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Pandemia leva portugueses a desperdiçarem menos alimentos

A nossa gestão de alimentos em casa mudou radicalmente com a pandemia de covid-19. Deitamos, agora, muito menos comida para o lixo, segundo o inquérito que realizámos a mais de 800 consumidores portugueses.

  • Especialista
  • Bruno Carvalho e Sofia Mendonça
  • Editor
  • Ricardo Nabais e Isabel Vasconcelos
29 setembro 2020
  • Especialista
  • Bruno Carvalho e Sofia Mendonça
  • Editor
  • Ricardo Nabais e Isabel Vasconcelos
fruta no lixo a ser desperdiçada

iStock

Entre janeiro e fevereiro, realizámos um estudo sobre desperdício alimentar, em conjunto com as nossas congéneres espanhola, belga e italiana. A travagem a fundo nas atividades económicas e humanas em geral reflete-se, provavelmente, na marcha-atrás radical que os consumidores fizeram na sua relação com o que põem à mesa todos os dias. No nosso estudo, 56% dos portugueses admitiram deitar para o lixo “um pouco” dos alimentos que consumiam em casa. No inquérito que realizámos em abril, já com a quarentena em pleno, os dados revelam um comportamento mais sustentável na gestão doméstica dos alimentos: a percentagem de consumidores que admitiu deitar comida fora desceu para os 19 por cento.

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A inversão radical do comportamento pode ser medida por outro valor: os que diziam que não deitavam nada ou quase nada fora eram 32% antes do alvoroço da pandemia. Depois de abril, passaram a ser 79 por cento. Segundo o inquérito, antes da invasão do novo coronavírus ao nosso país, cerca de 12% das pessoas admitiam desperdiçar “algo” ou “muito” em casa. Depois do confinamento, esse desperdício reduziu-se a 2% dos alimentos comprados. 

Antes da pandemia, um terço dos inquiridos admitia não fazer uma lista de compras regularmente e a mesma proporção também não verificava o conteúdo de armários e frigorífico antes de sair de casa.

Os restos de alimentos não são História

Fizemos uma projeção dessa diferença de comportamentos antes e depois da pandemia. Comparámos lares com uma só pessoa e outros com quatro indivíduos ou mais. É visível a variação considerável entre o que se assumia deitar para o lixo antes destes tempos de confinamento: no caso do indivíduo solitário, 11% indicavam desperdiçar entre “alguma coisa” e “muito”; nos agregados de quatro ou mais pessoas, quase 15% assumiam que deitavam alimentos para o lixo. No período da quarentena, as percentagens caíram abruptamente: 1,1% nos lares de uma só pessoa e 2,4% nos que contabilizam quatro ou mais. 

A necessidade terá aguçado o engenho dos consumidores nacionais? Talvez. Mas o nosso estudo pretendia também saber porque foi a comida parar ao lixo. Um em cada quatro inquiridos alegou ter sido por se ter estragado, dado não ter sido consumida a tempo. Ou, no caso de 23%, porque cozinharam demasiada comida para determinada refeição. Já 17% parecem não saber dominar as artes culinárias, pois alegaram que a comida estava mal prepa-rada, e o mesmo aconteceu aos 17% que revelaram que sabia mal. Além disso, 16% indicaram que a comida se estragou por estar mal conservada. 

Estas situações podem indicar problemas que parecem simples, mas que se complicam com o dia-a-dia. Primeiro, a falta de atenção à validade dos alimentos: uma distração ao arrumá-los na despensa ou no frigorífico pode traduzir-se na sua degradação e no seu desperdício. Segundo, os que alegam uma má conservação como trampolim dos alimentos para o caixote do lixo, também poderiam estar mais atentos. 

Exigimos inscrições mais claras dos prazos de validade

O consumidor tem um papel importante no que diz respeito à leitura dos prazos de validade, para evitar deitar alimentos fora. Segundo nosso inquérito, apenas 26% dos inquiridos percebem a distinção entre as menções “consumir até” e “consumir de preferência antes de”, presentes nas embalagens. 

Recordemos essa nuance: “Consumir de preferência antes do fim de” ou “consumir de preferência antes de” refere-se à data máxima de garantia de qualidade. Aplica-se à maioria dos produtos de mercearia. Se a data for ultrapassada, os alimentos podem ser consumidos com relativa segurança, mas é possível que sofram alterações no sabor, na textura, na cor e no cheiro. Já “Consumir até” corresponde à data-limite até à qual o produto pode ser consumido com segurança. Aplica-se a alimentos perecíveis, que se degradam com facilidade. Não deve ingerir estes alimentos após a data indicada, pois corre o risco de sofrer uma toxi-infeção alimentar. Ao abrir a embalagem, respeite as instruções de conservação. Se congelar logo após a compra, consegue prolongar a validade. 

Mais de metade (55%) dos nossos inquiridos confessaram ter dificuldade em perceber qual a data indicada no rótulo: a data-limite de consumo ou a data de durabilidade mínima. Para muitos, há outra barreira a transpor para perceberem o prazo de validade dos alimentos que levam para casa. Em 47% das respostas, assumia-se a dificuldade em encontrar a data de validade nas embalagens, e 54% acham difícil a leitura de uma tal inscrição, quando a encontram. 

Por esta razão, reivindicamos uma alteração de comportamento às marcas. Para que o consumidor possa rapidamente saber se está perante um produto com data-limite de consumo ou data de durabilidade mínima e evitar desperdícios, é imperioso que indiquem os prazos de validade junto da menção “consumir até” ou “consumir de preferência antes de”. Revirar várias vezes um pacote de um produto, à procura de uma informação tão básica quanto fundamental, não é um bom exercício físico.

Ficha técnica do inquérito sobre desperdício alimentar

Para este estudo, entre janeiro e fevereiro de 2020, enviámos questionários online e em papel a uma amostra da população adulta entre os 30 e os 74 anos. No total, obtivemos 833 respostas válidas, que foram ponderadas por forma a refletirem a realidade nacional. Os resultados espelham as opiniões e as experiências dos inquiridos. A fim de comparar determinadas dimensões pré e pós-covid, algumas questões foram enviadas novamente a uma amostra representativa, em abril de 2020.

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