Peixe: como poupar sem abdicar da qualidade
Peixe congelado é sempre mais barato do que fresco? E o de aquicultura, comparado com o selvagem? A DECO PROteste analisou os preços para poupar na peixaria. Siga, ainda, as dicas de como escolher o melhor peixe.

O peixe é um alimento essencial da dieta mediterrânica e uma presença assídua nos pratos dos portugueses. É rico em proteínas de qualidade, e a sua gordura é uma fonte importante de ácidos gordos do tipo ómega-3, tais como o EPA e o DHA. Ácidos esses que podem ser importantes para a saúde cardiovascular e o desenvolvimento cerebral.
No entanto, por conta da inflação, comer peixe está cada vez mais caro. De semana para semana, desde 2022, o preçário do peixe tem registado várias subidas, segundo a recolha da DECO PROteste. Se, em janeiro de 2022, com 50 euros, era possível comprar 5,6 quilos de várias espécies de peixe, em agosto de 2024, o mesmo valor já só permitia levar para casa 5,2 quilos.
É difícil fazer uma alimentação variada e equilibrada e, ao mesmo tempo, não romper as costuras do orçamento familiar. O truque está, portanto, em saber poupar.
O estudo da DECO PROteste
A solução não é deixar de comer peixe, mas, sim, saber escolher tendo em conta as necessidades da carteira. Assim, em maio de 2024, a DECO PROteste foi ao terreno para comparar os preços de 11 espécies de pescado – carapau, cavala, dourada, robalo, pescada, perca, pregado, peixe-espada branco, peixe-espada preto, salmão e choco – vendidas em locais tradicionais (mercados e peixarias) e em supermercados.
A comparação considerou as categorias fresco ou congelado, e de aquicultura ou selvagem, bem como o formato de comercialização (inteiro, em posta, em filetes, em medalhões ou em lombos). No total, foram analisados mil preços de pescado em Portugal.
Neste estudo, foi privilegiado o pescado fresco, comercializado todo o ano, nos dois canais de distribuição – comércio tradicional e supermercados.
O bacalhau e a sardinha, apesar de serem muito consumidos, não fizeram parte do cabaz. O rei dos pratos natalícios não entrou nas contas, pois é consumido sobretudo seco. E a protagonista dos Santos Populares é consumida e comercializada, principalmente, nos meses de verão.
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4 dicas para escolher o melhor peixe
Siga as dicas para escolher o melhor pescado.
- Verifique as características do peixe. Procure espécimes com olhos claros e brilhantes, que, geralmente, estão salientes. Veja se as guelras estão vermelhas ou rosadas, e se a carne está firme e elástica. O peixe fresco deve ser brilhante, com escamas que adiram firmemente. Os peixes de água salgada devem ter cheiro suave a mar, enquanto os de água doce devem ter um aroma neutro;
- Se possível, prefira peixes com certificações. Sempre que puder, compre produtos com selos de sustentabilidade (MSC e ASC) ou com comprovativo de compra em lota (CCL). Estes selos ajudam a garantir escolhas mais sustentáveis, tanto no pescado capturado, como de aquicultura;
- Opte por pescado de origens sustentáveis. Prefira peixe capturado com técnicas mais sustentáveis (pesca de linha ou de rede de emalhar). Também há técnicas de aquicultura mais sustentáveis do que outras;
- Compare os preços. Existem várias formas de vender pescado. Fresco ou congelado, no supermercado ou no mercado, em posta ou inteiro, os preços são diferentes. Compare-os.
Sabe qual é a melhor época para comer cada espécie de pescado? Consulte o calendário da DECO PROteste e descubra.
Criador de Questionário – desenvolvido por Riddle
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A DECO PROteste analisou o preço do pescado. Regra geral, nos mercados, é mais caro. E, se optar pelo peixe de aquicultura ou pelo congelado, pode poupar umas dezenas de euros, dependendo da espécie em questão. Entre posta e lombo? Por norma, a posta é mais barata. No entanto, há exceções a todas estas conclusões. Ora veja.
Se considerarmos um cabaz composto por um quilo de cada uma das 11 espécies, criadas em aquicultura (método mais barato), verificamos que o pescado é, em média, mais caro no mercado (134,09 euros) do que no supermercado (117,17 euros). Assim, se comprar as espécies analisadas nas grandes superfícies comerciais, poupa quase 17 euros.
Apesar desta conclusão, nem todas as espécies são mais baratas no supermercado. Por exemplo, se quiser fazer um prato com perca ou peixe-espada-branco, é mais económico comprá-los no mercado tradicional, onde são, em média, 15% e 22% mais baratos, respetivamente.
Mas lembre-se: os preços mudam todos os dias, e, tal como pode encontrar boas promoções nos supermercados, é também possível, devido à variedade de bancas de peixe, deparar-se com bons preços no mercado. O truque é comparar ofertas.
Veja os conselhos da DECO PROteste para comprar e conservar o pescado.
No universo dos preços, a aquicultura também leva a melhor, e é a prática que fornece os preços mais baratos, com valores de poupança bastante significativos. Considerando os preços médios por quilo, o robalo, o pregado, a dourada e o salmão, de aquicultura, permitem poupanças consideráveis.
A dourada e o salmão são os peixes cuja diferença de preços é maior (69 por cento). Uma dourada selvagem (ou capturada) chega a custar, em média, 32,63 euros por quilo, enquanto pela criada em aquicultura paga apenas 9,98 euros. São quase 23 euros de poupança. Já no salmão, que, se for capturado, custa, em média, 49 euros por quilo, são mais quase 34 euros do que o criado em aquicultura. Se preferir robalo e pregado de aquicultura, poupa, em média, e por quilo, 16,29 e 17,24 euros, respetivamente.
O peixe de aquicultura não tem menos qualidade
É importante desmistificar que o peixe capturado não é forçosamente melhor do que o criado por intermédio da aquicultura. O pescado de cultivo é, geralmente, mais gordo e, como tal, fornece maiores quantidades de ácidos gordos do tipo ómega 3. Isto porque são administradas rações com farinhas e óleos de peixe. A ingestão de 150 gramas de peixe proveniente da aquicultura contribui com um teor de EPA e DHA (ácidos do tipo ómega 3) superior à dose diária recomendada na prevenção da doença cardiovascular (500 miligramas).
Em relação à presença de metais pesados como o mercúrio, as espécies criadas em aquicultura apresentam níveis de contaminação mais baixos, devido ao controlo do processo reprodutivo.
De um ponto de vista ambiental, apesar de ser associado à pesca de enormes quantidades de peixe para servir de alimento às espécies produzidas, esta prática ajuda, também, a preservar outras tantas. Tal como na pesca, existem métodos de aquicultura mais sustentáveis do que outros. Assim, sempre que comprar peixe, quer seja selvagem ou de cultivo, verifique se tem selos certificados de sustentabilidade.
Reza a lenda que o peixe fresco é substancialmente mais caro do que o congelado. E, perante os resultados do estudo, a lenda corresponde à realidade.
Olhemos para a pescada em posta, por exemplo. Se comprar fresca, paga quase 19 euros médios, por quilo, mais cerca de 9 euros do que se optar pela versão congelada. Ou seja, a poupança ronda os 46 por cento.
Na mesma percentagem de poupança está a cavala inteira, que, por quilo, custa, em média, 4,72 euros, se for fresca, e 2,50 euros, na forma congelada. O carapau inteiro e o choco seguem o mesmo caminho: congelados são, em média, 33% e 10% mais baratos, por quilo, respetivamente.
No entanto, e nadando contra a maré, a perca em posta acaba por ser mais dispendiosa se for congelada – custa, em média, 12,48 euros, por quilo, mais quase dois euros do que a fresca. Outro caso ainda mais peculiar é o do salmão. Se quiser cozinhar este peixe em posta, ficar-lhe-á mais em conta comprar congelado, poupando, assim, 4 euros.
Já se preferir lombo de salmão, por norma, a DECO PROteste aconselha a que o compre fresco. Um lombo de salmão fresco custa, em média e por quilo, 21,71 euros, enquanto, se for congelado, sobe para os 32,75 euros. Ou seja, uma média de 11 euros que a sua carteira poupa. E desengane-se se pensa que, por ser congelado, o peixe tem menos qualidade. Aliás, até pode ser melhor do que o fresco, em especial, se for congelado imediatamente após a captura, o que permite preservar a qualidade e os nutrientes.
Se, até hoje, não pensou que comprar determinado peixe congelado, em posta ou em lombo, tinha impacto na conta final, ficará surpreendido com os próximos resultados.
Mais uma vez, o salmão foi pescado para o centro das atenções. Em média, cerca de 19 euros por quilo separam o salmão congelado em posta (13,60 euros) do lombo de salmão congelado (32,75 euros). Com uma variação de preços menor (9,32 e 3,57 euros, respetivamente), mas com as mesmas conclusões – o lombo é bem mais caro do que a posta –, aparecem também a perca e a pescada.
A razão é simples: o lombo é um formato que envolve mais trabalho, pois, regra geral, é comercializado sem espinhas e, por vezes, também sem pele, o que o torna mais caro.
Há ainda outra forma de poupar: substituir espécies por alternativas nutricionalmente semelhantes. Um exemplo simples? Numa receita com carapau grelhado (250 gramas), porque não optar por cavala?
Um carapau, em média, pode custar 1,77 euros. Por idêntica quantidade de cavala, paga apenas 91 cêntimos. Fazendo as contas, numa refeição para quatro pessoas, só a substituição do pescado representa uma poupança superior a 3 euros. Pode parecer pouco, mas 3 euros aqui e outros tantos ali acabam por fazer toda a diferença no orçamento familiar.
Também pode economizar se trocar a pescada pela perca. Trata-se de espécies que permitem confeções similares, quer seja no forno, quer para cozer. Olhando apenas para a fonte de proteína – o peixe –, uma refeição constituída por uma posta de pescada fresca, que tenha 100 gramas, custa cerca de 1,86 euros. Ora, se confecionar o mesmo prato, substituindo a pescada pela perca fresca, o custo desce para os 1,05 euros.
Variar nas espécies que se consome não só contribui para uma dieta saudável como pode também ajudar a reduzir a fatura referente ao pescado. Não menos importante, dependendo do peixe, contribui igualmente para a sustentabilidade dos recursos marinhos, evitando a indesejável sobre-exploração de espécies.