Autoconsumo fotovoltaico: danos invisíveis reduzem o desempenho dos sistemas

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Os painéis fotovoltaicos podem gerar poupanças anuais até € 85 e tem um período de retorno do investimento curto. Mas os danos invisíveis, devido às condições de armazenamento e de transporte dos sistemas, deixaram os nossos especialistas em alerta.

Mais de 1300 portugueses já aderiram, desde março, a sistemas de autoconsumo fotovoltaico, com potências entre 200 e 1500 W, de acordo com os dados da Direção-Geral de Energia e Geologia. Com a entrada em vigor da nova legislação, o comprador está sujeito a uma mera comunicação prévia na plataforma digital (SERUP), o que veio simplificar em muito o processo de adesão a este tipo de sistema energético.

Para avaliar estes sistemas, rumámos ao laboratório com 15 modelos adquiridos de forma anónima e compostos por um painel de 200 a 250W, um micro-inversor, estruturas e respetivos manuais de instalação. Divulgaremos os resultados em breve.

Para já, achamos importante deixar um aviso: o teste ao impacto que as condições de armazenamento e de transporte dos sistemas têm nos painéis deixou os nossos especialistas em alerta máximo. Mesmo os painéis entregues em boas condições de acondicionamento ou sem problemas visíveis revelaram danos, após terem sido submetidos a testes de electroluminescência. 
Se vai comprar um destes sistemas nos próximos meses, recomendamos muita atenção: pode estar a comprar um sistema danificado que a olho nu parece intocado. As células fotovoltaicas são extremamente sensíveis e fáceis de danificar. Mesmo que não visíveis, estes defeitos vão manifestar-se na fatura de eletricidade: o painel fotovoltaico terá uma taxa de conversão energética menor do que a esperada, ou seja, irá poupar menos dinheiro.
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2 Comentários

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Boa tarde,
Antes de mais gostava de felicitar o estudo realizado para testar os kits de autoconsumo, pois é uma forma de informar os consumidores sobre o que está a ser comercializado e alguns cuidados a ter na altura de escolher.

No entanto, considero que o estudo poderia ter identificado as marcas/distribuidores dos kits para que efectivamente se pudesse ter a informação sobre os vários concorrentes, uma vez que qualquer um pode comprar o painel de marca X, estrutura de marca Y, inversor de marca Z e fazer um kit para o vender. Ou seja, ter apenas a informação sobre o equipamento que estava incluído no kit, não permite ao consumidor saber quais os comercializadores que se distinguem dos outros, por exemplo ao nível do embalamento ou dos manuais que são "detalhes" mais importantes do que o material em si, visto que esse pode ser adquirido por qualquer um e terá um desempenho semelhante independentemente de quem o venda. Ou seja, a escolha dos equipamentos é importante (pois a qualidade permite uma maior rentabilidade do sistema e sua longevidade) mas é tão ou mais importante o "serviço" prestado pelo comercializador do kit, pois é essencialmente neste ponto que haverá a maior diferença entre todos os "players" de mercado.

Continua a assistir-se a um esmagamento dos preços de venda ao consumidor final por diversas empresas oportunistas, o que faz adivinhar que muitas delas não estarão cá daqui a 1 ou 2 anos, pelo que o cliente ficará com um "problema" nas mãos no caso do seu kit ter alguma avaria. Esta situação poderia ter sido também abordada no estudo, com uma amostra mais ampla de comercializadores (mesmo que de forma anónima) e analisar as diferenças de preços praticadas.

Concordo plenamente com a sugestão do estudo em que fosse obrigatória a certificação dos instaladores, pois isto traria mais ordem à "desordem" que se assiste em que qualquer um instala estes kits sem conhecimentos adequados. Relativamente ao eventual aumento do prazo de garantia das instalações, o problema é que o consumidor final português não está preparado para pagar um valor superior para ter esse tipo de garantias e é impossível a um instalador dar garantias acima do valor legal com aquilo que cobra actualmente para a instalação de um kit de autoconsumo. Em alguns casos, se este tiver que se descolar posteriormente ao cliente para trocar um equipamento ou afinar algum pormenor já está a perder dinheiro.

Embora tenham colocado no estudo o preço dos kits com instalação, parece-me que não usufruíram deste serviço (nem o avaliaram). Talvez fosse importante, num estudo futuro, adquirirem o sistema chave-na-mão e avaliar também a qualidade da instalação para além dos equipamentos aplicados, pois este será o factor diferenciador e poderá explicar porque 1 cobra por ex. 150 EUR e outro cobra por ex. 250 EUR para instalar a mesma coisa. Se calhar o que cobra mais tem maiores cuidados na colocação dos equipamentos, aplicação de elementos de protecção eléctrica ou tubos para proteger os cabos de agressões ambientais, etc.

Por fim, queria abordar o tema dos "danos invisíveis". Embora consiga perceber a razão dos testes, a forma como é apresentado no estudo pode alarmar demasiado o consumidor e como este não tem possibilidade de fazer um teste de luminescência ao painel, acaba por ser contraproducente. É preciso salientar alguns pontos. Em primeiro lugar os micro-cracks como são denominados estes danos invisíveis, são cada vez mais comuns e na grande maioria dos casos não prejudicam de forma relevante o funcionamento ou longevidade dos painéis. Este fenómeno acontece cada vez mais, pois as células fotovoltaicas têm uma espessura cada vez mais reduzida o que as torna mais susceptíveis a "micro-rachar". Este tipo de "defeito" ocorre, como bem referem, por exemplo, devido ao transporte e/ou eventual manuseamento errado aquando da instalação/armazenamento do equipamento, mas como também é sabido a grande maioria dos painéis vendidos em Portugal (e no mundo) são de origem asiática, ou seja, por muito cuidado que possa haver na fábrica, o transporte é muito longo e ocorrerão estes problemas independentemente do fabricante ou modelo de painel. Obviamente, os melhores fabricantes e grandes distribuidores onde o controlo de qualidade seja superior, fazem uma triagem muito mais apertada para minimizar este tipo de ocorrências e principalmente excluir os defeitos realmente graves (os visíveis). Portanto, este tipo de "defeito" será encontrado na grande maioria dos painéis fotovoltaicos comercializados neste momento e não haverá um único comercializador que possa garantir que os módulos que vende estão isentos desta situação pois, entre outros factores, ele não controla toda a cadeia de logística até receber os seus módulos, nem controla a jusante. E a questão do manuseamento de quem instala também é muito importante para reduzir os riscos. Dito isto, os painéis fotovoltaicos de qualidade são equipamentos robustos e estão preparados para suportar variadíssimos esforços mecânicos, bem como resistir a condições atmosféricas mais adversas. Outro caso diferente é quando os micro-cracks já não são "micro" e acabam por fissurar as células de uma ponta à outra, ou existirem em grande número, colocando o funcionamento adequado da(s) célula(s) em risco. Aí sim, poderão ocorrer perdas na produção e a longevidade do painel pode ficar reduzida. Mas é nestes casos que a garantia do fabricante poderá e deverá ser accionada. A não ser nos casos em que existam danos visíveis (e o cliente exija a substituição imediata do equipamento como é seu direito), a minha sugestão é que o cliente monitorize a produção do seu sistema de autoconsumo para obter uma informação (ainda que aproximada) do seu desempenho, pois dessa forma poderá detectar precocemente eventuais problemas, seja no painel, ou em algum dos outros componentes.

Concluindo este extenso comentário, o estudo foi positivo mas poderia ter ido mais longe em alguns aspectos, bem como explicar melhor quais as falhas detectadas (ex. embalamento, manuais, etc.) para que todos pudéssemos aprender com isso e talvez não se ter alarmado tanto o consumidor relativamente a uma situação (micro-cracks) que não será evitável na maioria das situações. Espero que possam realizar mais análises no futuro para tentar credibilizar este mercado e separar as empresas que se preocupam em servir bem o cliente das que apenas querem vender e desaparecer em seguida.

12/10/2015

Bom dia, caro André Santos,

mais uma vez agradecemos o acompanhamento e a atenção que tem demonstrado a este tópico, bem como a qualidade e a pertinência dos seus comentários.

Vamos tentar responder às questões levantadas, que nos mereceram a maior consideraçãom, embora alguns possam não ser possíveis de responder de forma imediata.

No que respeita à identificação dos distribuidores, tem razão quando afirma que o mesmo conjunto pode ser encontrado em mais que um fornecedor, com diferenças no que respeita à qualidade do embalamento e das instruções que acompanham o conjunto. No entanto, devido à ainda grande volatilidade do mercado, reparámos que, ao iniciarmos o estudo o distribuidor A possuia a solução X, mas quando terminámos o estudo, o mesmo distribuidor A já estava com a solução Y, o que iria anular a vantagem da identificação do mesmo.

A certificação dos instaladores e o aumento dos prazos de garantia, no nosso entender será a forma de proteger o consumidor e aumentar a sua confiança nestas tecnologias e produtos. O fabricante dos painéis e alguns inversores já fornecem garantias de produto da ordem dos 10 a 15 anos e garantias de produção durante 25 anos. No entanto, muitas das marcas à venda no nosso mercado não têm representação oficial nem serviço pós-venda, sendo colocadas no mercado por distribuidores que podem mudar de marca a qualquer momento, o que faz com que, se um problema for detetado após os 2 anos de garantia da instalação, o consumidor tenha muita dificuldade em fazer valer os seus direitos.

Se o prazo de garantia da instalação fosse alargado, os próprios profissionais começariam a regular o mercado, optando por marcas que lhe proporcionassem melhores garantias de qualidade e continuidade, em detrimento das mais baratas e que não ofereçam a mesma qualidade ou serviço pós-venda.

Acreditamos que, à semelhança de outros mercados europeus, o custo do produto tem margem para baixar e que o consumidor estará preparado para pagar o preço justo pela instalação, desde que justificado.

Quanto aos danos invisíveis, não é nossa intenção alarmar o consumidor, mas sim chamar a atenção para algo que ele não tem forma de perceber que existe e o próprio instalador não sabe o estado em que o painel lhe chega para ser instalado. Este assunto vem apenas reforçar a necessidade de escolher instaladores de confiança e justificar a nossa reivindicação de prazos de garantia mais alargados.

Ao inciarmos este projeto lançámos um inquérito aos consumidores nacionais e uma das principais barreiras à penetração das energias renováveis junto dos consumidores domésticos, a par do preço de aquisição, prendia-se com a falta de conhecimento e desconfiança em relação a estas tecnologias.

A formação/certificação dos instaladores, aumento dos prazos de garantia e melhoria generalizada de toda a cadeia logística do sector irá certamente ajudar a desmistificar o autoconsumo fotovoltaico doméstico.

Como em todas as atividades, existem bons e maus profissionais e pretendemos que os consumidores estejam informados para poderem distingui-los.


Mais uma vez agradecemos pela sua análise aprofundada e pelo apoio que tem prestado no esclarecimento das dúvidas que têm surgido neste tópico que tem sido dos mais debatidos.


Com os melhores cumprimentos da equipa do CLEAR Portugal

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