Comer, pagar, desesperar
O Governo celebra uma queda no risco de pobreza, mas a realidade das famílias portuguesas conta uma história diferente. Enquanto os indicadores internacionais mostram progresso, os cidadãos sentem na pele o impacto de um custo de vida em crescimento constante.
Há cinco anos, mil euros mensais ofereciam uma promessa frágil de estabilidade. Em 2023, esse cenário mudou drasticamente.
O custo da habitação disparou, com juros e rendas a aumentar exponencialmente por todo o País. Água, gás e telecomunicações pressionam os bolsos já vazios. No supermercado, onde nem a isenção de IVA em alguns produtos alimentares essenciais impediu que o peso financeiro se agravasse, as contas são refeitas diariamente, desde o início da guerra na Ucrânia. E até as deslocações, em tempos com menos impacto no orçamento, parecem hoje um luxo inatingível com as greves frequentes nos transportes públicos e os preços dos combustíveis em ascensão vertiginosa.
O que um dia sobrava é agora absorvido por um custo que não só estagnou a qualidade de vida, como ameaça limitar o acesso a alimentos, medicamentos, transportes e habitação. O básico. Factos e números à parte, dados recentes do Eurostat pintam uma imagem contrastante, que o Executivo faz gala e questão de exaltar: o risco de pobreza e exclusão social baixou em 2022 para 20,1% - ainda assim, e apesar das purpurinas, um quinto da população -, colocando Portugal abaixo da média da União Europeia. O País regista o segundo menor risco desde que há registos no Eurostat, apenas suplantado pela taxa de 2020. É uma dualidade desconcertante.
Enquanto o Governo celebra uma queda no risco de pobreza, a realidade das famílias portuguesas conta uma história diferente. Enquanto os indicadores internacionais mostram progresso, os cidadãos sentem na pele o impacto de um custo de vida em crescimento constante. É vital que as políticas se ajustem a esta realidade. A proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano prevê reforço de verbas para todas as prestações sociais, mas adivinha-se pouco eficaz no combate à escalada das rendas e dos juros, que representam a fatia de leão das despesas familiares. Sem uma revisão da proposta, corremos o risco de viver numa nação onde os números são otimistas, mas os corações das pessoas continuam a pesar e a desesperar com a crescente dificuldade de manter o teto e o sustento básico.
Sabia que...?
Portugal regista o segundo menor risco de pobreza e exclusão social desde que há registos no Eurostat, apenas suplantado pela taxa de 2020.
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