Fraude digital: as palavras também pesam
Vivemos numa era em que a fraude digital se destaca como um dos crimes com maior crescimento e impacto no quotidiano de milhares de consumidores. E um fenómeno agrava o problema: a culpabilização de quem é apanhado no engodo.
Quantas vezes ouvimos expressões como "caiu que nem um patinho" ou "como pôde ser tão ingénuo?" para descrever quem é vítima de burla? Vivemos numa era em que a fraude digital se destaca como um dos crimes com maior crescimento e impacto no quotidiano de milhares de consumidores. E um fenómeno agrava o problema: a culpabilização de quem é apanhado no engodo.
Um estudo recente da AARP, organização americana de defesa dos consumidores mais velhos, revela que este tipo de linguagem, muitas vezes dita de forma inconsciente, responsabiliza quem é alvo do crime, desviando o olhar de quem o comete. E não só desmotiva a denúncia, como mina o bem-estar emocional das vítimas, que se retraem por vergonha ou medo do julgamento. Acreditar que só os "menos informados", os "mais velhos" ou os "distraídos" caem nestes esquemas é falso. A literacia digital é essencial, mas não é um escudo impenetrável. Os burlões adaptam-se, evoluem e sabem como explorar momentos de fragilidade.
Por isso, o primeiro passo para uma resposta mais eficaz à fraude digital é reconhecer que todos podemos ser vítimas e mudar a narrativa pública. Em vez de lançarmos um "como pudeste cair nesse esquema?", podemos tentar "a culpa não foi tua; foste vítima de um crime". Ou, em vez de "quanto perdeste?", experimentar "quanto dinheiro te roubaram?".
A literacia digital não pode limitar-se a ensinar como proteger palavras-passe ou evitar links suspeitos. Tem de incluir pensamento crítico, empatia e consciência social. Saber que não há culpa em ser enganado é essencial. E saber como reagir – denunciar, procurar apoio, partilhar a experiência – é um ato de cidadania.
Sabia que...?
Um estudo recente da AARP, organização americana de defesa dos consumidores mais velhos, revela que o tipo de linguagem, muitas vezes dita de forma inconsciente, responsabiliza quem é alvo do crime, desviando o olhar de quem o comete. E não só desmotiva a denúncia, como mina o bem-estar emocional das vítimas.
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