco por toda a cidade e nem sempre nos melhores locais. Por outro lado, cerca de metade concorda que há falta de regras e de regulamentos para este tipo de serviços e 63% consideram que o serviço de carros com condutor deveria estar sujeito aos mesmos direitos e às mesmas regras que os táxis.

Quisemos ainda conhecer a satisfação de alfacinhas e tripeiros com as infraestruturas de mobilidade das respetivas cidades. Revelamos os resultados para ambas as cidades, já que existem diferenças.

Satisfação com…

Satisfação

Em Lisboa, os inquiridos estão mais satisfeitos com a oferta de soluções de mobilidade partilhada e com a infraestrutura de bicicletas do que no Porto. Na Invicta, a oferta de transportes públicos, assim como o estado das infraestruturas da rede e a higienização e a limpeza dos veículos têm a preferência dos utilizadores. Ou seja, a mobilidade partilhada agrada mais em Lisboa e os transportes públicos reúnem maior satisfação no Porto.

 

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