Fosfatos: aditivos pouco inofensivos
Sem dar por isso, pode cruzar-se todos os dias com fosfatos adicionados aos alimentos. Mas o que são e para que servem? E que consequências têm para a saúde? Conheça as respostas da DECO PROTeste.
- Especialista
- Nuno Lima Dias
- Editor
- Rita Santos Ferreira e Filipa Nunes

O fósforo é essencial para o nosso organismo, pois intervém em várias funções, como a formação óssea (em conjunto com o cálcio), as reações químicas de libertação de energia, a atividade celular e o transporte das gorduras. Abundantemente distribuído pelos alimentos, tanto de origem vegetal, como, sobretudo, de proveniência animal, não constitui, regra geral, um problema nutricional. Também é incorporado nos alimentos através de aditivos: os fosfatos.
Consulte o simulador da DECO PROTeste e descubra os aditivos que não têm riscos associados e os que deve evitar, por poderem provocar reações alérgicas. Procure pelo nome ou pelo número do aditivo. O simulador foi recentemente atualizado e melhorado, para ajudá-lo a reconhecer os aditivos presentes nos alimentos que consome.
Conheça o simulador de aditivos alimentares
Voltar ao topoO que são fosfatos?
Os fosfatos são aditivos alimentares à base de fósforo e, como tal, considerados ingredientes dos produtos alimentares. Por isso, é obrigatório indicá-los na lista de ingredientes.
Existem vários aditivos que fazem parte do grupo dos fosfatos e, para os desvendar na lista do produto, basta procurar por um dos seguintes códigos ou nomes:
- ácido fosfórico (E 338)
- fosfatos de sódio (E 339)
- fosfatos de potássio (E 340)
- fosfatos de cálcio (E 341)
- fosfatos de magnésio (E 343)
- difosfatos (E 450)
- trifosfatos (E 451)
- polifosfatos (E 452)
Para que servem os fosfatos?
Os fosfatos estão encarregados de várias funções, dependendo do alimento em questão. Assim, podem ser utilizados:
- para reforçar a ação antioxidante de outros aditivos;
- para estabilizar emulsões, podendo ser, simultaneamente, estabilizadores e emulsionantes;
- para regular a acidez (no caso do ácido fosfórico);
- para melhorar a consistência e a textura dos alimentos, através da retenção de água;
- como levedantes químicos;
- como agentes de tratamento de farinha.
Os fosfatos podem ser encontrados em muitos mais alimentos do que pensa. Na generalidade dos produtos, são permitidos 10 gramas de fosfatos por quilo ou litro, embora com várias exceções.
Existem bebidas, com e sem álcool, bolos e massas que contêm fosfatos. E a esta lista podemos juntar muitos outros alimentos:
- açúcares e xaropes
- aperitivos
- farinhas
- cereais de pequeno-almoço
- frutos transformados
- molhos e os temperos
- alguns tipos de leite e produtos lácteos (queijos, por exemplo)
- produtos à base de batata
- produtos à base de carne ou de peixe
- produtos de padaria e pastelaria
- alguns caldos e sopas
- sobremesas
Por exemplo, nos produtos de carne e de pescado, entre outras funções, os fosfatos diminuem a desidratação e aumentam a retenção de água, o que pode tornar-se enganoso para o consumidor. Já nos produtos de batata, são utilizados para evitar que escureçam. Nos refrigerantes, por sua vez, aumentam a acidez e, nas bebidas isotónicas, empregam-se para as suplementar de sódio e potássio, minerais que se perdem durante a atividade física.
Voltar ao topoQue riscos têm para a saúde?
O fósforo é essencial para o funcionamento do organismo. A quantidade de fósforo no sangue é mantida dentro de limites adequados graças a hormonas que atuam ao nível do intestino e dos rins. Mas vários fatores podem comprometer essa estabilidade, entre os quais está a ingestão excessiva de fosfatos através dos alimentos.
O excesso de fósforo no sangue (hiperfosfatemia) é, hoje em dia, considerado um fator de risco importante, e não tradicional, para a doença cardiovascular. Estudos têm demonstrado uma ligação entre concentrações elevadas de fosfatos no sangue e a ocorrência destes tipos de distúrbios. Os referidos aditivos podem acelerar, direta ou indiretamente, o processo de calcificação vascular e induzir a disfunção endotelial e hipertrófica ventricular esquerda, contribuindo, assim, para o aumento do risco cardiovascular.
A relação entre a fosfatemia e os eventos cardiovasculares não só é evidenciada em pessoas com doença renal crónica (condição patológica frequentemente acompanhada de valores elevados de fosfato no sangue), mas também na população em geral. A relação ainda não está completamente esclarecida, mas tem vindo a ser associada ao aumento da ingestão de alimentos industrializados que contêm aditivos fosfatados.
A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) considera que os principais efeitos de uma exposição excessiva a fosfatos são observados nos rins, e não no coração. Como tal, os problemas renais mais comuns associados à concentração excessiva destes aditivos são insuficiência renal, o comprometimento da função do órgão e os cálculos renais.
Apesar destas conclusões, ainda serão precisos mais estudos para aferir as reais consequências do excesso de fosfatos no sistema cardiovascular, bem como o interesse do uso de estratégias preventivas e terapêuticas na população.
Outra questão que deve ser tida em conta é a relação entre o cálcio e o fósforo. Noventa por cento do fósforo encontra-se nos ossos, sob a forma de fosfato de cálcio. Assim, uma dieta rica em fosfatos e pobre em cálcio pode levar a uma diminuição da absorção de cálcio, por formação de sais de cálcio pouco solúveis, podendo, a longo prazo, provocar debilidade óssea.
Para evitar que tal aconteça, deve ingerir tão ou mais cálcio do que fósforo. Ou seja, consuma, por exemplo, laticínios e reduza a ingestão de produtos ricos em fosfatos. Isto é especialmente relevante em crianças e adolescentes (em pleno crescimento), grávidas, lactantes e idosos.
Voltar ao topoQual a dose diária admissível de fosfatos?
Depois de avaliada a segurança do ácido fosfórico e dos fosfatos, a EFSA, baseando-se em dados de exposição e toxicidade, estabeleceu uma dose diária admissível (DDA) de 40 miligramas por cada quilo de peso corporal. Ou seja, uma pessoa com 70 quilos de peso não deve ingerir mais de 2,8 gramas de fósforo por dia. Conclui-se, assim, que esta dose diária de fósforo é suficientemente baixa para proteger adultos saudáveis.
A definição destes limites teve em consideração fontes naturais e aditivos alimentares. Os últimos contribuem com 6 a 30% para a ingestão total de fósforo.
Atente que os limites não se aplicam a pessoas com problemas renais. Estima-se que 10% da população possa ter a função renal reduzida e não tolerar a quantidade estabelecida pela EFSA.
Este organismo concluiu, ainda, que a população infantil e adolescente pode facilmente exceder a dose diária admissível, uma vez que o valor é estabelecido em relação ao peso corporal, e este grupo etário tende a pesar menos do que os adultos. Por exemplo, uma criança de 20 quilos só pode ingerir 0,8 gramas de fósforo, valor que pode ser ultrapassado com uma alimentação normal.
Quem toma suplementos alimentares também se arrisca a ultrapassar a dose diária admissível, pois os suplementos podem conter quantidades significativas de fósforo. Face a mais esta conclusão, a EFSA considera que seria importante estabelecer limites máximos de fósforo, devido aos riscos que o excesso deste mineral comporta.
Voltar ao topoOs fosfatos podem ser enganosos e pouco inofensivos
Estes aditivos podem não ser inofensivos, visto que, em excesso e a longo prazo, podem provocar complicações cardiovasculares e renais.
A DECO PROTeste considera que, em muitos casos, a necessidade inequívoca de aditivos fosfatados não está demonstrada. Aliás, os fosfatos podem até induzir o consumidor em erro, pois permitem, por exemplo, reter água em produtos de carne ou de pesca e aquicultura, aumentando o seu peso de forma artificial.
Tendo em conta estas questões, já começam a surgir marcas que colocam, nas embalagens dos produtos, a indicação de não conterem fosfatos adicionados. É um sinal de que os produtores sabem que estes aditivos não são inocentes e que o consumidor está mais alertado para os possíveis riscos da sua ingestão excessiva.
Voltar ao topoComo evitar o consumo de aditivos alimentares?
Quanto mais transformados forem os alimentos, maior é a probabilidade de conterem diversos aditivos. Assim, se um produto for muito colorido ou elaborado, é provável que contenha vários aditivos. Siga os seguintes conselhos da DECO PROTeste para evitar o consumo excessivo:
- prefira alimentos simples, menos transformados, e procure prepará-los, em vez de os utilizar industrialmente acabados;
- variar a alimentação;
- leia o rótulo e escolha os produtos que contenham menos aditivos. Mas esteja atento, pois a ausência de corantes, conservantes e/ou intensificadores de sabor, alegada em alguns rótulos, não significa que o produto não tenha aditivos;
- evite produtos com cores muito vivas, que revelem explicitamente a presença de corantes. Mas lembre-se de que existem corantes naturais tão nefastos como certas versões sintéticas;
- não abuse dos produtos de charcutaria;
- tenha em conta de que, regra geral, os vinhos tintos contêm menos sulfitos do que os brancos;
- evite os alimentos muito aromatizados;
- reaprenda a apreciar o sabor dos produtos simples;
- não abuse dos edulcorantes, que adoçam os alimentos;
- não se deixe influenciar pela publicidade. Aprenda a ler os rótulos dos produtos e tire as suas próprias conclusões.
Assim, elimine ao máximo os E das suas refeições. Adote uma dieta mais saudável e pobre em aditivos.
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