Dossiês

Reconhecer e tratar cinco doenças comuns do cão

O seu patudo não saltou de alegria quando pronunciou a palavra “rua”? Vomita, tosse e está apático? Conheça os sinais de alarme e os tratamentos para as doenças frequentes nos cães.

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02 maio 2023
doencas cães

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Quase 40% dos lares portugueses têm pelo menos um cão. A estimativa é da FEDIAF – a entidade europeia que representa a indústria de alimentos para os animais de estimação. Os dados indicam que, em 2021, havia cerca de 2 105 000 cães no País. E, se ter um cão garante afeto e companhia, também é verdade que os animais apresentam algumas exigências e requerem cuidados de saúde.

Além das visitas ao veterinário para a prestação de cuidados profiláticos e para acautelar a identificação e vacinação do cão, importa conhecer os sinais de doenças que poderão requerer uma consulta urgente.

As despesas com o veterinário e os tratamentos saem integralmente do bolso dos donos, a não ser que tenham um seguro para animais. Contudo, é possível deduzir, no IRS, 15% do IVA. Convém guardar as faturas. Caso tenha dificuldade em suportar os custos, verifique, nas associações dedicadas a animais na sua região, se há forma de obter consultas mais baratas.

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Doença de Lyme ou borreliose

A doença de Lyme, também conhecida por borreliose, é causada pela bactéria Borrelia burgdorferi, transmitida por carraças. Os cães não contagiam diretamente os humanos, mas, por vezes, trazem carraças para casa, que podem picá-los e transmitir-lhes a doença. O contágio só ocorre um ou dois dias depois de a carraça se agarrar ao corpo; daí a importância de a remover logo que seja descoberta.

Apenas 5% dos cães expostos à doença de Lime apresentam sintomas de doença. Estes podem surgir cerca de dois a cinco meses após a infeção. Os sinais clínicos mais comuns no cão são:

  • febre;
  • perda de apetite;
  • apatia;
  • dores e inchaço das articulações (o animal pode coxear);
  • nódulos inchados no corpo.

Se a doença não for tratada, pode causar danos nos rins, no sistema nervoso e no coração, e ser fatal.

O diagnóstico baseia-se nos sintomas e no historial, sendo confirmado com uma análise ao sangue. Também pode ser necessário realizar exames complementares, como a observação das articulações e dos músculos. Se os resultados forem positivos, em geral, é preciso administrar antibióticos durante duas a quatro semanas. Alguns cães ficam com dores crónicas nas articulações.

Tendo em conta que a carraça é o principal vetor desta doença, a melhor forma de a prevenir é mantendo os animais longe desses parasitas. A prevenção passa por aplicar produtos repelentes de carraças e escovar e inspecionar o pelo após passeios em zonas com muita vegetação. Caso encontre uma carraça, remova-a. Se viver numa zona campestre onde a doença de Lyme seja frequente e o cão ainda não tiver sido infetado, convém vaciná-lo.

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Otite externa

A otite externa é uma inflamação ou infeção do canal auditivo externo. Trata-se da doença auricular mais frequente no cão. Pode ser causada por parasitas, corpos estranhos alojados no interior da orelha, alergias a alimentos ou infeções por bactérias ou fungos. Existem também vários fatores e doenças que predispõem o cão ao seu desenvolvimento, nomeadamente: ter orelhas longas, caídas e com muitos pelos e canais auditivos longos e estreitos, erros no tratamento ou limpeza dos ouvidos (uso agressivo de cotonetes no canal auditivo, etc.) e doenças obstrutivas do canal auditivo (inchaços, nódulos, etc.). É por isso que algumas raças, como os cocker spaniels, são mais propensas ao problema.

Os sinais clínicos associados à otite externa podem ser variados. Por exemplo, se o cão abanar a cabeça de forma anormal, esfregar a orelha num tapete ou coçá-la freneticamente, pode significar que tem uma otite. O interior da orelha pode ficar vermelho, inflamado ou inchado e quente, bem como apresentar cera escura ou acastanhada, com um cheiro desagradável. Falta de coordenação motora e vómitos podem indicar uma otite média (que ocorre noutra localização do canal auditivo).

O diagnóstico e a terapêutica a instituir devem ter por base a avaliação da história geral do animal e a realização de um exame físico e dermatológico, uma otoscopia e uma citologia. Normalmente, o veterinário começa por observar o interior da orelha com um otoscópio. Se o animal não deixar mexer, terá de ser sedado. Se houver objetos estranhos ou cera na orelha, o tratamento começa na limpeza. Caso esta ação não seja suficiente, é possível que o veterinário peça também a análise da secreção auricular ou um raio X, para identificar as causas do problema. Dependendo destas, aplicam-se por exemplo: antibióticos, antifúngicos ou corticosteroides. Caso a otite se deva a uma alergia, o cão pode ter de mudar a dieta e o estilo de vida.

Inspecionar os ouvidos do animal, limpá-los semanalmente e mantê-los secos são formas de prevenir as otites. As orelhas muito peludas e caídas devem ser tosquiadas para reduzir o calor e a humidade, que favorecem aqueles problemas nos ouvidos.

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Parvovírus canino

A parvovirose canina é uma infeção viral extremamente contagiosa, que pode revelar-se grave e até mesmo fatal, se não for diagnosticada e tratada precocemente. Esta doença pode afetar cães de todas as idades, mas é muito mais frequente em cachorros não vacinados entre as seis semanas e os quatro meses de idade.

O parvovírus propaga-se por contacto direto com um animal doente, com fezes, objetos ou superfícies contaminadas (no chão do canil, por exemplo) e, ainda, através das mãos e roupa de pessoas expostas a cães infetados.

Os primeiros sintomas podem surgir cerca de 4 a 14 dias após a infeção. Nalguns casos, os sintomas são pouco específicos (por exemplo, letargia, febre ou falta de apetite) e progridem para vómitos e diarreia hemorrágica em 24 a 48 horas. Em situações mais graves, o cão pode apresentar pulso fraco, ritmo cardíaco acelerado e irregular (taquicardia) e tremores de frio (hipotermia).

Quanto mais depressa for feito o diagnóstico e iniciada a terapia de suporte, maior a probabilidade de cura.

Em geral, o veterinário faz o diagnóstico com base no historial do cão e num exame físico, podendo haver necessidade de confirmar as suspeitas com uma análise às fezes.

Não existem medicamentos específicos contra este vírus. O tratamento consiste em controlar os sintomas e prevenir uma infeção bacteriana. O animal pode ser medicado contra os vómitos e a diarreia e receber soro. Os antibióticos só serão úteis se surgir uma infeção bacteriana. Após o contacto com o parvovírus, o cão fica imunizado.

A vacina e a higiene cuidada são a melhor forma de evitar a infeção. A vacina deve ser administrada às 6, 8 e 12 semanas de vida e, depois, anualmente. O parvovírus sobrevive durante meses fora do animal e é resistente a diversas condições atmosféricas, podendo permanecer no ambiente por longos períodos. Para limitar o risco de contaminação ambiental e a transmissão a outros animais, os cães doentes devem ser isolados e as superfícies limpas com um produto desinfetante adequado. O parvovírus não passa para o Homem.

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Tosse do canil

A traqueobronquite infeciosa canina (também chamada tosse do canil) é uma infeção das vias respiratórias causada por vírus e bactérias. É muito contagiosa, espalhando-se rapidamente, sobretudo entre animais alojados em espaços confinados, como hospitais veterinários, ATL para cães, exposições caninas, canis e hotéis.

A tosse do canil pode ser transmitida pelas gotículas de saliva quando o cão tosse, por contacto direto com um animal infetado ou pela partilha de objetos contaminados. Por isso, evite aproximar o seu patudo de cães doentes, especialmente se ainda for cachorro.

Não existe um teste específico para a tosse do canil. O diagnóstico baseia-se nos sintomas e no histórico de contacto com outros cães. O veterinário deve examinar o animal para excluir outras causas, como doenças cardíacas, infeções fúngicas ou parasitas.

A doença manifesta-se através de tosse seca e persistente, por vezes, seguida de vómitos. A maioria dos casos de tosse do canil são ligeiros e não complicados e apresentam uma resolução rápida e espontânea no prazo de uma a duas semanas. No entanto, cachorros não-vacinados, cães idosos ou fragilizados, cães com colapso de traqueia ou bronquites crónicas são considerados grupos de risco e com maior predisposição para evoluir para um diagnóstico de pneumonia ou broncopneumonia. Nesses casos, surgem sintomas mais graves, como febre, secreção nasal, perda de apetite e tosse com expetoração.

Não existe um tratamento específico para a tosse do canil. Geralmente, é administrada terapêutica de suporte para garantir o bem-estar do animal. Se a doença evoluir para uma forma de infeção mais grave, o veterinário pode optar, por exemplo, pelo uso de anti-inflamatórios, antibióticos e antitússicos. Estes últimos apenas devem usados em caso de tosse persistente e seca (sem secreções).

Durante o período de recuperação, aconselha-se o repouso total do animal, já que a excitação e o exercício podem contribuir para uma maior irritação das suas vias respiratórias.

Tendo em conta que esta doença é bastante contagiosa, animais doentes não devem frequentar locais públicos com outros cães e idealmente devem ser passeados com um peitoral (em vez de uma coleira no pescoço), de forma a evitar uma maior irritação da região da traqueia.

A melhor forma de prevenir a doença é através da vacinação. A vacina não confere proteção a 100%, nas reduz a gravidade da doença.

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Vómitos

Os vómitos, em si, não são um problema de saúde. Porém, se forem persistentes e o cão se apresentar desidratado, apático, ou se os vómitos contiverem sangue ou se verificar a presença deste nas fezes, convém consultar o veterinário. Podem ser sinal de doença do sistema digestivo, insuficiência renal ou hepática, gastroenterite ou ingestão de veneno.

Além do historial do cão e do exame físico, o veterinário pode recomendar análises ao sangue e à urina e/ou um raio X do sistema digestivo.

Se o cão tiver vómitos, deverá começar por reduzir a água e não dar comida durante 12 a 24 horas. Caso não passe, ofereça pequenas quantidades de alimentos fáceis de digerir, como frango e arroz cozidos.

Se o problema persistir, o animal terá de ser analisado pelo veterinário. O tratamento dependerá da causa da doença.

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