Alegações “verdes” dos detergentes podem confundir os consumidores
Nem todos os detergentes são amigos do ambiente, mas muitos alegam compromissos ambientais que podem induzir os consumidores em erro.
- Especialista
- Sílvia Menezes
- Editor
- Ana Rita Costa e Filipa Nunes

Empenhados em combater o greenwashing, prática através da qual as empresas afirmam estar a fazer mais pelo ambiente do que na realidade estão, temos analisado, em conjunto com outras organizações de defesa do consumidor europeias, as alegações “verdes” e a performance ambiental de 228 detergentes.
Este estudo realizou-se no âmbito do projeto europeu CLEAN, uma iniciativa financiada pelo Programa Europeu para os Consumidores, da Comissão Europeia, que pretende aumentar a consciência dos consumidores para o impacto ambiental dos detergentes de uso doméstico, assim como contribuir para a disciplina relativamente a alegações pouco fundamentadas e práticas comerciais desleais.
Além de detergentes para a máquina da loiça e para a lavagem manual da loiça, foram analisados detergentes multiúsos e detergentes para WC de marcas “tradicionais” e de marcas que se assumem como ecológicas. Ingredientes presentes na composição do produto, e o respetivo impacto nos ecossistemas, certificações ambientais, como o Rótulo Ecológico Europeu, e a presença de autodeclarações ecológicas estiveram na mira desta análise.
Maioria dos consumidores não confia nas alegações ecológicas das marcas
Como ponto de partida para o estudo, 4210 consumidores em Portugal, Bélgica, Itália e Espanha foram ouvidos. Os resultados revelam que a maioria dos consumidores presta atenção às alegações ambientais quando compra detergentes. Contudo, apenas uma minoria considera estar bem informada sobre o tema.
Além das dúvidas acerca das alegações ambientais, mais de metade dos inquiridos no âmbito deste estudo acredita que estas alegações servem apenas como ferramenta de marketing, o que revela desconfiança na informação prestada pelas marcas.
Substâncias evitáveis continuam a fazer parte da composição
Nos 228 detergentes analisados, apenas uma pequena percentagem é isenta de substâncias nocivas quer para o ambiente quer para a saúde. Além disso, muitos destes detergentes continuam a ter na sua composição ingredientes que se podem evitar, uma vez que não comprometem a sua eficácia, como fragrâncias e corantes.
Principal fonte de microplásticos nos ciclos de lavagem é a roupa
Descobrimos também que os detergentes em cápsula hidrossolúvel para máquinas de lavar roupa e para máquinas de lavar loiça não libertam quantidades significativas de microplásticos nas águas residuais durante os ciclos de lavagem.
Porém, os testes indicam que a roupa em tecido sintético é a principal responsável pela libertação de microplásticos nas águas residuais durante a lavagem, o que significa que é preciso um esforço colaborativo entre todos, incluindo a indústria têxtil, para encontrar uma solução que trave a poluição causada pelas microfibras da roupa. Ainda assim, não se pode excluir a influência que alguns detergentes em cápsula hidrossolúvel têm na libertação de microplásticos presentes nas fibras da roupa.
Ecodesign ainda não é prioridade
O ecodesign, por outro lado, que pode ajudar a reduzir o impacto ambiental das embalagens no fim do seu ciclo de vida, ainda não é uma prioridade para a maioria das marcas.
Muitos dos produtos analisados ainda têm embalagens que não incorporam materiais reciclados, com rótulos que não são destacáveis e que, por isso, dificultam a reciclagem, ou com cores que comprometem a reciclagem do material. A somar a tudo isto, as instruções para a separação correta continuam a não estar presentes em algumas das embalagens de detergentes.
Alegações ambientais a mais
No que diz respeito à referência a atributos ambientais nos rótulos dos detergentes, a maioria dos produtos “tradicionais” fazem, sobretudo, alegações ambientais com referência aos ingredientes e à própria embalagem. No caso dos detergentes que se assumem como ecológicos, as alegações estão, quase sempre, relacionadas com bem-estar animal e o impacto ambiental geral do produto.
Informação de confiança pode acelerar a adoção de opções sustentáveis
As alegações ambientais podem contribuir para a escolha de opções mais sustentáveis, contudo, se a informação disponibilizada pelas marcas for parcial, exagerada e falsa, sem suporte de evidência científica, as alegações podem estar apenas a contribuir para confundir e enganar os consumidores.
Os rótulos dos produtos devem conter apenas informação verificada e verdadeira e excluir alegações baseadas em aspirações futuras ou compromissos ambientais genéricos. A informação deve também ser clara e descomplicada para que qualquer consumidor a consiga entender.
Defendemos que a escolha de produtos sustentáveis deve ser a mais fácil possível para o consumidor. Já existem produtos no mercado que combinam uma boa performance e um menor impacto ambiental. Por isso, acreditamos que a decisão de produzir fórmulas e embalagens com menor impacto ambiental está nas mãos da indústria e que essa mudança não tem de resultar num produto mais caro ou menos eficiente para o consumidor.
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Este projeto foi financiado pelo Programa Europeu para os Consumidores. O conteúdo desta publicação representa apenas a opinião do(s) autor(es) e é da sua inteira responsabilidade. A Comissão Europeia não aceita qualquer responsabilidade pelo uso que possa ser feito da informação nele contida. |
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