Varicela: quais os sintomas e como tratar
A varicela, apesar de ser mais frequente na infância, não é uma doença só de crianças. Até pode ser mais grave e intensa na fase adulta. Saiba quais são os sintomas mais frequentes e como tratar a varicela. Conheça, ainda, relação desta doença com a zona.

A varicela é uma doença infecciosa causada pelo vírus varicela-zoster (VVZ), do grupo Herpesvirus, e caracteriza-se por ser bastante contagiosa. É uma das doenças transmissíveis mais comuns na infância, mas nada invalida que a tenha numa fase adulta.
A infeção primária por VVZ confere uma imunidade duradoura que ronda os 100 por cento. Ou seja, se apanhar varicela em criança, não poderá apanhar em adulto. No entanto, se nunca a teve na infância ou na adolescência, estará suscetível de a apanhar na vida adulta.
Quais são os sintomas?
O corpo enche-se de bolhas ou borbulhas, que provocam muita comichão. A erupção da pele inicia-se no tronco, passando para as extremidades, nomeadamente para o couro cabeludo, as axilas, a boca, a face, o trato respiratório ou para as áreas com irritação cutânea. Por exemplo, nos bebés, é comum aparecer nas zonas com dermatites devido às fraldas, como nádegas e virilhas.
O processo de evolução da doença pode passar por três etapas:
- surgem pequenas manchas vermelhas na pele, que, em horas, evoluem para lesões sólidas.
- durante três a quatro dias, formam-se pequenas bolhas (vesículas).
- as bolhas progridem para a formação de crostas. Esta é a fase em que as lesões começam a secar.
Antes ou depois do aparecimento da erupção cutânea, as pessoas com varicela podem ter dores de cabeça, mal-estar e falta de apetite. O aparecimento de febre é também um possível sintoma, que, nos adultos, por vezes, se revela mais grave do que nas crianças.
A doença adquire, geralmente, uma evolução positiva. Porém, nos adultos, a varicela pode ser mais intensa e severa. Imunocomprometidos, recém-nascidos e grávidas que nunca apanharam o vírus são mais suscetíveis a complicações graves.
Varicela é muito contagiosa
A varicela transmite-se de pessoa para pessoa de duas formas diferentes. Por um lado, por contacto direto, quando alguém toca nas borbulhas ou em objetos contaminados. Por outro, por gotículas de saliva da pessoa infetada, que permanecem no ar após esta espirrar, tossir ou falar.
Regra geral, considera-se que o período de contágio se inicia 48 horas antes do início da erupção cutânea e termina com o aparecimento de crosta completa nas lesões. O seu período médio de incubação é de 14 a 16 dias, podendo variar entre os 10 e os 21 dias.
Por ser uma doença muito contagiosa, é fundamental que a pessoa com varicela fique isolada até que as bolhas sequem por completo.
Dada a facilidade de contágio e, principalmente, o facto de a doença poder ser contraída sem haver qualquer manifestação de sintomas, é mais complicado evitar a passagem do vírus entre irmãos, por exemplo. Mas é importante ter em conta que, quando o contágio acontece entre pessoas que estão sob o mesmo ambiente, o vírus tende a ser mais agressivo e os sintomas acabam também por ser mais intensos.
Como tratar a varicela?
Se está ou já esteve com varicela, sabe que o desconforto vem principalmente da comichão que as bolhas e borbulhas provocam. Mas é possível aliviar os sintomas.
- Ingira bastantes líquidos para evitar a desidratação.
- Vista roupas confortáveis e adequadas, de forma a evitar o sobreaquecimento ou os arrepios.
- Use tecidos lisos e de algodão, evitando tudo o que seja muito agressivo para as lesões da sua pele.
- Mantenha as unhas curtas para minimizar os danos provocados pelo coçar e, assim, evitar alguma infeção bacteriana secundária.
Apesar de não existirem evidências científicas, as loções de calamina parecem ajudar a aliviar a comichão causada pela varicela. Porém, podem secar demasiado a pele.
Se tiver febre ou desconforto, tome paracetamol. Não utilize anti-inflamatórios não esteroides (como ibuprofeno) ou ácido acetilsalicílico. Caso o seu estado de saúde se agrave ou desenvolva complicações, procure aconselhamento médico urgente.
Varicela na gravidez pode ser perigosa
A varicela, quando adquirida na idade adulta, pode acompanhar-se de complicações, que serão ainda mais graves se for uma mulher grávida. A pneumonia da varicela é a complicação mais frequente e pode ser letal.
Na ausência de complicações, uma grávida com varicela deve ficar no domicílio sob vigilância médica, fazer terapêutica sintomática e ser seguida, posteriormente, numa consulta de medicina materno-fetal e no centro de diagnóstico pré-natal.
A decisão de hospitalizar uma grávida com varicela depende da presença de fatores de risco para complicações, tais como hábitos tabágicos, doença pulmonar crónica, imunossupressão, utilização habitual de corticóides e critérios clínicos (gravidade da doença).
No entanto, também os fetos podem ser prejudicados. O vírus da varicela atravessa a barreira placentar, dissemina-se no feto, por via hematogénica e, tal como no adulto, após a presença inicial do vírus no sangue, permanece latente nos gânglios periféricos. Quando a infeção ocorre até às 20 semanas de gravidez, o risco de varicela congénita é baixo (menos de 2,4%), mas, se o feto for infetado, as consequências são graves. Assim, a síndrome da varicela congénita pode traduzir-se em:
- atraso de crescimento intrauterino (ACIU);
- lesões cutâneas cicatriciais;
- anomalias esqueléticas (hipoplasia dos membros, clavícula, costelas, omoplata, dedos; diminuição da motilidade);
- anomalias do sistema nervoso central (microcefalia, atrofia cortical, calcificações cerebrais, ventriculomegália);
- anomalias oftalmológicas (cataratas, microftalmia, coriorretinite, atrofia óptica, estrabismo);
- alterações gastrointestinais e genitourinárias.
Se a grávida tiver varicela com menos de 20 semanas, na realização da amniocentese às 18 semanas, deve ser feita a pesquisa de DNA viral por PCR. Se o resultado do PCR for positivo, deve ser oferecida a possibilidade de interrupção médica da gravidez.
No caso dos recém-nascidos, a varicela pode ser contraída de duas formas:
- por via transplacentar, denominada varicela congénita, se a transmissão for durante a gravidez e ocorrer a doença até aos dez primeiros dias de vida;
- no período pós-natal, por gotículas infetadas ou por contacto, se ocorre entre os 10 e os 28 dias de vida.
A probabilidade de um recém-nascido de mãe com varicela adquirir a doença, por via transplacentar, é menor do que o de um recém-nascido com contacto domiciliário. O tempo de incubação é também menor, podendo variar entre nove e 15 dias, após o início da erupção cutânea na mãe. A mortalidade da varicela quando a transmissão do vírus ocorre através da placenta é, contudo, muito mais elevada do que a varicela adquirida após o nascimento, correlacionando-se diretamente com o tempo que medeia entre o início da doença na mãe e o nascimento. O envolvimento hepático e a pneumonia primária são as complicações mais temíveis, tendo, esta última, mortalidade muito elevada.
Após o início da erupção cutânea da grávida, deve evitar-se que o parto ocorra nos cinco a oito dias seguintes, para dar ao feto tempo de adquirir algum grau de imunidade proveniente dos anticorpos maternos.
Vacina recomendada a adolescentes e adultos suscetíveis
Em Portugal, a vacina da varicela não está incluída na lista de vacinas gratuitas e acessíveis a todas as pessoas em Portugal. Apesar de não integrar o Programa Nacional de Vacinação, é autorizada pelo Infarmed e está disponível mediante uma prescrição médica.
Recomenda-se, assim, a vacina a adolescentes com idades entre 11 e 13 anos e a adultos suscetíveis. Os grupos de risco estão na linha da frente para as recomendações:
- mulheres não imunes antes da gravidez;
- pais de crianças/jovens não imunizados;
- adultos ou crianças que contactem com doentes imunodeprimidos;
- indivíduos não imunes em ocupações de alto risco (trabalhadores de creches e infantários, professores e profissionais de saúde, por exemplo).
Quando não há certezas de que o adolescente já teve varicela, a Sociedade Portuguesa de Pediatria aconselha a que se façam análises para determinar os anticorpos à doença, antes de tomar a vacina.
A Organização Mundial da Saúde defende que a vacina só deve ser dada às crianças se fizer parte do Programa Nacional de Vacinação e se for administrada a 85% a 90% das crianças. Caso contrário, pode alterar a epidemiologia da varicela no País e causar surtos da doença, que podem ser mais perigosos para as crianças.
Por isso, enquanto os seus filhos são crianças, não lhes dê a vacina. Se nunca teve varicela, pode ter de ser o primeiro a tomá-la. A doença é mais grave para si do que para eles. Apesar de a vacina não dar imunidade total ao vírus, pode ajudar a reduzir as consequências mais graves da varicela.
Existem, assim, duas vacinas que podem ser administradas para combater a varicela: Varivax e Varilrix. A sua administração deve ser feita em duas doses, com um intervalo mínimo de três meses, para crianças entre os 12 meses e os 12 anos. A partir dos 13 anos, o intervalo deve ser entre quatro e oito semanas (Varivax), e entre seis e oito semanas (Varilrix).
Qual a relação entre zona e varicela?
Ambas as doenças são provocadas pelo vírus varicela-zoster. Este vírus apresenta neurotropismo, ou seja, após causar a infeção primária (varicela), pode invadir o sistema nervoso (neurónios dos gânglios sensitivos) e ficar latente. Ou seja, depois de ter varicela, o vírus fica adormecido no seu corpo e, mais tarde, com o avançar da idade (o fator de maior risco), ou num momento de enfraquecimento do sistema imunitário, pode reativar-se, provocando herpes zoster, mais comummente designado por zona.
A varicela é a doença que antecede a zona. Ou seja, se nunca teve varicela, e se for contagiado por varicela-zoster, irá sempre desenvolver primeiro varicela.
O desenvolvimento do herpes zoster (zona) não ocorre por contágio de outra pessoa com a infeção. É provocado por uma reativação do vírus varicela-zoster (VVZ). Ou seja, se desenvolveu zona, é porque, em alguma fase da vida, foi infetado pelo vírus VVZ, mesmo que a doença não se tenha manifestado. Esta reativação afeta cerca de 30% da população e é mais frequente ocorrer em pessoas imunodeprimidas, com o avançar da idade ou quando o organismo está debilitado, e não por contágio.
A zona manifesta-se sobretudo por alterações localizadas da pele. No entanto, pode provocar:
- dor intensa na zona das lesões;
- dor de cabeça;
- comichão ou formigueiro na área afetada;
- febre;
- náuseas;
- diarreia;
- calafrios;
- dificuldade em urinar.
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