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Comboio histórico do Douro: qual o preço desta viagem única?

Encostas cobertas de socalcos vinhateiros e quintas ancestrais, com as águas do Douro a acompanhar. Desfrutar de uma das paisagens mais incríveis de Portugal, a bordo de um clássico comboio a vapor, é uma experiência que não tem preço.

  • Editor
  • Marlene Marques/Marlene On The Move
21 julho 2023
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Locomotiva do comboio histórico do Douro na estação

Marlene Marques/Marlene On The Move

Desafiámos Marlene Marques, do blogue Marlene On The Move, para guiar os consumidores na viagem pelo comboio histórico do Douro. Apressamos o passo ao darmos entrada na estação da Régua, movidos pela antecipação. Desde a hora do almoço que olhamos para o relógio. O tempo custa a passar até à partida do comboio, marcada para as 15h30. Pouco depois das 15h, outros viajantes juntam-se na plataforma, perto do antigo cais de mercadorias.

Ali está ele, o comboio histórico do Douro. Há muito que queríamos ter esta experiência: andar no comboio que, desde finais do século XIX, liga a Régua ao Tua, percorrendo as paisagens do Douro Vinhateiro, Património Mundial da Unesco desde 2001. Esta é uma viagem especial. O comboio moderno dá lugar a uma locomotiva a vapor de 1925 que puxa cinco carruagens em madeira, a mais antiga das quais construída em 1908. Cheira a história no cais da Régua, e os minutos que antecedem a partida são para apreciar cada detalhe – as chapas em metal, a tinta esgaçada, os tubos, os arrebites em ferro.

A antiga locomotiva a vapor atrai todos os olhares. Espreitamos lá para dentro, e logo um manancial de roldanas douradas, alavancas vermelhas e mostradores de pressão e velocidade sobressaem num pesado painel. Este é o mundo do maquinista e do fogueiro, a dupla que nos vai conduzir durante a tarde pelos vales do Douro. Um controla a marcha e a velocidade, enquanto o outro se responsabiliza pela pressão do vapor e pela água à caldeira.

A viagem entre a Régua e o Tua faz-se em 36 quilómetros. Parece pouca distância à velocidade que a vida corre, mas o comboio não ultrapassará os 50 quilómetros por hora, tempo suficiente para apreciar as vistas do Douro.

A música do rancho folclórico anima agora os viajantes. Homens e mulheres, trajados a rigor, caminham pela plataforma espalhando alegria, num prelúdio para o que se vai passar dentro das carruagens. Chega finalmente a hora, e o comboio anuncia que vai partir, com um apito que se ouve por toda a estação. É tempo de ocupar o lugar, e aqueles junto das janelas são os mais cobiçados. Ninguém quer perder pitada do que aí vem.

Viagem da Régua ao Pinhão

Ao som do metal nos carris e com o baloiçar das carruagens, começamos a viagem rumo à primeira paragem: o Pinhão. O comboio começa por atravessar a ponte metálica sobre o rio Corgo, um dos afluentes do Douro. A seguir, entra num primeiro túnel até chegar à barragem de Bagaúste. Datada de 1973, é por aqui que os barcos que circulam no Douro sobem e descem pelas eclusas para seguirem viagem. O comboio apita, anunciando a passagem e, pela janela, devolvemos os acenos aos passageiros dos barcos que circulam no rio. O Douro Vinhateiro começa a revelar-se nas encostas de uma paisagem desenhada pelos socalcos repletos de vinhas das quintas que produzem o melhor vinho do Norte.

O imaginário toma conta, e pensamos nas histórias que por ali passaram e no trabalho de gerações. Grandes casas surgem, como ilhas, no meio do verde. Muitas foram convertidas para o enoturismo, e oferecem estada e provas de vinho a quem deseja uma experiência mais completa do Douro.

Também estamos de cálice na mão, provando o vinho do Porto, à medida que nos deliciamos com a paisagem. O saquinho dos rebuçados da Régua, que também nos é oferecido, vamos guardá-lo para o regresso. O rancho percorre agora cada uma das carruagens, tocando a banda sonora perfeita para esta viagem. Imaginamos que o mesmo aconteceria, quando os passageiros de outrora viajavam entre o Porto e o Tua e cantavam para passar o tempo.

Arte na estação de comboio do Pinhão

Passados 38 minutos, chegamos ao Pinhão e a uma das estações mais bonitas de Portugal. Quando foi criada, a Linha do Douro terminava aqui, mas, por pressão da sociedade portuense e de D. Antónia Ferreira, uma das personalidades mais marcantes da região, foi prolongada até Barca d’Alva.

A paragem de dez minutos sabe a pouco para tudo o que podemos fazer. Na estação, existe uma wine house com uma variedade de produtos da região, entre vinhos Casa Ferreirinha, Porto Ferreira, Offley e Sandeman. Porém, os 24 painéis, com 3047 azulejos datados de 1937, são o verdadeiro tesouro da paragem. Nesta galeria de arte ao ar livre, a história do Douro é contada em imagens, retratando desde a atividade vitivinícola às fainas agrícolas, passando pelas paisagens e pelos costumes da época. A atenção é também desviada para a locomotiva, a abastecer a caldeira para seguir viagem.

Comboio rumo ao Tua e regressar

O comboio lança de novo um estridente apito. É hora de voltar a iniciar a marcha, rumo ao Tua, a última paragem da viagem antes do regresso à Régua. Até lá, o Douro Vinhateiro continua a reter a nossa atenção, mas, à medida que nos aproximamos do rio Tua, a paisagem muda, tornando-se mais agreste.

A passagem por uma ponte metálica marca a entrada na sub-região do Douro Superior e a chegada à estação do Tua. É tempo de fazer uma pausa e beber água, enquanto o comboio é preparado para o regresso à Régua.

Repetimos a paisagem, mas, desta vez, com uma luz diferente e uma nova perspetiva. É como ver um bom filme pela segunda vez, mas reparando nos detalhes que escaparam à primeira.

Informações úteis

O comboio histórico do Douro funciona entre julho e outubro. Consulte o site da CP para saber os dias exatos. As viagens realizam-se à tarde, com início na estação da Régua, às 15h30, e chegada ao mesmo local às 18h26. Esteja no cais 30 minutos antes da hora. A forma mais barata de chegar à Régua é por comboio, a partir da Estação de Campanhã, no Porto, uma viagem com duração de 1h40. Em alternativa, o carro permite paragens ao longo do caminho.

Preço da viagem

O bilhete do comboio histórico do Douro tem um custo de 49 euros para adultos e 25 euros para crianças. Inclui a viagem de ida e volta, a animação a bordo e pequenas ofertas, como o cálice de vinho do Porto e os rebuçados da Régua.

Onde ficar

Pode ficar alojado no Porto e ir até à Régua no dia da viagem. Outra opção é ficar em Peso da Régua, com vários alojamentos. O custo mínimo para estada a dois em hotel, de 8 a 10 de setembro, é 184 euros. Os preços foram recolhidos online, a 23 de junho, para hotel de quatro estrelas com pequeno-almoço, em Peso da Régua e até dez quilómetros de distância. Para o mesmo cenário, o alojamento em turismo rural custa a partir de 220 euros.

Já que está na zona

Peso da Régua é apelidada por muitos como “a capital da região vinícola” e é ponto de partida para descobrir as quintas do Douro. Comece com uma visita ao Museu do Douro, para aprender mais sobre a cultura do vinho, e passeie pela ponte pedonal. Caso esteja de carro e queira uma visão diferente sobre a paisagem do Douro Vinhateiro, procure um dos miradouros da região, como o Miradouro São Leonardo de Galafura, a 30 minutos da Régua.

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