Fecho de agências bancárias: centenas de quilómetros para levantar dinheiro?
Quase metade dos balcões dos cinco principais bancos fecharam portas em dez anos. A escassez é mais notória no interior do País. Além de que os custos de um simples levantamento de dinheiro ou transferência ao balcão são cada vez mais pesados. A DECO PROteste exige que estes portugueses não fiquem para trás.

O número de agências no final de 2024, em comparação com as que havia dez anos antes, sofreu uma redução substancial. Considerando os cinco principais bancos nacionais, que representam mais de 80% do mercado bancário – Banco BPI, Caixa Geral de Depósitos, Millennium bcp, Novobanco e Santander –, numa década, estes fecharam 1700 agências no País todo, de acordo com os Relatórios e Contas de cada uma das instituições.
Em percentagem, aquele número representa 48% dos balcões que estavam abertos ao público em 2014. A maior redução – 64% – deu-se no Banco BPI, que fechou 532 agências. Já a Caixa Geral de Depósitos foi o banco que menos balcões fechou: 275.
Interior do País: a zona mais deserta de agências bancárias
Portalegre e Bragança são os distritos menos servidos por serviços bancários. Não espanta, por isso, que um cliente do Millennium bcp de Ponte de Sor, por exemplo, onde não há qualquer sucursal do maior banco privado português, tenha de percorrer 36 quilómetros até Abrantes, no vizinho distrito de Santarém, para entrar na sucursal do Millennium bcp mais próxima. Somem-se os mesmos 36 quilómetros para regressar a casa e aquela ida ao banco valeu 72 quilómetros.
Se o mesmo cliente tiver, imperativamente, de se deslocar à sucursal da capital de distrito, Portalegre, então já serão 120 quilómetros de viagem de ida e volta.
Outro cliente do Millennium bcp também, mas que viva em Barrancos, terá de fazer 70 quilómetros até à sucursal mais próxima, que fica em Reguengos de Monsaraz. No total, para ir ao banco e voltar para casa, terá percorrido 140 quilómetros pelas planícies alentejanas.
Disparidade grande entre os principais centros urbanos e o interior do País
Nos distritos de Lisboa e Porto, as sucursais do Millennium bcp representam 45% do total dos balcões ao nível nacional. Já as agências da Caixa Geral de Depósitos nos mesmos distritos representam, praticamente, 30% do total das agências do banco em todo o País. Veja-se mais ao pormenor.
Distrito de Lisboa
- 149 sucursais do Millennium bcp
- 89 agências da Caixa Geral de Depósitos
Distritos de Beja, Bragança, Castelo Branco, Évora, Guarda, Leiria, Portalegre, Santarém, Vila Real, Viseu e arquipélagos dos Açores e da Madeira
- 149 sucursais do Millennium bcp no total destes distritos
Distritos de Beja, Bragança, Castelo Branco, Évora, Guarda e Portalegre
- 88 agências da Caixa Geral de Depósitos no total destes distritos
Redução de funcionários agrava a situação
Se fecham agências, há redução de pessoal. A banca física tornou‑se mais escassa, e o atendimento presencial cada vez mais deficitário.
Entre 2014 e 2024, saíram quase 12 mil trabalhadores dos cinco principais bancos nacionais. Novamente, destaque para o Banco BPI: reduziu metade da força de trabalho.
No global, nos cinco principais bancos houve uma diminuição de 32% na força de trabalho. E o que já se esfumava na nossa memória coletiva voltou em força: filas e tempos de espera desesperantes nos bancos.
Limites no horário de atendimento
Atrás da redução de pessoal vêm os limites no horário de atendimento. Em muitos casos, o habitual horário das 8h30 às 15h00 passou a incluir uma hora de encerramento para almoço.
Mas mais prejudicial para os consumidores são os horários limitados para aceder aos serviços de tesouraria, por exemplo, para efetuar um depósito. Alguns casos:
- em várias agências do Banco BPI, os serviços de tesouraria só funcionam durante duas horas por dia, geralmente entre as 13h00 e as 15h00. Noutras, já nem este tipo de serviço está disponível – o banco remete os clientes para as caixas automáticas para efetuar depósitos ou levantamentos;
- no Bankinter, os serviços de tesouraria só funcionam até às 12h00;
- no Santander e no Novobanco, várias agências fecham à hora de almoço;
- a Caixa Geral de Depósitos prometeu não encerrar mais agências em 2025 e 2026. Contudo, está a encerrar serviços presenciais de tesouraria em várias agências, principalmente no interior do País, forçando os clientes a utilizarem os meios automáticos.
Banca, ao balcão, custa mais
Outro fator que agrava o cenário de desertificação de agências bancárias pelo País é o elevado custo das operações ao balcão, para quem não utiliza os meios digitais. Um levantamento ao balcão tem um custo médio de cerca de 7 euros, podendo chegar aos 15,60 euros no BBVA. Uma transferência interbancária custa, em média, 7,35 euros ao balcão.
Ora, um levantamento e duas transferências interbancárias por mês, ao balcão, custam uma média de 261 euros por ano. Ou seja, metade do valor mensal do indexante dos apoios sociais (IAS) em 2025, que é de 522,50 euros. Via homebanking ou caixas automáticas, este custo desce para 21,60 euros.
Ir ao banco: os mais caros e os mais baratos
Quanto cobram os cinco principais bancos em Portugal – Banco BPI, Caixa Geral de Depósitos, Millennium bcp, Novobanco e Santander – por operações básicas ao balcão? Muito.
Levantamento ao balcão
- O custo médio é de 7,04 euros.
- O mais caro é o Novobanco: 12,48 euros. Ao fim de um ano, são 149,76 euros, se o cliente fizer um levantamento mensal.
- O mais barato é a Caixa Geral de Depósitos: 5,15 euros.
- O mais caro fora do grupo dos cinco principais bancos nacionais é oBBVA: 15,60 euros. Ao fim de um ano, são 187,20 euros, se o cliente fizer um levantamento mensal.
- Omais barato fora do grupo dos cinco principais bancos nacionais é o ABANCA: 3,04 euros.
Transferência interbancária ao balcão
- O Banco BPI, o Millennium bcp e o Santander são os mais caros: 6,76 euros. Três transferências por mês custam 243,36 euros ao final do ano.
- Caixa Geral de Depósitos e Novobanco são os mais baratos: 6,24 euros.
- Os mais caros fora do grupo dos cinco principais bancos nacionais são oBBVA e o BNI Europa: 11,44 euros. Três transferências por mês custam 411,84 euros ao final do ano.
- O mais barato fora do grupo dos cinco principais bancos nacionais é oBankinter: 3,12 euros
Homebanking
Uma transferência bancária custa, em média, 1,18 euros. Este valor é seis vezes inferior ao custo médio de uma transferência interbancária ao balcão.
Um levantamento e duas transferências ao balcão por ano vs. homebanking
- O BBVA é o que cobra mais por estas operações ao balcão: 461,78 euros.
- O Bankinter é o que cobra menos: 134,88 euros.
- O custo médio anual de um levantamento nos caixas automáticos e duas transferências interbancárias via homebanking é de 21,60 euros. Utilizando o cartão de débito no multibanco para realizar as duas operações, o valor desce para 0 euros.
Cada vez menos caixas multibanco
Cada vez mais difícil é também aceder ao dinheiro que pertence a cada um. Sobretudo para quem vive nas zonas mais isoladas do País.
Com o fecho das agências bancárias, foram minguando os caixas automáticos. Segundo o Banco de Portugal, em dez anos, o País ficou sem 2100 multibancos.
Mais de 40% das freguesias não têm qualquer caixa automático. E, em muitos destes locais, o mais próximo situa-se a vários quilómetros de distância.
- Final de 2014: contavam-se 15 800 multibancos no País.
- Final de 2024: o número baixou para 13 700.
- Quatro em cada dez freguesias não têm qualquer caixa multibanco.
Moral da história: longe, caro e de difícil acesso, assim está, cada vez mais, o nosso dinheiro.
DECO PROteste exige: Portugueses mais vulneráveis não podem ser deixados para trás
É inquestionável que a crescente digitalização da banca trouxe vantagens à generalidade dos consumidores. Mas há uma parte significativa dos portugueses que está a ser deixada para trás. Não é exagero.
Quase metade dos balcões dos cinco principais bancos em Portugal fecharam portas em dez anos. A escassez é mais notória no interior do País. É aceitável que um habitante de Ponte de Sor, cliente do Millennium bcp, tenha de percorrer 70 quilómetros, ida e volta, para ir à sucursal mais próxima? Não, não é.
É justo que, não dominando o online, pague seis vezes mais por uma transferência interbancária ao balcão, em média, comparando com o homebanking? Não, não é.
É correto que viva numa das quatro em dez freguesias que não têm um multibanco e tenha, por isso, de percorrer vários quilómetros para aceder ao seu dinheiro? Não, não é.
Em nome dos excluídos da banca, a DECO PROteste exige que seja definido um limite de população a partir do qual os serviços bancários presenciais tenham de ser garantidos, por exemplo, pelo banco público, ainda que por agências móveis.
O mesmo deve ser assegurado para os multibancos, garantindo uma distância máxima entre estas máquinas.
Para os consumidores com menos rendimentos ou falta de conhecimento para lidar com os meios eletrónicos, devem ser garantidos, a custos mais baixos, os serviços presenciais básicos.
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