Viagens: proteja-se de doenças tropicais causadas por mosquitos

É no verão, e principalmente nos países tropicais, que se manifesta o maior número de doenças tropicais, como a febre-amarela, a dengue ou a zika, entre outras. Antes de viajar, saiba mais sobre estas doenças e os cuidados a ter.
As doenças tropicais encontram-se presentes em cerca de centena e meia de países, e atingem cerca de um bilião de seres humanos. Afetam de uma forma mais severa as regiões tropicais, onde se concentram os países mais desprotegidos e em vias de desenvolvimento, causando sofrimento e deficiências nas populações. No Brasil, em 2024, já foram registados milhões de casos prováveis de dengue. Em Portugal, no final de março havia já 27 casos confirmados da doença, só este ano. Todos importados.
Desde o século XIX que as doenças tropicas são referidas em documentos médicos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) chama-lhes “doenças negligenciadas”, por lhes terem sido atribuídos poucos investimentos.
São causadas por vírus, bactérias e protozoários, que se encontram nas regiões tropicais, que, por serem quentes e húmidas, constituem o habitat ideal para a sua propagação. Estas condições, aliadas à falta de saneamento e de acesso a água potável, que predominam nos países em desenvolvimento, levam a que estas patologias progridam como doenças infecciosas endémicas (que existem sempre).
África, Ásia e América Latina são os continentes mais afetados. O Brasil é o país que reúne todas as doenças que constam na lista de doenças tropicais, realizada pela OMS.
Antes de viajar para um destino tropical, deve realizar uma consulta do viajante (idealmente, um a dois meses antes). Serve para receber informação sobre medidas preventivas (ou curativas) a adotar antes, durante e depois da viagem, em função do destino, da viagem e de quem viaja. Dependendo do destino e do tipo de viagem podem ser recomendadas vacinas específicas.
Tenha em atenção que as recomendações para viajantes são frequentemente atualizadas de acordo com a situação epidemiológica das doenças.
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Para continuar, deve entrar no site ou criar uma conta .O vírus da febre-amarela transmite-se pela picada do mosquito infetado das espécies Aedes ou Haemagogus. Os mosquitos contraem o vírus por se alimentarem de primatas infetados (humanos ou não) e podem transmiti-lo a outros primatas. As pessoas podem transmitir a doença até cinco dias após o aparecimento da febre.
Quais os sintomas da febre-amarela?
A maioria das pessoas infetadas pode não ter sintomas ou senti-los de forma moderada. Neste último caso, os sinais aparecem entre três e seis dias após o doente contrair o vírus. Os sintomas incluem:
- febre;
- arrepios;
- dor de cabeça intensa;
- dores no corpo;
- mal-estar geral ou náuseas;
- vómitos;
- fadiga;
- fraqueza;
- icterícia (coloração amarelada de pele e/ou das mucosas dos olhos).
Regra geral, há uma melhoria três a quatro dias após estes sintomas, mas a fadiga e a fraqueza podem durar vários meses.
Cerca de 15% dos casos evoluem para uma forma mais severa da doença, originando problemas como icterícia, febres altas, hemorragia e eventualmente choque e paragem de vários órgãos. Entre 20% e 50% dos doentes com a forma mais severa da doença podem morrer. Os que recuperam ficam imunes à doença para o resto da vida.
Como tratar a febre-amarela?
Não existe um tratamento específico. Os pacientes devem ser hospitalizados, quando possível, para estarem sob observação e receberem cuidados de manutenção.
Descanso, ingestão de fluidos, utilização de analgésicos para reduzir a febre e a dor são alguns dos tratamentos sintomáticos. Anti-inflamatórios como o ibuprofeno (não esteroides) devem ser evitados, pois aumentam o risco de hemorragias.
Os doentes devem evitar a exposição a mosquitos (por exemplo, ficar dentro de casa e usar uma proteção, como uma rede mosquiteira) até cinco dias após o aparecimento da febre, para quebrar o ciclo de transmissão.
Onde há risco de transmissão da febre-amarela?
O vírus da febre-amarela é endémico (existe sempre) em regiões tropicais e subtropicais de África, América Central e América do Sul.
Como prevenir a febre-amarela
- A vacina é recomendada a partir dos nove meses de idade, para pessoas que viajem ou vivam em zonas de risco de febre-amarela. Para a maioria dos viajantes, uma única dose de vacina fornece imunidade para a vida.
- A utilização de repelente é importante. Se usar protetor solar, aplique primeiro o protetor, e só depois o repelente.
- Proteja os carrinhos e berços das crianças com redes mosquiteiras.
- Use roupa de cores claras e que diminua a exposição da pele à picada (por exemplo, camisas de manga comprida, calças e sapatos fechados).
- Se possível, evite estar ao ar livre nas horas em que os mosquitos estão mais ativos – geralmente ao entardecer. Ainda assim, tenha em conta que uma das espécies transmissoras do vírus, o mosquito Aedes aegypty, alimenta-se durante o dia.
- Escolha alojamento com ar condicionado (mesmo durante o dia) ou, em alternativa, com redes mosquiteiras.
O alerta surgiu em janeiro de 2016, depois de um aumento anormal de casos de bebés com microcefalia no Brasil, cujas mães tinham contraído o vírus durante a gravidez. Os casos de microcefalia congénita suspeitos de estarem associados à infeção com o vírus Zika eram, à data, de 3530, segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, quando em períodos anteriores só se verificavam cerca de 160 casos por ano.
Apenas uma em cada cinco pessoas infetadas pelo Zika fica doente, e as manifestações são geralmente moderadas. Por isso, muitas pessoas não sabem que contraíram o vírus.
Como se transmite o Zika?
O vírus Zika é transmitido pela picada do mosquito Aedes, o mesmo que está na origem das infeções por dengue, febre-amarela e chikungunya, mas nunca levantou grandes preocupações porque os seus sintomas são ligeiros e de curta duração. Estes mosquitos, que vivem tanto no interior como no exterior, geralmente depositam os seus ovos em águas paradas (baldes e vasos de plantas, entre outros locais).
Para além da picada de insetos infetados, os investigadores acreditam que poderão existir outras formas de propagação. A transmissão fetal ainda está a ser investigada, mas sabe-se que a mãe pode passar o vírus ao bebé no momento do parto, embora isso seja raro (a amamentação não constitui perigo).
Existe ainda uma notificação de transmissão por sangue e por contacto sexual, mas ainda não há certezas de que sejam formas de contágio. À partida, o vírus não se transmite de pessoa para pessoa.
Quais os sintomas do Zika?
Os mais comuns são febre baixa, erupções cutâneas (lesões na pele), dores nas articulações, conjuntivite, dores de cabeça e musculares, mas, com menor frequência, podem ainda ocorrer problemas gastrointestinais. Estes sintomas duram normalmente dois a sete dias, e ocorrem três a 12 dias após a picada do mosquito. Se existir um agravamento dos sintomas, o que é raro, pode ser necessária a hospitalização.
Em 80% dos casos, a infeção não chega a ter manifestações; no entanto, as autoridades apelam às mulheres grávidas que tenham permanecido em áreas afetadas que consultem o seu médico assistente, mencionando a viagem, mesmo que não apresentem sintomas. O vírus pode ser confirmado através de análises ao sangue.
Outra doença que sofreu um aumento nas áreas com surtos do vírus Zika foi a síndrome de Guillan-Barré. É uma doença autoimune, que pode ter origem após infeção por vários vírus e bactérias: o sistema imunológico ataca o sistema nervoso periférico, causando inflamação nos nervos e fazendo com que estes deixem de funcionar. Os principais sintomas são fraqueza muscular, dor e formigueiro. As autoridades ainda estão a efetuar mais estudos para tentar perceber se existe alguma relação entre o vírus e a doença.
Como tratar o Zika?
Tal como para a maior parte das doenças transmitidas por picadas de mosquito, também não existe vacina nem tratamento específico para a infeção por vírus Zika. Os pacientes infetados podem tratar os sintomas através de paracetamol, devem descansar bastante e beber muitos líquidos para evitar a desidratação. O ácido acetilsalicílico ou outro anti-inflamatório não esteroide, como o ibuprofeno ou naproxeno, não deve ser tomado até estar descartada a infeção por dengue, de modo a evitar o risco de hemorragia.
Grávidas em alerta
Até 2015 acreditava-se que a doença não trazia complicações. Mas o aumento de casos de microcefalia em bebés cujas mães contraíram o vírus durante a gravidez vem pôr em causa essa ideia.
A microcefalia é uma condição neurológica rara caraterizada por um crescimento menor da cabeça comparativamente com outros bebés da mesma idade e sexo, durante a gestação ou após o nascimento. Crianças com microcefalia geralmente têm problemas de desenvolvimento.
As mulheres grávidas devem adiar as viagens que não sejam essenciais com destino a países afetados com surtos de zika.
Se o parceiro viajar para uma área afetada, recomenda-se a utilização de preservativo ou abstinência sexual até ao final da gravidez. Tais recomendações têm por base a possível transmissão da infeção numa mulher grávida para o feto.
A Direção-Geral da Saúde (DGS) recomenda aos casais que pretendam engravidar que aguardem seis meses após o regresso de áreas consideradas de risco para o vírus Zika, visto que este pode permanecer no sémen durante esse período.
Como prevenir o Zika?
Como não há vacina nem tratamento profilático para a infeção pelo vírus Zika, a solução passa pela prevenção da picada de insetos. As grávidas e as mulheres que estão a pensar engravidar devem adiar as viagens para países com casos confirmados do vírus. Se não puder evitar a viagem, as autoridades de saúde, incluindo a Direção-Geral da Saúde recomendam a todos:
- antes da viagem, procure aconselhamento em Consulta do Viajante, em especial, as mulheres grávidas;
- no destino, siga as recomendações das autoridades locais;
- utilize vestuário adequado para diminuir a exposição corporal à picada (camisas de manga comprida, calças);
- opte preferencialmente por alojamento com ar condicionado;
- tenha especial atenção aos períodos do dia em que os mosquitos do género Aedes picam mais frequentemente (a meio da manhã e desde o entardecer ao pôr-do-sol) e utilize redes mosquiteiras se não se conseguir proteger dos insetos em casa ou no hotel;
- aplique repelentes de insetos com intervalos de três a quatro horas e siga as instruções do fabricante. O DEET é considerado o repelente de insetos mais eficaz e com maior duração de ação (outras alternativas são a icaridina, o IR3535 ou PMD). As crianças devem usar as formulações próprias e conforme o indicado na embalagem;
- se tiver de utilizar protetor solar e repelente, aplique primeiro o protetor solar e depois o repelente de insetos;
- evite a concentração de mosquitos dentro e fora de casa (ou do quarto de hotel) eliminando todos os recipientes com água parada, como vasos de plantas.
O vírus do Nilo Ocidental é um flavivírus da mesma família da febre-amarela e da dengue e é transmitido por mosquitos do género Culex, que se alimentam de aves infetadas. Ao contrário da maioria das infeções deste tipo, em que há uma ou duas espécies de mosquito envolvidas, este pode ser transmitido por mais de 50 tipos.
Como se transmite o vírus do Nilo Ocidental?
O vírus não se transmite de pessoa para pessoa, de animal para pessoa, nem pelo consumo de carne de animais infetados. Em casos raros, a contaminação pode surgir de mãe para filho através do nascimento ou amamentação, de transfusões de sangue e transplante de órgãos.
Embora seja um vírus originário de climas quentes, como África e Ásia tropical ou mediterrânica, desde 1990 as suas características epidemiológicas sofreram alterações, o que tem contribuído para o surgimento de mais surtos noutras zonas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o vírus surgiu em 1999 e desde então tem dado origem a epidemias durante o verão.
Portugal teve dois casos diagnosticados também em 1999, outros dois em 2004 e em 2010 um novo caso, pelo que os especialistas pensam ser possível que o vírus se instale no Sul do nosso país. Os surtos surgem geralmente em função das rotas das aves migratórias (que são o hospedeiro do vírus) e da quantidade de mosquitos existente nos locais de passagem. Pessoas que trabalham ou realizam atividades ao ar livre estão mais expostas a picadas de mosquitos e, consequentemente, a contrair o vírus.
Quais os sintomas da infeção com o vírus do Nilo Ocidental?
Cerca de 80% das pessoas infetadas com o vírus não ficam doentes, e a restante maioria não valorizará os sintomas, pois pensa tratar-se de uma simples gripe. O período de incubação é de dois a 14 dias e inclui manifestações como:
- febre;
- dor de cabeça;
- dores no corpo;
- náuseas e vómitos;
- gânglios linfáticos inchados;
- erupções cutâneas no corpo.
Apesar disso, em menos de um por cento dos casos podem surgir complicações graves (como encefalite ou meningite), principalmente em pessoas com um sistema imunológico enfraquecido ou com doenças crónicas (cancro, diabetes, doenças cardíacas, por exemplo), em bebés muito pequenos e em indivíduos com mais de 60 anos. Estes casos incluem febre alta, dor de cabeça, torcicolo, confusão, coma, tremores, convulsões, dormência e paralisia, que podem durar várias semanas. Cerca de 10% das pessoas com sintomas neurológicos acabam por morrer.
Como prevenir a infeção com vírus do Nilo Ocidental?
Ainda não existe vacina, nem medicação, contra o vírus do Nilo Ocidental, pelo que a solução passa por adotar comportamentos que previnam as picadas de insetos, como:
- usar roupas leves e frescas mas que cubram o corpo;
- aplicar repelentes nas áreas expostas;
- utilizar redes mosquiteiras se o local não tiver ar condicionado (nesse caso, não deve abrir as janelas);
- evitar sair à rua no momento de maior movimentação dos mosquitos (entardecer e amanhecer);
- eliminar locais de propagação de mosquitos (águas paradas, lixo orgânico).
Como tratar a infeção com vírus do Nilo Ocidental?
Às pessoas diagnosticadas é geralmente recomendado descanso, hidratação e medicação para a febre, mas para os casos mais graves pode ser necessário internamento, de modo a fazer reposição intravenosa de líquidos, manejamento das vias aéreas e prevenção de infeções secundárias.
Detetada pela primeira vez na Tanzânia, em 1953, a chicunguya foi buscar o nome a um dos idiomas oficiais do país, a língua maconde, e significa "tornar-se contorcido". Isto porque, dadas as intensas dores articulares e musculares que provoca, os pacientes costumam ter uma aparência curvada. Trata-se de uma infeção transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti, em cidades, e Aedes albopictus, em ambientes rurais ou selvagens.
Até recentemente, os casos estavam restritos a países de climas quentes de África, Ásia Oriental e Índia (quanto mais quente for a temperatura do ambiente, mais curto é o período de incubação), onde a transmissão era principalmente urbana. No entanto, o aumento do número de viagens entre países e intercontinentais facilitou a disseminação do vírus (que tem um período de incubação de quatro a sete dias), e desde 2006 foram relatados casos esporádicos em diversos países europeus.
Como se transmite a chicunguya?
As picadas de mosquito são responsáveis por praticamente todos os casos de febre chicungunya, mas há outras formas de contaminação, como através do transplante de órgãos, do contacto com sangue de pacientes infetados e de mãe para filho durante o parto.
A maioria dos casos não revela complicações de maior, sendo, essencialmente, uma doença limitante pelas prolongadas dores articulares associadas. Mas, nos recém-nascidos, o quadro clínico costuma ser mais grave (a mortalidade em menores de um ano é de 0,4 por cento), e indivíduos com outras doenças e idade superior a 65 anos também têm um índice de mortalidade 50 vezes superior.
Quais os sintomas da chicunguya?
As intensas dores articulares nas primeiras 48 horas, principalmente nas mãos, nos punhos, nos pés e nos tornozelos, são o sintoma mais característico da doença e afetam cerca de 90% dos infetados, mas há outras manifestações na fase inicial:
- febre alta de início súbito (40ºC);
- intensa dor lombar;
- pequenos pontos avermelhados e agrupados na pele, que podem ou não ter algum relevo;
- dor de cabeça;
- dor muscular;
- cansaço;
- diarreia;
- vómitos;
- conjuntivite;
- dor de garganta;
- dor abdominal.
Os sintomas demoram três a sete dias a manifestar-se após a picada no mosquito infetado. Em cerca de 80% dos casos, o paciente entra na chamada fase subaguda, que se caracteriza pela continuidade ou mesmo exacerbação das dores articulares durante semanas. Quando estas se prolongam por mais de três meses, o paciente entra na fase crónica da doença, que pode durar até três anos.
Como prevenir a chicunguya?
Também para esta doença ainda não existe vacina nem medicamentos, pelo que a prevenção volta a ser a única estratégia para evitar o contágio. Tal como para as outras doenças provocadas pela picada de mosquitos, a solução passa por:
- vestir roupa que tape o corpo;
- usar repelentes;
- utilizar redes mosquiteiras;
- eliminar locais de propagação de mosquitos (águas paradas, lixo orgânico).
Como tratar a chicunguya?
Não havendo muito mais que o doente possa fazer, o descanso, a ingestão de 1,5 a dois litros de água por dia para evitar a desidratação e a administração de medicamentos para a febre e as dores são as estratégias possíveis.
À semelhança da febre chicungunya, a dengue também é transmitida por várias espécies de mosquito do género Aedes, principalmente o Aedes aegypti. Em 2024, já foram reportados milhões de casos prováveis de dengue no Brasil. Em Portugal, até ao final de março, ascendia a 27 o número de casos confirmados da doença, todos importados.
O vírus da dengue tem quatro tipos diferentes (DEN-1, 2, 3, e 4), e, uma vez infetado por um deles, o doente fica imunizado para esse sorotipo e adquire imunidade temporária contra os outros três. No entanto, um contágio subsequente por algum tipo diferente do vírus aumenta o risco de complicações graves.
A dengue é endémica em mais de 100 países, principalmente em regiões tropicais de Oceânia, África Oriental, Caraíbas e América. Mas desde a Segunda Guerra Mundial tem-se espalhado globalmente, levando à disseminação de diferentes sorotipos da doença para novas áreas e ao surgimento da dengue causadora da febre hemorrágica.
Esta forma grave da doença foi relatada pela primeira vez em 1953, nas Filipinas, e, na década de 1970, tornou-se uma das principais causas de mortalidade infantil (em contraste com outras infeções, é mais comum em crianças que estão bem nutridas). Elementos do sexo feminino, pessoas com índice de massa corporal elevado e portadores de outras patologias também fazem parte do grupo de risco.
Como se transmite a dengue?
A dengue transmite-se através da picada dos mosquitos do género Aedes infetados com o vírus da dengue.
A doença não se propaga de pessoa para pessoa, à exceção de mãe para filho durante a gravidez, embora esta via seja pouco frequente. Pode, ainda, ocorrer transmissão em transfusões de sangue ou doação de órgãos de indivíduos contaminados, mas estas formas de transmissão são extremamente raras.
O período de incubação do vírus varia entre três e sete dias, podendo prolongar-se até 14 dias.
A incidência da dengue aumentou cerca de 30 vezes nos últimos 50 anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Estima-se que ocorram entre 50 e 100 milhões de infeções todos os anos nos mais de 100 países onde a doença é endémica, o que coloca quase metade da população mundial em risco.
Quais os sintomas da dengue?
Os sintomas de dengue são muito semelhantes àqueles provocados pela febre chicungunya. É, aliás, devido à parecença entre as duas patologias que o diagnóstico se torna tão importante.
Cerca de 80% das pessoas infetadas são assintomáticas ou apresentam sintomas leves que desaparecem ao fim de uma ou duas semanas. Ainda assim, numa pequena parte dos casos, se a doença não for detetada numa fase inicial, pode avançar para estados hemorrágicos, com consequências fatais.
As pessoas com sintomas severos devem receber cuidado médico o mais cedo possível. A probabilidade de a doença agravar é maior em quem já contraiu a infeção anteriormente do que em quem nunca foi infetado.
Por isso, deve procurar o médico se após dois a sete dias de febre elevada de início súbito, dores de cabeça intensas (normalmente localizadas atrás dos olhos), dores musculares e articulares, náuseas e vómitos, e erupções cutâneas, tiver:
- vómitos persistentes;
- dores abdominais intensas;
- dificuldade em respirar;
- hemorragias nasais ou nas gengivas;
- sangue nas fezes;
- cansaço;
- sede excessiva.
Se as manifestações de dengue severa forem detetadas de forma precoce e os doentes receberem cuidados médicos adequados, as taxas de fatalidade associadas a estes casos são inferiores a 1 por cento.
Como prevenir a dengue?
Tratando-se de uma doença potencialmente mortal, e uma vez que os cientistas ainda não conseguiram desenvolver medicamentos específicos para o seu tratamento, a prevenção é fundamental. Assim, deve:
- eliminar os locais onde os mosquitos podem depositar os ovos (como vasos ou pratos com águas paradas dentro e em redor das casas);
- usar repelente;
- vestir roupa que tape os braços e as pernas;
- utilizar redes mosquiteiras e ar condicionado para manter a temperatura amena.
Além disso, atualmente, existem duas vacinas indicadas para a prevenção da dengue.
A Dengvaxia, a vacina mais antiga, está indicada para pessoas com idades entre os 6 e os 45 anos. Esta vacina deve ser administrada apenas em indivíduos que tenham tido uma infeção prévia pelo vírus da dengue.
Há, ainda, uma vacina mais recente, aprovada em dezembro de 2022 — Qdenga —, que apresenta uma maior abrangência em termos de administração, uma vez que está indicada também para pessoas que não tenham infeção prévia pelo vírus da dengue, e com idade igual ou superior a quatro anos.
Como tratar a dengue?
Ingestão de fluidos para evitar a desidratação, descanso e recurso a medicamentos para controlo da dor e da febre (por exemplo, paracetamol) são exemplos de indicações de tratamento. A toma de anti-inflamatórios não esteróides (como o ibuprofeno e a aspirina) deve ser evitada, uma vez que estes potenciam o risco de hemorragias. Regra geral, os sintomas desaparecem ao fim de duas semanas.
Também chamada paludismo, a malária é uma doença infeciosa transmitida geralmente através da picada do mosquito Anopheles. Existem quatro espécies capazes de infetar o ser humano: a grande maioria das mortes é provocada por Plasmodium falciparum e Plasmodium vivax, enquanto as Plasmodium ovalo e Plasmodium malariae geralmente provocam uma forma menos agressiva de malária e que raramente é fatal.
A malária é atualmente endémica nas regiões equatoriais, em certas partes da América, algumas da Ásia e grande parte de África, devido ao clima tropical que se faz sentir nesses locais. Chuva intensa, temperatura elevada constante e humidade elevada são fatores que proporcionam água estagnada em abundância propícia à reprodução contínua de larvas de mosquito.
Houve uma altura em que o vírus estava disseminado pelo continente europeu, nomeadamente em Itália, onde chegou a ser conhecida como febre romana.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2020 tenham ocorrido 241 milhões de casos de malária que provocaram a morte a 627 mil pessoas.
Como se transmite a malária?
Em Portugal, os últimos casos de malária desenvolvidos no país foram diagnosticados em 1959, e desde então a totalidade das ocorrências são casos importados por pessoas que visitaram países tropicais. É provável que as alterações climáticas venham a criar novos habitats para o mosquito vetor de malária em regiões mais frias e de maior altitude, provocando alterações na sua distribuição geográfica e o aumento de surtos epidémicos.
Quais os sintomas da malária?
Na maioria dos casos, os sintomas começam sete a 30 dias após a picada do mosquito e são semelhantes aos da gripe:
- calafrios;
- suores;
- febre alta (primeiro contínua e depois de três em três dias);
- dores de cabeça;
- dores musculares;
- cansaço.
No entanto, algumas situações são graves, e potencialmente mortais, dado que o paciente pode sofrer:
- alteração do estado de consciência ou coma;
- fraqueza significativa, de tal forma que a pessoa não é capaz de caminhar;
- incapacidade de se alimentar;
- mais de dois episódios de convulsões em menos de 24 horas;
- descida significativa da pressão arterial;
- respiração descompensada e acumulação de líquidos no pulmão;
- icterícia;
- insuficiência renal;
- sangue na urina;
- hemorragia espontânea;
- hipoglicemia;
- desequilíbrio do metabolismo com alteração do pH e dos iões no sangue;
- anemia grave.
No caso de infeção por Plasmodium falciparum, também existe 10% de probabilidade de se desenvolver o que se chama de malária cerebral, responsável por cerca de 80% dos casos letais da doença. Além dos sintomas correntes, aparece ligeira rigidez na nuca, perturbações sensoriais, desorientação, sonolência ou excitação, convulsões, vómitos e dores de cabeça, podendo o paciente chegar ao coma.
Qualquer pessoa que apresente sinais de febre ao regressar há menos de um mês de um país onde a malária é endémica deve procurar ajuda médica sem se esquecer de referir a estadia nesse local.
Ter malária não confere imunidade para a vida, sendo possível contrair esta doença várias vezes.
Como tratar a malária?
A malária é tratada com medicação antimalárica. A escolha do fármaco depende do tipo e da gravidade da doença. O tratamento de malária grave envolve medidas de apoio que são mais bem realizadas numa unidade de cuidados intensivos onde se possam vigiar os sintomas e administrar os fármacos por via endovenosa.
Como prevenir a malária?
Os medicamentos usados no tratamento da doença servem também para a prevenção da mesma. No caso dos viajantes, e uma vez que o efeito protetor não começa logo, devem iniciar a medicação antes da chegada e alguns dias após terem deixado a região (seguindo sempre as indicações do médico). O recurso à farmacologia preventiva não é, no entanto, viável para os habitantes das regiões afetadas, não só devido ao preço dos medicamentos, mas também por causa dos efeitos secundários resultantes do seu uso prolongado e à dificuldade em obter antimaláricos fora dos países desenvolvidos.
Desde outubro de 2021, a OMS recomenda a utilização da vacina contra a malária em crianças que vivam em regiões com transmissão elevada de Plasmodium falciparum. A vacina demonstrou reduzir significativamente a malária e a malária grave mortal entre as crianças pequenas.
O uso de repelentes de insetos à base de DEET ou icaridina, a vaporização residual de interiores com inseticida (os mosquitos descansam no interior das casas durante a noite) e o uso de redes mosquiteiras às quais é aplicado também inseticida são outras técnicas de erradicação que têm demonstrado resultados muito positivos em regiões endémicas.
Estima-se que as redes tratadas com inseticida, por exemplo, sejam duas vezes mais eficazes do que as não tratadas e que ofereçam mais 70% de proteção quando comparadas com a ausência de qualquer rede.
Embora o vírus do Nilo, assim como a dengue, a malária ou o chicungunya, não se transmitam de pessoa para pessoa, mas através da picada dos insetos infetados, a verdade é que possuem manifestações semelhantes às da gripe comum (como febre, dores de cabeça e musculares, entre outros). Isto leva a que nem sempre os doentes recorram a cuidados médicos aquando dos primeiros sintomas. Tal contribui não só para o agravamento dos mesmos, mas também para a proliferação das doenças, que podem ter consequências fatais se não forem tratadas a tempo.
Consideradas patologias tropicais, são cada vez mais identificados casos fora dos locais onde habitualmente se manifestavam, o que se explica dada a maior facilidade e rapidez com que as pessoas viajam de país para país, e devido às alterações climáticas, que proporcionam a migração dos mosquitos portadores destes vírus.
A dengue, por exemplo, foi detetada em cem países, nomeadamente em Portugal, Estados Unidos e China. Só em 2024 já foram reportados milhões de casos prováveis de dengue no Brasil. Em Portugal, até ao final de março, ascendia a 27 o número de casos confirmados da doença, todos importados.
Já a malária voltou a surgir na Grécia, onde o último caso tinha sido identificado há cerca de 40 anos.
A Organização Mundial da Saúde tem reforçado o pedido para que os países renovem o compromisso para aumentar o controlo de insetos e também para melhorar o acesso à água potável, ao saneamento básico e aos serviços de higiene.
Diferenças entre zika, dengue e chikungunya
Transmitidas por picadas de mosquitos, estas três doenças podem ser confundidas. Alguns sintomas permitem distingui-las:
- a dengue apresenta habitualmente febre mais elevada e dores musculares mais severas (hemorragias são um sinal de alarme);
- o chikungunya manifesta-se por febre mais alta e intensas dores nas articulações (principalmente mãos, joelhos e costas), que podem ser incapacitantes, obrigando o doente a curvar-se e impedindo-o de andar ou conseguir abrir uma garrafa de água;
- a infeção pelo vírus Zika não tem sintomas tão específicos. A maior parte dos doentes sofre de lesões na pele e alguns de conjuntivite.