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Maiores bancos cobram mais de 6,5 milhões de euros por dia em comissões

As comissões sofreram uma descida residual de 2,3% nos cinco maiores bancos, em 2023, enquanto os ganhos obtidos com os juros subiram 68 por cento. Ainda assim, a banca cobrou 6,5 milhões de euros por dia em comissões, num total anual de 2379 milhões de euros.

Especialista:
22 abril 2024
pessoa no multibanco

iStock

Em 2023, os cinco maiores bancos a operar em Portugal (Banco BPI, Caixa Geral de Depósitos, Millennium bcp, Novobanco e Santander) aumentaram a margem financeira - isto é, o diferencial entre os juros cobrados nos créditos e a remuneração dos depósitos - em 68%, em comparação com o ano anterior. Já as comissões bancárias, cuja subida imparável ao longo da última década a banca justificou com os reduzidos ganhos resultantes das baixas taxas de juro, desceram apenas 2,3%, em média.

Esta descida residual não se deveu, no entanto, a alterações nos preçários - o que seria expectável após a normalização das taxas de juro - mas antes à entrada em vigor de um conjunto de limitações à cobrança de comissões, de que se destaca a proibição da cobrança da comissão de processamento das prestações de crédito, fortemente reivindicado pela DECO PROteste.

Contas feitas, em 2023, este conjunto de bancos cobrou 2379 milhões de euros em comissões, ou seja, mais de 6,5 milhões de euros por dia.

Comissões baixaram, mas (muito) pouco

Desde 2015 que a DECO PROteste tem vindo a denunciar o aumento sistemático das comissões cobradas pelos bancos que, em casos como a comissão de manutenção de contas à ordem não corresponde sequer a um serviço prestado. Ao longo dos anos, o argumento da banca para justificar estes aumentos recaiu na reduzida margem financeira resultante das baixas taxas de juro. Mas nem a inversão desta tendência teve impacto nos encargos imputados aos clientes bancários.

E ainda que, em 2023, o valor total obtido pelos cinco maiores bancos tenha sofrido um pequeno decréscimo face a 2022, este foi largamento compensado por um aumento da margem financeira quase 30 vezes superior. 

A ligeira descida nas comissões cobradas pelos cinco maiores bancos, resultado de limitações introduzidas na lei, não foi, no entanto, transversal a todas as instituições. O Novobanco conseguiu mesmo aumentar o montante obtido por essa via em 1,4%, e o Millennium bcp manteve os valores de 2022. Apenas a Caixa Geral de Depósitos registou uma redução um pouco mais significativa, de 7%, que, ainda assim, contrasta com a subida de 104% da margem financeira, resultante do aumento dos ganhos com os juros do crédito concedido.

 

 

Face a 2018, ano em que as taxas de juro se encontravam negativas, estes bancos encaixaram em comissões mais 265 milhões de euros, um aumento médio de 13%, que, nos casos particulares do Santander a da Caixa Geral de Depósitos, rondam os 20 por cento. 

Em suma, em 2023, numa altura em que os ganhos da banca com os juros aumentaram exponencialmente, foram cobrados aos consumidores mais 725 mil euros por dia do que há cinco anos.

Ganhos com juros aumentaram até 104%

Depois de sete anos em terreno negativo, em 2022, as taxas de juro iniciaram uma subida vertiginosa, em resposta à inflação e à guerra na Ucrânia. Esta evolução fazia antever o aumento significativo das margens financeiras da banca nacional, em que a prevalência de contratos com taxa variável, sobretudo no crédito à habitação, é maioritária, com enormes impactos para as famílias.

Assim, em 2023, os cinco maiores bancos registaram um aumento de quase 3749 milhões de euros nos ganhos líquidos com os juros (isto é, no montante obtido depois de subtraídos os juros pagos nos depósitos) em comparação com o ano anterior. Em média, a margem financeira destas instituições subiu quase 68% em apenas um ano, com destaque para a Caixa Geral de Depósitos em que sofreu um acréscimo de 104 por cento. No pólo oposto, o Millennium bcp registou a menor variação face a 2022, com ganhos de 31 por cento.

Banca com lucros históricos em 2023

Estes fatores contribuíram para que o ano de 2023 fosse histórico para a generalidade da banca, em matéria de lucros. Em comparação com o ano anterior, os cinco maiores bancos registaram lucros de 4450 milhões de euros, em média, mais 71% do que em 2022.

O Millennium bcp, com 856 milhões de euros de lucro, bateu todos os recordes com uma subida de quase 335% face a 2022. Mas foi a Caixa Geral de Depósitos que mais se distinguiu em números absolutos: atingiu os 1291 milhões de euros de resultado líquido em 2023, mais 53% do que em 2022. Seguiu-se o Santander, com 1030 milhões de euros, mais 70% do que no ano anterior. O Novobanco (748 milhões de euros) e o Banco BPI (524 milhões de euros) registaram os valores menos expressivos, com subidas de 28% e de 42%, respetivamente.

 

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