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Bactéria Strep A: o que é, como se transmite e formas de tratamento

Apesar de poder provocar doença grave, na maior parte dos casos a bactéria Strep A é responsável por infeções benignas e de curta duração. Saiba quais são as doenças causadas por esta bactéria, quais os sintomas e como se podem tratar.

 

27 janeiro 2023
Bactéria Strep A

iStock

A bactéria Strep A está associada a uma grande variedade de infeções, com diferentes graus de gravidade. Maioritariamente, é responsável por infeções benignas e de curta duração, mas pode provocar doença grave invasiva e, potencialmente, fatal. Streptococcus do grupo A ou Streptococcus pyogenes são outros dos nomes atribuídos a este agente infecioso bacteriano.

Vários países europeus, incluindo a Irlanda, a França, os Países Baixos, a Suécia e o Reino Unido, verificaram um aumento no número de casos de doença invasiva associada à Streptococcus do grupo A em crianças com menos de dez anos de idade, em particular desde setembro de 2022. Durante o mesmo período, foram também notificadas várias mortes associadas à mesma bactéria.

Em França e no Reino Unido, o aumento dos casos de doença invasiva associada à Strep A observado em crianças tem sido várias vezes superior aos níveis pré-pandémicos pelo período de tempo equivalente. Pensa-se que possa estar associado ao recente aumento da circulação de vírus respiratórios, incluindo gripe sazonal e vírus sincicial respiratório, uma vez que a coinfeção de vírus com Streptococcus do grupo A pode aumentar o risco de doença invasiva. Em dezembro de 2022, a Organização Mundial da Saúde avaliou o risco representado pelas infeções por Strep A para a população em geral e concluiu que é baixo. 

Doenças causadas pela bactéria Strep A

A bactéria Strep A é responsável, maioritariamente, por infeções benignas e de curta duração. 

Infeções benignas e de curta duração

As doenças associadas a um quadro benigno são as seguintes:

  • Amigdalofaringite aguda: é um processo inflamatório agudo das amígdalas e faringe. Na grande maioria dos casos é provocado por agentes virais, mas também pode ser provocado por uma grande variedade de agentes microbianos. O Streptococcus do grupo A é o agente bacteriano mais frequente. Ocorre, sobretudo, em idade escolar (dos 5 aos 15 anos), com picos de incidência no inverno e no início da primavera. Os sintomas ou sinais típicos incluem início súbito de dor de garganta, febre, vómitos, dor abdominal e dor de cabeça. 
  • Escarlatina: está, geralmente, associada a amigdalite ou faringite, apresentando também erupção da pele. Ou seja, além dos sintomas da amigdalite/faringite acima descritos, surge ainda pele vermelha ligeiramente áspera. A pele do rosto fica vermelha, mas mais clara (pálida) à volta dos lábios, a língua inchada ou vermelha como um morango ou framboesa e a inflamação nos gânglios do pescoço. 
  • Impetigo: é uma infeção dos tecidos superficiais da pele, que pode ser causada por vários agentes, um dos quais o Streptococcus pyogenes. O impetigo estreptococócico – ou impetigo não-bolhoso – começa como pápulas (lesões semelhantes a picadas de mosquito). Estas evoluem para pequenas feridas e depois evoluem para crostas tipicamente douradas ou "cor de mel". Estas lesões aparecem, geralmente, em áreas expostas do corpo, com mais frequência na cara e nas extremidades, mas podem ocorrer em qualquer parte do corpo.  
  • Celulite: é uma infeção que ocorre nos tecidos subcutâneos que pode ser causada por múltiplas bactérias, em que o principal agente é o Streptococcus pyogenes. Potencialmente mais complicada do que as restantes doenças benignas apresentadas, a celulite afeta estruturas mais profundas do que as áreas afetadas pelo impetigo. Como resultado, a pele afetada costuma ter um tom rosado com uma borda mais ou menos definida, apresentando sinais locais de inflamação (calor, eritema e dor). Sintomas sistemáticos, tais como febre, calafrios e mal-estar, também podem estar presentes. A rutura da barreira cutânea, como a presença de úlceras, feridas ou infeções cutâneas fúngicas (por exemplo, pé de atleta), é um fator de risco para o desenvolvimento de celulite.

Associadas às infeções benignas e de curta duração, raramente, podem verificar-se complicações mais graves (formação de abcessos ou problemas renais). A procura de avaliação médica atempada e o cumprimento do tratamento antibiótico prescrito pelo médico diminui a probabilidade e a gravidade destas complicações.

Infeção, contágio e diagnóstico

Todas as manifestações benignas e invasivas da infeção por Streptococcus do grupo A são contagiosas e, por isso, devem ser tomadas medidas de minimização de contágio. No caso da amigdalite/faringite e escarlatina, o contágio pode ser feito através de gotículas respiratórias de pessoas infetadas pela bactéria, principalmente por tosse, espirro ou fala, que são inaladas ou pousam na boca, no nariz ou nos olhos de pessoas que estão próximas. Por isso, medidas como etiqueta respiratória, arejamento de espaços fechados e isolamento quando existe sintomatologia podem evitar surtos destas doenças, frequentes em creches e escolas nos meses de inverno e no início da primavera.

No caso do impetigo e da celulite, a principal forma de transmissão é pelo contacto pele a pele com alguém que esteja infetado. Contudo, o contágio também pode dar-se de forma indireta, isto é, pelo contacto com superfícies, toalhas, equipamento de desporto e roupas utilizadas pela pessoa com impetigo. Uma boa higiene das mãos e higiene pessoal geral pode ajudar a controlar a transmissão.

As infeções benignas são facilmente tratadas com antibióticos, e uma pessoa com uma doença ligeira deixa de ser contagiosa após 24 horas de tratamento.

Quanto ao diagnóstico, no caso da amigdalite/faringite é sintomático, após observação dos sintomas e sinais clínicos. Para diagnóstico diferencial deverá ser feito o teste diagnóstico antigénico rápido (TDAR) e/ou a cultura microbiológica da orofaringe. No caso do teste (TDAR), a zaragatoa recolhe amostra da orofaringe e depois o processo é em tudo semelhante ao utilizados nos testes de diagnóstico na pandemia de covid-19

Quanto ao impetigo e à celulite, a história clínica e o exame físico com observação das lesões cutâneas é a forma de diagnóstico. Em casos de infeções recorrentes ou no caso de falha terapêutica prévia, poderá ser feita uma análise microbiológica ao exsudado ou pus das lesões cutâneas para confirmação do agente causal e tratamento dirigido.

Doença invasiva

Estas situações são mais raras, mas estão associadas a sintomatologia grave, que pode mesmo levar à morte, especialmente o choque sético. As doenças invasivas raramente surgem após amigdalite ou faringite bacteriana. 

  • Fasceíte necrosante: é uma doença invasiva causada habitualmente por Streptococcus pyogenes, embora outros agentes bacterianos (como Staphylococcus aureus) possam estar na sua origem. É uma doença rara que ocorre, geralmente, após trauma, cirurgia ou lesão cutânea prévia (por exemplo, infeção bacteriana das lesões cutâneas causadas pela varicela). O processo inflamatório necrosante agudo afeta, inicialmente, o tecido subcutâneo profundo e a fáscia muscular (os tecidos moles mais profundos). Os tecidos mais superficiais e a pele são comprometidos secundariamente, em consequência da lesão vascular, trombose e isquemia. Esta doença começa com febre alta, prostração, sensação de doença, ar sético, dor intensa e localizada, mas com poucos sinais inflamatórios na fase inicial. Com a evolução da infeção surge uma tonalidade cutânea vermelho-arroxeada por trombose venosa e consequente necrose tecidular. Se a infeção não for diagnosticada e tratada a tempo, pode evoluir para choque sético.
  • Síndrome do choque sético estreptocócico: é uma doença definida como uma infeção sistémica causada por Streptococcus pyogenes,acompanhada de um súbito início de choque, falência de órgãos e, frequentemente, morte. O início da síndrome do choque tóxico é súbito, com febre elevada (acima de 39ºC) que não cede a terapêutica antipirética (paracetamol, ibuprofeno, etc.), mal-estar geral, tensão arterial muito baixa que pode levar a desmaio, pele muito vermelha e insuficiência de dois ou mais órgãos.

Infeção, contágio e diagnóstico

Como a fasceíte necrosante e o choque sético são casos graves, em meio hospitalar o diagnóstico terá de ser necessariamente acompanhado de intervenções para evitar a progressão da doença. Além da história clínica, são realizados vários exames bioquímicos e microbiológicos que excluam outras causas de doença e/ou confirmem infeção por Streptococcus pyogenes.

Como tratar a infeção por Strep A

Mesmo nos casos menos graves (faringite, amigdalite, escarlatina, entre outros), a infeção por este agente bacteriano carece sempre de avaliação médica e de tratamento com antibiótico prescrito pelo médico. As infeções invasivas, que são mais graves, carecem de internamento hospitalar e de tratamento antibiótico endovenoso, a par de outras medidas, algumas das quais invasivas, para estabilizar o doente e conter a evolução da infeção. Por exemplo, por vezes, a fasceíte necrosante exige terapêutica médica e cirúrgica (remoção de todos os tecidos necrosados). Na doença invasiva associada à Strep A é comum a necessidade de suporte do doente em unidade de cuidados intensivos.

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