Segurança na estrada: é urgente desacelerar
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Mais de 70% dos inquiridos revelaram exceder os limites de velocidade em diferentes situações.
- Especialista
- Ana Almeida
- Editor
- Isabel Vasconcelos

O nosso inquérito revela que os portugueses têm pé pesado a conduzir e distraem-se com relativa facilidade.
A grande maioria dos inquiridos tem alguns cuidados para garantir a segurança enquanto conduz, como pôr o cinto de segurança, tanto dentro como fora das cidades, e não espreitar o jornal ou revistas nem navegar na internet. Contudo, 34% enviam mensagens pelo telemóvel e 66% comem ou bebem quando vão ao volante. Mas a velocidade é mesmo o maior pecado dos portugueses. Em regra, mais de um terço excede, pelo menos de vez em quando, os limites definidos para cada tipo de estrada em mais de 20 quilómetros por hora.
Além de investigarmos os comportamentos de risco mais adotados pelos portugueses, procurámos ainda saber quais deles estão associados a uma maior probabilidade de acidente. Por outro lado, os inquiridos concordam com várias medidas que ajudam a reduzir o número de vítimas na estrada.
Há comportamentos que pioraram
Não é a primeira vez que realizamos um inquérito para aferir os hábitos de condução dos portugueses. No estudo publicado em março de 2016, já alertávamos que o excesso de velocidade e o uso do telemóvel durante a condução eram os principais comportamentos de risco. Desta vez, verificámos as respostas dadas num e noutro estudo, e analisámos se as atitudes pioraram ou melhoraram nestes seis anos.
Quanto aos comportamentos relacionados com a velocidade, constatámos que aumentou o número de inquiridos que admitiram excessos para as condições de visibilidade ou do piso (mais 31%) e que ultrapassaram os 110 quilómetros por hora num itinerário principal, que tem um limite de 90 quilómetros por hora (mais 12 por cento). Dado que este último é um comportamento que 79% dos inquiridos adotaram, pelo menos de vez em quando, é preocupante constatar que os transgressores aumentaram em seis anos. Nas restantes infrações relacionadas com a velocidade, houve um ligeiro decréscimo.
Face ao último estudo, também aumentou o número de inquiridos que espreitam a internet durante a condução (mais 12%) e que não guardam a distância de segurança para o veículo da frente (mais 7 por cento). Nas ultrapassagens pela direita e na condução muito próxima do automóvel da frente, para mostrar que o condutor deve acelerar ou sair da frente, registámos um aumento de 3% na quantidade de infratores.
Contudo, diminuíram os que conduzem na faixa do meio ou da esquerda de uma autoestrada quando não há trânsito (menos 5%) e os que ficam furiosos com certos condutores ou peões e mostram o seu desagrado (menos 9 por cento).
Como fizemos o estudo
Quisemos conhecer os hábitos de condução, os acidentes, as opiniões e a satisfação dos portugueses com as estradas e autoestradas nacionais. Para tal, enviámos, em junho e julho de 2021, um questionário a uma amostra da população portuguesa, com idades entre os 18 e os 79 anos. Recebemos 1373 respostas válidas de pessoas com carta de condução.
Os dados foram ponderados para se ajustarem às características demográficas dos condutores nacionais no que respeita a género, idade, região e nível educacional. Os resultados refletem a experiência e a opinião dos inquiridos.
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Foi nas autoestradas, sujeitas a um limite de 120 quilómetros por hora, que registámos a maior quantidade de infratores: 40% indicaram circular, pelo menos de vez em quando, a mais de 140 quilómetros por hora. Numa via de cintura urbana (como a CRIL ou a VCI), 39% viajam, com alguma regularidade, a mais de 110 quilómetros por hora, quando o limite é de 90 quilómetros por hora.
Violações das regras de trânsito
Outro problema detetado prende-se com as distrações durante a condução, que levam a comportamentos que podem originar acidentes. É o caso das travagens bruscas porque o condutor só tarde se apercebe de que o veículo da frente abrandou ou parou. Os piscas também são “esquecidos” por mais de metade dos portugueses que responderam, bem como a decisão repentina de parar no semáforo amarelo ou uma travagem muito em cima de outra viatura, devido a um erro de cálculo da distância.
Falhas por falta de atenção
A adoção de comportamentos agressivos durante a condução também é um fator de risco. Quase sete em cada dez portugueses já ficaram furiosos com outros condutores ou peões, e mostraram o seu desagrado. Mas há mais atitudes típicas de quem tem pouca paciência na estrada. É o que acontece ao conduzir muito próximo do carro da frente, ignorar os peões nas passadeiras ou impor-se para conseguir um lugar melhor numa fila. Encontrámos alguns exemplos entre os nossos inquiridos.
Comportamentos agressivos
Contudo, a grande maioria não conduz quando bebe bebidas alcoólicas, nem quando toma medicamentos para os quais o volante está contraindicado. Já 84% referiram conduzir quando estão cansados, o que também pode ser perigoso. O cansaço potencia distrações — algo que verificámos ser comum — ou lentidão na tomada de decisões, que podem pôr em causa a segurança do condutor ou de outros utilizadores das estradas.
Através do questionário, procurámos saber se os inquiridos já tinham estado envolvidos nalgum acidente enquanto condutores. Verificámos que foi o caso de 61%, desde que tiraram a carta. Quando nos cingimos apenas aos últimos três anos, foram 15% a referirem ter sofrido um acidente. Destes, mais de metade (58%) ocorreram dentro das localidades e 23% em estradas nacionais. Quanto às causas, a mais comum foi o não-cumprimento da distância de segurança (28%), seguida do desrespeito pela prioridade de outro veículo e por manobras irregulares, ambos os motivos referidos em 21% das situações.
Além de investigarmos os comportamentos de risco mais adotados pelos portugueses, procurámos saber quais deles estão associados a uma maior probabilidade de acidente. Para tal, usámos os dados recolhidos sobre os acidentes em que os inquiridos estiveram envolvidos nos últimos três anos. Após a análise da informação, chegámos a quatro comportamentos de risco.
Quanto aumenta o risco de acidente
O uso do telemóvel durante a condução aumenta em 78% o risco de acidente. Verificámos que os portugueses até aos 48 anos tendem a adotar mais este comportamento, passando a portar-se melhor a partir dos 60 anos. Em ambos os grupos, quem tem um nível de educação mais elevado transgride mais.
O desrespeito pelos limites de velocidade — um comportamento comum entre os portugueses — aumenta em 66% o risco de acidente. As pessoas até aos 52 anos são as que tendem a acelerar mais e, destas, as que têm um nível de educação mais elevado são as que revelam pior comportamento. Mais uma vez, a partir dos 60 anos, tornam-se mais cumpridoras.
Os erros por distração ou falta de atenção, bem como o comportamento agressivo, aumentam em 46% a probabilidade de envolvimento num acidente. Constatámos que os homens tendem a mostrar um comportamento mais agressivo do que as mulheres. Entre os primeiros, os que têm até 43 anos revelaram-se piores, enquanto a faixa a partir dos 64 anos é a mais pacífica na estrada.
Apesar de alguns (maus) comportamentos registados, os inquiridos concordam com várias medidas que ajudam a reduzir o número de vítimas na estrada, assim como com a atuação da polícia.
Inquiridos concordam com...
O uso do cinto de segurança é visto pela grande maioria como uma medida que ajuda a salvar vidas. A presença de mais polícia na estrada e as campanhas da prevenção rodoviária também são consideradas promotoras de maior cuidado durante a condução. Já a redução dos limites de velocidade não reúne tanto consenso: apesar de 46% concordarem que a medida pode ajudar a evitar mais acidentes com vítimas, 37% têm opinião contrária.
A fiscalização das autoridades é mais consensual. A maioria dos inquiridos concorda que é atuante, pois dificilmente não seriam multados se circulassem em excesso de velocidade, conduzissem embriagados ou não usassem o cinto de segurança. Aliás, mais de metade até defendem que a lei relativa à condução sob o efeito do álcool deveria ser mais severa (64 por cento).
Verificámos ainda que, de uma forma geral, quem comete infrações como exceder os limites de velocidade ou conduzir após a ingestão de bebidas alcoólicas são os que mais acreditam que a probabilidade de serem multados é muito reduzida.