Escândalo Volkswagen: consumidores exigem solução

Se tem um modelo a diesel, preencha os dados do seu automóvel para garantir que não é prejudicado pela solução da Volkswagen. Acompanhamos os desenvolvimentos desta crise.
Enviámos uma carta ao Ministério da Economia. Alertámos para os prejuízos económicos e ambientais causados aos consumidores, por uma prática comercial desleal da Volkswagen. É preciso garantir que os consumidores são compensados.
A Volkswagen colocou no ECU ("Engine Control Unit" ou unidade de controlo do motor) alegadamente dos modelos equipados com o motor EA 189 um software – o defeat device – que deteta se o veículo está a ser alvo de uma avaliação das emissões de gases poluentes. Analisando a posição do volante, a velocidade e a atividade do motor, este programa utiliza um algoritmo para alterar o funcionamento do motor, falseando o resultado e fazendo com que o modelo pareça menos contaminante do que realmente é.
Estão em causa automóveis da Volkswagen fabricados entre 2009 e 2015. Também a Audi, a Seat e a Škoda foram afetadas por este escândalo. São veículos equipados com motores diesel, que cumprem a norma Euro 5, relativa às emissões. Os veículos homologados com a norma Euro 6, em princípio, não serão afetados.
Números da mentira
“Estou chocado com os acontecimentos dos últimos dias. Estou chocado que uma má conduta em tal escala seja possível no Grupo Volkswagen”. É com estas palavras que se inicia o comunicado em que Martin Winterkorn, o líder do Grupo Volkswagen, aceita “a responsabilidade pelas irregularidades que foram encontradas nos motores a diesel” e anuncia o pedido de demissão do cargo de CEO do grupo. Winterkorn é a primeira vítima do escândalo de falseamento de resultados ambientais que abalou a companhia alemã e promete não parar por aqui.
O caso do acaso
O escândalo Volkswagen rebentou recentemente, mas a investigação ao falseamento dos resultados dos testes é mais antiga. Remonta a maio de 2014, quando uma equipa de investigadores ligados ao International Council on Clean Transportation – que se dedica a questões com transportes amigos do ambiente – tentou usar os modelos da Volkswagen para provar que os carros movidos a gasóleo podiam ser pouco poluentes.
O problema foi a discrepância encontrada entre os resultados dos testes em laboratório e os realizados em estrada, onde os modelos alemães registavam emissões poluentes até 40 vezes mais do que o máximo permitido por lei. A EPA (Environmental Protection Agency) já tinha alertado a Volkswagen para estas discrepâncias, mas apenas agora a marca alemã admitiu a fraude.
Em comunicado, a VW afirma já ter disponibilizado um total de 6,5 mil milhões de dólares para fazer face a este escândalo. São cerca de 11 milhões os modelos que têm este softwareinstalado em todo o mundo. A VW prometeu recolhê-los às oficinas para corrigir o problema.
Agora todos os olhos estão sobre a Volkswagen, mas o BEUC, Organização Europeia dos Consumidores, da qual a DECO faz parte, já há algum tempo suspeitava de manipulação de dados das marcas. Há um ano, os nossos colegas italianos da Altroconsumo demonstraram que o Volkswagen Golf 1.6 TDI Bluemotion consumia 5,8 litros por cada 100 quilómetros, em vez dos 3,8 litros que anunciava o fabricante. Para medir o consumo de um automóvel o que se faz é medir as emissões poluentes (ambos estão relacionados).
Mas não é só a Volkswagen que induz em erro o consumidor. Há vários anos que a DECO realiza os seus testes independentemente e não se apoia apenas nos dados das marcas para as avaliações. Estes mesmos testes a automóveis demonstram, de forma consistente, que o consumo real é muito superior aos números oficiais anunciados pelas marcas. Na verdade, os modelos consomem mais 18 a 50% de combustível do que declaram.
Tal parece demonstrar que os construtores exploram as falhas nos procedimentos de teste para enganar o consumidor, o que, na opinião do BEUC, torna obsoleto o atual protocolo (NEDC) e obriga à imediata introdução do novo procedimento de testes (WLTP), que deverá estar operacional em 2017. Mas não é tudo.
Monique Goyens, diretora-geral do BEUC, exigiu em comunicado uma entidade independente para supervisionar os testes de homologação, bem como uma investigação da Comissão Europeia ao uso destes defeat devices, para garantir que nenhum outro construtor europeu utiliza este tipo de fraude. Ao mesmo tempo, considera “essencial que a UE trabalhe no desenvolvimento de um programa de testes em estrada, para dispensar os testes em laboratório. Os programas de teste da UE estão há muito obsoletos e os consumidores desesperam por um sistema melhor”.