Apps de saúde e atividade física são fiáveis?
As apps de saúde e bem-estar permitem medir a frequência cardíaca, os níveis de saturação de oxigénio no sangue e o sono, entre outros parâmetros relativos à saúde física e mental. Saiba se nos poderão ajudar a ser mais saudáveis.
Os portugueses estão a mexer-se mais: pelo menos 54,3% dos portugueses reportaram níveis de atividade física adequados para a promoção da saúde, em 2021. Em 2020, eram 46% e no período pré-pandemia cerca de 48,1 por cento. Os números são de um relatório do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física (PNPAF), da Direção-Geral da Saúde (DGS), e revelam uma crescente preocupação com a saúde física, com muitos dos inquiridos a indicarem que praticam atividades de forma estruturada como caminhada, treino de força, atividades de fitness e corrida.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para obter alguns ganhos em termos de saúde, são necessários, pelo menos, 30 minutos de atividade física por dia. E incentivos não faltam. Além de apps para monitorizar o desempenho durante os treinos, há também cada vez mais aplicações que permitem monitorizar os dados pessoais de saúde física e mental.
Com a ajuda de wearables, estas aplicações móveis pretendem promover comportamentos saudáveis e ajudar a diminuir o desenvolvimento de doenças como a diabetes ou doenças cardiovasculares. No entanto, aparentemente, não são fiáveis a medir alguns parâmetros de saúde.
Apps pouco persuasivas para pessoas sedentárias
Uma revisão sistemática da literatura científica sobre o tema, publicada em 2019, revela que os wearables, como as pulseiras de fitness e os smartwaches, não são verdadeiramente eficazes a melhorar resultados de saúde de doenças crónicas.
Quanto à promoção da atividade física, a evidência não é clara: os estudos que incluem wearables mostram que as apps têm um pequeno a médio efeito no incremento do número de passos diários e na atividade física semanal moderada a intensa. No entanto, se estivermos a falar de utilizadores sedentários, estas apps parecem não ser muito persuasivas.
Já no que diz respeito à medição de parâmetros de saúde, estas aplicações são pouco fiáveis. Além disso, a maioria dos dados recolhidos exige uma interpretação cuidada. Saiba o que pode ser monitorizado por estas aplicações e se deve ou não confiar nos dados.
Frequência cardíaca
A medição da frequência cardíaca é cada vez mais comum na prática de exercício físico e pode ajudar a melhorar o desempenho. Para a maioria dos adultos, uma frequência cardíaca considerada normal em repouso varia entre 60 e 100 batimentos cardíacos por minuto (bpm). Há, no entanto, especialistas que referem que a frequência cardíaca ideal em repouso deve rondar os 50 a 70 batimentos cardíacos por minuto.
A frequência cardíaca de uma pessoa em repouso depende de hábitos como a frequência com que faz exercício físico, a qualidade do sono, a alimentação e até os níveis de stresse. Por isso, a análise feita por estas aplicações pode ser limitada. Uma frequência cardíaca baixa em repouso, numa pessoa saudável, é normalmente associada a estar fisicamente em forma.
VO2 máximo
O VO2 máximo (VO2 max), ou seja, o consumo máximo de oxigénio, é definido como a máxima capacidade de captação, transporte e utilização do oxigénio (principalmente pelos músculos) durante atividade física intensa e é considerado a melhor medida da resistência cardiorrespiratória de uma pessoa. Quanto mais oxigénio for usado durante o exercício, ou quanto maior for o VO2 máximo, melhor será a aptidão cardiorrespiratória do atleta, uma vez que os músculos precisam de oxigénio para exercícios aeróbicos prolongados.
No entanto, para uma correta medição do VO2 máximo é preciso recorrer a um laboratório. O volume e as concentrações de oxigénio inspirado e expirado são medidos através de uma máscara facial. A medição envolve a prática de exercício físico numa passadeira ou numa bicicleta estática a uma intensidade que aumenta em poucos minutos e até que se atinja a exaustão.
A maioria dos wearables disponíveis no mercado usa sensores óticos de frequência cardíaca para medir a frequência cardíaca e calcular o VO2 max. Contudo, este cálculo é apenas uma estimativa (pouco precisa, na maioria dos casos). Se tivermos em conta que, na Europa, estes dispositivos não são certificados por nenhuma autoridade de saúde, uma vez que não são dispositivos médicos, não será difícil concluir que a sua fiabilidade deixa muito a desejar.
O VO2 máximo estimado pelos wearables dá uma indicação geral sobre a capacidade aeróbica e os níveis máximos de consumo de oxigénio. Considerando a idade, o sexo e o VO2 máximo (estimativa) de uma pessoa, a maioria das aplicações compara os valores de uma pessoa com os valores de outras no mesmo grupo etário, dando, assim, uma referência de desempenho para o VO2 máximo.
Sono
Para quem anda à procura do sono perdido há também cada vez mais aplicações que prometem a análise dos padrões de sono para corrigir o que possa estar a perturbar os ciclos de sono. A maioria monitoriza as principais fases do sono: o sono REM e o sono NREM. O primeiro caracteriza-se por movimentos oculares rápidos, sonhos, atividade cerebral intensa e respiração e batimentos cardíacos mais acelerados. Já o segundo, que se caracteriza por movimentos oculares não rápidos, dura mais tempo, passando por três fases distintas: na primeira o sono é leve, depois as ondas cerebrais desaceleram e, finalmente, caímos num sono profundo.
Muitas das aplicações usadas para analisar e monitorizar o sono requerem a utilização de um relógio inteligente para determinar o tempo que uma pessoa está realmente a dormir. Já outras medem também a frequência cardíaca para estimar o tempo despendido em cada ciclo de sono. O aumento de problemas de sono tornou estas aplicações muito populares. No entanto, há estudos que indicam que, em comparação com os exames de polissonografia, usados para diagnosticar distúrbios do sono, estas apps são precisas apenas em 78% das vezes e apenas para identificar sono ou estado de vigília. Essa precisão cai para cerca de 38% ao estimar quanto tempo as pessoas demoram a adormecer.
Além disso, há estudos que revelam que algumas destas apps têm um desempenho pior em pessoas com insónia. Quem sofre deste distúrbio tende a ficar quieto na cama, na tentativa de adormecer e, ao medir apenas o movimento do corpo, alguns dos wearables usados por estas apps não são capazes de distinguir o sono do estado de vigília.
Respiração consciente
Se sofre de ansiedade certamente já ouviu falar de mindfulness. Jon Kabat-Zinn, fundador do Center for Mindfulness in Medicine, Health Care, and Society da Medical School da Universidade de Massachusetts, nos EUA, descreve o conceito como “a consciência que surge ao prestar atenção de propósito, no momento presente, e sem julgamento, para o desdobramento da experiência”. Parece complexo, mas de forma simplificada não é mais do que prestar atenção ao nosso fluxo de pensamentos e aos sinais de stresse e ansiedade para lidar melhor com o que se passa à volta.
Praticar esta atenção plena envolve alguns exercícios de respiração consciente e imagens guiadas para relaxar o corpo e, sobretudo, a mente. A maioria das aplicações de mindfulness disponíveis faz pouco mais do que guiar o utilizador durante alguns exercícios de respiração.
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