Mais literacia financeira e menos lesados
Consolidar a literacia no ensino pode alterar comportamentos, criar hábitos de poupança e permitir conhecer produtos financeiros e riscos associados. Competências cada vez mais necessárias.

No final de 2023, foi rejeitada na Assembleia da República uma proposta que pretendia aumentar a literacia financeira nas escolas. Volvidos quase 50 anos de liberdade, há políticos que não entendem que a liberdade de escolha dos cidadãos, também nas decisões financeiras, depende do conhecimento.
A DECO PROteste contribui, há quase três décadas, para a literacia. Faz análises, dá conselhos, incentiva mudanças de comportamentos e ajuda a alterar regras e a legislação de muitos produtos. E, da mesma forma que tem observado de perto erros nas decisões de poupança, investimento ou crédito, tem ajudado milhares de consumidores. Bancos e seguradoras, entre outros players, têm construído os seus negócios, em parte, à custa da iliteracia dos clientes, comercializando produtos pouco competitivos, muitas vezes desadequados. Já aos portugueses faltam hábitos, como comparar, diversificar e mudar, sabendo-se que a inércia advém, muitas vezes, da sua iliteracia.
O nosso país já foi apontado por várias organizações como um dos piores. Em 2022, num estudo do Banco Central Europeu, figurava em último lugar no ranking da zona euro. Segundo a Standard & Poor’s, só 26 em cada 100 portugueses tinha literacia financeira, em linha com Paquistão, Nigéria ou Chade. Mais recentemente, também a OCDE alertou para o elevado défice nos conhecimentos financeiros dos lusos.
Somos o País dos lesados, em parte, porque os cidadãos não sabem identificar um simples depósito. Não distinguem o risco e facilmente confiam num esquema que promete alto rendimento recomendado por um amigo ou pelo gestor de conta pressionado por objetivos de venda. Consolidar a literacia no ensino pode alterar comportamentos, criar hábitos de poupança, conhecer produtos financeiros, riscos associados... Competências necessárias num contexto cada vez mais complexo em que proliferam sugestões de ganhos rápidos, fraudes, produtos não regulados e recomendações pouco isentas de influenciadores patrocinados.
A literacia financeira é uma ferramenta essencial no quotidiano, para os cidadãos fazerem boas escolhas e até promoverem a concorrência e a transparência do mercado. Educação e formação nunca são de mais. Queremos políticas que acompanhem a evolução dos mercados, dos produtos, e permitam o desenvolvimento da sociedade. Não apenas "pensos rápidos" para corrigir um problema do momento. Queremos gerações instruídas para evitar novos lesados. Não basta um módulo numa disciplina de cidadania. Os temas financeiros podem e devem ser integrados noutras disciplinas e não ser vistos como um capricho deste ou daquele partido. É uma urgência!
Sabia que...?
Em 2022, num estudo do Banco Central Europeu, Portugal figurava em último lugar no ranking da zona euro sobre literacia financeira. Segundo a Standard & Poor’s, só 26 em cada 100 portugueses tinha literacia financeira, em linha com Paquistão, Nigéria ou Chade.
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