Amortizar créditos ou investir?
Está com dúvidas sobre o destino a dar às suas poupanças? Pô-las a render ou amortizar os créditos e assim obter um alívio imediato no orçamento mensal? Saiba que fatores deve ter em consideração para decidir.

Usar as poupanças para amortizar um crédito é, muitas vezes, uma decisão de primeiro recurso para quem precisa de equilibrar o orçamento familiar. Mas, nas situações em que há margem de manobra, vale a pena fazer algumas contas para perceber se não será mais vantajoso aplicar esse montante para que, a prazo, gere algum rendimento.
Para decidir entre uma e outra solução, deve colocar na balança uma variável fundamental: a taxa de juro de ambos os produtos. De um modo geral, se a taxa de juro do crédito for superior, poupará mais se amortizar. Se for a do produto de poupança, será mais vantajoso investir esse montante.
Avalie o produto de poupança
Antes de tomar qualquer decisão, deve, no entanto, garantir que o valor que tem disponível – seja para amortizar ou para investir – não é a totalidade das suas poupanças. É essencial que tenha um fundo de emergência – para dar resposta a uma doença, a uma avaria no carro ou a uma reparação urgente em casa, por exemplo – com um valor correspondente a seis ordenados. Esse montante deve ser aplicado num produto sem risco que possa mobilizar a qualquer momento.
Uma vez assegurado o fundo de emergência, e assumindo que tem preferência por produtos de poupança sem risco (os únicos com rendimento expectável e, por isso, alternativas realistas à amortização), é altura de comparar a remuneração oferecida com a taxa de juro do crédito.
Atenção: deve ter em consideração a taxa anual nominal líquida (TANL) dos depósitos a prazo e não a taxa de juro bruta. A primeira corresponde ao rendimento que efetivamente vai obter, depois de descontado o imposto de 28% que será retido pelo banco, no caso de clientes particulares. Além disso, deve verificar se se aplicam eventuais despesas de manutenção associadas ao produto que escolher. Isto é válido, sobretudo, se optar por um produto de poupança num banco que não é o seu, que obrigue à subscrição de uma conta à ordem. Neste caso, os encargos a suportar podem muito bem superar os ganhos obtidos com os juros, o que pode deitar por terra a rentabilidade líquida do investimento.
Taxa de juro é fundamental
Com as taxas de juro do depósito e do crédito presentes, está em condições de perceber se vai receber mais juros por aplicar o montante de que dispõe naquele produto do que aqueles que vai pagar pelo empréstimo (seja um crédito à habitação ou ao consumo), ou vice-versa.
Normalmente, a TANL dos depósitos a prazo é inferior à taxa de juro da generalidade dos créditos, realidade que nem o rápido aumento dos juros dos últimos dois anos veio alterar.
É, por isso, natural que, na maioria dos casos, seja mais vantajoso optar pela amortização. Caso contrário, estará a pagar mais juros ao banco por via do crédito do que aqueles que recebe através pelo montante investido.
E se tiver mais do que um crédito?
Se tiver vários créditos e não souber qual deve amortizar primeiro, pondere começar pelo que tiver a taxa de juro mais elevada. No entanto, os créditos à habitação, por terem, normalmente, prazos e montantes superiores, podem ser bons candidatos, mesmo que tenham uma taxa de juro mais reduzida.
Nestes casos, decidir se prefere amortizar o empréstimo da casa ou um crédito pessoal, por exemplo, dependerá do seu objetivo: se for conveniente diminuir, no imediato, o peso da prestação, a melhor opção será amortizar o crédito com a taxa de juro mais elevada e o menor montante. Já se preferir reduzir o total de juros a pagar ao banco, amortizar o crédito mais longo e com mais capital em dívida será a melhor forma de atingir esse objetivo.
Também pode acontecer que, depois de comparar a rentabilidade do depósito a prazo com a taxa de juro do crédito, chegue à conclusão de que nenhuma das hipóteses – amortizar o crédito ou aplicar o capital disponível num produto de poupança – se destaca especialmente face à outra. Se assim for, possivelmente a amortização será a solução mais vantajosa, pois, além de facilitar a gestão do seu orçamento familiar, vai deixá-lo menos endividado.
Quando amortizar o crédito à habitação
Se tem um crédito à habitação e quer perceber se é mais vantajoso amortizá-lo ou aplicar o montante em causa num depósito a prazo, veja os exemplos que se seguem para saber como fazer as contas.
No primeiro quadro, o cenário é o de um empréstimo com um prazo remanescente de 25 anos, um montante em dívida de 150 mil euros e uma taxa de juro indexada à Euribor de 4,671 por cento. Considerando 10 mil euros de capital disponível, será a amortização o melhor destino para esse montante? A resposta é: sim.
Subtrair 10 mil euros ao capital em dívida traduzir-se-ia num bom alívio mensal para esta família fictícia, cuja prestação terá sofrido um aumento considerável nos últimos dois anos. De quase 850 euros, a prestação passaria para 791,82 euros, com uma poupança em juros de 462,61 euros, no primeiro ano. Reduzir o peso da dívida teria impacto não só nos encargos mensais, como também na fatura total em juros: ao fim de 25 anos, seriam quase menos 7 mil euros em juros, mais do que renderia um depósito a prazo com uma taxa de juro líquida de 2,102% (assumindo que esta não se alteraria ao longo deste prazo).
Neste caso, há que contar ainda com a poupança decorrente da isenção da comissão de 0,5% por amortização antecipada, regime que vigora até ao final deste ano para os créditos com taxa variável.
Amortizar o empréstimo | |
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Capital em dívida | 150 000 € |
Prazo remanescente | 25 anos |
TAN (taxa variável) | 4,671% |
Prestação mensal antes da amortização | 848,37 € |
Prestação mensal depois da amortização | 791,82 € |
Comissão de amortização antecipada | Isento |
Poupança em juros no primeiro ano | 462,51 € |
Poupança em juros ao fim de 30 anos | 6967,49 € |
Investir num depósito a prazo | |
Depósito a 12 meses (TANL)* | 2,102% |
Juros recebidos num ano | 210,24 € |
Total de juros ao fim de 30 anos | 6822,82 € |
* Assumindo um depósito a prazo com a mesma taxa de juro durante 25 anos | |
AMORTIZAR |
Noutro cenário, o veredito é também outro. Embora o valor em dívida seja o mesmo – 150 mil euros – o prazo é menor, assim como o capital disponível: são cinco mil euros que podem servir para amortizar o crédito – com uma taxa fixa de 2,6% – ou para gerarem algum rendimento num depósito a prazo.
Diminuir este empréstimo em cinco mil euros levaria a que a prestação de 802,18 euros passasse para 775,44 euros. A poupança em juros ao fim de 20 euros não é de menosprezar: 1417,46. No entanto, como se trata de um crédito de taxa fixa, há que subtrair ao total 104 euros, valor pago pela comissão de amortização antecipada. Ou seja, a poupança total em juros – 1313,46 euros – revela-se muito inferior aos 3822,45 euros de rendimento obtido num depósito a prazo com uma taxa líquida de 2,88 por cento.
Amortizar o empréstimo | |
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Capital em dívida | 150 000 € |
Prazo remanescente | 20 anos |
TAN (taxa fixa) | 2,6% |
Prestação mensal antes da amortização | 802,18 € |
Prestação mensal depois da amortização | 775,44 € |
Poupança em juros ao fim de 20 anos | 1417,46 € |
Comissão de amortização antecipada | 104,00 € |
Poupança em juros no primeiro ano | 127,71 € |
Poupança total ao fim de 20 anos | 1313,46 € |
Investir num depósito a prazo | |
Depósito a 12 meses (TANL)* | 2,880% |
Juros recebidos num ano | 144,00 € |
Total de juros ao fim de 20 anos | 3822,45 € |
* Assumindo um depósito a prazo com a mesma taxa de juro durante 20 anos | |
INVESTIR |
Quando estão em causa contratos com prazos mais longos, como é o caso dos créditos à habitação, há ainda outras premissas a considerar. Se o empréstimo for recente e o capital, elevado, terá ainda muitos juros a pagar ao banco, logo, a amortização será, à partida, uma boa opção. Mas, se o contrato está nos últimos anos, o peso dos juros na prestação mensal será bastante menor e, por essa razão, o potencial de poupança resultante de uma amortização, também. Assim, antes de tomar uma decisão, tenha todos estes aspetos em atenção.
Quando amortizar o crédito pessoal
Se, no crédito à habitação, é conveniente fazer algumas contas para chegar a um veredito, em créditos em que as taxas de juro são tradicionalmente mais elevadas a resposta é um pouco mais imediata.
No exemplo abaixo, o potencial de poupança da amortização parcial de um crédito pessoal é comparado com o do investimento num depósito a prazo com uma taxa líquida de 2,102 por cento. O capital disponível é de mil euros.
Neste caso, amortizar um empréstimo de 10 mil euros reduziria a prestação em cerca de 45 euros. Ao fim de dois anos, a poupança em juros (retirado o valor correspondente à comissão por amortização antecipada) seria de 102,28 euros. Embora não muito elevado, este valor mais do que duplica o do eventual rendimento obtido se os mesmos mil euros fossem aplicados num depósito a prazo com uma remuneração de 2,102 por cento.
Amortizar o empréstimo | |
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Capital em dívida | 10 000 € |
Prazo remanescente | 2 anos |
TAN (taxa fixa) | 10,0% |
Prestação mensal antes da amortização | 461,45 € |
Prestação mensal após a amortização | 415,30 € |
Poupança em juros ao fim de 2 anos | 107,48 € |
Comissão de amortização antecipada | 5,20 € |
Poupança em juros no primeiro ano | 78,61 € |
Poupança total ao fim de dois anos | 102,28 € |
Investir num depósito a prazo | |
Depósito a 12 meses (TANL)* | 2,102% |
Juros recebidos num ano | 21,02 € |
Juros recebidos ao fim de dois anos | 42,49 € |
*Assumindo um depósito a prazo com a mesma taxa de juro durante dois anos | |
AMORTIZAR |
O raciocínio mantém-se válido se, em causa, estiver a amortização de um dívida de cartão de crédito. Com taxas de juro que facilmente chegam aos 15%, dificilmente há concorrência à altura, seja qual for produto de poupança. Nestes casos, se tiver algum dinheiro de parte, usá-lo para pagar a dívida do cartão de crédito será, sem sombra de dúvida, a decisão mais acertada.
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