Como combater a solidão e o isolamento social
A solidão e o isolamento social afetam, sobretudo, os mais velhos. Com o envelhecimento da população mundial, surgem desafios para manter a qualidade de vida. Conheça os fatores de risco para a solidão e o isolamento e saiba como combatê-los.
O envelhecimento populacional deve-se, sobretudo, ao aumento da longevidade e da esperança de vida da população idosa e à redução da natalidade e da mortalidade. Uma vitória do desenvolvimento socioeconómico e da saúde pública que, ao mesmo tempo, requer uma adaptação por parte da sociedade.
A solidão e o isolamento social afetam profundamente a população idosa em Portugal. A operação “Censos Sénior” da GNR sinalizou, em 2022, cerca de 44 511 idosos a viverem sozinhos ou isolados, ou em situação de vulnerabilidade. Muitos dos idosos nesta situação são, muitas vezes, abandonados pelos familiares, passando a depender cada vez mais de si mesmos até ao fim da vida.
Envelhecer com qualidade de vida é um desafio que envolve fatores relacionados com a saúde e o bem-estar físico, emocional, social e mental, com fatores subjetivos de cada indivíduo. As várias alterações ao longo da vida, desde a reforma à emancipação dos filhos ou à morte dos cônjuges, são fatores de stress que contribuem para a limitação das redes sociais dos idosos, tornando-os mais vulneráveis à solidão e ao isolamento social.
Fatores de risco e consequências na saúde
A solidão e o isolamento social são conceitos distintos.
A solidão refere-se a um estado de sentimento subjetivo de estar sozinho, separado ou distante dos outros, havendo um desequilíbrio entre os contactos sociais desejados e os reais. O isolamento social consiste na falta de contacto social que se manifesta, principalmente, na ausência de contacto social ou familiar, ausência de envolvimento na comunidade ou com o mundo exterior e dificuldade no acesso a bens e serviços.
O isolamento social poder levar à solidão, mas esta não é, por si só, uma condição necessária de isolamento social. Ambas as condições podem existir separadamente. Na velhice, há fatores de risco comuns para entrar nestes estados.
- Contextos de pobreza ou dificuldades financeiras podem impossibilitar a realização de atividades de convívio ou lazer.
- A institucionalização de pessoas idosas em centros de reabilitação, centros de dia ou lares pode dificultar ou diminuir a sua interação social. Por exemplo, muitos idosos encaram a sua ida para uma instituição como uma quebra de laços com a sua família, amigos e vizinhos.
- A debilitação do estado de saúde é um fator de risco para o isolamento e a solidão. Nela se incluem condições como a existência de doença mental, a doença crónica, a mobilidade reduzida e algum tipo de incapacidade.
- Ausência do cônjuge, de outros familiares, amigos ou colegas.
- Dificuldades de acessibilidade nos prédios onde residem.
Embora seja difícil avaliar com precisão o verdadeiro impacto da solidão e do isolamento social, segundo estudos recentes, há fortes evidências de que ambos têm consequências para a saúde dos idosos em risco. Por exemplo:
- o isolamento social aumentou significativamente o risco de morte prematura de uma pessoa por todas as causas. Este risco pode rivalizar com o desencadeado pelo tabagismo, obesidade e inatividade física;
- o isolamento social foi associado a um aumento significativo (cerca de 50%) do risco de demência;
- a solidão foi associada a taxas mais altas de depressão, ansiedade e suicídio;
- fracas relações sociais, caracterizadas por isolamento social ou solidão, foram associadas a um aumento do risco de doença cardíaca e acidente vascular cerebral.
5 dicas para combater a solidão e o isolamento
Quem tem uma boa autoestima, autonomia e orientação social positiva, assim como harmonia familiar e ausência de conflitos, consegue escapar mais facilmente à solidão e ao isolamento social.
Chegar à terceira idade não tem de significar o alheamento da sociedade, pois há muitas atividades que pode experimentar.
- Fazer voluntariado.
- Investir nas relações sociais (por exemplo, organizar almoços e jantares com familiares e amigos).
- Frequentar um curso (as universidades seniores são uma excelente opção).
- Adotar um animal de estimação, que é uma companhia constante e ajuda a desenvolver a empatia e a responsabilidade.
- Falar com alguém caso esteja a sentir-se sozinho, isolado ou abandonado e precise de falar. Não hesite em pedir ajuda junto de quem conhece ou a contactar as seguintes linhas de apoio: Linha SOSolidão (800 91 29 90) ou Linha SOS Voz amiga (213544545/912802669/963524660).
Aceitar apoio de sistemas externos ao seu meio pode reforçar a capacidade para lidar melhor com as circunstâncias da vida na terceira idade.
O papel da sociedade
Enquanto sociedade, é necessário perceber o que é possível fazer para combater a solidão e o isolamento social, garantindo qualidade de vida e um envelhecimento saudável e feliz. Todos temos o dever de criar espaços e oportunidades para as pessoas idosas participarem em atividades sociais, culturais, recreativas, desportivas e espirituais.
As ajudas podem manifestar-se em vários níveis.
- Mantenha o contacto. Guarde algum tempo do seu dia para telefonar a um idoso familiar ou conhecido que se encontre isolado ou sozinho. Procure saber como a pessoa se sente, física e mentalmente. Mostre-se disponível para ouvir e ajudar.
- Organize visitas regulares. Se tem um familiar em situação de solidão ou isolamento, procure visitá-lo regularmente. Organize-se com outros familiares e procure estabelecer visitas intercaladas para que o idoso não passe muito tempo sozinho.
- Ajude um idoso que esteja sozinho. Esteja atento à sua comunidade. Se conhece alguém que esteja sozinho ou tenha dificuldades em executar algumas tarefas, mostre solidariedade, disponha-se a ouvir e ajudar.
- Denuncie situações de negligência, abandono ou maus-tratos. Se desconfia de algum destes casos, denuncie a situação para a Linha de Emergência Social (144), a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima ou o Gabinete Atendimento à Família.
- Procure e partilhe soluções. A Segurança Social apresenta um conjunto de respostas de apoio para pessoas idosas. Existem também já várias instituições com projetos dedicados ao combate à solidão e ao isolamento social dos idosos, como a Associação Mais Proximidade ou a Associação Amigos Improváveis.
A promoção de um envelhecimento saudável ao longo do ciclo de vida tem sido um caminho apontado como resposta aos desafios relacionados com a longevidade e o envelhecimento da população. Ao nível nacional, foi publicada em janeiro a Resolução do Conselho de Ministros que aprova o Plano de Ação do Envelhecimento Ativo e Saudável 2023-2026. O documento inclui pilares estratégicos de atuação nesta área, tais como saúde e bem-estar, desenvolvimento e aprendizagem ao longo da vida.
O envelhecimento deverá ser encarado como uma oportunidade e, nesse sentido, devem ser implementados programas específicos para os idosos, que respeitem a sua vulnerabilidade e promovam a sua saúde e qualidade de vida. As medidas realizadas ficam aquém do necessário, sendo importante garantir que "planos passem à ação".
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