Fraude digital: as palavras também pesam

Publicado a 01 julho 2025
cláudia maia
Cláudia Maia Diretora de Publicações

Vivemos numa era em que a fraude digital se destaca como um dos crimes com maior crescimento e impacto no quotidiano de milhares de consumidores. E um fenómeno agrava o problema: a culpabilização de quem é apanhado no engodo.

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Cláudia Maia Diretora de Publicações
iStock Fraude Digital
Em vez de lançarmos um "como pudeste cair nesse esquema?", podemos tentar "a culpa não foi tua; foste vítima de um crime". Ou, em vez de "quanto perdeste?", experimentar "quanto dinheiro te roubaram?". 

Quantas vezes ouvimos expressões como "caiu que nem um patinho" ou "como pôde ser tão ingénuo?" para descrever quem é vítima de burla? Vivemos numa era em que a fraude digital se destaca como um dos crimes com maior crescimento e impacto no quotidiano de milhares de consumidores. E um fenómeno agrava o problema: a culpabilização de quem é apanhado no engodo.

Um estudo recente da AARP, organização americana de defesa dos consumidores mais velhos, revela que este tipo de linguagem, muitas vezes dita de forma inconsciente, responsabiliza quem é alvo do crime, desviando o olhar de quem o comete. E não só desmotiva a denúncia, como mina o bem-estar emocional das vítimas, que se retraem por vergonha ou medo do julgamento. Acreditar que só os "menos informados", os "mais velhos" ou os "distraídos" caem nestes esquemas é falso. A literacia digital é essencial, mas não é um escudo impenetrável. Os burlões adaptam-se, evoluem e sabem como explorar momentos de fragilidade.

Por isso, o primeiro passo para uma resposta mais eficaz à fraude digital é reconhecer que todos podemos ser vítimas e mudar a narrativa pública. Em vez de lançarmos um "como pudeste cair nesse esquema?", podemos tentar "a culpa não foi tua; foste vítima de um crime". Ou, em vez de "quanto perdeste?", experimentar "quanto dinheiro te roubaram?".

A literacia digital não pode limitar-se a ensinar como proteger palavras-passe ou evitar links suspeitos. Tem de incluir pensamento crítico, empatia e consciência social. Saber que não há culpa em ser enganado é essencial. E saber como reagir – denunciar, procurar apoio, partilhar a experiência – é um ato de cidadania.

Sabia que...?

Um estudo recente da AARP, organização americana de defesa dos consumidores mais velhos, revela que o tipo de linguagem, muitas vezes dita de forma inconsciente, responsabiliza quem é alvo do crime, desviando o olhar de quem o comete. E não só desmotiva a denúncia, como mina o bem-estar emocional das vítimas.

 

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