Calendário de peixe e companhia: os melhores meses para consumir cada espécie
Qual o melhor peixe para comer em cada mês? E quais as espécies ameaçadas que não devemos consumir? Escolha a categoria e o pescado e descubra o mês ideal para o degustar.

A ingestão frequente de pescado é recomendada como a base de uma dieta alimentar adequada. Mas, se lhe compete cozinhar e acha que alternar entre carapau, salmão e dourada na peixaria é o suficiente, ainda só sabe da missa a metade. A escolha da espécie deve ser diversificada, sim, mas a espécie escolhida e a altura do ano em que o faz, bem como o método de captura utilizado para trazer o pescado até si, são outros elementos a ter em conta para fazer uma boa escolha.
Qual a altura ideal para comer pescado?
A DECO PROteste criou um calendário que permite verificar qual o período ótimo de consumo de peixe, moluscos e crustáceos. Esta ferramenta tem em conta a preservação das espécies (com especial enfoque no período de reprodução) e a altura do ano em que aquelas nos sabem melhor.
CALENDÁRIO DE PESCADO
Clique nos grupos para ver a informação detalhada de cada espécie.
Como pesquisar no calendário de pescado?
Selecionámos algum do pescado mais representativo no mercado português e, dentro desse, o que pode ser capturado na nossa costa. Não foram incluídas espécies de aquicultura, tais como o salmão, ou que não habitam as nossas águas, como o bacalhau.
As espécies encontram-se agrupadas em separadores por ordem alfabética da designação oficial. Imaginando que gosta de polvo, por exemplo, e pretende ver se esta é uma boa opção, pode encontrá-lo no separador dos cefalópodes, junto da lula, da pota e do choco. As amêijoas, o berbigão e o mexilhão podem ser encontrados no separador dos univalves/bivalves. Para os amantes de sapateira, camarão e perceve, é procurar nos crustáceos.
Para definir o risco de ameaça das espécies, foi analisada a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN – International Union for Conservation of Nature (União Internacional para a Conservação da Natureza). As espécies com um semáforo vermelho não devem ser consumidas porque se encontram ameaçadas de extinção; a laranja estão as que se encontram em “situação vulnerável”; o amarelo assinala as espécies quase ameaçadas; e o pescado marcado a verde pode ser consumido, idealmente dentro do período aconselhado, porque apresenta um risco de extinção considerado de “menor preocupação”.
Para cada espécie, é apresentado um calendário onde está assinalado o período ótimo de consumo. Os meses que não estão marcados devem ser encarados como uma altura menos propícia para o consumo, por exemplo, porque determinada espécie está no defeso (altura do ano em que não pode ser pescada, porque se encontra em reprodução).
Por exemplo, na ficha do polvo, todos os meses estão assinalados a verde, portanto, o consumo desta espécie é aconselhado o ano inteiro. Mas vejamos a sardinha, com período de defeso de janeiro a maio. O facto de o calendário não assinalar junho significará que desaconselhamos o consumo nas festas populares de Lisboa? Nem tanto. O consumidor pode comer sardinha em junho, mas deve ter em conta que o período de reprodução desta espécie ocorre até ao final da primavera, e em junho a sardinha poderá não ter tido tempo para engordar o suficiente de modo a estar no seu melhor. Porque neste mês pode não ser tão saborosa, junho ainda não faz parte do seu período ótimo de consumo – muitas vezes diz-se que a sardinha "ainda não pinga no pão”.
Para os fãs de jaquinzinhos e petingas, é bom alertar para a compra de pescado abaixo do tamanho recomendado. A comercialização de pescado obedece a requisitos legislados. Quem fura o sistema, não está mais do que "a armar-se em carapau de corrida": além de a comercialização abaixo de determinado tamanho ser ilegal, pode pôr em risco a sobrevivência do pescado. O nosso calendário apresenta a indicação do tamanho mínimo de captura para cada espécie, para que possa guiar-se neste aspeto.
Conhecer as características nutricionais e o uso culinário mais comum de cada espécie, sobretudo para quem procura hábitos alimentares mais saudáveis é outro aspeto que fica facilitado com o calendário. E, uma vez que as artes de pesca não têm todas o mesmo impacto ambiental, esta informação é incluída nas fichas de cada pescado, para que possa fazer escolhas mais sustentáveis.
Porque não encontro o peixe que procuro?
Há três principais hipóteses para não encontrar o pescado de eleição no calendário.
- A nossa seleção não inclui espécies oriundas de aquicultura nem pescado que seja exclusivamente capturado fora da nossa costa. O salmão, por exemplo, é uma espécie que, no nosso mercado, quase só se encontra de aquicultura. Por esse motivo, não consta do calendário. O bacalhau, por não se pescar nas nossas águas, também não foi incluído.
- Confirme se está a pesquisar na categoria adequada. Por exemplo, para encontrar o período ótimo de consumo de sapateira, deve escolher o separador “Crustáceos”.
- Uma espécie, muitos nomes. Tenha em conta que o pescado está ordenado por ordem alfabética da designação oficial, mas existem outras designações autorizadas e nomes comuns variados consoante a zona do País. Como curiosidade, a conquilha, muito popular no Algarve, também pode ser chamada cadelinha ou condelipa. Já o longueirão é conhecido por lingueirão, mas também por canivete. Confirme no site da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos qual a designação oficial antes de desistir de procurar.
Peixe, moluscos ou crustáceos? Confira as melhores opções para cada mês
Descubra se este é um bom mês para escolher o prato de pescado que está a fazer-lhe crescer água na boca. A ordem apresentada é a alfabética.
Amêijoa-boa
Amêijoa-branca
Amêijoa-japonesa
Amêijoa-macha
Atum-albacora
Atum-patudo
Atum-voador
Berbigão
Besugo
Biqueirão
Cação
Cantarilho
Carapau
Cherne
Choco
Conquilha
Corvina
Dourada
Gaiado
Gamba-branca
Garoupa
Lagosta-castanha
Lagosta-da-mauritânia
Lavagante
Linguado-branco
Linguado-da-areia
Longueirão
Lula
Mexilhão
Ostra-portuguesa
Pargo
Pargo-mulato
Peixe-espada-branco
Peixe-galo
Perceve
Polvo
Polvo-cabeçudo
Pota
Raia-manchada
Raia-pontuada
Safio
Salmonete
Santola
Sapateira
Sarda
Sargo-alcorraz
Sargo-legítimo
Tintureira
Amêijoa-boa
Amêijoa-branca
Amêijoa-japonesa
Amêijoa-macha
Atum-albacora
Atum-patudo
Atum-voador
Berbigão
Besugo
Biqueirão
Cação
Camarão-vermelho
Cantarilho
Cherne
Choco
Conquilha
Corvina
Dourada
Gaiado
Gamba-branca
Garoupa
Lagosta-castanha
Lagosta-da-mauritânia
Lagostim
Lapa
Lavagante
Linguado-branco
Linguado-da-areia
Longueirão
Lula
Mexilhão
Ostra-portuguesa
Pargo
Pargo-mulato
Peixe-galo
Perceve
Polvo
Polvo-cabeçudo
Pota
Raia-manchada
Safio
Salmonete
Sapateira
Sargo-alcorraz
Tintureira
Abrótea
Amêijoa-boa
Amêijoa-branca
Atum-albacora
Atum-patudo
Atum-voador
Besugo
Camarão-vermelho
Cantarilho
Carapau
Cherne
Choco
Conquilha
Dourada
Gamba-branca
Lagosta-castanha
Lagosta-da-mauritânia
Lagostim
Lavagante
Longueirão
Lula
Ostra-portuguesa
Pargo-mulato
Peixe-espada-preto
Perceve
Polvo
Polvo-cabeçudo
Pota
Raia-manchada
Safio
Salmonete
Sapateira
Tamboril-preto
Atum-albacora
Atum-voador
Besugo
Camarão-vermelho
Cantarilho
Carapau
Cherne
Choco
Conquilha
Dourada
Gamba-branca
Lagosta-castanha
Lagosta-da-mauritânia
Lagostim
Lavagante
Longueirão
Lula
Ostra-portuguesa
Pargo-mulato
Peixe-espada-preto
Peixe-galo
Perceve
Polvo
Polvo-cabeçudo
Pota
Raia-manchada
Safio
Salmonete
Sapateira
Sargo-legítimo
Sargo-safia
Tamboril-preto
Camarão-vermelho
Cantarilho
Carapau
Cavala
Cherne
Choco
Dourada
Faneca
Gamba-branca
Lagosta-castanha
Lagosta-da-mauritânia
Lagostim
Lavagante
Linguado-legítimo
Lula
Ostra-portuguesa
Pargo-mulato
Peixe-espada-branco
Peixe-espada-preto
Peixe-galo
Perceve
Polvo
Polvo-cabeçudo
Pota
Raia-manchada
Safio
Sargo-legítimo
Sargo-safia
Tamboril-preto
Camarão-branco-legítimo
Camarão-vermelho
Carapau
Cavala
Cherne
Choco
Dourada
Faneca
Garoupa
Lagosta-castanha
Lagosta-da-mauritânia
Lagostim
Lavagante
Linguado-legítimo
Lula
Peixe-espada-branco
Peixe-espada-preto
Peixe-galo
Perceve
Pescada
Polvo
Polvo-cabeçudo
Pota
Raia-manchada
Sarda
Sargo-legítimo
Sargo-safia
Tamboril-preto
Amêijoa-branca
Atum-voador
Berbigão
Besugo
Camarão-branco-legítimo
Camarão-vermelho
Carapau
Cavala
Cherne
Choco
Dourada
Faneca
Gamba-branca
Garoupa
Goraz
Lagosta-castanha
Lagosta-da-mauritânia
Lagostim
Lapa
Lavagante
Linguado-branco
Linguado-da-areia
Linguado-legítimo
Lula
Navalheira
Pargo
Peixe-espada-branco
Peixe-espada-preto
Peixe-galo
Perceve
Pescada
Polvo
Polvo-cabeçudo
Pota
Robalo
Santola
Sarda
Sardinha
Sargo-legítimo
Sargo-safia
Tamboril
Tamboril-preto
Tintureira
Amêijoa-boa
Amêijoa-branca
Atum-voador
Berbigão
Besugo
Cação
Camarão-branco-legítimo
Camarão-vermelho
Carapau
Cavala
Cherne
Choco
Dourada
Faneca
Gamba-branca
Garoupa
Goraz
Lagosta-castanha
Lagosta-da-mauritânia
Lagostim
Lavagante
Linguado-branco
Linguado-da-areia
Linguado-legítimo
Lula
Navalheira
Pargo
Peixe-espada-branco
Peixe-espada-preto
Peixe-galo
Perceve
Pescada
Polvo
Polvo-cabeçudo
Pota
Robalo
Salmonete
Santola
Sarda
Sardinha
Sargo-legítimo
Sargo-safia
Tamboril
Tamboril-preto
Tintureira
Amêijoa-boa
Amêijoa-branca
Atum-voador
Berbigão
Besugo
Biqueirão
Cação
Camarão-branco-legítimo
Camarão-vermelho
Carapau
Cavala
Choco
Conquilha
Dourada
Faneca
Gamba-branca
Garoupa
Goraz
Lagosta-castanha
Lagosta-da-mauritânia
Lagostim
Lavagante
Linguado-branco
Linguado-da-areia
Linguado-legítimo
Lula
Navalheira
Pargo
Pargo-mulato
Peixe-espada-branco
Peixe-galo
Pescada
Polvo
Polvo-cabeçudo
Pota
Raia-pontuada
Robalo
Safio
Salmonete
Santola
Sarda
Sardinha
Sargo-legítimo
Sargo-safia
Tamboril
Tamboril-preto
Tintureira
Amêijoa-boa
Amêijoa-branca
Amêijoa-japonesa
Atum-albacora
Atum-patudo
Atum-voador
Berbigão
Besugo
Biqueirão
Cação
Camarão-branco-legítimo
Camarão-vermelho
Cantarilho
Carapau
Cavala
Choco
Conquilha
Corvina
Faneca
Garoupa
Goraz
Lagostim
Linguado-branco
Linguado-legítimo
Longueirão
Lula
Mexilhão
Navalheira
Ostra-portuguesa
Pargo
Pargo-mulato
Peixe-espada-branco
Peixe-galo
Pescada
Polvo
Polvo-cabeçudo
Pota
Raia-manchada
Raia-pontuada
Robalo
Safio
Salmonete
Santola
Sarda
Sardinha
Sargo-alcorraz
Sargo-legítimo
Sargo-safia
Tamboril
Tamboril-preto
Tintureira
Amêijoa-branca
Amêijoa-japonesa
Atum-albacora
Atum-patudo
Atum-voador
Berbigão
Besugo
Biqueirão
Cação
Camarão-vermelho
Cantarilho
Carapau
Cavala
Choco
Conquilha
Corvina
Espadarte
Faneca
Gaiado
Gamba-branca
Garoupa
Goraz
Lagostim
Linguado-branco
Linguado-da-areia
Linguado-legítimo
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Lula
Mexilhão
Navalheira
Ostra-portuguesa
Pargo
Pargo-mulato
Peixe-espada-branco
Peixe-galo
Pescada
Polvo
Polvo-cabeçudo
Pota
Raia-manchada
Raia-pontuada
Robalo
Safio
Salmonete
Santola
Sarda
Sardinha
Sargo-alcorraz
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Sargo-safia
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Amêijoa-boa
Amêijoa-branca
Amêijoa-japonesa
Amêijoa-macha
Atum-albacora
Atum-patudo
Atum-voador
Berbigão
Besugo
Biqueirão
Cação
Camarão-vermelho
Cantarilho
Carapau
Cavala
Cherne
Choco
Conquilha
Corvina
Espadarte
Faneca
Gaiado
Gamba-branca
Garoupa
Goraz
Lagostim
Linguado-branco
Linguado-da-areia
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Longueirão
Lula
Mexilhão
Navalheira
Ostra-portuguesa
Pargo
Pargo-mulato
Peixe-espada-branco
Peixe-galo
Polvo
Polvo-cabeçudo
Pota
Raia-manchada
Raia-pontuada
Robalo
Safio
Salmonete
Santola
Sapateira
Sarda
Sardinha
Sargo-alcorraz
Sargo-legítimo
Tamboril
Tintureira
5 dicas para consumir pescado de forma mais sustentável
- Opte por pescado nacional quando decidir as refeições. As espécies selecionadas para o calendário são capturadas na costa portuguesa.
- Confirme no calendário qual a altura ideal para consumir determinada espécie de pescado.
- Varie ao máximo as escolhas de pescado, em vez de comprar sempre as mesmas espécies.
- Verifique a zona em que o produto foi capturado ou cultivado, bem como a categoria de arte utilizada na pesca de captura. Quando é comercializado, os produtos devem ser sempre acompanhados dessa informação.
- Tenha em conta a arte de pesca utilizada e opte por pescado capturado com recurso a técnicas o mais sustentáveis possíveis.
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Portugal é o país da União Europeia onde mais pescado se come, de acordo com o Observatório Europeu do Mercado dos Produtos da Pesca e da Aquicultura (Eumofa). Por ano, cada português leva à mesa, em média, cerca de 60 quilos de produtos da pesca e aquicultura. Não haveria más notícias se, para fazer face à procura de pescado, a indústria pesqueira não tivesse de recorrer às técnicas que asseguram maior rentabilidade, que, para os nossos ecossistemas marinhos, estão longe de ser os métodos de captura ambientalmente mais sustentáveis.
JUNTE-SE AO MOVIMENTO PELA SUSTENTABILIDADE
As redes de arrastar e as dragas são as artes de pesca com maior impacto ambiental. Trata-se das técnicas que “varrem” os oceanos, o que resulta numa grande variedade de organismos esmagados e numa elevada percentagem de captura acidental (também conhecida por pesca acessória, ou bycatch). Já para não falar do impacto do uso de grandes embarcações em larga escala, com elevado consumo de combustível e emissões de gases com efeito de estufa.
A pesca envolve, inevitavelmente, captura acessória. Golfinhos, botos, aves e tartarugas marinhas, mas também outros peixes, que não as espécies alvo da pescaria, são apanhados nas redes dos barcos e frequentemente não têm um final feliz. Apanhados nas malhas dos pescadores, por vezes não resistem aos ferimentos causados pelas redes e morrem, mesmo que sejam devolvidos ao mar. Algumas espécies apanhadas nas redes, muitas vezes, acabam por morrer para nada: são descartadas por terem pouco ou nenhum valor comercial, por não corresponderem aos critérios de tamanhos mínimos, por se encontrarem danificadas, por não serem comestíveis ou não poderem ser retidas pelos pescadores devido a restrições de gestão ou quotas (o chamado "descarte regulamentar").
As próprias redes de pesca são apontadas como a principal causa de morte de pequenos cetáceos, alguns dos quais em vias de extinção. A “vaquita do mar” – também conhecida como golfinho da Califórnia –, e o golfinho de Maui, da Nova Zelândia, são só dois exemplos. Mas as estimativas apontam para cerca de 300 mil pequenas baleias, golfinhos e botos mortos emaranhados em redes todos os anos. Já os palangres, artefactos utilizados pelos pescadores para apanhar atum, peixe-espada e outros peixes, são a causa de afogamento de centenas de milhares de tartarugas-cabeçudas, ameaçadas de extinção, e tartarugas-de-couro, que estão em perigo crítico.
Ao largo da costa portuguesa, o golfinho-comum é uma das principais vítimas, mas outros animais marinhos – como o golfinho-roaz, o boto, a tartaruga-comum e a tartaruga-de-couro – são fonte de preocupação. Aliás, segundo a Sea Shepherd, organização americana que visa proteger os recursos marinhos, a manter-se o ritmo da pesca atual, é previsível que o boto se extinga das águas portuguesas no prazo de 20 anos.
E o cerco fecha-se quando se percebe que mesmo as técnicas de captura consideradas de baixo impacto ambiental, se não houver um trabalho com as comunidades pesqueiras, poderão acabar por causar, elas próprias, também danos. Rita Sá, coordenadora do Programa de Oceanos e Pescas da ANP/WWF (Associação Natureza Portugal/World Wildlife Fund), alerta que, "se for mal operada no mar, uma arte de pesca dita de baixo impacto pode ter tanto ou mais impacto do que as outras". A bióloga, responsável pela área dos Oceanos da WWF Portugal, dá o exemplo da pesca com anzóis, que se forem usados em grande escala numa zona com aves marinhas ou cetáceos que se desloquem em massa atraídos pela concentração do pescado que está a ser caçado, gerará também a sua captura acidental.
O reverso da medalha é que também os profissionais da pesca saem prejudicados com estes "acidentes de percurso". Muitas vezes, os animais inadvertidamente apanhados destroem as redes e prejudicam a faina. E muitos destes artefactos, não podendo ser reaproveitados, são deitados borda fora, poluindo o ecossistema.
Como fazer boas escolhas na peixaria e no restaurante?
Na União Europeia, legalmente, o pescado só pode ser proposto para venda ao consumidor final ou a um estabelecimento de restauração se uma marcação ou a rotulagem mencionar a categoria de arte utilizada na pesca de captura do pescado, entre outras informações obrigatórias. O primeiro passo para uma escolha sustentável passa por estar atento ao método usado para a captura antes de fazer a opção e escolher preferencialmente pescado capturado com artes de pesca com baixo impacto ambiental.
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|
---|---|
Indicação obrigatória no rótulo | Descrição |
BAIXO IMPACTO AMBIENTAL | |
Anzóis e aparelhos de anzol | Linhas de mão e linhas de vara (operadas manualmente) |
Linhas de mão e linhas de vara (mecanizadas) | |
Nassas e armadilhas | Nassas (armadilhas) |
MÉDIO IMPACTO AMBIENTAL | |
Anzóis e aparelhos de anzol | Palangre de fundo |
Palangre (derivante) | |
Corrico | |
Redes envolventes-arrastantes | Redes de cerco dinamarquesas |
Redes envolventes-arrastantes escocesas | |
Redes envolventes-arrastantes de parelha | |
Redes de arrastar | Redes de arrasto pelágico com portas |
Redes de emalhar e redes semelhantes | Redes de emalhar de fundo (fundeadas) |
Rede de emalhar derivante | |
Rede de emalhar envolvente | |
Tresmalhos | |
Redes mistas de emalhar-tresmalho | |
Redes de cercar e redes de sacada | Rede de cerco com retenida |
Redes de sacada manobradas de embarcações | |
Redes de sacada manobradas de terra | |
Lâmparas | |
ELEVADO IMPACTO AMBIENTAL | |
Redes envolventes-arrastantes | Xávegas |
Redes de arrastar | Rede de arrasto de vara |
Rede de arrasto pelo fundo | |
Redes de arrasto pelo fundo de parelha | |
Redes de arrasto geminadas com portas | |
Dragas | Dragas rebocadas por embarcação |
Dragas de mão utilizadas a bordo do navio | |
Dragas mecanizadas incluindo draga-aspiradora |
Métodos que varrem o mar
Com uma estrutura de rede com uma bolsa e duas grandes asas laterais que arrastam e envolvem ou cercam o pescado, as xávegas são um método de pesca tradicional geralmente largado a partir de uma embarcação e que pode ser manobrado a partir de terra ou da própria embarcação. A técnica consiste em cercar uma superfície de água com uma rede comprida, que pode estar dotada de um saco. A rede é manobrada por dois cabos fixados na extremidades da rede que têm por finalidade alar a rede, concentrar o peixe e conduzi-lo para a abertura da rede. Trata-se de redes envolventes-arrasantes, com grande impacto ambiental, ao nível da destruição de habitats e da pesca acessória.
As redes de arrasto pelágico (que não atuam no fundo do oceano) podem ser muito específicas e dar azo a poucos descartes de pescado, quando direcionadas a cardumes de adultos de uma determinada espécie. No entanto, sobretudo as maiores, estão associadas à captura acidental de cetáceos, tartarugas e outros mamíferos marinhos. Os descartes juvenis das espécies-alvo também podem ser elevados em algumas pescarias.
Redes e armadilhas podem gerar captura acidental
As redes de emalhar de fundo são métodos que utilizam redes retangulares de um a três panos, mantidos em posição vertical por cabos de flutuação, amarradas ao fundo por âncoras ou outros objetos que sirvam o mesmo propósito (as chamadas "poitas"), por exemplo. Quando posicionadas corretamente e com o tamanho de malha adequado, podem ser seletivas: os peixes pequenos conseguem escapulir-se através da rede, enquanto os maiores ficam presos. Em comparação com as artes de fundo, como as redes de arrasto, estas técnicas têm menos impacto. Contudo, quando mal colocadas ou com um tamanho da malha incorreto, podem levar a níveis mais elevados de captura acidental.
O recurso a armadilhas para atrair espécies-alvo permite que os juvenis ou espécies indesejáveis capturadas sejam devolvidos ao mar. Contudo, há que ter em conta que muitos mamíferos marinhos ficam emaranhados nas linhas das boias ou com a cabeça presa nas armadilhas (é o caso das focas), correndo o risco de se afogar.
Como reduzir o impacto das artes da pesca
A necessidade de fazer face à crescente procura de pescado e o inegável impacto dos métodos de captura mais eficazes são argumentos que estão a remar em direções contrárias. Ao consumidor cabe optar por pescado nacional – diversificando a espécie escolhida – consumi-lo na altura adequada, rejeitar a compra de pescado abaixo do tamanho recomendado e preferir pescado cuja arte de pesca seja considerada de baixo impacto ambiental.
Exigem-se mudanças da indústria pesqueira, sob pena de haver esgotamento dos recursos marinhos mundiais.
- É essencial haver uma gestão criteriosa da atividade pesqueira, de forma a evitar o esgotamento dos stocks e garantir que outras espécies e habitats dentro do ecossistema permaneçam saudáveis. Em termos gerais, as artes de pesca ativas (como as redes de arrastar e as dragas) provocam maiores impactos ambientais do que as móveis ou passivas (como os anzóis e aparelhos de anzol e as nassas e armadilhas) e as embarcações grandes de alto mar libertam mais gases com efeito de estufa do que as pequenas embarcações costeiras da pesca artesanal, especialmente em termos de emissões de carbono por valor de captura. Por outro lado, é imperativo evitar a pesca de espécies ameaçadas, privilegiando aquelas cujos stocks não estão sobre-explorados.
- Para minimizar o impacto ambiental da arte xávega na pesca acessória de cetáceos e aves marinhas, é recomendada a instalação de sistemas acústicos nas redes. Tendo em conta a reforma da Política Comum de Pescas, que estabelece um regime participado de gestão e acompanhamento da pescaria com arte xávega, Portugal encontra-se na “fase de instalação” destes equipamentos.
- Os dissuasores acústicos ou "emissores ultrassónicos" presos às redes podem desencorajar alguns mamíferos marinhos de nadar muito perto e serem capturados. No entanto, os testes têm mostrado resultados ambíguos para a sua eficácia, dependendo da área de pesca e das espécies de peixes.
- Os programas de incentivo para aumentar a taxa de captura de espécies-alvo e reduzir as capturas acessórias têm levado os cientistas a desenvolver vários “equipamentos inteligentes”. Um exemplo é o chamado “Super Polyshark’, desenvolvido por cientistas da Florida, nos EUA. Trata-se de pellets colocados no isco antes de este ser preso no anzóis dos palangres, que libertam um cheiro dissuasor para os tubarões à medida que se dissolvem na água. Seguro e biodegradável, este método permitirá capturar menos 71% de tubarões em comparação com a técnica tradicional.
- Outras modificações das artes de pesca têm permitido reduzir a captura acessória. É o caso dos dispositivos de exclusão de tartarugas marinhas (TED – turtle excluder devices), que funcionam como uma espécie de janela de fuga nas redes para esta espécie, uma das mais ameaçadas pela captura acidental. Outra alteração desenvolvida são os anzóis circulares usados em detrimento dos anzóis comuns em forma de “J” nos palangres de pesca de atum. Num projeto-piloto, a World Wildlife Fund testou estes anzóis com 1300 pescadores ao longo de quatro anos. Os resultados revelaram um decréscimo de 90% no volume de capturas acessórias de tartarugas.

- A substituição das artes de pesca com maior impacto por outras mais sustentáveis é outra medida apontada para reduzir o esgotamento dos recursos marinhos. A análise da pegada ecológica das diferentes artes de pesca mostra que é possível reduzir significativamente as emissões de gases com efeito de estufa, substituindo artes de pesca envolvendo elevado consumo de combustível, como dragas, arrasto pelo fundo e arrasto de vara por artes de pesca móveis ou passivas, com menor gasto de combustível. O resultado expectável? O reequilíbrio ambiental.