Análise

Fundos chineses ganham 20%

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China lidera os mercados financeiros

Publicado em: 07 outubro 2024
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China lidera os mercados financeiros

Setembro foi positivo graças ao bom comportamento dos mercados. A China destacou-se e serviu de catalisador para outras categorias de investimento.

O corte de 0,5% da taxa diretora por parte da Reserva Federal norte-americana acabou por ser bem recebido pelos investidores. Apesar de ter surpreendido um pouco pela dimensão não foi visto como uma reação da Fed a uma recessão económica iminente.

No entanto, foram as decisões de Pequim que mais animaram as bolsas. Depois de meses de medidas graduais, a China, finalmente, parece determinada em estimular a sua economia. Caso contrário, a meta oficial de crescimento do PIB em torno de 5% este ano poderá estar em causa. O banco central anunciou o corte de várias taxas de juro de referência, a diminuição das reservas exigidas aos bancos e a injeção de liquidez no mercado acionista. O resultado foi o disparo de cerca de 20% das bolsas de Xangai e Shenzhen em setembro.

Nos primeiros dias de outubro, o relativo otimismo dos investidores não parece ter sido abalado, apesar do agravamento do conflito no Médio Oriente. Para já, apenas o preço do petróleo está em alta e a refletir a incerteza na região, mas não se podem descartar totalmente cenários mais negativos. Um alastramento da guerra e o arrastar dos EUA para um papel ativo no conflito não é provável, mas seria bastante negativo para o sentimento global dos investidores.

China lidera mercados

Em média, os fundos de ações chinesas apresentaram uma valorização de 21,8% em setembro. O fundo Fidelity China Focus (LU0318931192) ganhou 19,7% e o ETF Xtrackers CSI300 Swap (LU0779800910) alcançou os 21,5%.

Este disparo surge após um longo período de marasmo. Com efeito, esses valores representam praticamente todo o ganho de 2024 e ainda foram claramente insuficientes para compensar as perdas dos últimos anos. A expectativa é que o momentum favorável prossiga se as medidas de Pequim conseguirem redinamizar a procura interna. 

A maior procura dos consumidores chineses também será benéfica para muitas empresas ocidentais que têm na China um importante mercado. A segunda maior economia mundial detém ainda um enorme potencial e justifica que uma parte da carteira de investimento seja dedicada a fundos e ETF de ações chinesas.

Contudo, há riscos, nomeadamente, o espetro das eleições presidenciais nos Estados Unidos, a imposição de mais tarifas aos produtos chineses e o escalar de uma guerra comercial.

A excelente performance das ações chinesas também se refletiu, em parte, nos fundos emergentes globais, com um ganho médio de 4,7% no mês passado. Outra beneficiária foi a bolsa de Sydney e o ETF iShares MSCI Australia (IE00B5377D42) que valorizou 4,3%. Grande exportadora de matérias-primas, a Austrália está muito bem posicionada para lucrar com um maior ritmo de crescimento da economia da China.

Ligeiro avanço global

O desempenho do mercado global foi mais modesto. O ETF iShares Core MSCI World (IE00B4L5Y983) valoriz0u apenas 1%, dado que as ações chinesas não estão presentes nos principais índices. O resultado global foi igualmente menos impressionante devido à ligeira depreciação do dólar face ao euro (-0,8%) e que reduziu a progressão mensal das ações norte-americanas medidas em euros. Acresce ainda, performances menos brilhantes na Europa e no Japão.

Assim, as bolsas dos EUA avançaram e continuam perto dos máximos históricos: o ETF Amundi NASDAQ-100 (LU1681038243) obteve 1,7% e o ETF UBS S&P 500 ESG (IE00BHXMHL11) avançou 1,1%,

No Japão, o ETF WisdomTree Japan Equity (IE00BYQCZN58) recuou 1%. A bolsa de Tóquio tem estado menos dinâmica, após um período de forte ganhos e em que foram batidos os máximos de finais dos anos 80! A mudança de primeiro-ministro e a antecipação das eleições para o parlamento nipónico geram alguma incerteza. Porém, não é de esperar uma quebra da tendência das políticas, nem o retrocesso nas medidas que visam tornar as cotadas de Tóquio mais “amigas” dos acionistas.

Na zona euro, o ganho médio dos fundos ficou-se por apenas 0,5% em setembro. Embora, haja inúmeras empresas que beneficiem da dinâmica chinesa, o panorama interno é pouco favorável. A economia da Alemanha está com graves dificuldades e a França vai tomar medidas restritivas para conter o défice. A concorrência da China e dos EUA é também cada vez mais intensa.

China ‘puxa’ alguns setores

O plano de estímulos da China teve reflexos nos desempenhos setoriais. Por um lado, os fundos dedicados aos “Materiais” ganharam, em média, 4,5% em setembro. Por outro, os “Bens de Consumo Discricionário” avançaram 4,2%. De facto, a China é uma forte consumidora de matérias-primas e de produtos de luxo.

Outro fator a impulsionar alguns setores foi a descida das taxas de juro. Aqui, destaque naturalmente para o setor imobiliário (+2%), mas igualmente para as utilities (+4,2%) e as atividades de transição energética (+4,9%). São todos setores com elevadas necessidades de financiamento e que vão beneficiar de juros mais baixos.

Em queda acentuada, encontramos o setor da energia (petróleo & gás), com um recuo de 4,1% no mês. Um menor dinamismo da economia global e a decisão da Arábia Saudita de aumentar a produção, contribuíram para o recuo do preço do barril (-6,4% em setembro). Um panorama que mudou totalmente no início de setembro com o agravamento do conflito no Médio Oriente e a possibilidade de Israel atacar instalações petrolíferas no Irão. 

Outro setor em queda foi o dos “Cuidados de Saúde”, tendo o ETF Xtrackers MSCI World Health Care (IE00BM67HK77) perdido 3,8%. Apesar do potencial do setor a longo prazo, o mês foi sobretudo marcado pela forte tomada de mais-valias na Novo Nordisk e na Eli Lilly, as duas empresas que têm estado em destaque com os seus produtos para a obesidade.

Os nossos subsetores preferidos registaram variações pouco significativas. Na “Água”, o ETF Amundi MSCI Water ESG Screened (FR0010527275) obteve 1%. Na “Defesa”, o VanEck Defense ETF (IE000YYE6WK5) ficou-se por +0,1 e, nos semicondutores, o VanEck Semiconductor ETF (IE00BMC38736) recuou 0,1%.

Taxas descem, obrigações ganham

As decisões dos bancos centrais também estão a impactar as taxas de juro de longo prazo, um efeito desejável da mudança das políticas monetárias. A consequência é a valorização automática das obrigações nos mercados. Em média, os fundos de dívida global apresentaram uma valorização média de 0,8% e acumulam um ganho de 6% em doze meses. Um resultado significativo depois do desastroso ano de 2022.

Mesmo na zona euro, com os problemas da dívida francesa, os resultados foram favoráveis. A expectativa é que Banco Central Europeu venha a ser mais agressivo nos cortes das taxas para dar um balão de oxigénio à economia europeia. O ETF Xtrackers II iBoxx Eurozone Government Bond Yield Plus (LU0524480265) ganhou 1,8%. Na dívida de maior risco, o ETF Xtrackers II EUR High Yield Corporate Bond (LU1109943388) obteve 0,7%. Embora estes títulos propiciem juros mais elevados, estão igualmente mais expostos aos problemas económicos da zona euro.

Entre os fundos dedicados ao USD, mesmo com a depreciação mensal do dólar face ao euro, os resultados permaneceram positivos. O efeito das yields de partida mais elevadas e a descida dos juros compensou a parte cambial. O ETF iShares $ Treasury Bond 7-10 year (IE00B3VWN518) avançou 0,5%. Na dívida de menor qualidade, o ETF Xtrackers USD High Yield Corporate Bond (IE00BDR5HM97) obteve +0,7%.

Estes resultados revelam que os fundos e ETF de obrigações podem voltar a dar um contributo positivo para as carteiras, além da redução do risco. O nível global das yields é mais atrativo do que na década anterior à pandemia, o que permite gerar um rendimento regular, mesmo sem a influência de outros fatores.

 

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