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Rótulo alimentar: açúcar é o mais procurado e evitado

Sem açúcar adicionado, baixo teor em sal e gorduras saturadas são as alegações nutricionais que mais influenciam a decisão de compra dos portugueses, de acordo com um inquérito da DECO PROTESTE. Já nas informações obrigatórias, a data de validade leva a dianteira.

08 fevereiro 2023 Exclusivo
Mulher a ver rótulo de frasco

iStock

Quem vê caras não vê corações, anuncia o ditado. As aparências podem iludir, para continuar em modo popular. Nenhum dos ditos deveria ser sinónimo do rótulo de um produto alimentar. A embalagem é a zona, por excelência, das mensagens dirigidas ao seu leitor primordial: o cliente, o consumidor, nós todos, em qualquer loja. À vista de um rótulo, o que fazemos? Lemo-lo na sua plenitude? O que valorizamos mais? E compreendemos as suas informações? 

Elencaram-se estas e outras questões num inquérito feito pela DECO PROTESTE. Uma amostra da população portuguesa, entre os 18 e os 79 anos, ponderada por género, idade, nível de educação e região, serviu de base ao questionário, que contou com 758 respostas válidas, que refletem a experiência e a opinião dos participantes.

Rótulos com letra demasiado miudinha 

Se o interesse nos rótulos é demonstrado pela maioria dos inquiridos, há uma fatia de 15% que não perdem tempo a tentar decifrar a informação. O principal motivo prende-se com o tamanho diminuto da letra, que dissuade grande parte dos consumidores que não leem o rótulo.  A segunda razão para este desprendimento é a dificuldade em interpretar a informação. A falta de literacia nesta esfera não é novidade. Vários estudos têm demonstrado que o consumidor nem sempre compreende na totalidade o que é transmitido. Também há quem simplesmente não tenha o hábito de consultar a informação escrita, a considere demasiado extensa ou pense ser difícil encontrar o que lhe interessa. Ainda assim, a maioria considera a informação fiável.

Sem açúcar adicionado? Compro 

De alegações nutricionais estão os rótulos cheios, poder-se-ia dizer. Acompanham o ar e as preocupações dos tempos. E, se a moda impõe menos açúcar, sal e gordura e redução de calorias, tais menções proliferam nas embalagens. O que vai ao encontro do desejo pouco secreto do cidadão preocupado com a linha e com a saúde. No presente inquérito, o género feminino mostra-se mais atento a este tipo de comunicações. Curiosamente, poucos inquiridos sabem com precisão a quantidade diária de calorias recomendada. Um terço admite não saber e quase 60% afirmam ter uma ideia aproximada. 

A declaração nutricional é uma presença fixa nos rótulos. Nela, é possível consultar o valor calórico e os teores dos nutrientes. E que valores procuram os consumidores nesta declaração que põe a nu, muitas vezes, certas alegações nutricionais na parte da frente da embalagem? O açúcar e os hidratos de carbono surgem como primeiros pontos de interesse, seguidos pelo sal e pela quantidade de calorias do alimento. Só depois aparecem as gorduras. As proteínas, as fibras e as doses de referência estão no fim da linha.

Se 20% dos portugueses desvalorizam as alegações nutricionais e de saúde, sensivelmente a mesma percentagem admite que tais alegações exercem uma grande influência na decisão de compra. E quais são as mais procuradas? "Sem açúcares adicionados", "baixo teor de sal" e de "gorduras saturadas" e "zero" e "baixas" calorias.  

Ao comprar um produto pela primeira vez, 14% dos inquiridos leem a informação nutricional. Já quase um terço faz constantemente essa leitura. Quase metade dos que responderam ao inquérito percebem facilmente os dados nutricionais. Mas, ainda assim, um quarto indicou ter dificuldade em compreendê-los. E são úteis? Sim, responderam 75 por cento. E de confiança? Quase metade calcula que o são.

Conhece as datas de validade? 

Mas nem só de alegações e de declarações nutricionais vivem os rótulos. Informações há que, ao longo do tempo, foram convertidas em obrigatórias. A data de validade é considerada a mais importante, com a esmagadora maioria dos inquiridos a dar primazia a essa informação. Na gradação de interesses, seguem-se a lista de ingredientes e a informação nutricional. Depois, as instruções de utilização e o país de origem. 

Estar a par das promoções é outra das preocupações para quem consulta o rótulo. Não se trata, obviamente, de uma informação obrigatória, e é ocasional. Encontrar a informação é que exige, por vezes, uma procura persistente. Por exemplo, 34% dos inquiridos têm dificuldade em encontrar a data de validade, e uma em quatro pessoas nem sempre consegue lê-la com facilidade. 

Não é clara para muitos inquiridos a diferença entre "consumir de preferência antes de..." (no caso dos bens alimentares menos perecíveis, como conservas, congelados, cereais, massa, chá, café, entre outros) e "consumir até..." (após o prazo indicado, o alimento é tido como não seguro, e o consumidor pode correr o risco de sofrer uma toxi-infeção alimentar, se o ingerir). Contudo, a quase totalidade de quem respondeu ao inquérito está convencida de que faz corretamente a distinção. 

Por lei, os rótulos de produtos importados têm de estar traduzidos. Justapõem-se, por vezes, bandas com a informação em português. Embora 59% dos inquiridos refiram que nunca ou raramente encontram rótulos sem todos os dados em português, cerca de um terço afirma que, por vezes, tal acontece. "Com frequência" é a resposta de 7% dos inquiridos à mesma questão.

Nutri-Score: uma em três pessoas conhece-o

O Nutri-Score é um símbolo relativamente recente nos produtos portugueses, uma vez que não foi assumido pela generalidade das marcas. O logótipo foi entretanto adotado, de forma voluntária, em sete países europeus, reunindo o apoio de várias associações de consumidores e o consenso entre centenas de cientistas e profissionais da área da saúde. Recorre a um código de cores e de letras, e tem por base um algoritmo cientificamente validado, que permite distinguir os alimentos mais equilibrados do ponto de vista nutricional. 

Pouco mais de um terço dos inquiridos pela DECO PROTESTE revelam já terem visto o logótipo Nutri-Score, ao mesmo tempo que compreendem o seu significado. Em contrapartida, há uma percentagem igual que assegura nunca ter reparado no Nutri-Score. Pouco mais de um quarto confrontou-se com aquele logótipo, mas sem perceber o seu verdadeiro papel. Felizmente, entre os inquiridos familiarizados com o Nutri-Score, grande parte entende-o como um instrumento útil para avaliar que produtos comprar no supermercado. 

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