Consolidar créditos fica caro a longo prazo
Juntar vários créditos num só permite ganhar liquidez mensal, mas significa pagar mais juros, além das comissões e penalizações por reembolso antecipado.
- Especialista
- Margarida Zacarias
- Editor
- Sofia Frazoa e Filipa Nunes

A deterioração da situação financeira, seja por quebra de rendimentos ou por aumento das despesas, pode levar a dificuldades no cumprimento do pagamento das várias prestações.
Nesta situação, muitos procuram formas de reduzir as prestações. Uma solução tentadora é a consolidação de créditos (alguns com taxas altas): juntar numa só prestação as mensalidades do carro, eletrodomésticos, mobiliário e férias.
Consolidar créditos: mais juros e revisão do spread
A consolidação de créditos permite ganhar liquidez mensal, mas aumenta o prazo de todos os empréstimos (à exceção do crédito à habitação). Por exemplo, em vez de pagar as férias em um ou dois anos, paga-as em 30. Logo, vai gastar mais dinheiro com juros a longo prazo.
São cada vez menos as instituições bancárias que aceitam consolidar, principalmente se não tiverem garantias, como uma hipoteca. A agregação pode ser feita ao crédito à habitação ou podem ser apenas agregados os créditos ao consumo e cartões de crédito.
Se não tiver um imóvel para dar como garantia, ainda é possível encontrar algumas instituições de crédito que disponibilizam crédito ao consumo consolidado. Neste caso, a taxa de juro será superior ao praticado no crédito hipotecário, e o prazo máximo são apenas sete anos. Caso pretenda consolidar créditos com prazos superiores a sete anos, só o conseguirá fazer num crédito hipotecário e, para isso, necessita de um imóvel como garantia.
Imagine um cenário em que paga mensalmente 610 euros pelos créditos automóvel, pessoal e cartão de crédito. Como está com dificuldade em pagar todas as prestações, vai ao banco e pede para juntá-las. O banco apresenta-lhe a possibilidade de juntá-las num crédito ao consumo consolidado e, neste caso, não precisa de ter um imóvel para dar como garantia do crédito.
Neste cenário que apresentamos, em caso de consolidação, o banco faz-lhe um novo empréstimo por sete anos e fica a pagar 319 euros por mês. Consegue uma folga mensal de 291 euros, mas, no final dos sete anos, pagará mais 4991 euros do que se mantivesse o pagamento dos créditos originais. Ao manter o pagamento nos prazos iniciais, o custo seria 3796 euros; optando pela consolidação em sete anos, o custo total do crédito será de 8787 euros. Se o crédito consolidado tiver taxa variável, também é importante acautelar se o orçamento familiar suporta uma subida da prestação derivada da subida das taxas de juro – se isso acontecer, o custo total do crédito ainda será superior. Neste caso, como também foi consolidado o cartão de crédito, tinha de ser contactada a instituição que o emitiu para pedir o seu cancelamento; não bastava apenas pagar o valor em dívida. Se não solicitar o cancelamento, o cartão continua a existir e, se tiver anuidade, esta continuará a ser cobrada.
Prepare-se para pagar penalizações e despesas contratuais
A consolidação de crédito implica também custos adicionais de natureza legal relacionados com o novo contrato de crédito, como emolumentos e imposto do selo.
Além disso, terá de amortizar os créditos a consolidar, o que pode envolver penalizações. No crédito à habitação com taxa variável, o máximo de penalização é de 0,5% do valor amortizado. Para um crédito com taxa fixa, o valor sobe para 2 por cento. No caso do crédito ao consumo, não são cobradas penalizações para os créditos com taxa variável. Já para os que têm taxa fixa, o máximo é de 0,5% do valor amortizado, descendo para 0,25% se estiver no último ano.
Consolidar os créditos é, assim, uma solução que deve ser analisada cuidadosamente e depende de cada caso. É verdade que permite desafogar o orçamento familiar. Para quem não consegue pagar todas as prestações e despesas mensais, pode ser uma solução. No entanto, a longo prazo, revela-se mais cara.
Faça as contas antes de decidir consolidar créditos
Avalie bem o seu orçamento antes de avançar para a consolidação de créditos. Faça uma lista de todas as suas receitas e despesas. Confirme se não consegue poupar cortando nalgum gasto a que não tem dado atenção.
Normalmente, o crédito à habitação é o que pesa mais no orçamento. Por isso, compensa tentar renegociar as condições com o banco, como o spread. Outra hipótese é o alargamento do prazo do empréstimo. Apesar de conseguir baixar a prestação mensal, também paga mais juros no final do crédito.
Só deve avançar para a consolidação de créditos se concluir que realmente não tem rendimentos para cobrir todas as despesas mensais. Nesse caso, consolidar pode ser uma forma de evitar o incumprimento. O nosso dossiê sobre soluções para travar o sobre-endividamento ajuda-o a identificar os primeiros sinais de perigo.
Se decidir consolidar, evite que o valor da mensalidade do crédito (taxa de esforço) seja superior a 35% do valor do seu rendimento mensal. Quando ultrapassa esse limite, a taxa de esforço é considerada elevada: torna-se mais difícil responder a uma redução imprevista dos rendimentos, provocada por situações como desemprego, cortes salariais ou doença.
E não avance logo na primeira proposta que tenha. Solicite várias simulações, compare a oferta de vários bancos e opte pela que apresenta a TAEG (taxa anual de encargos efetiva global) mais baixa. É nesta que terá refletido o custo total do crédito e a que for mais baixa representará o crédito mais barato. Outra questão importante quando decide consolidar créditos é o prazo do novo crédito. Contrate o prazo mais curto que lhe permita ter uma prestação confortável para o seu rendimento atual. Quanto maior for o prazo mais irá pagar em juros e mais caro ficará o crédito no final.
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