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Cigarros eletrónicos: quais os riscos e cuidados a ter

Os cigarros eletrónicos ou e-cigarros são irritantes para o sistema respiratório e causam danos cardiovasculares, diz a ciência. A Organização Mundial da Saúde considera que são prejudiciais para a saúde e que causam dependência. Com a nova legislação, passa a ser proibido usar aromas nestes cigarros.

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24 janeiro 2024
mulher a fumar cigarro eletrónico

iStock

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que, além de não serem seguros, os cigarros eletrónicos são prejudiciais para a saúde. Contudo, afirma que é muito cedo para fornecer uma resposta clara sobre o seu impacto a longo prazo, tanto para quem usa como para os que estão expostos às exalações.

Por cá, a Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) desaconselham a sua utilização, com particular destaque para os que contêm líquidos com canabidiol e outros derivados de canábis, acetato de vitamina E e diacetil.

Quais os riscos da utilização de cigarros eletrónicos?

Em abril de 2021, o Comité Científico da Saúde, do Ambiente e dos Riscos Emergentes, da Comissão Europeia, publicou um relatório sobre os riscos para a saúde dos cigarros eletrónicos, com base na revisão dos conhecimentos científicos. De acordo com o documento, há evidência moderada de que o uso de cigarros eletrónicos causa irritações nas vias respiratórias. Isto é provocado pela exposição repetida a substâncias como aldeídos e nicotina. Contudo, a notificação de problemas deste género associados ao uso dos dispositivos é baixa.

O risco de problemas cardiovasculares a longo prazo também tem evidência moderada. Para o risco de desenvolvimento de cancro nas vias respiratórias, devido à exposição a nitrosaminas, acetaldeído e formaldeído, a evidência é fraca a moderada. Já outros impactos a longo prazo, como doenças pulmonares e efeitos nefastos ao nível da reprodução, estão pouco documentados, sendo necessários mais estudos.

Componentes dos e-cigarros sob suspeita

Os cigarros eletrónicos não contêm tabaco, facto que os distingue dos cigarros convencionais ou dos cigarros de tabaco aquecido.

O líquido que dá origem ao aerossol dos cigarros eletrónicos não tem só água. Há solventes, como a glicerina vegetal e o propilenoglicol, aromas e, na maioria dos casos, a famosa nicotina.

Muitos dos aromas presentes nos e-cigarros são usados, de forma segura, na alimentação. Porém, não se conhecem bem as consequências que podem ter, quando aquecidos e inalados. Já a nicotina está bem estudada. A substância age sobre determinados recetores no cérebro e fora dele, provocando estimulação ou depressão, conforme a intensidade e a frequência com que é inalada. Por exemplo, pode estimular o sistema nervoso central, e a pessoa fica mais ansiosa, ou atuar sobre o sistema cardíaco, acelerando o ritmo do coração (taquicardia). A nicotina pode ainda prejudicar os vasos sanguíneos, o sistema hormonal e o metabolismo, entre outros.

É verdade que há e-cigarros sem nicotina, mas continua a desconhecer-se o impacto do restante cocktail que compõe o aerossol. As diferentes combinações de solventes e aromas resultam numa grande variedade de produtos químicos no aerossol. Isto dificulta o estudo dos efeitos toxicológicos dos cigarros eletrónicos.

Os cigarros eletrónicos sem nicotina não têm enquadramento legal na lei do tabaco, pelo que não têm de cumprir com as restrições aplicadas aos mesmos produtos, mas com nicotina.

Entre as substâncias químicas já identificadas, encontram-se: 

  • compostos de carbonilo (por exemplo, formaldeído, acetaldeído, acetona e acroleína);
  • compostos orgânicos voláteis (benzeno e tolueno, entre outros); 
  • nitrosaminas do tabaco;
  • e metais pesados, como níquel, cobre, zinco, estanho e chumbo.

Estas substâncias são suspeitas de causar danos no ADN e, por consequência, mutações genéticas.

Os e-cigarros não produzem combustão, fenómeno que origina os componentes mais prejudiciais do tabaco tradicional, mas ambos comungam de outras substâncias potencialmente perigosas. E, mesmo que a concentração e a temperatura de aquecimento sejam inferiores nos cigarros eletrónicos, os danos na saúde não estão excluídos. 

Algumas investigações associam o uso de cigarros eletrónicos a tentativas bem-sucedidas de deixar de fumar. Outras apontam no sentido contrário, sugerindo um potencial efeito negativo no cumprimento desse objetivo. A OMS diz que não há provas suficientes de que ajudem os fumadores a deixar de fumar. 

Por outro lado, é sabido que alguns fumadores usam concomitantemente tabaco tradicional e cigarros eletrónicos. Esta prática suspeita-se que seja mais arriscada do que o recurso a apenas uma das versões.

Os novos fumadores são outra preocupação. O cigarro eletrónico pode ser uma rampa de lançamento para a aquisição de hábitos tabágicos, sobretudo no caso dos jovens, pensando os utilizadores que estão a consumir apenas vapor de água.

Há também "riscos significativos para as mulheres grávidas, porque pode alterar o desenvolvimento do feto”, refere a OMS.

Cigarros eletrónicos devem respeitar novas regras

Com as alterações à lei do tabaco, que entraram em vigor a 16 de janeiro de 2024, passou a ser proibido usar aromas distintivos no tabaco aquecido, onde se incluem os cigarros eletrónicos. Estão igualmente proibidas substâncias que modifiquem o odor ou o sabor destes cigarros.

Apesar das novas regras, está garantido o escoamento dos stocks dos produtos de tabaco aquecido que ainda existam nas lojas até que esgotem e durante o prazo de validade do produto. Para tal, é preciso que tenham sido introduzidos no mercado antes de 16 de janeiro de 2024. 

Saúde respiratória: 6 cuidados a ter

  • Os cigarros eletrónicos, com ou sem nicotina, nunca devem ser usados, sobretudo por jovens, jovens adultos ou grávidas.
  • Os consumidores de cigarros eletrónicos não devem modificar os líquidos para cigarro eletrónico legalmente comercializados e devidamente rotulados pelo fabricante.
  • Não se deve recorrer a líquidos ou produtos comprados fora dos circuitos legais de comercialização, incluindo através da internet.
  • As instruções de uso e contraindicações que, obrigatoriamente, acompanham os cigarros eletrónicos devem ser observadas e os dispositivos devem ser mantidos fora do alcance das crianças.
  • Os consumidores de cigarros eletrónicos devem ir ao médico se tiverem tosse, falta de ar, dor no peito, febre, calafrios, náuseas, vómitos, dor abdominal ou diarreia. Os sintomas podem desenvolver-se durante alguns dias ou várias semanas.
  • Os adultos que usam cigarros eletrónicos para deixar de fumar devem avaliar os riscos e benefícios desta alternativa e considerar a utilização de medicamentos aprovados pelo Infarmed, ou procurar apoio do médico ou numa consulta de apoio à cessação tabágica.

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