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Purificadores de ar filtram os vírus?

A procura por purificadores de ar é mais uma tentativa de combate à pandemia da covid-19. A convicção é de que melhoram a qualidade do ar, impedindo a propagação dos vírus. Mas serão assim tão úteis para usar em casa?

27 janeiro 2022
Purificador de ar no combate contra o covid-19

iStock

Os purificadores de ar que estão disponíveis no mercado são, em geral, compostos por ventiladores e dispositivos de filtragem. Os ventiladores sugam o ar da divisão onde se encontram e o sistema de limpeza filtra vários poluentes. Depois libertam o ar filtrado. No entanto, esta filtragem de ar está longe de ser eficaz para todos os poluentes. Além disso, a capacidade de tratamento do ar varia muito de modelo para modelo: se há alguns que conseguem elevada sucção do ar, outros há que se limitam ao ar que circula próximo do aparelho.

Independentemente do modelo, um purificador de ar não mata os vírus ou outros microrganismos patogénicos. Ou seja, um purificador de ar pode capturar tecnicamente uma porção de partículas do tamanho de vírus que sejam transportados pelo ar (através de aerossóis), impedindo-os de se multiplicarem e de permanecem ativos por muito tempo. Mas nenhum purificador de ar pode proteger completamente de um vírus.

Estudos recentes indicam que os purificadores de ar (com filtro HEPA/esterilizador UV) podem reduzir os vestígios de SARS-CoV-2 no ar de enfermarias hospitalares. Estes aparelhos também filtraram com sucesso outros agentes patogénicos (como bactérias e fungos também associados a gotículas).

Meio hospitalar é diferente de meio caseiro

Mas uma coisa é um meio hospitalar, que abriga e acompanha pessoas vulneráveis – qualquer carga viral, por mais pequena que seja, pode ter um impacto negativo num doente com comorbilidades ou que tomou corticosteroides ou imunossupressores –, outra coisa é o meio “caseiro”, onde não há necessidade de ter um ambiente estéril. Até porque qualquer carga viral (e de outros agentes patogénicos) que exista nos domicílios é muito diferente da que circula nos hospitais.

Sobre a propagação do SARS-CoV-2, há três vias de transmissão identificadas:

  • por gotículas expelidas pela boca ou pelo nariz de pessoas infetadas quando tossem ou espirram, gotículas essas que podem atingir diretamente a boca, o nariz e os olhos de quem estiver próximo. É a chamada transmissão direta e a principal via de transmissão;
  • por contacto com superfícies e objetos contaminados (transmissão indireta), em que as gotículas também podem depositar-se nos objetos ou nas superfícies que rodeiam a pessoa infetada e infetar, desta forma, outras pessoas quando estas tocam com as mãos naqueles objetos ou superfícies e depois tocam nos seus olhos, nariz ou boca;
  • por aerossol, em que a pessoa pode ser infetada pela inalação de pequenas gotículas (menores do que cinco nanómetros). Estas permanecem suspensas no ar por mais tempo do que as gotas grandes, podendo assim espalhar-se por distâncias mais longas.

No entanto, a principal via de transmissão é através das gotículas maiores, daí a importância do distanciamento físico e do uso de máscara (sendo que esta tanto filtra as gotículas maiores como os aerossóis).

Utilidade limitada em ambiente domiciliário

Nunca há vírus “isolados” a flutuar no ar ou libertados pelas pessoas. O vírus liga-se a gotículas de água ou aerossóis (ou seja, gotículas muito pequenas) que são gerados durante a respiração, conversas, tosse, etc. Essas gotículas consistem em água, proteína do muco e outro material biológico. O purificador de ar não elimina as gotículas maiores, ou seja, as principais fontes de transmissão (a não ser que a pessoa esteja a falar para cima do aparelho).

Daí que estes aparelhos não devam ser considerados uma primeira linha de defesa contra o vírus que causa a covid-19, até porque não têm qualquer capacidade de remover o vírus de eventuais superfícies contaminadas e que contribuem para a sua transmissão indireta. A utilidade dos purificadores de ar em ambiente domiciliário é, assim, muito limitada.

Uma boa ventilação natural (abertura de janelas para deixar entrar o ar e o sol) vai desempenhar um papel importante na minimização da propagação do vírus e no apoio ao bem-estar geral mais do que simplesmente ligar o seu purificador de ar à corrente.

Siga as recomendações da Direção-Geral da Saúde: fique em casa em caso de sintomas, lave as mãos com frequência por cerca de 20 segundos, desinfete bem as superfícies onde se toca com mais frequência e reforce a limpeza de espaços. Um purificador de ar não o irá prejudicar, mas o mais provável é que lhe dê uma falsa sensação de segurança.

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