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Alergia às proteínas do leite de vaca: cuidados a ter

A alergia às proteínas do leite de vaca, também conhecida como alergia ao leite de vaca, é uma alergia alimentar frequente na primeira infância. Conheça os sintomas, as opções de tratamento e os cuidados a ter.

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16 dezembro 2024
Leite de vaca

iStock

A alergia às proteínas do leite de vaca (APLV) - ou alergia ao leite de vaca (ALV) - resulta de uma resposta do sistema imunitário às proteínas existentes no leite de vaca. Não deve ser confundida com a intolerância à lactose, originada pela diminuição da capacidade de digerir a lactose, o principal açúcar do leite, incluindo o leite materno.

A APLV é, habitualmente, diagnosticada nos primeiros meses de vida. É mais frequente em crianças de risco atópico e com contacto precoce com a proteína do leite de vaca (por exemplo, um biberão ocasional nas primeiras horas de vida). No entanto, pode aparecer sem qualquer fator de risco, incluindo em crianças amamentadas exclusivamente com leite materno. 

Por norma, trata-se de uma condição transitória, sendo poucos os casos em que a alergia se prolonga para além do segundo ano de vida. 

Principais sintomas

Os sintomas desta alergia dependem do tipo de resposta imunológica da criança, apresentam-se com intensidade variável e podem envolver diferentes sistemas ou órgãos. 

A alergia ao leite de vaca pode manifestar-se de forma imediata (na hipersensibilidade mediada por IgE) ou de forma tardia (na hipersensibilidade não mediada por IgE ou mediada por células).

Deve suspeitar-se desta alergia quando estão presentes um ou mais dos seguintes sintomas, se associados temporalmente à ingestão do leite de vaca ou seus derivados:

  • sintomas imediatos (até cerca de duas horas após a ingestão ou contacto): eritema, prurido, urticária e/ou angioedema, vómitos, diarreia, tosse, dificuldade respiratória, anafilaxia, entre outros;
  • sintomas tardios (entre duas a 48 horas após ingestão ou contacto): eczema atópico, eritema, prurido, vómitos, obstipação, diarreia, entre outros.

A principal consequência para as crianças com este tipo de alergia é a malnutrição progressiva, com implicações no crescimento e no desenvolvimento neurocognitivo, sem esquecer o risco de morte durante um episódio de anafilaxia.

Diagnóstico

A Direção-Geral da Saúde recomenda que, em caso de suspeita de alergia ao leite de vaca, a primeira etapa da abordagem clínica passe pelo levantamento da história clínica alergológica detalhada da criança. Esta abordagem permite a identificação do possível mecanismo implicado na ALV e orienta a interpretação dos resultados dos meios complementares de diagnóstico. 

Se a história clínica da criança sugerir ALV não mediada por IgE, com sintomas ligeiros a moderados, o diagnóstico deve ser confirmado após eliminação do leite da dieta durante 4 semanas e reintrodução posterior. Em crianças que sofrem de eczema grave, sugere-se que o período de eliminação do leite possa ser de 6 a 8 semanas. Nestas crianças, a reintrodução do leite de vaca na dieta pode realizar-se no domicílio, seguindo as indicações médicas. 

Retirar o leite da dieta pode resolver ou melhorar significativamente os sintomas, e a sua reintrodução pode causar uma recorrência ou reação imediata. Por este motivo, a reintrodução não deve ser feita em crianças com suspeita de alergia imediata mediada por IgE ou que tenham sofrido reações graves. Estes casos devem ser referenciados a um serviço hospitalar com experiência no diagnóstico e tratamento da alergia alimentar.

Tratamento

A privação alimentar estrita do leite de vaca e derivados ainda é considerada a base da abordagem médica e nutricional ao doente com ALV.

Atualmente, a estratégia terapêutica mais segura para a gestão da APLV é a dieta com eliminação completa de proteínas do leite de vaca através de alimentos com fins medicinais específicos. Esta dieta deve ser iniciada o mais cedo possível depois do diagnóstico.

Existem dois tipos de fórmulas hipoalergénicas destinadas à APLV, cuja escolha dependerá da gravidade dos sintomas apresentados.

  • Fórmulas extensivamente hidrolisadas (FEH),incluindo as de proteína vegetal (arroz hidrolisado): para reações ligeiras a moderadas mediadas por IgE (por exemplo, urticária, angioedema labial/periorbitário), para a maioria dos sintomas gastrointestinais ou para reações não mediadas pela IgE.
  • Fórmulas de aminoácidos ou elementares (FAA): para reações graves, com atraso no crescimento, sintomatologia multissistémica (gastrointestinal, cutânea e respiratória) e/ou múltiplas alergias alimentares. 

Para os lactentes com ALV não está indicada a utilização de outras fórmulas infantis ou bebidas lácteas. 

A lei estabelece que as crianças com alergias às proteínas do leite de vaca têm direito à comparticipação no preço de fórmulas extensamente hidrolisadas em 90% e das fórmulas de aminoácidos ou elementares em 70 por cento.

Para aceder à comparticipação, no caso de fórmulas de aminoácidos ou elementares, é necessária uma prescrição médica, por médicos especialistas em pediatria médica ou imunoalergologia. No caso das fórmulas extensamente hidrolisadas, exige-se uma prescrição por médicos especialistas em pediatria médica, imunoalergologia ou medicina geral e familiar.

Alimentos a evitar

Recomenda-se que a diversificação alimentar das crianças com ALV siga as recomendações energéticas e nutricionais definidas para a idade. Devem excluir-se apenas os alimentos e receitas que contenham leite de vaca e derivados, conforme indicado na tabela, adaptada a partir da Norma Clínica: 003/2024 da DGS.    

Alimentos a excluir
(leite e derivados)

Ingredientes
na rotulagem

Receitas e preparações culinárias
Alimentos processados

Leite de vaca, leite de cabra, leite de ovelha, leite condensado, leite evaporado, leite desnatado, leite em pó, iogurtes, queijo (qualquer tipo), requeijão, queijo fresco, manteiga, natas, papas lácteas com leite na composição.

Leite evaporado, leite desnatado, leite em pó, soro, soro de leite, caseína, hidrolisado de caseína, caseinato, coalho de caseína, lactoalbumina, fosfato de lactoalbumina, lactoglobulina, lactulose, lactose, lactato de sódio/cálcio, aromas, aroma artificial de manteiga, gordura de manteiga, óleo de manteiga.

Todas as receitas que contenham leite, manteiga, iogurte, natas ou molho bechamel. Exemplos: puré, empadão, bacalhau com natas, gratinados com molho bechamel, bifinhos com cogumelos, strogonoff, carne e peixe fritos ou panados com leite, quiches, recheios de salgados, refeições com molhos, refeições pré-confecionadas.

 Produtos de pastelaria e confeitaria (bolos e pastéis), gelados, semifrios, chocolate, bombons caramelizados, pudins, nougat, caramelo, cremes de pastelaria, margarina, manteiga de cacau, bolachas, alguns tipos de pão (pães de leite, bicos de pato), salsichas, fiambre e enchidos, sopas embaladas, caldos de culinária, molhos.

Os lactentes ou crianças com alergia às proteínas do leite de vaca devem ter alguns cuidados, como transportar sempre uma declaração médica que ateste a alergia, além de medicação de emergência no caso de ser uma criança com risco anafilático (alergia IgE mediada). Nestes casos, os cuidadores devem estar treinados para a sua administração. 

Todos os cuidadores devem ser ensinados sobre os cuidados a ter com estas crianças, como, por exemplo, devem ser alertados para a importância da leitura dos rótulos dos alimentos e ter atenção para não adicionarem leite ou derivados quando confecionam as refeições.

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