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Funcionamento e tratamento por parte de equipa médica

Em curso Pública

Problema identificado:

Outro

Reclamação

C. S.

Para: HOSPITAL SÃO JOÃO

17/10/2025

Carta de Reclamação Destinatário: Direção Clínica do Hospital de São João Serviço de Cirurgia Porto Assunto: Reclamação relativa ao internamento da utente Maria Celeste Ferreira Monteiro Silva [nr processo 16038025], cama 71, piso 6 Exmos. Senhores, Venho por este meio apresentar uma reclamação formal relativamente à forma como decorreu o internamento da minha mãe, Maria Celeste Ferreira Monteiro Silva, no vosso hospital, entre 2 de Outubro e 14 de outubro de 2025, no Serviço de Cirurgia. A minha mãe deu entrada no Serviço de Urgência no dia 30 de setembro cerca das 21h30. Obteve diagnóstico de Colecistite aguda cerca de 27h depois tendo de imediato indicação para internamento. Foi transferida para internamento cerca de 40 horas depois da entrada no serviço de urgência: cerca das 12h30, no dia 2 de outubro, após ter já iniciado a terapêutica adequada mas sem qualquer indicação para cirurgia. A médica que nos comunicou o diagnóstico foi clara quanto à improbabilidade de cirurgia com a vesícula naquelas condições. Ao final dessa mesma tarde em que sobe para o piso 6- dia 2 de Outubro- foi visitada por dois cirurgiões acompanhados de dois estudantes, que a informaram de que seria submetida a uma cirurgia nesse mesmo dia, assim que o bloco operatório estivesse disponível. Perante esta comunicação, e estando eu presente, questionei os médicos sobre vários pontos: a) o motivo de se optar pela cirurgia imediata, quando o processo clínico referia que a terapêutica antibiótica tinha sido iniciada nesse mesmo dia e que seria aguardada a sua evolução; b) a razão de se proceder à extração de uma vesícula inflamada em vez de aguardar melhoria clínica; c) o motivo de se considerar uma cirurgia de maior duração (cerca de quatro horas- segundo informação veiculada por eles mesmos) especialmente tratando-se de uma paciente de 80 anos; d) e, por fim, a ausência de parecer de cardiologia, essencial tendo em conta o historial cardíaco da doente. As minhas reservas quanto à realização de uma cirurgia dessa complexidade e duração foram desconsideradas tendo os dois cirurgiões interrompido a conversa já no corredor do piso 6 – longe da presença da paciente- por motivos de agenda. Foi então que um terceiro cirurgião, que acompanhou a conversa e permaneceu no corredor do piso, contactou o Serviço de Cardiologia e confirmou não existir parecer favorável para a realização de qualquer cirurgia nesse momento. Anestesia não foi sequer mencionada. Na mesma noite, esta informação foi confirmada à doente por uma médica que se deslocou à enfermaria. Não posso deixar de refletir sobre o que teria acontecido se eu não estivesse presente nesse momento decisivo. O cenário que presenciei — em que se preparava uma cirurgia de longa duração, em doente idosa e com historial cardíaco, sem parecer de cardiologia e sem tempo suficiente para avaliar a resposta à terapêutica iniciada — deixa-me profundamente inquieta. É legítimo perguntar quantas decisões semelhantes poderão ocorrer sem que alguém as questione. O papel das famílias, tantas vezes visto apenas como emocional, revela-se aqui essencial para garantir prudência, comunicação e segurança clínica. Foi apenas pela minha insistência, e pela intervenção sensata de um terceiro cirurgião, que se evitou uma cirurgia que poderia ter representado um risco sério e desnecessário para a vida da minha mãe. Durante os 14 dias seguintes, no piso 6, a minha mãe foi exemplarmente acompanhada por enfermeiras e auxiliares, cuja dedicação e profissionalismo merecem o meu mais profundo reconhecimento. Contudo, ao longo desse período, apesar dos meus inúmeros pedidos, não me foi possível falar com nenhum médico responsável pelo caso, dada a ausência de horários compatíveis com a minha vida laboral. No dia 14 de outubro, a minha mãe foi informada por um dos médicos da equipa, de que teria alta, (anteriormente tinha sido informada por outro médico de que levaria consigo um dreno clampeado, devendo deslocar-se semanalmente ao Centro de Saúde para vigilância. Tal situação não veio a concretizar-se, uma vez que o dreno afinal acabou por ser retirado no momento da saída. Nenhuma justificação lhe foi dada, por qualquer médico, sobre esta mudança de decisão). Apesar de lhe ter sido dito de manhã que apenas faltava a nota de alta, esta só veio a ser assinada após as 20h, depois de mais de 11 horas de espera. (De salientar que, depois dessa hora, não há possibilidade de levar o veículo de transporte pessoal até à porta para recolher a doente, pois a cancela do parque de estacionamento já se encontra encerrada e o funcionário ausente, obrigando os doentes a caminhar ao longo do parque até à via pública!) Durante todo esse tempo, a minha mãe, com 80 anos, permaneceu sentada numa cadeira de madeira, sem poder regressar à cama, já preparada para outro doente. A justificação apresentada foi que os médicos não podiam deslocar-se do bloco operatório (um piso abaixo) para proceder às altas de quatro ou cinco doentes que aguardavam desde as 8h30. A minha mãe não era a única. Por fim, quando a médica Dra. Paula Filipa Rebelo (n.º de cédula profissional [72088]) compareceu para assinar a alta, a minha mãe educadamente questionou-a sobre esta demora injustificável, tendo recebido a seguinte resposta, que passo a citar: “Estive a operar. Queira Deus que um dia não esteja a operá-la a si e tenha de a deixar para vir dar altas.” Esta afirmação (testemunhada pelas outras duas doentes presentes no quarto), além de inapropriada e ofensiva, demonstra falta de empatia, profissionalismo e respeito por uma doente idosa, que se encontrava exausta e fragilizada após duas semanas de internamento e 11h sentada numa cadeira. Tenho sérias dúvidas que a referida médica tivesse adotado este comportamento caso um familiar se encontrasse presente. Tal atitude gerou desconforto, ansiedade e perda de confiança, evidenciando a importância da presença de familiares para assegurar um tratamento digno e respeitador por partes dos médicos. É difícil de entender que, entre cirurgias, e com recurso a ajuda dos internos por exemplo, a alta não pudesse ter sido assinada. Assim, expresso o meu profundo desagrado pela forma como a comunicação entre equipa médica, doente e família foi gerida, bem como pelo tratamento desrespeitoso por parte da referida médica. Esta situação merece ser analisada internamente e talvez a implementação de algumas medidas simples possam evitar a repetição de episódios semelhantes: • Melhor coordenação entre os serviços médicos e de enfermagem (cujos serviços volto a enaltecer mas cujos profissionais se encontram impotentes tendo de aguardar a decisão médica), particularmente no momento da alta, de modo a evitar longas esperas injustificadas e situações de desconforto para doentes idosos; • Definição de horários ou canais de contacto com familiares, garantindo que estes possam obter informações clínicas atualizadas sem depender exclusivamente de momentos ocasionais de presença médica; • Uniformização e rigor na informação transmitida ao doente e à família, evitando mensagens contraditórias entre elementos da mesma equipa (como seja o exemplo que dei sobre indicações divergentes sobre a colocação ou retirada do dreno). Esta incoerência de informação médica e aparente desarticulação na comunicação entre a equipa, gera no doente e família, insegurança, ansiedade e perda de confiança num momento em que a serenidade é essencial para a recuperação; • Reforço da formação em comunicação clínica e empatia, para assegurar que todas as interações com os doentes e famílias decorrem num ambiente de respeito, humanidade e profissionalismo. Talvez estas formações possam ser ministradas por enfermeiros que demonstram possuir todas as competências para o fazer. Acredito que o Hospital de São João, instituição de referência nacional, valoriza a qualidade dos cuidados prestados e o respeito pelos seus utentes, pelo que confio que esta reclamação será tratada com a devida atenção e seriedade.


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