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Amortizar créditos ou investir?

Está com dúvidas sobre o destino a dar às suas poupanças? Pô-las a render ou amortizar os créditos e assim obter um alívio imediato no orçamento mensal? Saiba que fatores deve ter em consideração para decidir. 

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20 maio 2024
Homem adulto sentado a uma secretária com um portátil, analisa documentos

iStock

Usar as poupanças para amortizar um crédito é, muitas vezes, uma decisão de primeiro recurso para quem precisa de equilibrar o orçamento familiar. Mas, nas situações em que há margem de manobra, vale a pena fazer algumas contas para perceber se não será mais vantajoso aplicar esse montante para que, a prazo, gere algum rendimento. 

Para decidir entre uma e outra solução, deve colocar na balança uma variável fundamental: a taxa de juro de ambos os produtos. De um modo geral, se a taxa de juro do crédito for superior, poupará mais se amortizar. Se for a do produto de poupança, será mais vantajoso investir esse montante.

Avalie o produto de poupança

Antes de tomar qualquer decisão, deve, no entanto, garantir que o valor que tem disponível – seja para amortizar ou para investir – não é a totalidade das suas poupanças. É essencial que tenha um fundo de emergência – para dar resposta a uma doença, a uma avaria no carro ou a uma reparação urgente em casa, por exemplo – com um valor correspondente a seis ordenados. Esse montante deve ser aplicado num produto sem risco que possa mobilizar a qualquer momento. 

Uma vez assegurado o fundo de emergência, e assumindo que tem preferência por produtos de poupança sem risco (os únicos com rendimento expectável e, por isso, alternativas realistas à amortização), é altura de comparar a remuneração oferecida com a taxa de juro do crédito.

Atenção: deve ter em consideração a taxa anual nominal líquida (TANL) dos depósitos a prazo e não a taxa de juro bruta. A primeira corresponde ao rendimento que efetivamente vai obter, depois de descontado o imposto de 28% que será retido pelo banco, no caso de clientes particulares. Além disso, deve verificar se se aplicam eventuais despesas de manutenção associadas ao produto que escolher. Isto é válido, sobretudo, se optar por um produto de poupança num banco que não é o seu, que obrigue à subscrição de uma conta à ordem. Neste caso, os encargos a suportar podem muito bem superar os ganhos obtidos com os juros, o que pode deitar por terra a rentabilidade líquida do investimento.

Taxa de juro é fundamental

Com as taxas de juro do depósito e do crédito presentes, está em condições de perceber se vai receber mais juros por aplicar o montante de que dispõe naquele produto do que aqueles que vai pagar pelo empréstimo (seja um crédito à habitação ou ao consumo), ou vice-versa.

Normalmente, a TANL dos depósitos a prazo é inferior à taxa de juro da generalidade dos créditos, realidade que nem o rápido aumento dos juros dos últimos dois anos veio alterar.

É, por isso, natural que, na maioria dos casos, seja mais vantajoso optar pela amortização. Caso contrário, estará a pagar mais juros ao banco por via do crédito do que aqueles que recebe através pelo montante investido. 

E se tiver mais do que um crédito?

Se tiver vários créditos e não souber qual deve amortizar primeiro, pondere começar pelo que tiver a taxa de juro mais elevada. No entanto, os créditos à habitação, por terem, normalmente, prazos e montantes superiores, podem ser bons candidatos, mesmo que tenham uma taxa de juro mais reduzida. 

Nestes casos, decidir se prefere amortizar o empréstimo da casa ou um crédito pessoal, por exemplo, dependerá do seu objetivo: se for conveniente diminuir, no imediato, o peso da prestação, a melhor opção será amortizar o crédito com a taxa de juro mais elevada e o menor montante. Já se preferir reduzir o total de juros a pagar ao banco, amortizar o crédito mais longo e com mais capital em dívida será a melhor forma de atingir esse objetivo.

Também pode acontecer que, depois de comparar a rentabilidade do depósito a prazo com a taxa de juro do crédito, chegue à conclusão de que nenhuma das hipóteses – amortizar o crédito ou aplicar o capital disponível num produto de poupança – se destaca especialmente face à outra. Se assim for, possivelmente a amortização será a solução mais vantajosa, pois, além de facilitar a gestão do seu orçamento familiar, vai deixá-lo menos endividado.

Quando amortizar o crédito à habitação

Se tem um crédito à habitação e quer perceber se é mais vantajoso amortizá-lo ou aplicar o montante em causa num depósito a prazo, veja os exemplos que se seguem para saber como fazer as contas.

No primeiro quadro, o cenário é o de um empréstimo com um prazo remanescente de 25 anos, um montante em dívida de 150 mil euros e uma taxa de juro indexada à Euribor de 4,671 por cento. Considerando 10 mil euros de capital disponível, será a amortização o melhor destino para esse montante? A resposta é: sim.

Subtrair 10 mil euros ao capital em dívida traduzir-se-ia num bom alívio mensal para esta família fictícia, cuja prestação terá sofrido um aumento considerável nos últimos dois anos. De quase 850 euros, a prestação passaria para 791,82 euros, com uma poupança em juros de 462,61 euros, no primeiro ano. Reduzir o peso da dívida teria impacto não só nos encargos mensais, como também na fatura total em juros: ao fim de 25 anos, seriam quase menos 7 mil euros em juros, mais do que renderia um depósito a prazo com uma taxa de juro líquida de 2,102% (assumindo que esta não se alteraria ao longo deste prazo). 

Neste caso, há que contar ainda com a poupança decorrente da isenção da comissão de 0,5% por amortização antecipada, regime que vigora até ao final deste ano para os créditos com taxa variável.

10 000 € de capital disponível
Amortizar o empréstimo
Capital em dívida 150 000 €
Prazo remanescente 25 anos
TAN (taxa variável) 4,671%
Prestação mensal antes da amortização 848,37 €
Prestação mensal depois da amortização 791,82 €
Comissão de amortização antecipada Isento
Poupança em juros no primeiro ano 462,51 €
Poupança em juros ao fim de 30 anos 6967,49 €
Investir num depósito a prazo
Depósito a 12 meses (TANL)* 2,102%
Juros recebidos num ano 210,24 €
Total de juros ao fim de 30 anos 6822,82 €
* Assumindo um depósito a prazo com a mesma taxa de juro durante 25 anos
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Noutro cenário, o veredito é também outro. Embora o valor em dívida seja o mesmo – 150 mil euros – o prazo é menor, assim como o capital disponível: são cinco mil euros que podem servir para amortizar o crédito – com uma taxa fixa de 2,6% – ou para gerarem algum rendimento num depósito a prazo.

Diminuir este empréstimo em cinco mil euros levaria a que a prestação de 802,18 euros passasse para 775,44 euros. A poupança em juros ao fim de 20 euros não é de menosprezar: 1417,46. No entanto, como se trata de um crédito de taxa fixa, há que subtrair ao total 104 euros, valor pago pela comissão de amortização antecipada. Ou seja, a poupança total em juros – 1313,46 euros – revela-se muito inferior aos 3822,45 euros de rendimento obtido num depósito a prazo com uma taxa líquida de 2,88 por cento.

5000 € de capital disponível
Amortizar o empréstimo
Capital em dívida 150 000 €
Prazo remanescente 20 anos
TAN (taxa fixa) 2,6%
Prestação mensal antes da amortização 802,18 €
Prestação mensal depois da amortização 775,44 €
Poupança em juros ao fim de 20 anos 1417,46 €
Comissão de amortização antecipada 104,00 €
Poupança em juros no primeiro ano 127,71 €
Poupança total ao fim de 20 anos 1313,46 €
Investir num depósito a prazo
Depósito a 12 meses (TANL)* 2,880%
Juros recebidos num ano 144,00 €
Total de juros ao fim de 20 anos 3822,45 €
* Assumindo um depósito a prazo com a mesma taxa de juro durante 20 anos
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Quando estão em causa contratos com prazos mais longos, como é o caso dos créditos à habitação, há ainda outras premissas a considerar. Se o empréstimo for recente e o capital, elevado, terá ainda muitos juros a pagar ao banco, logo, a amortização será, à partida, uma boa opção. Mas, se o contrato está nos últimos anos, o peso dos juros na prestação mensal será bastante menor e, por essa razão, o potencial de poupança resultante de uma amortização, também. Assim, antes de tomar uma decisão, tenha todos estes aspetos em atenção.

Quando amortizar o crédito pessoal

Se, no crédito à habitação, é conveniente fazer algumas contas para chegar a um veredito, em créditos em que as taxas de juro são tradicionalmente mais elevadas a resposta é um pouco mais imediata.

No exemplo abaixo, o potencial de poupança da amortização parcial de um crédito pessoal é comparado com o do investimento num depósito a prazo com uma taxa líquida de 2,102 por cento. O capital disponível é de mil euros.

Neste caso, amortizar um empréstimo de 10 mil euros reduziria a prestação em cerca de 45 euros. Ao fim de dois anos, a poupança em juros (retirado o valor correspondente à comissão por amortização antecipada) seria de 102,28 euros. Embora não muito elevado, este valor mais do que duplica o do eventual rendimento obtido se os mesmos mil euros fossem aplicados num depósito a prazo com uma remuneração de 2,102 por cento.

1000 € de capital disponível
Amortizar o empréstimo
Capital em dívida 10 000 €
Prazo remanescente 2 anos
TAN (taxa fixa) 10,0%
Prestação mensal antes da amortização 461,45 €
Prestação mensal após a amortização 415,30 €
Poupança em juros ao fim de 2 anos 107,48 €
Comissão de amortização antecipada 5,20 €
Poupança em juros no primeiro ano 78,61 €
Poupança total ao fim de dois anos 102,28 €
Investir num depósito a prazo
Depósito a 12 meses (TANL)* 2,102%
Juros recebidos num ano 21,02 €
Juros recebidos ao fim de dois anos 42,49 €
*Assumindo um depósito a prazo com a mesma taxa de juro durante dois anos
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O raciocínio mantém-se válido se, em causa, estiver a amortização de um dívida de cartão de crédito. Com taxas de juro que facilmente chegam aos 15%, dificilmente há concorrência à altura, seja qual for produto de poupança. Nestes casos, se tiver algum dinheiro de parte, usá-lo para pagar a dívida do cartão de crédito será, sem sombra de dúvida, a decisão mais acertada.

 

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