Serviços de mobilidade partilhada são caros para uso diário
Embora úteis para quem não quer comprar trotinete, bicicleta ou scooter, metade dos lisboetas e portuenses inquiridos consideram ser uma opção cara para usar todos os dias.

Para conhecermos a experiência e a satisfação dos portugueses com as plataformas de mobilidade partilhada, realizámos um inquérito aos habitantes de Lisboa e do Porto que utilizam este tipo de serviço. A partilha de carro com condutor é a mais usada — bem mais do que o táxi —, o que mostra que esta solução de transporte agrada aos utilizadores. Aliás, a maioria dos inquiridos considera que a mobilidade partilhada melhorou a forma como se movimentam na cidade.
Apesar da tendência, de uma forma geral, a frequência de utilização dos serviços de mobilidade partilhada em Lisboa e no Porto é baixa, em especial quando comparada com os restantes países europeus onde também foi realizado o estudo: Espanha, Itália e Bélgica. Em Milão, por exemplo, as trotinetes e scooters partilhadas são usadas, em média, três vezes por semana. Nas restantes cidades onde o inquérito foi conduzido — Antuérpia, Barcelona, Bruxelas, Madrid e Roma —, trotinetes, bicicletas e scooters são opção, em média, pelo menos, uma vez por semana.
Como fizemos o estudo
Em dezembro de 2021 e janeiro de 2022, enviámos um questionário online a utilizadores de plataformas de mobilidade partilhada das duas cidades nacionais mais populosas e que disponibilizam mais plataformas de mobilidade partilhada: Lisboa e Porto. Recebemos um total de 805 respostas. Procedimento idêntico foi seguido pelas associações nossas congéneres de Espanha, Itália e Bélgica.
Cada consumidor tinha a possibilidade de partilhar até três experiências, ocorridas nos 12 meses anteriores ao estudo, por tipo de plataforma. Por esta razão, os resultados sobre a satisfação e os problemas encontrados baseiam-se em 1378 experiências. Os resultados refletem a opinião e a experiência dos inquiridos.
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Começámos por procurar saber quais os meios de transporte que os lisboetas e os portuenses inquiridos utilizam no dia-a-dia. O automóvel pessoal ainda é a opção de cerca de 80%, sendo que 35% dos que vivem em Lisboa e 45% dos que estão no Porto o usam mais de cinco dias por semana. Dos transportes públicos, o metro é o mais procurado, seguido do autocarro.
Meios usados em Lisboa e Porto
Em Lisboa, 24% dos inquiridos usam as bicicletas partilhadas entre uma e cinco vezes por semana. De facto, é comum encontrar jovens em bicicletas Gira nas suas deslocações diárias, uma situação que suscita algumas questões. Analisámos os contratos das empresas que alugam trotinetes e bicicletas elétricas em Portugal e, em todos, sobressai um detalhe: o utilizador não pode ter menos de 18 anos. Por esta razão, em caso de acidente, os seguros contratados pelas empresas proprietárias dos veículos não cobrem danos pessoais e/ou patrimoniais que ocorram durante a utilização destes meios por menores de idade. Dado que nada no Código da Estrada impede a utilização das bicicletas e trotinetes elétricas partilhadas por menores de 18 anos, consideramos que é urgente alterar a idade mínima admitida nos contratos para os 14 anos, com o devido consentimento do responsável legal. Só com a redução da idade mínima dos utilizadores podemos assegurar a proteção adequada dos mesmos, bem como de terceiros que possam sofrer algum tipo de danos, em caso de acidente.
O serviço de carro com condutor, por ser o mais usado, foi aquele para o qual reunimos mais resultados. Detetámos bastantes utilizadores satisfeitos com esta solução, mas quisemos saber um pouco mais sobre as plataformas que disponibilizam o serviço. Conseguimos resultados para três: Bolt, Free Now e Uber.
Partilha de carro com condutor
De uma forma geral, a facilidade em utilizar a aplicação e em definir o método de pagamento, o conforto do veículo, a higienização e limpeza dos carros e a simpatia do condutor foram os pontos mais apreciados na Bolt e na Uber. Já na Free Now agradaram sobretudo a facilidade em definir o método de pagamento e a simpatia do condutor. Mas há aspetos em que algumas empresas se saem melhor do que outras. A Bolt distinguiu-se das concorrentes no preço das viagens e no apoio ao cliente. A Uber recebeu uma apreciação superior às restantes na oferta de carros em toda a cidade. A Free Now não se diferenciou pela positiva em nenhum ponto. Pelo contrário, tem vários que agradam um pouco menos: utilização da aplicação, conforto dos carros e higienização e limpeza dos veículos.
Partilha de trotinete
As trotinetes reúnem um nível de satisfação geral com o serviço um pouco mais baixo, sobretudo no Porto. Apesar de já terem existido várias empresas a funcionar, atualmente são bem menos, pelo que só conseguimos reunir resultados válidos para duas: Bird e Bolt. Destas, a Bolt consegue utilizadores mais satisfeitos do que a Bird. A primeira destaca-se na facilidade de utilização da app e na definição do pagamento. Na Bird, o aspeto mais apreciado é a facilidade em utilizar os veículos. Os critérios menos apreciados nesta plataforma, com um valor inferior a seis, são a higienização e a limpeza das trotinetes, o preço das viagens e o apoio ao cliente.
Partilha de bicicleta
No caso das bicicletas, reunimos apreciações para a plataforma Gira, em Lisboa, que disponibiliza velocípedes em várias docas espalhadas pela cidade. É daqui ou aqui que os utilizadores podem retirar ou deixar os veículos, bastando para tal usar a aplicação. O que os utilizadores do serviço mais apreciam é o preço das viagens e a facilidade em utilizar o veículo. O que menos agrada é a higienização e a limpeza das bicicletas, o apoio ao cliente e a oferta pela cidade. O serviço, a funcionar desde 2017, é pago e é da responsabilidade da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL).
Será que a mobilidade partilhada, como complemento ao uso dos transportes públicos, é do agrado dos habitantes de Lisboa e do Porto? Segundo os inquiridos, tudo indica que sim, pois a grande maioria considera que este tipo de serviços melhorou a mobilidade na cidade. Contudo, pouco mais de metade também os acha caros para um uso regular. Talvez por isso, a frequência de utilização é baixa.
Inquiridos concordam que…
Pouco mais de metade dos inquiridos defendem ainda pontos de recolha e de entrega fixos para as trotinetes e scooters, que se encontram espalhadas um pouco por toda a cidade e nem sempre nos melhores locais. Por outro lado, cerca de metade concorda que há falta de regras e de regulamentos para este tipo de serviços e 63% consideram que o serviço de carros com condutor deveria estar sujeito aos mesmos direitos e às mesmas regras que os táxis.
Quisemos ainda conhecer a satisfação de alfacinhas e tripeiros com as infraestruturas de mobilidade das respetivas cidades. Revelamos os resultados para ambas as cidades, já que existem diferenças.