Psoríase: causa e tratamento
A psoríase pode causar baixa autoestima e não tem cura. Mas os tratamentos têm melhorado muito nos últimos anos, e existem hoje opções mais eficazes a aliviar os sintomas e a deixar a pele mais macia.

Manchas vermelhas de onde se soltam flocos de pele são marcas da psoríase. E as marcas no corpo, dos pés à cabeça, têm também impacto emocional. Decotes menos pronunciados, mangas compridas, calças, chapéus ou sapatos fechados tornam-se abrigos da pele, que se quer longe de olhares interrogativos. A doença não é contagiosa, mas quem dela sofre diz-se, muitas vezes, discriminado. Baixa autoestima, ansiedade e depressão fazem parte de uma lista de consequências psicológicas, que variam consoante o indivíduo.
Não existe cura para esta doença inflamatória que afeta 1,5% a 3% da população europeia e, em Portugal, 150 mil a 200 mil indivíduos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a exclusão social, a discriminação e o estigma são psicologicamente devastadores para os indivíduos que sofrem de psoríase e para as suas famílias. E não é a psoríase que causa a exclusão, mas a reação da sociedade à doença, e isso pode ser mudado.
O diagnóstico é normalmente feito através da observação clínica da pele, do couro cabeludo e das unhas por um dermatologista. Por vezes, são colhidas amostras de pele, para observação ao microscópio, de modo a determinar o tipo de psoríase.
Manter a doença sob controlo depende de agir perante os primeiros sinais, com uma ida ao médico e depois o respeito pelo tratamento. Que não cura, mas já traz grande alívio.
Novas terapêuticas, mais seletivas, rápidas, eficientes e seguras, permitem controlar melhor cada caso de psoríase. Não é uma cura, pois existe uma componente genética impossível de controlar. Mas representa o fim (provisório), senão de todas, da maioria das lesões.
Psoríase tem causas desconhecidas
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Para continuar, deve entrar no site ou criar uma conta .A rápida multiplicação das células da pele, em dias e não em semanas, leva às características lesões da psoríase. O mecanismo pelo qual as células cutâneas se multiplicam rapidamente tem que ver com a ativação persistente do sistema imunitário. Ou seja, o próprio sistema imunitário emite erradamente sinais que provocam a hiperproliferação das células cutâneas.
As causas são desconhecidas, mas muito provavelmente estão associadas a uma componente genética, exacerbada por fatores como stresse, consumo de álcool, de tabaco ou de certos medicamentos, e algumas infeções bacterianas ou pelo VIH. Mas não há certezas. O que se sabe é que o nível de gravidade e os locais do corpo atingidos são muito variados.
O mesmo indivíduo pode apresentar grandes alterações no número, no tamanho e na severidade das manchas e da descamação ao longo da vida. Pode até alternar períodos de remissão com outros em que a doença se manifesta de modo mais intenso. Os sintomas, de resto, tendem a ser menos severos no verão, já que os raios ultravioletas melhoram o aspeto da pele.
Em 1,3% a 34,7% dos casos, a psoríase é acompanhada de artrite inflamatória crónica. Quando as articulações também são afetadas, fala-se de artrite psoriática, que exige a intervenção não só de um dermatologista, como também de um reumatologista.
Descurar a psoríase pode ter consequências graves
A maioria dos doentes – 80% a 90% – sofre de psoríase em placas, também conhecida como psoríase vulgar. Pode despontar em qualquer parte do corpo, embora cotovelos, joelhos e nuca sejam os locais que a doença prefere, salpicados pelas conhecidas manchas vermelhas cobertas de escamas acinzentadas, que se desprendem como flocos. O mais frequente é as manchas não virem sós, e fazerem-se acompanhar de comichão.
Por vezes, as lesões aparecem nas axilas, nas virilhas, no umbigo e noutras “pregas” do corpo, locais húmidos, que, no geral, impedem a descamação. Ainda assim, podem surgir feridas, que causam grande incómodo e têm significativo impacto na qualidade de vida. O mesmo desconforto, acompanhado de dor, se faz presente quando as lesões escolhem as mãos e as plantas dos pés. Consoante a extensão e o local das lesões, a psoríase em placas recebe as designações de ligeira, moderada ou severa. O primeiro caso é, de longe, o mais frequente. Apenas três em dez doentes sofrem de formas moderadas a severas.
Mais rara, a psoríase gutata responde por 10% dos casos. Afetando sobretudo crianças e adolescentes, pode surgir uma a duas semanas após uma infeção bacteriana na garganta, mais exatamente por Streptococcus. Manifesta-se através de minúsculas, mas numerosas, manchas vermelhas no tronco, que tendem a desaparecer por si, ainda que, por vezes, a situação evolua para psoríase em placas.
Ainda mais rara, a psoríase pustulosa, que afeta 5% dos doentes, revela-se por vesículas (bolhas) de pus. No quadro mais grave deste tipo de psoríase, as bolhas surgem subitamente por todo o corpo, em conjunto com febre, dores nos músculos e nas articulações, e mal-estar geral. Se não for tratada de imediato, com internamento hospitalar, pode ocorrer a falência dos órgãos e a morte.
Também rara e grave, a psoríase eritrodérmica atinge 3% dos doentes. Bolhas e descamação espalham-se por todo o corpo, acompanhadas de febre, dores nas articulações, inchaço dos gânglios linfáticos e mal-estar geral. Falência do coração e dos rins, perda de proteínas, líquidos e eletrólitos (sódio, potássio e cloretos) e elevado risco de septicemia compõem um contexto de elevada gravidade, que só com hospitalização pode ser eventualmente revertido.
3 estratégias para combater a psoríase
Os tratamentos aliviam os sintomas e contribuem para eliminar as características manchas com descamação.
Medicamentos tópicos
A primeira linha de ataque à psoríase consiste na aplicação de cremes, pomadas, loções ou espumas sobre a pele, que, em geral, são eficazes, seguros e bem tolerados. Embora se destinem aos casos ligeiros a moderados, também podem ser um complemento na abordagem a situações mais graves. Ainda assim, como exigem disciplina na aplicação e envolvem um tratamento prolongado, a adesão dos doentes tende a ser baixa.
O tratamento tópico é baseado em dois pilares: uso de emolientes – que hidratam a pele e diminuem a comichão e a descamação –, e de medicamentos. Ao nível dos medicamentos, os corticosteroides tópicos são eficazes a reverter lesões. Já os análogos da vitamina D (como o calcipotriol, o calcitriol e o tacalcitol) ajudam a controlar a descamação.
Fototerapia
Os casos moderados a severos, que não respondam ao tratamento tópico, podem ser abordados com fototerapia. A exposição a fontes artificiais de radiação ultravioleta destrói o ADN das células da pele que provocam a doença. Mas também inibe as células do sistema imunitário responsáveis pela reação inflamatória. No geral, são necessárias duas a três sessões semanais de 15 a 20 minutos, durante seis a oito semanas.
Esta terapia recorre a radiação UVB e UVA, sendo que a última penetra mais profundamente na pele. A escolha depende das características e da gravidade da doença. Os raios UVB são aplicados em placas de pele mais finas. Já os UVA são reservados para formas que não respondam ao tratamento com UVB.
Comprimidos ou injetáveis
Nas formas mais graves ou resistentes aos tratamentos, avança-se para medicamentos sistémicos, em comprimidos ou injetáveis. Todos eles são imunossupressores ou imunomoduladores, isto é, diminuem ou aumentam a resposta do sistema imunitário, pelo que têm vários efeitos adversos.
Há fármacos biológicos, sintetizados a partir de organismos vivos, como plantas e células humanas ou de animais, e não-biológicos, quimicamente obtidos. Os biológicos, a maioria dos quais aplicados por injeção subcutânea, são usados quando os outros não resolvem, e tiveram grandes melhorias nos últimos anos. Mas são proteínas, pelo que podem não ser reconhecidos pelo organismo, o qual desenvolve uma resposta imunológica que lhes retira eficácia.
Conselhos para viver com a psoríase
Se não há cura para a psoríase, preveni-la também ainda não está ao nosso alcance. Mas evitar gatilhos como a ansiedade e o stresse, o consumo de álcool e tabaco e o recurso a certos medicamentos podem diminuir as crises e a sua gravidade.
Manter a pele hidratada contribui para reduzir a comichão e pode aumentar a eficácia dos restantes tratamentos. O dermatologista aconselhará o produto mais adequado a cada caso.
Roupas largas e confortáveis, de algodão, e não de fibras sintéticas, são preferíveis, pois reduzem o risco de alergias de contacto.