Cuidar das plantas com a Tripeirinha
É uma referência no mundo da jardinagem na internet e vive com 200 plantas no apartamento. Aceitou o desafio de responder às questões dos seguidores da DECO PROTeste no Instagram, como quais as espécies mais adequadas para iniciantes e que flores resistem no quintal o ano inteiro.

Quando Sofia Manuel se mudou para o Fundão, em 2016, percebeu que não bastava ter uma casa mobilada. Fazia falta uma ou mais plantas. No supermercado, comprou uma aloé vera, "a primeira plantinha da sua vida adulta", como descreve. Com uma experiência tão feliz, aos poucos, foi adquirindo outras. Hoje, vive com mais de 200 plantas espalhadas por todas as divisões do apartamento.
Paixão por plantas e jardinagem torna-se atividade a tempo inteiro
Esta conversa só podia acontecer ao ar livre e num jardim. E assim foi em agosto no Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, a quem a DECO PROTeste agradece a cedência do espaço, onde a equipa foi recebida. A Tripeirinha é um fenómeno de popularidade online nos cuidados com plantas. Licenciada em engenharia civil, mudou de carreira e apostou na programação informática. Em 2022, a paixão pelas plantas e pela jardinagem transformou-se numa atividade a tempo inteiro.
No início, Sofia Manuel não sabia como cuidar delas. Algumas acabaram por morrer, mas, com o tempo, foi aprendendo o que era preciso para as manter saudáveis. No fim de 2019, fez o primeiro post na conta de Instagram "atripeirinha", e começou a partilhar dicas sobre jardinagem. Hoje, tem mais de 164 mil seguidores nesta rede social. Os vídeos no YouTube conseguiram mais de 844 mil visualizações. "Vamos acabar com as orquídeas descartáveis, por amor de Deus", "Mosquitos nas plantas" ou "Como escolher a planta perfeita no horto" são alguns temas que descomplica.
"Tenho as ideias para os conteúdos a fazer exercício ou enquanto preparo a minha espuminha [de leite] para o pequeno-almoço", conta a Tripeirinha, como é conhecida, explicando que a criatividade floresce quando está a desempenhar outras tarefas do quotidiano "que não propriamente a trabalhar". E acrescenta: "Faço questão de filmar e editar os meus vídeos. Gosto de ter esse controlo e de me manter fiel."
Com o sucesso no mundo digital, decidiu, há um ano e meio, dedicar-se a tempo inteiro ao mundo das plantas, deixando o emprego na área da informática. Além do trabalho nas redes sociais e das receitas de publicidade que daí advêm, tornou-se designer de jardins, depois de ter feito um curso de especialização. "Muitas vezes, o cliente chega à minha beira e diz-me que já escolheu o que quer, e tenho de explicar que não é possível, porque não temos a luz certa no quintal." E acrescenta: "É importante ter em conta que, se fizermos hoje um jardim, ele estará no seu esplendor daqui a cinco anos."
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Infância com as plantas da avó
Sofia Manuel, hoje com 33 anos, cresceu no Porto. Os pais não tinham sequer um vaso em casa, mas, em contraste, a avó tinha "plantas por todo o lado". "Hoje, consigo perceber que algumas estavam em locais escuros, que não eram apropriados", diz. "A minha avó costumava pôr água no pratinho das flores, achando que, assim, elas podiam beber quando quisessem, o que, neste momento, posso dizer que está errado."
Durante anos, foi este o contacto que manteve com o mundo da botânica. Depois de se ter licenciado em engenharia civil, tornou-se bolseira de investigação – sempre gostou de ensinar e, na altura, acreditou que seria uma forma de chegar a professora universitária na área da análise matemática. Quando constatou que demoraria anos a alcançar esse objetivo, apostou no mercado de trabalho. "Fui para Moçambique e, aí, percebi que, se calhar, preferia uma ocupação que me desse mobilidade, estando mais agarrada a um computador", recorda, contando que, na época, resolveu inscrever-se num curso de programação informática.
Durante quatro anos, dedicou-se a essa área, desenvolvendo software. "Depois de horas diante de um ecrã preto, sentia que precisava do contacto com a natureza. Ao fim do dia, as plantinhas eram o meu escape", afirma. Aos poucos, foi começando a partilhar, no Instagram, conteúdos sobre o tema – em dezembro de 2019, quando criou uma conta nesta rede social, tinha mais de cem espécimes no apartamento onde vivia. Decidiu criar um nome para os seguidores: "Sempre tratei toda a gente por mano e mana e, por isso, escolhi plantmana." Uma designação que utiliza em todos os posts, vídeos e stories.
Erros mais comuns com plantas em casa
"Nos primeiros tempos, matei algumas plantinhas", assume, dizendo que terão sido mais de dez. "É normal. As nossas casas são pequenas. Têm pouca luz, e as plantas precisam de fazer fotossíntese para viverem."
Desde que o número de internautas que a acompanha no Instagram disparou, a Tripeirinha já recebeu milhares de mensagens nas redes sociais, com pedidos de recomendações para recuperar plantas que parecem estar a morrer.
Regar as plantas em excesso
Um dos erros mais comuns é "dar-lhes amor a mais, ou seja, regá-las em excesso". "As pessoas acham que, pondo água, a planta floresce saudável", relata a influencer. Mas, em excesso, acrescenta, o substrato fica enlameado, impedindo que o oxigénio chegue às raízes. "Nessa altura, a planta fica com aspeto seco, e o que é que muita gente faz? Rega mais, prejudicando ainda mais a recuperação."
Só se deve deitar água num vaso quando o substrato está seco. "O ideal é pôr o dedo. Se estiver húmido, devemos esperar. Estando seco, regamos", recomenda a Tripeirinha.
Escolher um local sem luz para a planta
Outro lapso frequente tem que ver com a luminosidade. "Muitas vezes, escolhemos o canto da sala mais tristonho, longe da janela, porque achamos que é preciso dar vida a esse espaço", observa a Tripeirinha, explicando que, nesses casos, as plantas não conseguem fazer fotossíntese, acabando por adoecer. "Ainda que algumas consigam sobreviver em locais mais escuros, devemos tê-las perto das janelas."
Há também quem opte por colocar vasos em casas de banho interiores sem luz. De início, o crescimento é rápido. Os problemas surgem depois, atesta Sofia Manuel. "As plantas têm um mecanismo que faz com que se estiquem para tentarem ultrapassar aquilo que acreditam ser outra planta que lhes está a fazer sombra. Não sabem que não é assim. Acabam por gastar muita energia e morrer."
A japoneira precisa de muita água?
Muitos leitores da DECO PROTeste partilharam dúvidas e questões sobre a japoneira, também conhecida por cameleira. Precisa de ser regada com frequência? A Tripeirinha esclarece que esta planta de exterior só deve levar mais água quando está seca. "No verão, se estiver muito calor, pode ter de se regar de dois em dois dias. No Norte, por exemplo, onde de manhã costuma estar tudo molhadinho e, durante o dia, a temperatura sobe, pode não ser preciso." E conta: "Tenho uma no quintal dos meus avós, com uns 40 anos, que vive apenas da chuva e do orvalho."
Plantas recomendadas para iniciantes
Por serem fáceis de cuidar, a Tripeirinha aconselha a espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata), a costela-de-adão (Monstera deliciosa) e a pothos (Epipremnum aureum).
"Vou ainda deixar como sugestão a orquídea (Phalaenopsis), que muitas pessoas pensam ser difícil de manter, e não é verdade", sublinha a Tripeirinha, explicando que na natureza estas plantas vivem em cima das árvores. Por isso, devem ser mantidas em vasos transparentes, como habitualmente são comercializadas, para que as raízes façam a fotossíntese.
"Outro erro comum é substituir o substrato de pinheiro. Há também quem tente colocar as raízes aéreas dentro do vaso, o que é prejudicial", acrescenta Sofia Manuel. E adianta que as orquídeas precisam de muita luz, sem que isso signifique exposição solar direta.
Que plantas aguentam ficar no quintal, no inverno e no verão?
Outro leitor quis saber que plantas aguentam a permanência no quintal, no inverno e no verão. "Sem informação adicional, não consigo responder", lamenta a Tripeirinha. "Para isso, teria de saber como é o espaço, quantas horas de sol tem, qual a localização, se é ou não húmido." E acrescenta: "No mesmo quintal, podemos ter plantas que não podem apanhar sol diretamente e outras que precisam dele mais de oito horas por dia."
Duas horas para regar mais de 200 plantas
Ter mais de 200 plantas num apartamento não implica gastar tempo com elas todos os dias, garante a influencer. "No verão, com muito calor, posso ter de regá-las três vezes por semana", garante. Mas, se tiver de cuidar de todas no mesmo dia, pode ser obrigada a despender de duas horas. "É uma maneira de me obrigar a parar." E aconselha: "Ponham um podcast, aquela música de que gostam, e aproveitem esse tempo." Além de regar, a Tripeirinha diz que é preciso limpar, de vez quando, o pó às folhas. "Também podemos levá-las para a casa de banho e dar-lhes uma chuveirada."
Quando faz posts sobre as plantas no quarto, costuma receber dezenas de perguntas dos seguidores. "É verdade que produzem dióxido de carbono à noite e consomem oxigénio, mas as quantidades são mínimas", esclarece. Tal como sublinha, o processo é compensado durante o dia, quando a troca de gases é efetuada de forma contrária.
Há também quem lhe envie mensagens para saber se esta paixão implica gastar muito dinheiro. A resposta é negativa, e Sofia partilha algumas dicas. "Tenho amigos com quem troco plantinhas. Se escolhermos as mais comuns, conseguimos bons preços. Durante a pandemia, a Ficus Lyrata, que parece uma couve, chegou a ser vendida por 50 euros, o que não é uma opção para quem quer poupar. Falando, por exemplo, de orquídeas, há hortos que as vendem muito baratas, se optarmos pelas que não têm flor." Outro conselho: "Se não tiverem experiência, não comprem mais de cinco plantinhas, e percebam como se comportam. Há quem ache que, se, ao fim de um mês, estiver tudo bem, pode adquirir mais, mas tudo o que é mau demora a aparecer."
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