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Entrevista a Carla Ferreira, da APAV

carla ferreira

Carla Ferreira, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima: “Ausência de sinais físicos de violência poderá dificultar a identificação da situação de vitimização por outras pessoas" 

O Relatório Anual de Segurança Interna refere que a maior parte dos agressores é familiar das vítimas. É mais difícil, assim, prevenir estes comportamentos?

Uma parte muito significativa das condutas de violência sexual é praticada por familiares próximos, ou coabitantes que possam estar em contacto regular com as crianças. Vários estudos indicam que a prevalência é maior em crianças do sexo feminino (as mais comuns são o incesto pai-filha ou padrasto-enteada) e com crianças que têm entre oito e dez anos. A ausência de sinais físicos de violência poderá dificultar a identificação da situação de vitimação por outras pessoas, e tal facto poderá facilitar a perpetração do crime por um maior período, o que está associado a um impacto psicológico mais nefasto para a vítima. 

Qual é o perfil das vítimas?

Todas as crianças e jovens poderão ser vítimas de violência sexual. Existirá maior risco de vitimação para as crianças mais novas, na medida em que, com o aumento da idade da vítima, é reforçada a sua capacidade de resistência ao/à autor/a do crime. Com o avanço da faixa etária, também aumenta a probabilidade de a criança/jovem procurar ajuda junto da sua rede de suporte (pais, família alargada, amigos) ou denunciar a situação às entidades competentes.

Quantas situações foram reportadas à APAV no ano passado?

Em 2016, a APAV criou uma rede específica de apoio para situações de violência sexual contra crianças e jovens: a Rede CARE. Entre 2016 e 2022 foram apoiadas mais de 2700 novas situações de violência sexual contra crianças e jovens, e todos os anos tivemos mais pedidos de ajuda.

Como pode fazer-se a prevenção?

Deve passar pela capacitação, que implica ações de prevenção prolongadas no tempo. A APAV desenvolveu um Programa de Prevenção da Violência Sexual contra Crianças e Jovens, destinado a este grupo, e um conjunto de ações formativas para pessoas adultas. É sempre relevante dotar a sociedade civil de informação para que, progressivamente, se torne mais intolerante a qualquer forma de violência.