Seguro para riscos no ciberespaço: mercado desfasado da realidade
O mercado de seguros para consumidores particulares continua tímido no que toca à proteção digital, em contraste com as propostas vocacionadas para as empresas, que têm vindo a evoluir.
Desde o último estudo comparativo da DECO PROteste, há três anos, o mercado de seguros para particulares pouco mexeu, atrasando-se face a uma realidade em evolução rápida.
Num mundo cada vez mais digital, os riscos associados à navegação online, à utilização de redes sociais, a compras eletrónicas ou a simples trocas de mensagens tornaram-se inevitáveis. Desde a usurpação da identidade até a fraudes com meios de pagamento, passando por difamações ou violações da privacidade, a vida digital dos consumidores enfrenta ameaças constantes, muitas vezes, difíceis de prevenir, e ainda mais de resolver.
Apesar disso, o mercado de seguros para consumidores particulares continua tímido no que toca à proteção digital, em contraste com as propostas vocacionadas para as empresas, que têm vindo a evoluir.
Em 2022, quando fizemos o primeiro levantamento acerca deste tipo de seguro para particulares, chegámos à conclusão de que o mercado estava a dar os primeiros passos, e, três anos depois, tudo parece estar, mais ou menos, na mesma. A maioria das ofertas são limitadas, dispersas e pouco adaptadas às reais necessidades de quem vive conectado.
O produto mais completo continua a ser o Fidelidade Cyber Famílias, uma apólice especificamente desenhada para o universo familiar, com duas modalidades de cobertura. Destaca-se por conjugar proteção jurídica, desde responsabilidade civil por atos online até litígios em compras digitais, com assistência tecnológica e apoio psicológico. O seu valor anual – entre 36 e 48 euros – é competitivo, sobretudo considerando a abrangência dos serviços incluídos.
Já seguradoras como a Generali Tranquilidade, a Ageas e a Mudum optaram por incluir coberturas cibernéticas nas apólices multirriscos-habitação. Não se tratando de produtos específicos, os montantes indemnizatórios e a aplicabilidade prática são limitados. Em muitos casos, o consumidor tem de adiantar despesas e navegar por processos de reembolso nem sempre simples ou rápidos. Embora úteis, estas soluções são mais simbólicas do que verdadeiramente protetoras.
O mercado ainda precisa de evoluir. É necessário criar seguros centrados no utilizador digital, com coberturas ajustadas às novas ameaças e à sua frequência. Sobretudo, produtos com uma linguagem clara e acessível, que não esconda exclusões ou processos burocráticos, e, sobretudo, com mecanismos de resposta eficazes e céleres.
A proteção digital deve deixar de ser um extra e passar a ser uma dimensão essencial da segurança pessoal. Porque, no nosso mundo, a vida digital é a vida real, e os consumidores merecem sentir-se seguros também no ecrã.
Sabia que...?
O mais recente Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), que reporta dados de 2024, registou 11 163 incidentes de cibersegurança no ciberespaço de interesse nacional. Muito superior ao do ano anterior, este número deve-se aos melhores meios de deteção de ataques.
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