Dieta biológica é 70% mais cara do que a convencional
Uma dieta mediterrânica apenas com alimentos provenientes de agricultura biológica aumenta a conta do supermercado em mais de dois terços, face a igual cabaz de convencionais. Mas nem tudo são más notícias para os fãs do biológico: há produtos em que a diferença é de poucos cêntimos. Conheça as variações.
- Especialista
- Susana Costa Nunes
- Editor
- Fátima Ramos

As prateleiras de alimentos biológicos estão a ganhar terreno nos supermercados. Da fruta e dos legumes às massas, ao peixe, à carne e aos temperos, muitos são os produtos disponíveis, inclusive com marca própria das cadeias de distribuição. No entender dos consumidores, de acordo com o Eurobarómetro sobre a Política Agrícola Comum, de 2022, estes alimentos proporcionam uma dieta mais saudável e sustentável, mas ainda são difíceis de encontrar e ficam mais caros do que os convencionais. A pesquisa de preços realizada pela DECO PROTESTE, em março de 2023, confirma esta perceção: a grande maioria dos alimentos biológicos custa, pelo menos, 50% mais do que os convencionais, e, apesar do aumento da oferta, nem sempre é fácil encontrá-los à venda.
Qual é o supermercado online mais barato no meu concelho
O que são alimentos biológicos?
Um produto biológico tem de obedecer a regras apertadas, desde que a semente cai na terra. Por exemplo, é proibido o uso de pesticidas químicos, de fertilizantes sintéticos e de organismos geneticamente modificados. Exige-se também a rotação de culturas.
Na pecuária, o uso de hormonas é proibido, e o de antibióticos, muito restrito – são permitidos apenas alguns, e em situações bem determinadas. Além disso, os animais devem ser alimentados com pasto, forragens ou rações provenientes da agricultura biológica, e criados em espaço aberto, ao ar livre.
Estas condicionantes afetam, obviamente, a produção: ganhamos em qualidade dos alimentos e no ambiente, espera-se, mas perdemos em quantidade, uma vez que existe, por exemplo, menor controlo sobre as doenças, tanto em plantas, como em animais, e as culturas são menos intensivas. Aqui, pode estar uma justificação para algum incremento dos preços dos produtos, mas o marketing do “saudável” também assumirá um papel importante nesta história de fazer contas. Descubra as diferenças de preços.
Qual o preço de uma dieta mediterrânica biológica?
Exclusivo Simpatizantes
Para ler, basta ter conta no site (disponível para subscritores e não-subscritores).
Não tem acesso? Criar conta gratuita
O conteúdo deste artigo pode ser reproduzido para fins não-comerciais com o consentimento expresso da DECO PROTeste, com indicação da fonte e ligação para esta página. Ver Termos e Condições. |
Exclusivo Simpatizantes
Para continuar a ler, basta entrar no site ou criar uma conta (disponível para subscritores e não-subscritores).Que impacto económico terá uma dieta exclusivamente “biológica” no orçamento das famílias? A DECO PROTESTE selecionou um cabaz de 52 produtos característicos da dieta mediterrânica, incluindo legumes, fruta, azeite, cereais, leguminosas, frutos secos, ovos e quantidades moderadas de carne e pescado. Tendo em conta todos os ingredientes necessários para uma dieta variada e as porções nutricionalmente equilibradas para um adulto, conclui-se que um consumidor gasta facilmente mais de 280 euros por mês, mesmo optando pelos produtos mais baratos. São mais 118 euros (71%) do que gastaria em igual cabaz de alimentos convencionais.
Por categoria de produtos, a diferença vai dos 7 aos 180 por cento. O maior equilíbrio pertence ao peixe em conserva, como atum, sardinha e cavala. Por sua vez, as leguminosas secas, incluindo grão e vários tipos de feijão, acusam o desnível mais acentuado. O feijão-frade biológico, por exemplo, chega a ser quatro vezes mais caro do que o convencional, registando um aumento de 6 euros por quilo.
Couve-flor e brócolos biológicos custam mais do dobro dos convencionais
Dizem as recomendações nutricionais que devemos comer três a cinco porções de fruta e legumes por dia. Na variedade manda o paladar, mas a saúde e o ambiente agradecem que seja da época. Se a escolha é biológica ou convencional, depende das preferências e do bolso de cada um. Caso o preço tenha maior peso na decisão, os biológicos ficam quase sempre a perder. A couve-flor, o feijão-verde, a couve-coração, o alho-francês e os brócolos assumem a dianteira, com a versão “bio” a custar mais do dobro da convencional. No caso da couve-flor, se a mão consumidora resvalar para a primeira, a conta aumenta, em média, 5 euros por quilo. Mais raras são as situações em que o preço é pouco relevante na escolha. Acontece no caso da abóbora, que, na versão biológica, custa apenas mais 6 cêntimos por quilo, em média (3 por cento).
No campo da fruta, a maçã, a pera e o quivi apresentam o maior diferencial de preço: os “bio” são 103% a 153% mais caros, em média, do que os convencionais. Em valores absolutos, as diferenças traduzem-se em mais de 2 euros (maçã) e mais 4 euros por quilo (quivi). No prato mais leve da balança contabilística está a banana, que, na versão “bio”, custa mais 60 cêntimos por quilo, em média.
Marcas de fabricantes e marcas próprias em expansão
Se os alimentos “bio” não processados apresentam enormes diferenças de preço face aos convencionais, é de esperar que os embalados e processados sigam o mesmo caminho. É o que se verifica, mas não da mesma forma em todos os casos. Nos produtos analisados pela DECO PROTESTE, há variações entre 7 e 140 por cento. Na base está o café L’OR e, no topo, a polpa de tomate Guloso. Enquanto uma cápsula de café biológico custa mais 3 cêntimos do que a convencional, o molho apresenta uma variação média acima dos 4 euros por quilo.
Mais curiosa é a diferença de procedimento entre marcas. Na mesma categoria de produto – o esparguete –, a Buitoni consegue vender o “bio” por um valor muito mais próximo do convencional do que a Nacional. Esta divergência pode estar relacionada com o recurso, por parte da primeira marca, a matéria-prima (farinha biológica) proveniente de países onde há maior produção biológica.
Tal como acontece com a generalidade dos produtos, as marcas de distribuidor têm preços um pouco mais simpáticos do que as de fabricante. Neste caso, a categoria “biológicos” fica 69% mais barata. Porém, o hipermercado nem sempre é o local de venda mais económico. A análise de custos de dez frescos (fruta, legumes e ovos) revela que, no geral, as lojas especializadas em produtos biológicos vendem 25% mais barato. Não perde em dar uma olhadela.