Pensão não é suficiente para a maioria dos reformados
Num inquérito da DECO PROTESTE, mais de metade dos reformados respondeu que o que recebe é escasso para as despesas. Apesar de, no futuro, as pensões deverem baixar, a maioria dos portugueses ativos admitiu não estar a preparar financeiramente a reforma.
- Especialista
- Ana Almeida e António Ribeiro
- Editor
- Myriam Gaspar e Alda Mota

Com o aumento da esperança de vida e do cada vez menor número de trabalhadores por cada pensionista (sete em cada dez, em 2050), a sustentabilidade da Segurança Social é uma questão crucial. De acordo com o mais recente Ageing Report, da Comissão Europeia, a diferença entre o último salário no ativo e a pensão (conhecida por taxa de substituição) baixará, gradualmente, dos atuais 74% para menos de metade do último salário, a partir da década de 2050. Sem poupar, dificilmente será possível obter uma almofada que permita manter o nível de vida a que se habituou ao longo dos anos.
Com o objetivo de auscultar as perspetivas e os conhecimentos em matéria de reforma dos portugueses que estão ainda no ativo, bem como sondar a experiência dos atuais pensionistas, a DECO PROTESTE elaborou um inquérito. Este estudo foi realizado entre abril e maio de 2022 em conjunto com as associações de consumidores suas congéneres na Bélgica, em Itália e em Espanha. Incidiu sobre duas amostras representativas da população: uma dos 25 aos 65 anos e outra abrangendo a faixa etária dos 65 aos 84 anos. As conclusões não são animadoras.
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Antes dos 65 anos, maioria não prepara reforma
A maioria dos inquiridos, entre os 25 e os 65 anos, admitiu não estar ainda a preparar financeiramente a reforma (61%), sendo a tendência transversal aos quatro países do estudo. Como argumento principal, alegam não terem dinheiro suficiente. Todavia, em Portugal, a percentagem é mais expressiva, fruto, porventura, dos baixos salários.
Os restantes motivos variam de acordo com as faixas etárias. Por exemplo, entre os 25 e os 34 anos, 12% dos nacionais inquiridos consideram serem muito novos para se preocuparem com esse assunto, enquanto 15% não sabem como fazê-lo. Dos 35 aos 49 anos, um quarto argumenta ter outras despesas prioritárias.
Entre os que poupam, os belgas são os que iniciam mais cedo (37 anos) e os portugueses mais tarde (42 anos). No que toca às aplicações, os depósitos a prazo são o produto eleito pela maioria, confirmando o conservadorismo dos nacionais. Tendo em conta as taxas de juro praticadas pelos bancos, não é, de todo, a solução ideal.
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Valor da pensão e idade da reforma
Embora as projeções da Comissão Europeia não sejam animadoras, quase um terço dos inquiridos tem a expectativa de vir a receber como pensão entre 50% e 75% do último salário. Cerca de um quarto acredita mesmo que pode ter entre 75% e 100 por cento.Quanto ao valor, a maioria desconhece quanto vai receber (63 por cento). A DECO PROTESTE disponibiliza uma ferramenta para ajudar a saber quanto precisa de poupar e investir por mês. Se tem um PPR, compare-o com as Escolhas Acertadas.
Chegado o momento crucial de saída da vida ativa, é quase inevitável haver uma redução no rendimento. Por razões financeiras, mais de 50% da amostra portuguesa admite que terá de mudar hábitos no que diz respeito à casa, ao carro, a cuidados médicos e medicação, a compras diárias, a roupa, a férias e viagens, a hobbies e a atividades sociais. Questionados sobre se o valor amealhado será suficiente para satisfazer as necessidades, apenas uma percentagem mínima de portugueses afirmou ser mais do que suficiente (2 por cento). O “sim” e o “não” têm valores próximos. O nosso país tem, porém, das maiores percentagens de inquiridos a responderem que não sabem (23 por cento).
Os portugueses são os que mais desejam reformar-se antes dos 60 anos (83 por cento). Mas, à semelhança dos italianos, quase metade admite que vai fazê-lo apenas entre os 66 e os 70 anos: muito provavelmente, para evitar uma penalização severa no montante a receber.
Voltar ao topoComo vivem os atuais reformados
Antes de se reformarem, cerca de 56% dos inquiridos entre os 65 e os 84 anos estavam convencidos de que a pensão legal seria suficiente para fazer face às despesas. Por esse motivo, apenas 39% dizem ter preparado a reforma. Contudo, a principal razão por que quase metade dos portugueses não preveniram este período da vida é a mesma dos que estão na vida ativa: falta de dinheiro para poupar.
Infelizmente, para 43% dos nacionais, a pensão legal será a única fonte de rendimento. De acordo com as respostas obtidas, confirma-se a quebra do rendimento: 471 euros é a diferença média entre o valor da pensão e o último salário que receberam.
Se, por um lado, na entrada da reforma, há despesas relevantes que se pressupõem desaparecer, como a prestação do crédito à habitação, outras surgem em sua substituição. É caso de tratamentos médicos, que podem aumentar. Com efeito, 71% dos inquiridos revelam que, se precisarem de apoio, para, por exemplo, limpeza da casa, preparação de refeições ou cuidados de higiene pessoal, o valor da pensão que recebem não permitirá pagar essas “mordomias”. Muito menos suportar o pagamento de uma residência para seniores, uma dificuldade sentida também nos outros três países, mas não na mesma medida.
Devido à escassez financeira, quase um quinto dos nacionais admite que teve de pedir apoio a familiares e amigos. E, apesar de precisarem, 15% não o fizeram, talvez por vergonha ou por não terem a quem recorrer. Nos últimos dois anos, é considerável a lista de itens e atividades a que uma percentagem significativa teve de renunciar.
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Qualidade de vida após a reforma
Não tivessem sido algumas decisões tomadas (ou por tomar), o valor da pensão que agora recebem poderia ser diferente, para melhor: há quem lamente ter trabalhado demasiado em atividades não declaradas (34%); não ter poupado (33%); ter perdido uma oportunidade de carreira com um salário mais elevado (20%); ou ter feito uma interrupção na carreira (20 por cento).Para aferir se vivem agora melhor ou pior, foi pedido aos inquiridos que comparassem, em vários campos, a sua vida antes e depois da reforma. A saúde física foi o campo que sofreu mais impacto: 76% dos inquiridos queixam-se de se ter agravado. Em menor percentagem, os belgas, os italianos e os espanhóis lastimam-se do mesmo (55%, 60% e 51%, respetivamente).
Já a situação financeira piorou nos quatro países. Quanto à saúde mental, o panorama também não é brilhante: quase metade dos portugueses inquiridos diz estar pior, contra 22% dos belgas, 23% dos italianos e 22% dos espanhóis. No cômputo geral, apenas um quinto dos nacionais admite que a sua vida melhorou. Para 28%, manteve-se igual.
Em resumo, o erro que salta mais à vista, e transversal a todos os países, é começar a aforrar tarde e negligenciar a poupança para a reforma. Em Portugal, apenas 39% da população ativa está a preparar a reforma. Contudo, sem poupar, dificilmente será possível obter uma almofada que lhe permita manter o nível de vida a que se habituou ao longo dos anos.
O excesso de conservadorismo na escolha dos produtos financeiros é outro erro comum. Depósitos a prazo e contas de poupança são ainda os produtos favoritos: 22% optam, exclusivamente, por estas soluções. Por sua vez, os fundos de pensões têm pouca expressão em Portugal, sendo os planos de poupança-reforma (PPR) o produto específico com maior peso. Mas, segundo dados oficiais, os PPR sob a forma de seguro, que garantem o capital, são os mais comuns e também os que proporcionam menor rendimento. As empresas (e os fundos de pensões) têm um papel residual no planeamento das pensões entre nós.
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