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Ovos de galinha criada ao ar livre, no solo ou em gaiola: há bons para todos

Os resultados são positivos, sobretudo ao nível da frescura e da microbiologia – não foram detetadas salmonelas, nem outras bactérias patogénicas. Informação, peso e limpeza da casca podem melhorar. Uma família de 4 poupa 26 euros por ano com as Escolhas Acertadas.

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21 dezembro 2023
Exclusivo
Grande plano de mão a segurar um ovo, no meio do campo

iStock

Num olhar global sobre os resultados, os ovos apresentaram boa frescura, estando quase sempre irrepreensíveis do ponto de vista microbiológico. Mas há problemas que persistem. A casca nem sempre estava limpa e, em alguns ovos, a clara revelou-se mais liquefeita e com manchas de sangue. Na maioria das amostras da classe L, havia demasiadas unidades da categoria inferior. Nestes casos, para não defraudar o consumidor, a embalagem deveria indicar a classificação M/L. Ainda na rotulagem, a DECO PROTeste defende que seria importante apresentar o prazo de validade no próprio ovo, e não apenas na embalagem, e fornecer informações nutricionais, que, na maioria dos produtos, são inexistentes.

Resultados do teste a 30 marcas

Atendendo aos benefícios (riqueza em proteínas, vitaminas como a B12 e a D, e minerais como o fósforo) e à popularidade, três anos depois do último teste, a DECO PROTeste voltou a debruçar-se sobre a qualidade dos ovos frescos no mercado nacional. Foram testadas 30 amostras, em embalagens de seis ou 12 unidades, das classes M/L e L, de galinhas criadas ao ar livre, no solo e em gaiolas. A investigação incidiu sobre duas dúzias de ovos de cada marca, a uma semana do final do prazo de validade.

Centenas de ovos sob investigação

O estudo contemplou o peso dos ovos, comparando-o com a classe indicada no rótulo, além do estado da casca e da cutícula (a película que reveste esta última), da mobilidade e da altura da câmara de ar, e da transparência e consistência da clara. A pesquisa procurou, ainda, averiguar a presença de manchas de sangue e de carne, e avaliar a posição da gema no ovo e existência de cicatrícula, também conhecida como galadura. 

Foram contabilizados os microrganismos a 30ºC e as enterobactérias, que dão uma ideia do grau de contaminação geral e da prestação em termos de higiene. Foi ainda investigada uma possível existência de salmonela na casca e no interior do ovo.

Galinha que é criada ao ar livre é igual a ovo mais caro

O preço mais elevado nem sempre significa melhor qualidade. A marca com a melhor qualidade tem um custo que ronda o preço médio da categoria, muito inferior ao de outras marcas.

A poupança pode ser maior, se optar pelas Escolhas Acertadas mais acessíveis. Consegue uma poupança de 50 cêntimos por dúzia, face à média do preço por dúzia dos ovos testados. Lidl e Continente conferem a maior poupança: 56 cêntimos por dúzia. Em média, o preço varia entre 2,34 e 5,08 euros por cada 12 unidades. Os ovos de galinhas criadas ao ar livre são os mais caros: em média, 17% mais.

Ovos perdem peso com o tempo 

Por causa da sua permeabilidade, com o tempo, os ovos perdem humidade e peso. Um ovo armazenado a uma temperatura de 10ºC, com uma humidade relativa de 75%, tem uma perda diária que ronda 0,03 gramas, o que corresponde a um grama por mês. Já se for conservado a 25ºC, com uma humidade relativa de 50%, pode chegar a ter menos 0,15 gramas por dia, ou seja, 4,5 gramas ao mês.

Entre as 30 marcas analisadas, a maioria das de calibre L (teoricamente, com peso igual ou superior a 63 e inferior a 73 gramas) apresentava demasiadas unidades da categoria inferior: a M, com 53 gramas ou mais, e menos de 63 gramas. É certo que os ovos são classificados na altura em que são postos, mas a DECO PROTeste considera que essas perdas naturais deveriam ser tidas em conta pelos produtores.

No que diz respeito à casca, sempre normal e intacta nos produtos considerados, apenas três amostras tinham todos os ovos sem qualquer sujidade: Superovo ML, Lidl L e Auchan L. Além de ser desagradável, um ovo sujo tem maior probabilidade de estar ou vir a ficar contaminado.

Todas as amostras receberam apreciações positivas na frescura. Deve ter-se em conta que a câmara de ar dos ovos, ou seja, o espaço entre a membrana interna e externa, tende a aumentar com o tempo. Num ovo fresco, deve ter entre 3 e 5 milímetros. Por isso, quando se mede empiricamente a frescura de um ovo, num recipiente de água, este permanece no fundo ou flutua, consoante tenha sido posto há menos ou mais tempo.

Análise à clara e gema 

Em todas as marcas testadas, a clara do ovo apresentou-se sempre translúcida, mas, em alguns casos, estava liquefeita. Quando um ovo é posto, a clara tem apenas uma pequena porção fluida, que, com o tempo, tende a aumentar. Em alguns casos, estas alterações interferem na preparação de algumas receitas culinárias, tornando-as mais difíceis de executar.

A pesquisa em laboratório acusou também a presença de manchas de sangue, muitas vezes, em mais de metade das unidades analisadas em cada amostra. Este fator não prejudica a qualidade dos produtos e ocorre naturalmente, quando há uma rutura de vasos sanguíneos das galinhas, durante a postura.

Quanto às gemas, o estudo revelou que se encontravam na posição central que devem ocupar no ovo, ainda que, em algumas situações, se tenha verificado um ligeiro desvio. No ovo posto há poucos dias, a gema deve ser consistente e central. No ovo velho, revela-se flácida e achatada, podendo ter manchas escuras. Embora com menor frequência do que nas claras, também nas gemas foram detetadas pequenas manchas de sangue, com exceção das marcas Superovo L e Hacendado L.

Ovos testados sem riscos para a saúde

Como os ovos são alimentos que se degradam com facilidade, podendo estar na origem de toxinfeções graves, o estudo focou também a microbiologia, para ter uma ideia do grau de contaminação e higiene geral dos produtos. Sabe-se que as bactérias no exterior dos ovos podem ter origem no trato intestinal das aves, em seres vivos, como insetos ou roedores, no local onde as galinhas são criadas, entre outros. A penetração e a sua reprodução no interior dos ovos são difíceis, mais ainda quando os ovos são manipulados nas condições ideais.

A pesquisa da DECO PROTeste contabilizou os microrganismos a 30ºC e as enterobactérias. Os especialistas procuraram também salmonela, no interior e no exterior dos ovos, dado que esta bactéria pode provocar infeções fatais. Mas, como é destruída pelo calor, só representa um perigo se os alimentos forem ingeridos crus ou mal cozinhados.

Na maioria das amostras, os resultados foram muito positivos. Apenas quatro receberam uma nota de três estrelas, por terem denunciado algum desenvolvimento bacteriano nos produtos que, ainda assim, não representa um perigo para a saúde.

Melhorias a fazer na rotulagem dos ovos

A informação na embalagem é fundamental para que o consumidor consiga fazer uma escolha adequada e conservar o produto devidamente. Nas embalagens do Aldi, E.Leclerc, Dia e Lidl, nem sempre foi encontrado com facilidade o nome da marca. O rótulo da Hacendado não exibia a categoria de peso.

De acordo com a legislação, quando as embalagens têm ovos de categorias diferentes (neste caso, M/L), devem referir o peso mínimo e conter uma referência a esse facto, requisito respeitado.

Ainda que o prazo de validade estivesse patente em todas as embalagens, em nove amostras, não estava marcado nos ovos. A DECO PROTeste considera que esta medida deveria ser obrigatória. Além de ser prática para os consumidores, muitas vezes, as embalagens são deitadas para o lixo, quando os ovos são armazenados no frigorífico, perdendo-se uma informação de segurança fundamental.

Em todos os produtos, havia uma denominação de venda correta, a indicação do número de ovos, do nome e da morada do agente económico, do modo de criação das galinhas e da categoria de qualidade (ovos frescos). Estava também presente a recomendação para que, após a compra, estes alimentos sejam refrigerados, como modo de conservação.

Também o código do centro de classificação estava evidente, tal como o carimbo do ovo e sua explicação. Este dá conta do modo de criação das galinhas: 0) diz respeito ao modo de produção biológico; 1) aos ovos de galinhas criadas ao ar livre; 2) ovos de galinhas criadas no solo; e 3) às criadas em gaiolas. Mas também indica o país de origem (PT para Portugal ou ES para Espanha), além de fornecer um número que identifica o estabelecimento.

Informações como a data de postura dos ovos não são apresentadas nas embalagens. Já o valor nutritivo e energético destes alimentos surge apenas em meia dúzia de rótulos. Na maioria dos casos, está indicado apenas por 100 gramas, quando seria mais prático apresentá-lo por ovo.

Criação de ovos em gaiola com extinção marcada 

Ainda que a qualidade dos ovos possa não ser afetada pelo ambiente em que as galinhas são criadas, cada vez mais consumidores e agentes económicos optam por uma produção que proporcione melhores condições de vida aos animais. Há dois grandes grupos de sistemas de produção: os de gaiolas e os alternativos. Os primeiros foram, até há poucos anos, os mais comuns no mercado, e baseiam-se num processo automatizado e de baixo custo, em que as aves estão confinadas a espaços exíguos. Os ovos são recolhidos num tapete rolante e a comida é fornecida pelo mesmo meio. Os efeitos deste tipo criação em gaiolas – algumas galinhas revelaram comportamentos de stresse, automutilação e até canibalismo – levaram certos países, como a Áustria, França e o Luxemburgo, a proibir o sistema. Entretanto, a União Europeia adiantou que pretende acabar com o mesmo até 2027.

Existem opções alternativas, que incluem a criação no solo, ao ar livre ou a produção biológica. As galinhas criadas no solo vivem em pavilhões fechados, onde existem ninhos, poleiros, manjedouras e bebedouros, e uma superfície de cama de, pelo menos, um terço do chão do aviário, composto de grelhas por onde passam os excrementos. A densidade não deve ser superior a nove aves por metro quadrado.

As galinhas criadas ao ar livre crescem em pavilhões com condições semelhantes, mas devem ter um acesso permanente a espaços ao ar livre, durante o dia. Esse terreno deve estar coberto de vegetação e permitir que cada animal tenha, pelo menos, dois metros quadrados e meio.

No caso das aves criadas através de produção biológica, 80% do alimento devem ser de origem biológica. Podem viver em pavilhões com capacidade para receber até três mil aves, com o máximo de seis por metro quadrado, ou ao ar livre: no mínimo, devem ser previstos quatro metros quadrados por ave.

Se o bem-estar animal é crucial, consulte o quadro comparativo, e verifique o sistema de criação seguido pela marca que habitualmente consome.

Mexido, estrelado, escalfado, cozido ou usado como ingrediente de outro prato. O ovo é um alimento versátil, que, nos últimos anos, se tem tornado mais frequente à mesa dos portugueses. Entre 2013 e 2022, o consumo per capita passou de 8,6 quilos para 11,4 quilos. Cada pessoa ingere cerca de 181 ovos por ano, ou seja, três por semana.

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