3 rastreios de cancro que salvam vidas
Os rastreios do cancro da mama, do colo do útero e colorretal são os que estão previstos no Programa Nacional de Doenças Oncológicas. Durante a pandemia, diminuíram consideravelmente, mas os números têm vindo a aumentar e encontram-se agora acima dos valores registados antes desse período. Saiba para quem e quando estão recomendados os rastreios.

Durante a pandemia, mais de quatro mil cancros da mama, do cólon e reto e do colo do útero terão ficado por diagnosticar. Isto aconteceu devido à redução dos rastreios, segundo o Movimento Mais Saúde, do qual faz parte a Ordem dos Médicos, entre outros parceiros. Isto ter-se-á traduzido em deteções mais tardias, o que pode tornar os tratamentos mais difíceis e aumentar a mortalidade.
Felizmente, dados recentes do Portal da Transparência do SNS indicam uma inversão desta tendência, com os números de rastreios a ultrapassar inclusivamente os do período pré-pandémico.
Comparando com o período homólogo de 2018, de janeiro a outubro de 2024 houve:
- mais 20% de mulheres com mamografia efetuada, no máximo, há dois anos;
- mais 27% de mulheres com citologia cervical atualizada;
- e mais 29% de utentes inscritos no Serviço Nacional de Saúde com análises de sangue oculto nas fezes.
Estes exames são usados, respetivamente, no rastreio de cancro da mama, do colo do útero e do cólon e reto.
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Rastreio diminui a mortalidade por cancro
Rastrear, em medicina, significa testar indivíduos sem sintomas, aparentemente saudáveis, em busca de alterações que podem ser sinal de doença, o cancro, no caso dos rastreios oncológicos. O objetivo é simples: detetar o cancro numa fase precoce, altura em que a eficácia do tratamento é maior, e, assim, reduzir a mortalidade. Pode ainda permitir o combate com terapias menos agressivas do que numa fase mais tardia, quando os sinais se manifestam. Nalguns casos, é possível detetar lesões pré-cancerígenas, por exemplo, no colo do útero e no cólon, e impedir o desenvolvimento do cancro.
A implementação de um programa de rastreio exige pressupostos: o problema de saúde tem de ser grave, atingir um grande número de pessoas e ser tratável ou curável. A forma como a doença evolui deve ser bem conhecida e haver a possibilidade de identificá-la na fase assintomática.
Ao exame a realizar no rastreio, exige-se que seja seguro, fácil de aplicar e tenha elevada sensibilidade e especificidade, isto é, que apresente resultados o mais precisos possível, com poucos falsos negativos (a pessoa está doente, mas o teste dá negativo) e falsos positivos (não há doença, mas o teste dá positivo). É ainda imprescindível que seja bem aceite pela população, por exemplo, em termos de desconforto, dor e frequência.
Feito o exame, todos os casos positivos devem ter acesso à consulta hospitalar, aos exames de diagnóstico e ao tratamento adequado. De nada serve detetar, se não houver capacidade para tratar. Por fim, o custo deve ser economicamente equilibrado.
Reúnem estas condições os três rastreios recomendados em Portugal: cancro da mama, do colo do útero e colorretal. Estão indicados para a população geral, a partir de certa idade. Se, fora dos intervalos aconselhados, houver sintomas ou fatores de risco, como casos de doença na família, o médico dará orientações sobre a vigilância a efetuar.
Estes rastreios têm demonstrado uma redução de mortalidade de aproximadamente 30% no caso do cancro da mama, 20% no do cancro colorretal e 80% no do colo do útero.
Voltar ao topoRastreio do cancro do colo do útero: idade e periodicidade
Está indicado para pessoas com colo do útero entre os 30 e os 69 anos. Não entram no rastreio as que já têm cancro do colo do útero diagnosticado ou aquelas a quem já tenha sido removido este órgão. O exame também não é recomendado para quem apresente sintomas de doenças ginecológicas, enquanto os mesmos durarem. O rastreio do cancro do colo do útero é feito através de citologia cervical – também conhecida por teste de Papanicolau e teste de HPV-DNA – a cada cinco anos.
Como se faz o rastreio: teste de Papanicolau e determinação do HPV
A colheita do material biológico do colo do útero para o teste de rastreio deve ser preferencialmente realizada por um profissional de saúde. No entanto, caso a utente explicitamente o prefira ou em utentes que não aderiram a dois convites consecutivos, pode ser realizada por autocolheita.
O teste primário consiste na pesquisa de variantes, os chamados serótipos, do vírus do papiloma humano (VPH ou HPV, na sigla inglesa), associadas a alterações celulares que favorecem o cancro. Se a pesquisa for positiva para os genótipos 16 e 18, a mulher será encaminhada para a consulta especializada (patologia cervical). Se forem detetados outros genótipos, deve ser realizada nova citologia. As utentes com teste negativo, mas que tenham tido um anterior positivo, devem repetir passado um ano. Nos restantes casos, recomenda-se novo exame após cinco anos.
Impacto da pandemia no rastreio do cancro do colo do útero
De janeiro a outubro de 2024, de acordo com o Portal da Transparência do SNS, houve mais 298 600 mulheres com rastreio atualizado do que em igual período de 2018. Isto significa um aumento de 27 por cento.
Voltar ao topoRastreio do cancro colorretal: idade, periodicidade e em que consiste
Destina-se a homens e mulheres entre os 50 e os 74 anos. Estão excluídos do programa de rastreio os utentes a quem foi diagnosticado cancro do cólon e reto, doença inflamatória intestinal ou síndromes hereditárias relacionadas com o cancro do cólon e reto. Também não deverá fazer temporariamente o exame quem tem queixas gastrointestinais, nomeadamente, alterações significativas do trânsito gastrointestinal nos últimos seis meses, ou hemorragia digestiva. Caso tenha feito uma colonoscopia nos últimos dez anos, ou uma retossigmoidoscopia (semelhante à colonoscopia, mas apenas para a parte final do intestino), nos últimos cinco anos, com resultados normais, também está dispensado do rastreio.
O rastreio é feito através da pesquisa de sangue oculto nas fezes, a cada dois anos. O teste é feito pelo próprio utente, no seu domicílio, utilizando um tubo coletor de fezes, que lhe é enviado por correio para a sua morada. Este tubo coletor é acompanhado de instruções para a realização do teste. É um teste simples e não invasivo. Se o resultado for positivo, o utente deve realizar uma colonoscopia − um tubo munido de câmara permite visualizar o intestino e, se necessário, retirar pequenas porções para análise (biopsia).
Impacto da pandemia no rastreio do cancro do cólon e do reto
A redução dos serviços durante a pandemia teve, obviamente, impacto no rastreio desta neoplasia maligna, mas também estes dados sofreram uma inversão positiva, suplantando os números pré-pandemia. Entre janeiro e outubro de 2024, registaram-se mais 461 687 utentes inscritos com rastreio do cancro do cólon e reto efetuado comparativamente ao período homólogo de 2018 (mais 29 por cento).
Voltar ao topoRastreio do cancro da mama: idade e periodicidade
Destina-se a mulheres entre os 45 e os 74 anos. Ficam de fora as que tenham tido um diagnóstico de cancro da mama, que tenham feito uma mastectomia bilateral (extração da mama por cirurgia), ou que tenham síndrome heredofamiliar relacionada com o cancro da mama, entre as quais pessoas portadoras de variantes patogénicas nos genes BRCA1 e BRCA2. Estão excluídas temporariamente as mulheres grávidas, a amamentar ou que tenham sintomas mamários, ou com alterações mamárias, no dia agendado para o rastreio. O rastreio é feito através de mamografia realizada a cada dois anos.
Mamografia: como é avaliada?
Os resultados são apresentados de acordo com um protocolo internacional de avaliação de mamografia, o chamado BI-RADS (do inglês Breast Imaging Reporting and Database System Score). Se a mamografia for classificada como BI-RADS 1 e 2, não apresenta qualquer alteração ou as alterações são benignas e apenas terá de fazer novo exame após dois anos. Caso haja algum sinal suspeito (BI-RADS 3), a mulher é encaminhada para uma consulta de aferição dos resultados. Se a mamografia for classificada como BI-RADS 4 e 5, segue-se a consulta especializada (patologia mamária), uma vez que há uma alteração suspeita de ser cancerígena (ou maligna).
Impacto da pandemia no rastreio do cancro da mama
Os dados do Portal da Transparência do SNS indicam que, em 2024, entre janeiro e outubro, houve mais 132 677 mulheres com registo de mamografia realizada últimos dois anos do que em igual período de 2018. Este valor significa um aumento de quase 20% do número de mulheres rastreadas para o cancro da mama.
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