Ensino, avaliação e tecnologia nas escolas: António Cortez e Diana Pereira frente a frente

Publicado a 27 agosto 2024

António Carlos Cortez e Diana Pereira analisam o ensino e respondem a dez questões sobre a educação que queremos para o nosso futuro.

Miguel Madeira/4See e José Carlos Mona/4See Entrevista António Cortez e Diana Pereira

Que desafios enfrenta a escola hoje em dia?

Entrevista António Cortez
“Educação não é avaliação, ao contrário do que muitos governos defenderam, é o campo onde o ser humano se pode conhecer melhor, potenciar as suas energias vitais para dar um sentido à vida", diz António Carlos Cortez (crédito da foto: Miguel Madeira/4See).

António Cortez: A formação deve ser mais exigente, assente não na chamada capacitação digital, porque do que os professores precisam é de capacitação textual, que recupere bibliografia passiva, científica. E que os prepare para alguns problemas, como, por exemplo haver, hoje, mais de 200 nacionalidades em locais de ensino. Outro problema tem que ver com os salários. Os professores devem ser remunerados e bem remunerados. Nunca deveriam receber menos de dois mil euros.

Diana Pereira: O digital tem sido um constrangimento para muitas escolas, particularmente no que respeita à avaliação externa, que tem vindo a ser feita nesse tipo de plataformas. Também é a vinda de estudantes de diferentes nacionalidades e países. Está a tornar-se um constrangimento, quer para os professores lecionarem, devido às línguas, quer ao nível de recursos das escolas. Outro é o número de alunos por turma, que é sempre um constrangimento para os professores porem em prática estratégias mais diversificadas de avaliação e de aprendizagem e de praticarem a verdadeira inovação pedagógica. Como não conseguem fazer esse tipo de inovação, a qualidade da aprendizagem do aluno e do feedback que vão prestando à medida que se vai desenvolvendo o processo de aprendizagem também não vão ter tanta qualidade. Em Portugal, os professores pensam e trabalham muito numa cultura de resultados e para os resultados, principalmente por causa das provas de avaliação externa. Algumas competências vão ficando para trás, mesmo algumas das que estão previstas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, não vão sendo tão bem desenvolvidas, sobretudo pelo número de alunos e pela burocracia que existe.

Quem é António Carlos Cortez?

Poeta, ensaísta e professor no Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho.

A lei aponta a flexibilização dos currículos e a autonomia das escolas como caminho para ajustar o ensino às necessidades do aluno. É a melhor via para uma escola multicultural, inclusiva e igualitária, quando as condições socioeconómicas se degradam e temos milhares de alunos filhos de imigrantes?

Entrevista Diana Pereira
“Reduziria o número de alunos por turma, que é muito importante – com 25 alunos por turma ou mais, no básico e secundário, o professor não pode prestar um ensino de qualidade", diz Diana Pereira (crédito da foto: José Carlos Mona/4See).

António Cortez: A flexibilização curricular significa empobrecimento dos curricula e significa que o professor, à luz dessa flexibilidade, pode ser pau para toda a obra. Portanto, não é solução nenhuma, um currículo digno desse nome deveria ter em conta o seguinte, até por razões de inclusão social: a literatura e as artes são as únicas vias para uma verdadeira compreensão do complexo cultural em que esses alunos estrangeiros estão inseridos. Seria bom haver cadeiras de História das Mentalidades, História da Cultura Portuguesa, História da Cultura Europeia, justamente para integrar esses alunos e fazê-los compreender algo muito simples: se não se entende língua, nem se sabe gramática, não se compreende cultura e literatura.

Diana Pereira: Nem todas as escolas apostam nessa autonomia, nessa flexibilidade. Cada agrupamento gere na medida que considera mais efetiva. Por exemplo, o decreto-lei n.º 54, ao nível da inclusão, trouxe melhorias não só para quem tem algum tipo de necessidade educativa especial, mas também para os estudantes que venham de outro país com outro tipo de cultura. Com essa autonomia que é dada à escola, o diretor do agrupamento e as restantes lideranças podem trabalhar para aproximar os currículos, também tendo em conta as necessidades desses alunos que são provenientes de outros contextos, de meios socioeconómicos mais desfavorecidos. Também temos as escolas TEIP [programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária], com um projeto educativo diferente, mais focado em contextos desfavorecidos.

Quem é Diana Pereira?

Investigadora e professora no Instituto de Educação da Universidade do Minho.

Colocar o aluno no centro do ensino parece-lhe a melhor via para formar alunos capazes de enfrentar as mudanças da sociedade?

António Cortez: Não, não, não. Três vezes não, como diz Telmo, no Frei Luís de Sousa. Esta é outra falácia: não é o aluno que tem de estar no centro do processo educativo, o professor é que é o centro do processo educativo. Mas essa é uma falácia muito interessante, que serviu para desvirtuar e, ao mesmo tempo, descredibilizar os professores junto da sociedade civil. Não é possível haver educação quando, na escola portuguesa, temos o aluno transformado em alfa e ómega de tudo, e o professor um mero agente de entretenimento, ou um mero veículo de transmissão de saberes. Com a agravante de que, hoje, os estudantes em Portugal sabem, todos eles, desde o 6.º ano, que não vão reprovar de ano. Todos sabem, até por causa do estatuto do aluno, que estão absolutamente blindados contra questões disciplinares e contra questões de transição de ano. Mal ou bem, todos irão fazer o 12.º ano. Ora, isto significa o seguinte: essa falácia de pôr o aluno no centro do processo educativo é, na verdade, um crime que se faz contra os próprios estudantes. Porque se o professor não é o agente do saber, do conhecimento, então com que grau de autonomia estamos, de facto, a preparar os nossos alunos?

Diana Pereira: Considero que sim, claro. E a investigação científica mostra precisamente isso, o aluno no centro do processo. Uma vez mais, o aluno ser autónomo, ser reflexivo, conseguir desenvolver este tipo de competências, para depois, no futuro, no seu contexto de trabalho, se conseguir adaptar e ter estas ferramentas para exercer a sua profissão. Por isso não podemos ter alunos passivos, que são meros caixotes em que o professor deposita conhecimento. Se dermos apenas um teste, o aluno não vai desenvolver esse tipo de competências. Quando muito, aplica o conhecimento técnico que absorveu através de memorização. Daí ser tão importante que as estratégias de ensino do professor e os métodos de avaliação permitam o desenvolvimento dessas competências fundamentais, que põem o aluno no centro do processo. E, portanto, só a partir desse tipo de métodos, que promovam, por exemplo, um trabalho de projeto, a pesquisa, o trabalho colaborativo entre todos os alunos e também a auto e a heteroavaliação – o aluno avalia-se a si próprio e avalia os colegas dentro do grupo – é que os alunos vão desenvolver as competências necessárias.

O que seria necessário mudar nos métodos de ensino e de avaliação para cruzar modelos, o tradicional e o inovador?

António Cortez: Seria fundamental que os professores percebessem que um professor, seja ele de Ciências, de Economia, de Línguas, de Português, não é um fazedor de folhas Excel, não é um avaliador. Educação não é avaliação, ao contrário do que muitos governos defenderam, é outra coisa, é o campo onde o ser humano se pode conhecer melhor, potenciar as suas energias vitais para dar um sentido à vida. Não podemos falar de educação quando temos crianças desinteressadas dos saberes, quando os professores estão desmotivados, quando grassa a maior indisciplina nas escolas. Em relação aos métodos de ensino, o que interessaria era defender um ideal de educação assente num paradigma humanístico, e não só técnico-científico. É fundamental os professores perceberem que o digital é apenas um instrumento, deve ser usado com parcimónia, e o centro de uma aula deve ser, na minha perspetiva, o livro, o texto, a história, a memória, a cultura. Mesmo em aulas de ciências.

Diana Pereira: Tem de haver um equilíbrio entre a avaliação formativa e a sumativa. A maior parte dos estudos indica que a avaliação formativa é ideal, porque não é uma avaliação da aprendizagem, mas para a aprendizagem. Vai promover autonomia no aluno, pensamento crítico e outro tipo de regulação da própria aprendizagem. E um aspeto-chave é o feedback constante entre aluno e professor, para permitir a autorregulação da própria aprendizagem. Não devemos usar só a avaliação sumativa, porque não permite que o aluno corrija aquilo que errou. O feedback dado no final não vai melhorar a aprendizagem, vai ser esquecido. Porém, em certas áreas, a avaliação sumativa deve existir, por ser mais objetiva. Se pensarmos no ensino superior, nas engenharias, nas matemáticas, nas ciências mais exatas, esse tipo de métodos é muito utilizado – os tradicionais testes e exames e os de escolha múltipla. Mas deve ser acompanhado, ao longo do período, por outro tipo de métodos. Não quer dizer que todos tenham de resultar numa nota ou numa classificação. O professor pode ir avaliando e acompanhando o aluno, dando tarefas de avaliação continuamente para perceber em que ponto está o aluno e para o orientar. Claro que, no ensino superior, e com o processo de Bolonha, isso é mais evidente. O aluno é mais autónomo, e o professor pode dar-lhe métodos que promovam mais autonomia. Por exemplo, nas ciências da educação, usamos muito o portfólio, um método inovador que obriga o aluno a pensar, a refletir sobre aquilo que deu numa determinada aula, e até pegar num ponto de aula e refletir. Mas isso é possível se pensarmos em alunos do ensino superior e do secundário. Essa ferramenta não é tão indicada para o ensino básico. A ideia é não fazermos apenas os testes e as fichas de papel e caneta, mas arranjarmos estratégias e tarefas de avaliação que promovam a reflexão crítica e a própria autonomia do aluno, para que consiga chegar lá com apoio e orientação do professor, mas também tentar sozinho as tarefas de avaliação. O professor, quando aplica as estratégias mais inovadoras da avaliação, também vai tendo feedback dos alunos sobre o seu desempenho profissional, se está a resultar ou não. E vai ter de ajustar também as suas estratégias de ensino, consoante o método de avaliação.

O professor é o centro do processo educativo. [António Carlos Cortez]

Há quem critique o uso dos telemóveis nas escolas e o recurso a novas tecnologias como entrave ao raciocínio autónomo do aluno. Concorda?

António Cortez: Concordo. Mas também acho o seguinte: que tipo de respostas um aluno encontra na net? Para encontrar respostas que façam sentido, tem de saber o que procura. A maioria deles não faz ideia do que é que está a investigar. Para investigar, é preciso ter uma bibliografia passiva por trás, um conhecimento de textos. Se procurar qualquer coisa na internet sobre Camões, tenho de saber, porventura, que qualquer coisa é essa. Não há investigação hoje séria na escola portuguesa. Os alunos vão à net, copiam umas coisas de uns sites e depois debitam-nas nas aulas. Ou mostram-nas como projeto de investigação.

Diana Pereira: O problema não é o telemóvel, mas o que fazemos com esse tipo de dispositivos na sala de aula. Neste momento, há o plano de transição para o digital, e o mundo vai evoluir cada vez mais ao nível das tecnologias. A questão central não é a tecnologia, mas aquilo que fazemos, e o que o professor faz dentro de sala de aula com esse tipo de equipamentos. Claro que também tem que ver com o nível de ensino onde o fazemos. A maior parte dos professores não permite a entrada de telemóveis na sala de aula. Alguns agrupamentos têm essa política. Mas, como é uma realidade premente, penso que as escolas devem ser abertas ao digital. As provas de aferição e os exames nacionais vão ser realizados através do digital. Os alunos têm de ter conhecimento destas plataformas, não só para jogos e redes sociais, mas para conseguirem utilizá-las para fazerem pesquisas, quizzes… Desde a pandemia, surgiram centenas de aplicações que permitem estratégias, e até avaliar os alunos, de forma lúdica e com fiabilidade. [Se deve ser proibido usar o telemóvel nos intervalos] Cada agrupamento tem de ver o que é melhor para um bom ambiente e para a cultura se desenvolver normalmente. Eu acho que, nos intervalos, eles deveriam estar a fazer outras coisas.

Não podemos ter alunos passivos, que são meros caixotes em que o professor deposita conhecimento. [Diana Pereira]

As tecnologias podem, se bem dirigidas, fomentar a capacidade de pesquisa do aluno?

Entrevista António Cortez
“A inteligência artificial é mais uma prova de que a nossa geração, a que está hoje no poder, está a prestar um péssimo serviço às gerações mais novas. Está-lhes a roubar a imaginação, a curiosidade, o gosto pelo saber”, diz António Carlos Cortez (crédito da foto: Miguel Madeira/4See).

António Cortez: Se bem dirigidas, claro. Concordo em absoluto. Mas, para isso, é preciso que os próprios professores ensinem aos alunos, no 3.º ciclo e no secundário, técnicas de pesquisa. Como é que se faz uma bibliografia? Como é que se faz uma pesquisa longa num site? E que sites é que podem e devem ser consultados?

Diana Pereira: Podem, claro. Temos também a inteligência artificial. O ChatGPT, por exemplo, se utilizado numa perspetiva de motor de busca, como utilizamos o Google, condensa e sistematiza muita informação. Mas, ao nível científico, há que ter muito cuidado, porque pode não ser fiável. Temos de nos adaptar, cada vez mais, a estas ferramentas, também para saber orientar os alunos.

Os professores são uma classe escassa e envelhecida. Terão capacidade para integrar novos métodos e para os compreender?

António Cortez: Os métodos do ensino devem assentar em coisas muito simples e muito clássicas. A cópia e o ditado no primeiro ciclo, no segundo e no terceiro. O resumo e a síntese no terceiro ciclo. Ensaio, produção de texto reflexivo. Ensaio sobre matérias de ciências, história de arte, economia, literatura, gramática, no ensino secundário. É isto. Chega de provincianismos tontos. O que são os novos métodos de ensino? A gamificação? Eu e muitos outros não alinhamos nisso. Em relação ao envelhecimento da classe, é uma fatalidade. Como diz Antero de Quental, a nossa fatalidade é a nossa história. Podemos agradecer aos sucessivos governos. Sabíamos que isto ia acontecer. A classe envelheceu, tem hoje uma média de idade suponho que de 50 ou 51 anos, e espera-se que haja uma saída nos próximos cinco anos de mais de 15 mil professores.

Diana Pereira: Os professores mais velhos, que já estão quase de saída, por norma, são resistentes a utilizar avaliações mais inovadoras, o que é normal e expectável. Para as utilizar, têm de dedicar muito tempo a aprender, fazer formações, pesquisar… Como é uma classe muito envelhecida, perpetua-se o uso da avaliação tradicional nos diferentes níveis de ensino. E os estudos, em Portugal, também mostram muito isso. O meu doutoramento foi precisamente sobre a avaliação das aprendizagens, mas no ensino superior, e os resultados mostraram claramente que a maioria dos professores usou testes sumativos nas diferentes áreas do saber: medicina, direito, ciências… A exceção são as ciências sociais, que vão usando outros métodos. Mesmo no ensino secundário, o teste continua a ser o instrumento mais utilizado. Porquê? Porque os professores também não procuram saber sobre estas questões, para se aperfeiçoar, até para o seu nível de desenvolvimento profissional, enquanto docentes. Então, perpetuam este tipo de práticas.

E os novos professores têm formação suficiente e adequada?

Entrevista Diana Pereira
“Melhoraria as condições dos professores, porque se não estiverem motivados, não vamos ter alunos motivados, não vamos ter pessoas felizes nas escolas”, diz Diana Pereira (crédito da foto: José Carlos Mona/4See).

António Cortez: Não. Sei de casos de formação de professores, entre aspas, onde alguns tiveram de ler webinars do ex-ministro João Costa. Então é assim que se faz formação de professores, doutrinando? Não conhecem um ensaio muito importante, estou a pensar traduzi-lo para português, El Lector Literario, de Pedro Cerrillo. Ensaio fundamental sobre o que é a leitura literária no ensino secundário e no ensino superior. Muitos dos novos professores carecem de uma formação universitária forte, ao nível da didática, nas várias disciplinas, e ao nível do conhecimento de bibliografia passiva. Portanto, são já produto de sucessivas reformas em que o que esteve ausente da escola foi um paradigma histórico-científico, histórico-cultural, adeptos de uma visão meramente instrumental, em que o professor é um fazedor de folhas Excel e não um verdadeiro comunicador do saber.

Diana Pereira: Na formação inicial de professores, embora já se vá falando de alguma inovação pedagógica, há pouco sobre a avaliação. Os currículos não estão feitos para os alunos saberem avaliar, quando forem professores. Portanto, o que é que o aluno faz? Por norma, reproduz aquilo que viu fazer o professor de quem gostou. Temos essas unidades curriculares, mas são de pouca duração, normalmente um semestre e, muitas vezes, não se focam no essencial, que é o tipo de instrumentos de avaliação que podemos utilizar. Deveriam existir mais unidades que preparassem os futuros professores para estratégias de aprendizagem e de avaliação mais inovadoras, mais ajustadas ao perfil atualmente requerido pelos contextos de trabalho. Não podemos manter uma formação inicial que formava professores há 40 ou 50 anos.

Com a Inteligência Artificial, não corremos ainda mais riscos de plágio ou de entregar por completo o trabalho à máquina?

António Cortez: A inteligência artificial é, de facto, não só um meio de de corrupção generalizada dos eventuais trabalhos científicos que se venham a pedir, seja em que graus de ensino for, como é, ao mesmo tempo, mais uma prova de que a nossa geração, ou seja, a que está hoje no poder, está a prestar um péssimo serviço às gerações mais novas. Está-lhes a roubar a imaginação, a curiosidade, o gosto pelo saber.

Diana Pereira: Claro que também há as fraudes, que a maior parte dos docentes consegue identificar. Já recebi alguns trabalhos de alunos completamente plagiados do ChatGPT, mas penso que é, agora, numa primeira fase. Os próprios professores não conheciam bem [estas ferramentas], e alguns trabalhos podem ter passado. Mas o professor deve também utilizar estes chatbots de inteligência artificial. Utilizo para perceber como é que funciona, para compreender, quando recebo um trabalho, se foi feito através da inteligência artificial. Há outras medidas. Aqui no ensino superior, por exemplo, estamos a voltar atrás. Permitíamos aos alunos que fizessem uma reflexão escrita individual e a entregassem no fim do semestre, em vez de um teste. Devido a esses constrangimentos do ChatGPT, tivemos de fazê-la em sala de aula, com o professor. Fizeram com consulta, com materiais, mas [escreveram] à mão. Eles já não estão habituados. Diziam que já não tinham mão para escrever. Agora, é tudo muito digital. Quando apresento powerpoints, pedem para pôr, antes, na Blackboard [plataforma informática], para acompanharem a aula e tomarem notas. Há uma mudança de paradigma. Mas os professores vão lidando com este tipo de ferramentas e, com o tempo, vão percebendo quando um aluno copiou. Se conhecermos bem o aluno, se acompanharmos, e se utilizarmos a tal avaliação formativa, mais contínua, conseguimos saber que o aluno não conseguiria fazer aquilo.

Se tivesse poder, o que faria para melhorar a escola e o ensino?

António Cortez: A escola e o 25 de Abril não se fizeram para roubarmos a imaginação das nossas crianças e adolescentes, para termos hoje gerações alienadas, empobrecidas e sem expectativas. Eu ouviria os professores, e iria às escolas, sem aviso prévio, de norte a sul do País, aos agrupamentos de escola, os dos centros urbanos desde logo, compará-las com outras que não são agrupamentos de escolas. Formaria uma equipa de 50 professores de norte a sul do País, e seria fundamental fazer-se um inquérito a pais, professores, alunos, um inquérito bem pensado sobre o que é a escola em Portugal hoje, o que representa. A escola, a educação, a universidade, são lugares de liberdade livre, como diria o poeta Rimbaud, lugares de imaginação e do saber. Não este rolo compressor com toda a gente a fazer o mesmo, a dizer o mesmo e a fazer igual, que é nada.

Diana Pereira: Reduziria o número de alunos por turma, que é muito importante – com 25 alunos por turma ou mais, no básico e secundário, o professor não pode prestar um ensino de qualidade. Melhoraria também a formação inicial de professores, que ainda recentemente foi um pouco reformulada. Mesmo assim, deveria ser pensada de outra forma, e apostar mais nestas questões do currículo. Melhoraria também as condições dos professores, porque se um professor não estiver motivado, não vamos ter alunos motivados, não vamos ter pessoas felizes nas escolas. Além da questão salarial, que tem vindo a ser reivindicada, há a forma como é feito o concurso nacional de professores, um problema que já existe há muitos anos. Os professores serem do Norte e irem para Sul, terem de pagar duas casas e, por vezes, terem de se separar famílias… Isso também desmotiva. E menos burocracia. Os professores têm uma carga excessiva de burocracia.

 

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