Anorexia e bulimia nervosas: causas e tratamento

Recusam alimentos ou comem demais, fazem exercício sem descanso ou provocam o vómito para não engordarem. São doentes com anorexia ou bulimia nervosas. O tratamento é difícil, mas possível.
A anorexia e a bulimia nervosas são as perturbações do comportamento alimentar mais conhecidas. Trata-se de doenças do foro mental com repercussões físicas, por vezes, muito graves.
Estas doenças, em geral, manifestam-se de forma antagónica, mas visam o mesmo: perder peso. O anorético não come para emagrecer ou evitar engordar. Com objetivos semelhantes, o bulímico ingere grande quantidade de comida às escondidas, num período curto, para, a seguir, provocar o vómito. Ambos exageram no exercício físico e podem abusar de medicamentos diuréticos ou laxantes, com intenção de controlar o peso. Estes fármacos facilitam, respetivamente, a eliminação de urina e fezes. Os anoréticos podem ter crises de bulimia, sobretudo, em momentos de depressão.
Causas da anorexia e da bulimia desconhecidas
A anorexia e a bulimia afetam, sobretudo, mulheres. A primeira é mais frequente nas adolescentes, entre os 12 e os 18 anos. A segunda atinge, sobretudo, as mais adultas. Não se conhecem as causas exatas destes problemas, mas pensa-se que podem dever-se a uma conjugação de fatores sociais, culturais, características pessoais e genéticas, entre outros.
Comparados com pessoas da mesma idade, os anoréticos são mais sensíveis, organizados, cuidadosos e perfeccionistas. Numa fase inicial, os doentes tornam-se demasiado sérios e introvertidos. Depois, afastam-se dos amigos e raramente querem sair de casa.
Os bulímicos, em geral, são inseguros. Qualquer observação que lhes façam é entendida como uma crítica grave. Ao contrário dos anoréticos, estes doentes não demonstram alterações nos hábitos alimentares.
Os padrões de beleza ditados pela moda também podem contribuir para o desenvolvimento de perturbações do comportamento alimentar. O facto de as revistas para adolescentes passarem uma imagem de sucesso associada à magreza e insistirem em dietas desajustadas ou conselhos para disfarçar algumas características "menos apreciadas", como a barriga ou ancas largas, agravam eventuais défices de autoestima e dificuldades psicológicas. Nas adolescentes, há ainda que ter em conta as alterações físicas e mentais próprias da idade, que podem originar graves crises de identidade.
Sinais de alerta não devem ser ignorados
Há alguns sinais que permitem detetar estas doenças. Preste atenção.
Anorexia
- Perda de peso.
- Desculpas constantes para não se sentar à mesa à hora da refeição ou para não comer.
- Pesar ou contar os alimentos a ingerir.
- Servir pequenas quantidades de comida e cortá-la em frações ínfimas.
- Isolamento social.
- Desinteresse por atividades de que gostava.
- Prática exagerada de exercício.
Bulimia
- Oscilações frequentes no peso.
- Cáries dentárias frequentes.
- Calos, cicatrizes ou feridas nas mãos, por provocarem o vómito.
- Alteração do horário das refeições.
- Ir com frequência à casa de banho durante ou após as refeições (para vomitar).
- Agressividade e isolamento social.
- Prática exagerada de exercício.
Anoréticos e bulímicos arriscam complicações
O comportamento alimentar dos anoréticos e bulímicos acarreta graves problemas de saúde. Nos primeiros, verifica-se um rápido esgotamento das reservas de energia do organismo, pelo que este tem de recorrer ao músculo para manter as funções vitais.
As carências nutricionais tornam a pele mais seca e pálida e enfraquecem o cabelo. Tonturas, anemias e distúrbios no sistema hormonal, com o desaparecimento da menstruação, nas mulheres, e a impotência sexual, nos homens, são outros problemas comuns. Alguns doentes ficam com osteoporose, problemas de estômago, no fígado e nos rins. No limite, a doença pode conduzir à morte, por infeções generalizadas.
Os bulímicos, além dos problemas indicados para os anoréticos, arriscam-se a ter distensão do estômago, lesões no esófago, cáries dentárias, irritação crónica na garganta, por provocarem o vómito, e inchaço nas mãos e nos pés.
O abuso de laxantes e diuréticos também acarreta problemas. Os primeiros podem criar habituação e favorecem a perda de potássio, cuja carência pode ocasionar debilidade muscular e prisão de ventre. Quanto aos diuréticos, a principal consequência é a desidratação.
Tratamento: quanto mais cedo, melhor
Se desconfia de que alguém sofre de anorexia ou bulimia, tente convencê-lo a consultar o médico de família. Este encaminha-o para uma consulta especializada no hospital. A anorexia e bulimia são doenças do foro mental, pelo que o tratamento passa obrigatoriamente pela psicoterapia. A debilidade do organismo exige também uma intervenção alimentar. Quanto mais cedo for detetado o problema, maiores as possibilidades de cura.
As consultas hospitalares, em geral, contam uma equipa de vários especialistas, como psiquiatras, psicólogos e nutricionistas, entre outros. A psicoterapia individual é indispensável. A terapia com a família é importante, para que esta possa dar apoio ao doente. No caso da bulimia, pode ser necessário também recorrer a medicamentos antidepressivos como a fluoxetina. No caso da anorexia nervosa, não existem medicamentos com indicação clínica aprovada para o seu tratamento.
Ao nível físico, reintroduzem-se os alimentos de forma gradual e, em caso de carências nutricionais, o doente toma suplementos. Caso o tratamento em ambulatório não resulte, pode ser internado no hospital. O mesmo se verifica nos casos em que o baixo peso põe em risco a vida do doente. O percurso é difícil, pode durar entre meses e anos, dependendo do estado do paciente e da sua colaboração, mas a cura existe.
Outras perturbações do comportamento alimentar
Além da anorexia e da bulimia, já classificadas como doenças, existem outras perturbações do comportamento alimentar.
Obsessão pela pureza
Chama-se ortorexia, afeta, sobretudo, mulheres entre os 18 e os 40 anos, que são obcecadas pela alimentação saudável. Escolhem apenas alimentos que, em seu entender, contribuem para o bom funcionamento do organismo, libertando o corpo e a mente de impurezas.
Defendem que tudo deve estar desinfetado, porque o ambiente assético origina saúde. São muito seletivos nos alimentos, evitando, por exemplo, os que contêm sal, açúcar e conservantes, entre outros ingredientes que consideram nefastos.
Esforçam-se para resistir a "tentações menos saudáveis" e, se tiverem algum deslize, castigam-se com dietas ainda mais rigorosas ou jejuns. Estas restrições obsessivas podem levar a carências de nutrientes. Os ortoréxicos têm, frequentemente, problemas de relacionamento social.
Exercício comanda a vida
A vigorexia, também designada por complexo de Adónis, anorexia masculina ou reversa, afeta, sobretudo, homens. Por maior que seja o volume dos seus músculos, sentem-se sempre "lisos" e sem encanto físico.
Olham-se ao espelho com frequência e pesam-se a toda a hora. Treinam sem descanso, fazem dietas desequilibradas e recorrem a suplementos, em geral, de proteínas. O objetivo da sua vida é desenvolver os músculos. O excesso de exercício leva a problemas nos ossos e articulações.
Compulsão alimentar
Caracteriza-se pela ingestão de grande quantidade de alimentos, em geral, muito calóricos, num curto período. Seguem-se horas sem comer, na esperança de estar a fazer dieta, e uma nova crise de voracidade.
É semelhante à bulimia, mas os doentes não recorrem aos vómitos, nem a medicamentos laxantes ou diuréticos. Afeta homens e mulheres, que sofrem de constantes oscilações no peso, embora tendam a acusar quilos em excesso.
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