ETF em 2025: dólar trava resultados apesar da valorização das bolsas

A subida dos mercados tem beneficiado a maioria dos ETF
A subida dos mercados tem beneficiado a maioria dos ETF
Com várias bolsas em máximos, o saldo acumulado pelos ETF de ações em 2025 deveria ser bastante positivo. É um cenário que se verifica em várias categorias mas, ao contrário do esperado, não é transversal nem se reflete nos ETF de ações globais.
Em média, esta categoria apresenta uma perda de 0,5% desde o início do ano até final de agosto. O ETF iShares Core MSCI World (IE00B4L5Y983) esteve um pouco melhor, mas ganha apenas 0,3% em 2025.
Entre os fundos e ETF que investem em obrigações globais, o desempenho negativo foi ainda mais acentuado (-4,1%). Esta desvalorização surge apesar dos principais bancos centrais estarem a cortar as taxas de juro diretoras.
E, por regra, a diminuição dos juros é favorável à valorização dos títulos de dívida. O ETF Amundi Funds Global Government Bond (LU0119133188) perde 4,5% em 2025.
Estes aparentes paradoxos são ainda um reflexo das “tarifas recíprocas” anunciadas por Donald Trump em abril. Esta medida lançou ondas de choque por todos os mercados financeiros. As bolsas caíram, as taxas de juro de longo prazo subiram e o valor do dólar como refúgio foi questionado. Alguns meses passaram…
– Os mercados de ações recuperaram o terreno perdido, à medida que a política das tarifas se tornou mais clara, suportados pelo otimismo em torno da inteligência artificial. Esta tendência permitiu bons resultados para os ETF de ações desde abril.
– O dólar não recuperou face ao euro. Desde o início de 2025, a moeda europeia ganhou 13% face ao dólar dos EUA, mas também relativamente a outras divisas. Muitos países acabaram por deixar “deslizar” o valor das suas moedas por forma a evitar que se apreciassem em demasia face ao dólar, o que penalizaria a sua competitividade. E ganhos do euro (queda de outras moedas) implicam perdas nesses mercados para o investidor europeu.
– As taxas de juro que vigoram nos prazos mais longos (e mais relevantes para as obrigações) não acompanharam os cortes das taxas diretoras. Nas maturidades a vários anos, os investidores estão a exigir remunerações mais elevadas para financiar os emitentes.
Nos Estados Unidos, as medidas da Big Beautiful Bill, proposta pelo Presidente e aprovada pelo Congresso, levantam dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida pública norte-americana.
Na Europa, também as necessidades de financiamento são crescentes. A Alemanha estabeleceu um compromisso inédito para maiores gastos militares e de investimento em infraestruturas. França e Reino Unido estão em dificuldades para gerir os respetivos défices e as dívidas públicas.
Em suma, a maior oferta de obrigações não favorece as respetivas cotações.
Contra todas as expectativas, os ETF de ações da zona euro registam um bom desempenho em 2025 (em média +13%). Com efeito, a economia europeia mantém um fraco dinamismo, além de ser impactada pelas tarifas dos Estados Unidos.
Por um lado, houve algum otimismo após a Alemanha ter anunciado um histórico pacote de estímulos. Além disso, os resultados destes ETF não são penalizados por fatores cambiais.
Ainda no Velho Continente, destaque para o ETF de ações da Polónia, o iShares MSCI Poland (IE00B4M7GH52) que ganha 32% em 2025. A bolsa de Varsóvia continua a ser uma opção atrativa a longo prazo.
Por fim na Europa, os fundos de ações nacionais atingiram uma valorização média de 24,6%. Depois de anos com uma performance dececionante, a bolsa de Lisboa voltou aos destaques positivos.
Para investir em Portugal preferimos a compra direta de algumas ações. Se mesmo assim quiser optar pelos fundos, o BPI Portugal (PTYPIGLM0000) será a melhor opção.
Os resultados dos ETF de ações norte-americanas acabaram por fracos por causa do dólar. O ETF UBS S&P 500 Scored & Screened (IE00BHXMHL11) perde 3,1% em 2025.
O desempenho entre os mercados emergentes está a ser bastante díspar. Observa-se ETF com elevados ganhos. Além da Polónia, que já referimos, destaque para a Coreia do Sul (+25,6%), África do Sul (+22,4%), Brasil (+22%) e México (+18,8%). Os motivos para os bons desempenhos destes últimos mercados não são evidentes. O crescimento económico tem sido fraco.
O Brasil é uma exceção (PIB cresceu 2,2% num ano), mas enfrenta agora tarifas de 50% por parte dos Estados Unidos. Quanto à progressão das ações sul-africanas o fenómeno assenta nas empresas mineiras (ouro, platina) cotadas e que ganham à boleia da forte valorização destes metais preciosos.
Do outro lado do espetro, as ações da Turquia (-13,3%), Indonésia (-14,1%) e Índia (-14,6%) estão a ser duramente penalizadas em 2025. Estas assentam, por seu turno, em economias com bons níveis crescimento, apesar de enfrentarem problemas específicos.
Na Turquia, a prisão do líder da oposição lançou dúvidas sobre o futuro político do país. Na Indonésia, o atual Presidente está a divergir das políticas aclamadas do seu antecessor, o que não agrada aos investidores. Sinal dos problemas, o país enfrenta agora graves protestos nas ruas das principais cidades.
Por fim, a Índia está na mira de Trump (tarifas de 50%), mas sofre sobretudo de uma bolsa de Bombaim que iniciou 2025 já com elevadas valorizações.
Em termos setoriais, há atividades que continuam a confirmar o seu bom momento. O aumento em curso dos gastos militares proporcionou ao ETF VanEck Defense (IE000YYE6WK5) um ganho de 42,1% em 2025.
Outro destaque vai para a energia nuclear. Este ano, o ETF Global X Uranium (IE000NDWFGA5) valoriza 37,9%. Além do “fóssil”, esta forma de geração de energia é uma das preferidas de Donald Trump e incontornável para “alimentar” as colossais necessidades energéticas dos centros de dados (IA).
Por fim, os semicondutores também continuam em bom plano e o ETF VanEck Semiconductor (IE00BMC38736) valoriza 4,3% em 2025. É um ganho assinalável tendo em conta que a maioria das empresas são americanas e o dólar, como vimos, perdeu terreno.
Num patamar completamente diferente encontram-se os fundos e ETF dedicados às ações de empresas mineiras (ouro) com um ganho médio de 60,1% em 2025. A cotação do metal dourado continua a bater máximos históricos.
Há quem justifique este fenómeno com a expectativa de corte dos juros da Fed. Contudo, as taxas a 10 anos permanecem elevadas (4,25%). Portanto, a concorrência dos Treasuries ao ouro não diminuiu. A justificação reside mais provavelmente na desconfiança face ao dólar e na aposta dos bancos centrais em outros ativos, como o ouro.
Entre os fundos e ETF de obrigações, 2025 trouxe ganhos apenas para a dívida de empresas e denominada em euros.
O ETF JPM EUR 1-5 y Investment Grade Corporate Bond Active (IE00BF59RW70) ganhou 2,6% e o ETF Xtrackers II EUR High Yield Corporate Bond (LU1109943388) valorizou 3,5%. Este tipo de obrigações oferece yields relativamente interessantes e não é afetada por fatores cambiais.
Na dívida soberana em euros, os resultados foram mais modestos, com o Xtrackers II iBoxx Eurozone Government Bond Yield Plus (LU0524480265) a avançar apenas 0,5%.
Os ETF de dólares estão a ter um desempenho negativo, sobretudo como resultado da depreciação do dólar face o euro. O ETF iShares USD Treasury Bond 7-10 year (IE00B3VWN518) acumula uma perda de 5,8% em 2025.
Apesar desta recente performance, a dívida soberana norte-americana permanece incontornável. É ainda o pilar do sistema financeiro global pelo que recomendamos que lhe dedique uma parte da carteira dedicada às obrigações.